sexta-feira

Poluição auditiva

Comprei uns tampões para os ouvidos para fazer face às músicas de Natal. Consegui suportar a tortura sem o uso de protecção. Contudo, num autocarro beirão de rádio a regurgitar música pimba, eles foram postos ao serviço da preservação da minha sanidade mental. Há limites para a dor.

quarta-feira

Os meus filmes de 2005

1 - Million Dollar Baby do Clint Eastwood
Uma obra prima e não se me enrola o cérebro em dúvidas quando o escrevo.

2 - Don´t come knocking do Wim Wenders
Outro filme sobre pessoas, mas desta vez uma está irremediavelmente perdida. Imperdível.

3 - Manderlay do Lars van Trier
Capítulo 2 da trilogia que começou com Dogville. Grace envolve-se noutra parábola, esta sobre liberdade. Tudo excelente e comovente e envolvente, excepto o fim. A sequência de fotografias, por si meritórias, estraga para mim a sensação de alegoria universal. Um anjo a quem lhe cortaram as asas. Mas ainda um anjo.

4 - Wallace & Gromit: A maldição do coelhomem do Nick Park
Eu adoro animação e eu adoro bonequinhos de plasticina e o resultado da técnica "stop-motion" e eu amo as histórias de Wallace, o inventor tótó e o seu inteligente e paciente cão Gromit. Este é a primeira longa-metragem e é fantástica. Tudo. Façam "Cheeeeeeese".

5 - Flores partidas do Jim Jarmush
Mais um filme sobre alguém perdido e ele lá vai bater às portas. As senhoras abrem-lhe as portas e perdem-no ainda mais.

Já não há pachorra

A sensação que tenho é que a comunicação social portuguesa está numa campanha para deprimir os portugueses. Se não têm nada de bom a opinar, limitem-se aos factos. Do que eu tenho visto seria uma revolução. Factos, factos, fatos, fatos, pois aquele fato do Sócrates é comparativamente com o do Zapatero de pior corte. Não é corte inglês. Não há pachorra.

sexta-feira

Pobres santos

Há ironias sublimes e deliciosas. Ver a estátua de um santo (Sto António ou S. José, o menino nos braços) no jardim de um colégio de freiras envolvido em luzes como uma mera árvore de Natal foi uma imagem interessante. O paganismo subjuga a religião cristã no seu próprio domínio.

Lojas, compras, prendas,

sinto-me a ficar esquizofrénica...



Art © 1998 Christopher Jones.

quarta-feira

Para que é que se embrulham as prendas?

Diremos: pelo elemento surpresa. O divertimento de quem dá no desembrulho questionativo de quem recebe.

Vou ter que reembrulhar todas as prendas que comprei hoje. As lojas pespegam as marcas onde podem no que eu senti uma ofensa a mim. Mas o mais anormal foi na perfumaria. O papel vermelho brilhante. Só. Eu extasiada em algo tão simples e bonito e aí aplicam um laçarote farfalhudo a dizer "perfume". Para que raio eu embrulho um perfume e escrevo no embrulho perfume? Não percebo.

segunda-feira

O número um

Após meio ano de surfe pela blogosgera, decidi o meu preferido, medalha de ouro, cinco estrelas.

George, o cáustico.

My lord, your crown.

Amanhã

Amanhã por esta hora o céu terá sol, as ruas serão luminosas, caminharei pela estrada com os carros alucinantes a centímetros de mim, senhores e senhoras venderão castanhas e guarda-chuvas na rua, esta será de pedras pequeninas pretas e brancas, haverá obras a cada segunda esquina e os liliputianos abrirão a boca e misteriosamente falarão português.

domingo

Message in the bottle

Esperar a carta na caixa do correio, esperar o toque do telefone, esperar o boneco a mudar de cor no msn, esperar o nome listado no correio electrónico, esperar o toque do sms, esperar o sinal da imanência distante.

