quarta-feira

O condicionamento

Tenho uma querida amiga que é homossexual. Muito antes dela mo dizer, já eu desconfiava. Nunca me causou problemas e eu considero-me uma pessoa sem preconceitos. Contudo, no dia em que ela me disse que era homossexual eu reagi com uma cara de surpresa e disse um longo "Nãaaaaooo", que a levou a perguntar-me "Tens algum problema com isso?" Eu fiquei surpreendídissima com a minha reacção. Mas porque é que eu reagi assim?

Estão a apanhar como somos armadilhados? Ainda que racionalmente se possa não ser homofóbico, os preconceitos estão empacotados num quarto traseiro da nossa mente que nos apanha de assalto. Ainda que os meus pais nunca tenham literalmente me dito que ser homossexual é mau e não natural, eles e a sociedade inculcaram-mo. Pelo uso carregado negativamente dos adjectivos paneleiro, maricas, por um discurso que paulatinamente nos injectou o opróbrio de ser homossexual. Eu não sou a única. Outros heterossexuais se queixaram desta carga que os faz racionalmente ver a homossexualidade como natural, mas ainda assim incapazes de lidar naturalmente quando uma situação assim o pediria.

Compreendam assim a importância para todos nós, especialmente homossexuais, mas também heterossexuais de não sermos condicionados desta maneira. O intuíto em Espanha de ensinar em aulas cívicas a pluralidade de naturezas sexuais e de famílias é o sinal de que o condicionamento poderá ter fim. Nunca me senti assim, mas começo a invejar Espanha.

2 comentários:

sabine disse...

«Contudo, no dia em que ela me disse que era homossexual eu reagi com uma cara de surpresa e disse um longo "Nãaaaaooo", que a levou a perguntar-me "Tens algum problema com isso?" Eu fiquei surpreendídissima com a minha reacção. Mas porque é que eu reagi assim?». Acho que é normal a surpresa. Tambem me aconteceu o mesmo com um rapaz de quem gostava. O problema aí nao é a reacção inicial mas depois: ficamos ligados à surpresa ou damos um passo em frente e continuamos a relacionar-nos com a pessoa como se isso nao fosse o essencial? O homofobico nao é capaz de dar esse passo em frente com ninguem. POr isso quer que o outro mude. Nos EUA estao a ser feitas campanhas para desencorajar a homosexualidade... querem heterosexuais à força. Enfim... gente doida e sem noçao do ridiculo! Tambem poderiamos falar da homofobia no mundo muçulmano...
«Estão a apanhar como somos armadilhados?». Precisamente! Parabens pelo post!

João Melo Alvim disse...

Já os invejo há algum tempo (o síndrome de Aljubarrota, tão inculcado e condicionado na Primária, demorou a sair, mas quando saíu, nunca mais voltou).

Subscrevo todo o resto. Mas o que é que temos a ver com as opções a nível afectivo e sexual das pessoas (mais do que consenting adults, consenting people) para que deixemos que se continue a instalar uma barreira deste tipo?

Isto sempre com o objectivo de se reconhecerem e garantirem os mesmos direitos (ainda que uns demorem mais tempo que outros) para todas as pessoas, independentemente da orientação sexual e das opções de vida em família.