segunda-feira

Dois bons artigos

Minority Death Match: Jews, Blacks, And The “Post-Racial” Presidency, de Naomi Klein

Twice Branded: Western Women in Muslim Lands, de Judy Bachrach

Sobre o segundo, ainda hei de fazer uns considerandos. Para lá de dizer, que se aquilo não é uma mentalidade que merece ser combatida e desprezada, então não sei que vos diga. E nem falo das ideologias que dali saem. Se eu fosse holandesa, votava Geert Wilders. É simplista? Que se lixe.

P.S.: antigamente estas coisas só me punham em estado de feminismo.

É tão fácil falar

Eminent Afghan and international figures had encouraged citizens to defy the Taliban and vote in the elections. Yet, as a casualty in the process, Mr Mohammed and his friends say he has received no official support (On his way to the polling station he was held by Taliban fighters, beaten brutally, and then had his nose and ears slashed off.).

Mr Mohammed said his family had borrowed 20,000 Afghanis (around £250) from a local money lender to tide them over and buy medicine for him in the capital, Kabul.

"We have to pay back 40,000 Afghanis in three months," he said. "I do not know how we are going to do that, I think we will have to sell things. I do not know when I'll work again.

"Poor people suffer in this country, I do not know whether the elections will change that. I do not think I will try to vote again, I am now very frightened."

Tirado daqui.

domingo

Os genes e o desperdício

De vez em quando vêm uns lamentos do Portugal triste que nao se desenvolve, até ao ponto de já alguém ter apontado os dedos aos nossos genes colectivos. Depois perguntam-se porque é que os portugueses até dao ares de mérito no estrangeiro, porque nao na pátria, porque é que aquele solo nao dá fruta (e etc e tal cliche)?

Esta semana, por duas vezes, gente da minha geracao, trintoes portanto, que se lamentam nos moldes anteriores e sao muito modernos e muito pela iniciativa privada e pela responsabilizacao individual e muito modernos e fazem muitos erros ortográficos e gramaticais, falavam dos intelectuais e das "elites" com um desprezo e apontaram-me o dedo como uma parasita que tem a sorte de mamar em tetas de ouro, quando o que é que eu faco realmente? Pode-se comer? Pode-se meter no tanque do carro? E eu faco ciencia. Imaginem se fosse artista!

Num país em que nao se percebe o poder da arte como propulsor da criatividade humana, e até a ciencia, até a ciencia lhes parece um desperdicio, acho que podemos parar de olhar para os genes.

Pensamentos colaterais

Andei a passar os olhos pelos programas eleitorais. Preciso de passar mais uns olhos antes de conseguir ver por entre as postas de bacalhau, mas o que me vinha á cabeca eram os Magalhaes e os artigos que tenho lido sobre a possibilidade que existe de estarmos a mudar os cérebros das geracoes futuras (e há dois períodos muito importantes no desenvolvimento cerebral, que é os primeiros anitos com o desenvolvimento exorbitante de neurónios e na adolescencia, quando se cimentam ligacoes entre os neurónios mais usados e se elimina o que nao é tao usado), com uma forma de adquirir conhecimento que é muito diferente de um livro. E isto, antes de se terem criado bibliotecas de geito nas escolas. É mesmo por os bois sobre o carro e atracá-lo ao mini.

P.S.: Apesar de todas as criticas que possa ter ao PS, é até agora o único a quem daria o meu voto. Mas hei de explicar, se me apetecer...

P.S.2: O meu pai vai ficar tao contente. Se abandonei a Igreja e o Benfica, pelo menos que me mantenha fiel a um dos estandartes da familia (mas eu sou tao, tao socialista, só que mais que o partido). Vou-lhe telefonar!

Portanto, porque gosto tanto de Edward Hopper

Posso comecar pela simplicidade. Edward Hopper só pintava o estritamente necessário. Se repararem ele pintava os postes de eletricidade, mas nao os cabos. Vao lá ver, eu espero... O pintor do primeiro quadro que eu mostro (abaixo, num poste já ali abaixo) chamava-se John Sloan e se mirarem os seus quadros, é o arraial minhoto: é os prédios, é as roupas, é gatos a aparecerem em todas as esquinas, uma cena à esquerda, mais uma cara noutro lado. Eu espero outra vez...