Não se pesquisa nos sites dos jornais portugueses

Deve ser mais fácil ter resposta a uma carta para o Pai Natal. Porquê? Porque é assim tão difícil? Porque é que posso comprar jornais turcos, chineses, árabes, franceses, espanhóis, gregos, italianos (etc...) e não posso comprar jornais portugueses em Hamburgo? Porque é que não respondem às minhas cartas electrónicas? Porque é que o quarto poder é tão português como os outros? Que seria de mim sem a blogosfera para saber notícias? Porque estou sem paciência?
Porra pra isto!
Snif... Snif...

sábado

Letícia, quero-te bem

Quando falo do drama da bébé Letícia, abusada pelos pais, agora num hospital em Coimbra, à minha família ou lendo o que se escreve pela Net fica a sensação de ingenuidade. Como se pode pensar que os pais podem ser assim? Talvez seja porque eu tenho uma irmã a trabalhar com crianças em risco, mas eu nunca confiei no amor dos pais. Lembra-me de ser jovem, muito jovem e uma das coisas do mundo que me deixavam confusa é que não se tivesse que prestar provas para se ser pai ou mãe. Eu estudava e fazia provas e passava de ano e diziam-me que eu tinha de prestar provas para guiar um carro e prestar provas para ter uma profissão, mas não para fazer e criar uma criança. Porquê, perguntava eu? Criar uma pessoa! É muito mais importante! Como se pode confiar? Porque há o amor e não há amor maior que o de uma mãe, dizia-me a minha, que sei que me ama, não o dúvido, mas será assim com todas as crianças? Uma dúvida que começou em mim em tenra idade deixa perplexos pessoa graúda, como se de repente algo novo surgisse. Sinto-me novamente confusa com tanta ingenuidade.

quinta-feira

Stanley Williams

Vale a pena ler o editorial de Nuno Pacheco no Público reproduzido pelo "Renas e Veados".

Teste: Compasso moral

Eu adoro testes. Faço-os todos. Desde o "Que tipo de vegetal seria se entrasse em estado vegetativo", até o indicado no blogue Glória Fácil, para ver o teu grau de pureza (tem piada :-)). Eu encontrei este na New Scientist (Vol.108, nr.2527 de 26.11.05). É um pouco sério, mas ainda assim divertido.

O objectivo é aferir o teu compasso moral. Como te guias para tomares decisões de cariz moral?

A pontuação é de 1 a 9, com todos os nrs naturais pelo meio, sendo que a gradação tem nos vértices:
1 - discorda totalmente
5 - nem sim nem sopas
9 - concorda totalmente

* Nunca é necessário sacrificar o bem estar dos outros. -> 1 a 9
* Nunca se deve maltratar física ou psicologicamente outra pessoa. -> 1 a 9
* As preocupações prioritárias numa sociedade devem ser a dignidade e o bem estar dos seus cidadãos. -> 1 a 9
* As pessoas devem ter a certeza que as suas acções nunca prejudicam outros, independentemente dos benefícios. -> 1 a 9
* É imoral decidir uma acção fazendo um balanço dos efeitos positivos e dos efeitos negativos. -> 1 a 9

FAZER O SOMATóRIO = .... IDEALISMO

* A ética varia com a situação e a sociedade. -> 1 a 9
* Uma mentira é moral ou imoral consoante as circunstâncias. -> 1 a 9
* Decidir o que é ético para todos é impossível, já que a questão do que é moral ou imoral está dependente de cada indivíduo. -> 1 a 9
* Os padrões morais são linhas mestras de cada pessoa que lhe indicam como se deve comportar, não devendo ser usadas no julgamento de outras pessoas. -> 1 a 9
* A codificação rigída de uma posição ética prevenindo certo tipo de acções pode constituir um obstáculo na melhoria das relações humanas e do seu ajustamento. -> 1 a 9

FAZER O SOMATóRIO = .... RELATIVISMO

Este questionário mede duas dimensões do pensamento moral: o idealismo e o relativismo. O idealismo mede o quanto uma pessoa acredita que o efeito de uma acção moral normalmente resulta em algum malefício (baixo idealismo) ou de que um resultado perfeito pode sempre ser alcançado (alto idealismo). O relativismo reflecte o quanto uma pessoa avalia a moralidade como baseada em regras absolutas (relativismo baixo) ou como dependente do problema em causa (relativismo alto).

Para saber onde se situa adiciona separadamente os itens relativos ao idealismo e ao relativismo. Para ambas as escalas, > 31 é considerado alto e <> baixo. A combinação das duas dimensões define quatro ideologias éticas, como se pode ler a seguir (clicar sobre a imagem para aumentar).



P.S.1: Eu sou excepcionista a pender para o subjectivo.
P.S.2: A New Scientist diz que este teste é baseado no "Ethics Position Questionaire" concebido por Donelson R. Forsyth da Universidade de Richmond, Virginia, EUA. Para mais informação: www.richmond.edu/~dforsyth/

quarta-feira

terça-feira

Homes ou as cousas que me atormentam

Um amigo mandou-me esta "breaking news". A animação com que ele fala da notícia e a sua insistência em metê-la nas conversas deixa-me a pensar no seu grau de inteligência. Mas ele parece inteligente... Normalmente. Será que há períodos de insuflamento? Será que eu perdi o meu sentido de humor?

segunda-feira

Tema para meditar

Estás no sítio certo?



Aparece no Diário de Notícias

sábado

A verdade segundo o niilismo

Um exército móvel de metáforas, metonímias e antropomorfismos - ou seja, uma súmula de relações humanas que foram relevadas, transpostas e embelezadas poética e retoricamente e que, após longo uso, parecem firmes, canónicas e obrigatórias para um povo: as verdades são ilusões que esquecemos serem ilusões.

Friedrich Nietzsche, Sobre a verdade e a mentira no sentido extramoral

A arte e a política (há um século)

Este é o caminho que os Homens Brancos percorrem
Quando vão limpar um território -
Ferro sob os pés e a vinha sobre a cabeça
E o abismo em cada mão.
Já trilhámos este caminho - húmido e ventoso -
Tendo por guia a nossa estrela escolhida.
Oh, que bom para o mundo quando os Homens Brancos trilham
O grande caminho lado a lado!


Rudyard Kipling, Verse

Rudyard Kipling foi considerado o poeta do Império Britânico. Ganhou o prémio nobel da literatura em 1907.

Discurso de Harold Pinter... (Actualização)

... para a cerimónia da entrega do Nobel da Literatura: Arte, Verdade e Política Actualização -> Versão em português!

Excertos:

In 1958 I wrote the following:

'There are no hard distinctions between what is real and what is unreal, nor between what is true and what is false. A thing is not necessarily either true or false; it can be both true and false.'

I believe that these assertions still make sense and do still apply to the exploration of reality through art. So as a writer I stand by them but as a citizen I cannot. As a citizen I must ask: What is true? What is false?

Truth in drama is forever elusive. You never quite find it but the search for it is compulsive. The search is clearly what drives the endeavour. The search is your task.


(...)

So language in art remains a highly ambiguous transaction, a quicksand, a trampoline, a frozen pool which might give way under you, the author, at any time.

But as I have said, the search for the truth can never stop. It cannot be adjourned, it cannot be postponed. It has to be faced, right there, on the spot.


(...)

Political language, as used by politicians, does not venture into any of this territory since the majority of politicians, on the evidence available to us, are interested not in truth but in power and in the maintenance of that power.

(...)

Look at Guantanamo Bay. Hundreds of people detained without charge for over three years, with no legal representation or due process, technically detained forever. This totally illegitimate structure is maintained in defiance of the Geneva Convention. It is not only tolerated but hardly thought about by what's called the 'international community'. This criminal outrage is being committed by a country, which declares itself to be 'the leader of the free world'. Do we think about the inhabitants of Guantanamo Bay? What does the media say about them? They pop up occasionally – a small item on page six. They have been consigned to a no man's land from which indeed they may never return.

(...)

Early in the invasion [of Iraq] there was a photograph published on the front page of British newspapers of Tony Blair kissing the cheek of a little Iraqi boy. 'A grateful child,' said the caption. A few days later there was a story and photograph, on an inside page, of another four-year-old boy with no arms. His family had been blown up by a missile. He was the only survivor. 'When do I get my arms back?' he asked. The story was dropped. Well, Tony Blair wasn't holding him in his arms, nor the body of any other mutilated child, nor the body of any bloody corpse. Blood is dirty. It dirties your shirt and tie when you're making a sincere speech on television.

(...)

I know that President Bush has many extremely competent speech writers but I would like to volunteer for the job myself. I propose the following short address which he can make on television to the nation. I see him grave, hair carefully combed, serious, winning, sincere, often beguiling, sometimes employing a wry smile, curiously attractive, a man's man.