Em segundo, há método em Hopper. Ele pintava quietude com horizontais e movimento com diagonais. Se repararem no quadro que eu pus abaixo, a diagonal é o braco da menina e, nao sei como é com voces, mas eu fico completamente fixada naquele braco. O quadro do Sloan é aquela roupa no estendal. E depois? Que me interessa a mim um monte de roupa no estendal? Mas aquela jovem, nao posso deixar de me interessar pelo que ela estará ali a fazer. Vai sair? Estar-se-á a preparar para a noite ou para o trabalho? Isto também se deve aqueles verticais, aquela porta que a enquadra, aquele relógio, os contrastes de cores (reparem as cores em Hopper, sao essenciais, trabalha com cores primárias e as suas oposicoes, como o vermelho com o verde) e o voyeurismo. A cena do Sloan é banal, as cores que usa normalmente sao uns pastéis entediantes e o que salta no quadro abaixo é o branco da roupa e roupa a secar deverá estar nos anais do NAO-INTERESSANTE. Além disso, nao há qualquer frisson no facto de estarmos a ver aquela mulher a estender roupa. O máximo que a minha imaginacao consegue fazer com aquilo é perguntar-se "onde está o cesto da roupa"? Isto é de por um hiper-activo a dormir.

Em terceiro, ele cria uma atmosfera nos seus quadros, como se algo estivesse para acontecer. Estamos num prestes, como no inicio de um filme de Hitchcock. Isto é um convite à imaginacao. Depois, Hopper pinta de maneira a que nós nos sentimos parte do quadro. Eu estou com aquela jovem. Ela nao sabe, mas eu estou ali a observa-la e sinto-me um pouco desconfortável por a estar a espiar. Mas eu quero saber quem ela é. A mulher a estender roupa? Naaaahhh.

O Hopper quando comecava a pintar já sabia como o quadro ia acabar. Já tinha planeado as cores, os contrastes, as linhas e as perspectivas. Ele já sabia o que queria provocar no observador. Os artistas que eu gosto sao sempre assim: pensam antes e trabalham muito, o que, para mim, poe em questao o géniozinho que por mero acaso é original. Eu de vez em quando visito um tipo que pinta. Os quadros sao horriveis (nunca lho disse). Penso que quando consegue algo minimamente de interesse, é por acaso. Ele simplesmente comeca a pintar. Vai espetando coisas pra lá, muda de ideias e o quadro acaba por ser camadas caoticas de tinta sobre tinta. Nao percebo quando é que ele decide que terminou. Para mim está tao horrivel como antes. Eu sempre me disse que eu nao percebo de arte. Mas será que quando um pintor é bom, mesmo que uma pessoa nao seja especialista, acaba por saber da qualidade, porque a arte diz-lhe algo. O nao especialista nao sabe porque, mas se observar, reconhece. Eu penso que precisamos de observar primeiro bastante, mas a certa altura ganha-se um sexto sentido, um certo gosto. Deve ser um pouco como aprender uma língua como um bébé. Nao se sabe a gramática, mas sabe-se falar.

Uma vez fui a um exame de pianistas na academia de música de Hamburgo. Eu nao percebo nada de musica, mas soube qual é que gostei ou nao. Os musicos com quem fui ficaram muito excitados, porque parece que eles concordavam comigo. Claro que eles explicavam tudo com muita tecnica, eu só gostei, gostei, sem saber porque, mas gostei. Tem piada, nao tem? Por vezes, é só uma questao de relaxar e nos deixarmos ir. Se formos é porque valeu a pena.

terça-feira

Há dias em que me apetece morrer

por favor, nao comentar, agora nao tenho tempo.

segunda-feira

Que bonito: Israel a aprender com os vizinhos

Os escandinavos estao sempre a meter-se nestes assados. Será a auto-censura, no resto desta Europa tao bem comportadinha? Ou serao os israelitas anti-louro-platinado?

Adenda a 28.08.09: E depois do governo israelita confundir o jornalismo feito num país com o governo político desse país (como os seus vizinhos retrógados fazem), o jornalismo de Israel mostra que a esperanca de Israel está longe do seu governo político, mas perto do seu jornalismo (ou que, pelo menos, há liberdade de imprensa e gente com juízo):

Swedish article on organ harvesting was cheap and harmful journalism

Excerto: "Serious journalism's task is to document, investigate and prove - not to call on others to investigate, as the Swedish tabloid did. One may, for example, accuse the Swedish reporter of a crime, writing that he rapes little boys or girls, all based on suspicions and rumors, and call on the Swedish police to investigate. That's what the reporter did with his claims of trafficking in Palestinian organs."

terça-feira

A graca

Nao há duvida alguma que eu gosto mais do segundo quadro que do primeiro. Nao percebi a razao, até Domingo, quando fui ver uma exposicao sobre Edward Hopper no contexto dos seus contemporaneos. Edward Hopper fez quadros de que me é impossivel nao parar e observar. Há ali algo que chama, que pede e exige atencao. Porque? Na exposicao era possivel comparar e tentar perceber o que havia num e nao noutro. Depois, se me apetecer, conto.