'God is good. God is great. God is good. My God is good. Bin Laden's God is bad. His is a bad God. Saddam's God was bad, except he didn't have one. He was a barbarian. We are not barbarians. We don't chop people's heads off. We believe in freedom. So does God. I am not a barbarian. I am the democratically elected leader of a freedom-loving democracy. We are a compassionate society. We give compassionate electrocution and compassionate lethal injection. We are a great nation. I am not a dictator. He is. I am not a barbarian. He is. And he is. They all are. I possess moral authority. You see this fist? This is my moral authority. And don't you forget it.'


(...)

When we look into a mirror we think the image that confronts us is accurate. But move a millimetre and the image changes. We are actually looking at a never-ending range of reflections. But sometimes a writer has to smash the mirror – for it is on the other side of that mirror that the truth stares at us.

I believe that despite the enormous odds which exist, unflinching, unswerving, fierce intellectual determination, as citizens, to define the real truth of our lives and our societies is a crucial obligation which devolves upon us all. It is in fact mandatory.

If such a determination is not embodied in our political vision we have no hope of restoring what is so nearly lost to us – the dignity of man.

sexta-feira

Este dia

A tristeza é a ausência de alegria. Acorda-se e o dia tem a cor cinzenta do desespero. Só que é manso, amordaçado em muita tristeza. Hoje, decididamente, não me apeteceu viver. Mas o dia existiu e tendo que o encher só o pude fazer de tristeza. O sorriso que tentei fazer foi húmido de tristeza. As pessoas foram sombras no nevoeiro que tentei evitar. Este dia devia ter tido a gentileza de não existir.

Boa noite. Eu vou dormir até um dia com cor.

quinta-feira

Espírito empreendedor...

...dos meus hospedeiros.

Eles têm sentido de humor!!! Veêm? :-)

quarta-feira

Sinto torpedos a vir...

© Luís Afonso / Público

Com licença...

P.S.: Há dias assim. Só disparates... (hey! deles, não meus!)

Prioridades

Os nossos governantes acham que um aeroporto novo nos põe na rota do desenvolvimento. Não a investigação. Não o conhecimento. Não. Novas pistas no meio de não sei onde, com mais umas estradas pra lá chegar (com a poluição inerente) e até um TGV para o pessoal do Porto demorar menos 15 min a chegar lá baixo. Os tripeiros devem estar mesmo felizes.

Estamos todos. Para comemorar deviamos fazer um arraial num daqueles Estádios de Futebol às moscas.

terça-feira

Quando não interessa, nem dou conta

Andam blogonautas chateados porque o Manuel Alegre não desmente que não é doutor.

Acreditando que neste país se usa mal o título doutor porque não usá-lo melhor? Assim, em vez de se ser doutor porque se saiu da Universidade com um canudo, é-se doutor porque se fez algo na vida? Sendo que assim o Manuel Alegre é mais doutor que outros doutores.

Contudo, se a tese é que isso não interessa para nada, para que é que o Manuel Alegre há-de-se estar a chatear com isso? Porque está a mentir ao Zé Povinho que não é inteligente como os restantes e ainda dá importância a essas coisas. É isso?

O que eu desconfio é que isto não tem a ver com a probidade do Manuel Alegre, mas que afinal aquela história de que os títulos nao interessam para nada, afinal é só conversa. Isso é só moda de gajo bem pensante. Tornou-se o politicamente correcto português. Só que no fundo, fundinho, continua-se pavão. Porque senão, ser ou não ser passaria a não ser a questão.

Eu acho que continua tudo no mundo das aparências e cheira-me mal, mesmo mal esta indignação, mas que depois passa a pente fino o título de outros candidatos.

Dou a palavra a quem soube escrevê-la

Ateu tranquiliza católico

Cruzamentos emendados

Vim reler o meu texto "Cruzetas" (abaixo da alface). Ok, exagerei no oprimir os opressores. Aceito. Também aceito que quando um sitio público é público não devem existir cruzes e ademais adereços religiosos. Mas assim no cubiculo onde só entra o empregado público para ler a Bola e tricotar, pode ser. De resto fica tudo.

P.S.: Gostaria mais que se ensinassem as religiões todas e haver até debates entre os apoiantes, mas caso isto não seja possivel, acho que sim. Tirem as cruzes das escolas.

Jesus vs Thor. Nã, este era muito grunho. Provavelmente Jesus saia com o martelo entalado nos miolos.

Viram o filme "Super Size Me"? Quando mostraram um desenho de Jesus e nenhum dos putos o reconheceu? Mas todos conheciam o palhaço do MacDonalds? Andem lá. Ensinem sobre as religiões, convidem o padre e o rabi e o imã e quem mais for e que se tiverem levem umas fotografias. Eu sei que os muçulmanos têm um certo pó a imagens. É como os protestantes. Nada de dourados e anjinhos e nossas senhoras múltiplas. Estilos. Tudo bem. Que traga um tapete. São muito giros. Em Hamburgo há uns armazéns a abarrotar de tapetes orientais. Há cafés muito fixes onde se fuma cachimbo de água e vê-se a dança do ventre e só não conto a origem desta dança porque podem andar por aqui crianças. Agora armam-se em púdicos. Termino que isto está a descambar.

segunda-feira

Alfacinha


A internet é maravilhosa. Encontra-se de tudo.

domingo

Cruzetas

Andei a pensar na rebaldaria dos crucifixos. A contemplar, que afinal foi o meu objectivo ao criar este blogue.

Quando me perguntam sobre a minha posição religiosa eu defino-me como agnóstica. Não é só, mas é o mais perto dos meus sentimentos. De uma forma científica eu não sei se existe ou não Deus e portanto só contemplo. No meu mundo sem certezas eu consigo colocar-me numa posição de imparcialidade perante todas as fés, se bem que criada e educada num meio católico o meu sistema cognitivo esteja inquinado. Um querubim há-de sempre suscitar pouca curiosidade, enquanto que um deus azul hindu há-de fazer-me parar para perguntas. Eu sentir-me-ei propensa a emitir opiniões sobre as celeumas cristãs e nem por isso sobre a dos monges do Tibete. Uma questão de proximidade.

É necessário separar o Estado da Igreja. Mas para mim há uma diferença entre a exclusão mútua do Estado Político e do Estado Religioso e a exclusão do Estado Político e os sentires dos seus cidadãos. Esta celeuma à roda das cruzes cai no segundo ponto. Não percebo porque a lei não define somente a liberdade de religião de todos, mas em cada ponto do país serem os cidadãos que aí vivem que decidem se sobem ao escadote e tiram a cruz ou até se o sobem e a põem, ou até põem outra coisa qualquer. A democracia, a tolerância e o respeito devia começar pelas bases e não ser empurrado pela garganta como se fosse xarope para a tosse.

Nas escolas então eu ficaria muito mais optimista se em vez de tirarem a cruz, lhe juntassem todos os símbolos religiosos de que se tivesse conhecimento e se desse a conhecer à criança os diferentes caminhos tomados pelo ser humano na busca de um significado menos terreno. O facto de todas as culturas terem feito essa busca demonstra o poder da religião e parece-me obtuso fazer-se de conta que não existe. Principalmente quando a França, a campeã do laicicismo, na sua estratégia de varrer para debaixo do tapete as diferenças, não parecer ter uma comunidade mais respeitadora e tolerante.

O respeito e a tolerância nasce da vivência e do conhecimento da diferença, não na ignorância. O Estado deve emanar leis gerais, promover esse conhecimento e proteger os elementos mais desprotegidos. Não oprimir os possíveis opressores.

P.S.: devo confessar que a alegria oportunista mostrada pelos "Renas e Veados" demonstrou-me como a intolerância é uma questão de oportunidade. Nem a lei é o garante da justiça, nem a natureza é a lei do comportamento humano. O que realmente interessa a uns e a outros é as pedrinhas... Para apedrejar melhor.

sexta-feira

Ser filho de imigrantes

:-)

Lixo

Eu nem comento. É que eu nem comento!

Religião e Ciência - revisto

Se bem se lembram foi apresentada uma acção em tribunal (EUA - Dover, Pensilvânia) contra o ensino da Concepção Inteligente em aulas de ciência, como contraponto à Teoria da Evolução Natural. Os últimos argumentos foram enunciados há quase um mês (4 de Novembro) e agora o caso está a ser ruminado pelo juiz. Não se espera decisão antes do fim do ano.

No entretanto o conselho escolar dessa mesma escola foi votado fora. O sistema americano escolar é muito diferente dos europeus. Os conselhos escolares são eleitos pela comunidade e são estes que decidem como se faz o ensino das matérias. O julgamento parece ter trazido à atenção das pessoas o que o conselho escolar andava a decidir e resolveram que não concordavam.

Vi em dois blogues portugueses a defesa da ideia de que a concepção inteligente é uma vitória contra o dogma científico.

É errado. A a evolução em biologia é tão aceite porque desde que Darwin primeiro esboçou a teoria esta tem vindo a colectar um número impressionante de factos a suportá-la. Não há outra teoria que explique melhor esses factos. Além disso, não há outro ramo da ciência que possa apresentar tal conjunto de material corroborativo. E mais ainda: o estudo da evolução do sistema geológico corre harmoniosamente lado a lado com a evolução do sistema biológico. É consistente com os princípios da química e da física, etc.,etc...

Este debate não é um ataque a um dogma, mas o ataque a uma teoria científica extremamente bem sucedida na sua capacidade de explicação e previsão. Além disso, uma teoria que mexe na concepção muito cara da origem da vida para as religiões. Porque não se deixem enganar. A concepção inteligente é a nova arma de arremesso da religião cristã. Após tanto tempo, os literalistas da fé ainda não conseguiram engolir que o início da Biblia, com o seu paraíso, o seu Deus a criar da lama, o pecado original, é uma história. A luta destes literalistas deixa no ar que é impossível ser-se religioso e acreditar na ciência. O que é errado.

Os pais em Dover não são ateus. São pessoas religiosas, mas como dizia uma das mães queixosas:
"I reserve the right to teach my child about religion. I have faith in myself and in my husband and in my pastor to do that, not the school system."
[New Scientist, Vol.188, n.2523, 29.10.05]

É possível ser um cientista religioso. Contudo, a religião e a ciência devem ter caminhos paralelos e não cruzados. Uma das melhores explicações destes dois pontos de vista li-a no The Economist [06.10.05]:
To illustrate the difference between scientific and religious “levels of understanding”, Mr Haught [professor de teologia que testemunhou no processo] asked a simple question. What causes a kettle to boil? One could answer, he said, that it is the rapid vibration of water molecules. Or that it is because one has asked one's spouse to switch on the stove. Or that it is “because I want a cup of tea.” None of these explanations conflicts with the others. In the same way, belief in evolution is compatible with religious faith: an omnipotent God could have created a universe in which life subsequently evolved.

It makes no sense, argued the professor, to confuse the study of molecular movements by bringing in the “I want tea” explanation. That, he argued, is what the proponents of intelligent design are trying to do when they seek to air their theory—which he called “appalling theology”—in science classes.


Se se diz que não há explicação para um fenómeno, que basta dizer que emana de Deus, então não há ciência. A religião mata a ciência quando mata a pergunta. E ainda que se perseguisse a pergunta aconteceria como o que dizia uma das testemunhas da acusação (Kenneth Miller):
"If you invoke a non-natural cause, a spirit force or something like that in your research and I decide to test it, I have no way to test it. I can't order that from a biological supply house, I can't grow it in my laboratory. And that means that your explanations in that respect, even if they were correct, were not something I could test or replicate, and therefore they really wouldn't be part of science."

Cell biologist at Brown University in Providence, Rhode Island [Nature 438, 11 (3 November 2005)]

Pessoalmente eu penso que a coexistência pacífica de religião e ciência é possível se se visionar a primeira num plano filosófico que pretende responder a questões de ordem moral e ética e a ciência como um método para compreender o mundo material.

Acentuo o facto de que este debate nos EUA se desenrola nas escolas preparatórias e secundárias, onde os currículos são decididos por pessoas que muitas vezes não têm preparação científica e decidem não com base na ciência, mas com base em ideologia. Nas Universidades os currículos são decididos pelos estudiosos especialistas na área. Estes sabem qual é o consenso do momento no que se refere às questões básicas e sabem o que está em controvérsia (dentro da ciência, sem misturas de alhos com bogalhos).

Numa boa Universidade as polémicas também devem ser ensinadas, pois estão-se a preparar profissionais das áreas (sejam eles praticantes ou continuadores da busca de conhecimento), que deverão saber as últimas. Nas escolas preparatórias e secundárias dever-se-ia ensinar o consensual, o que já deu provas e tem uma grande certeza. Ensina-se a base. Para que todos tenham uma cultura geral da ciência e para preparar os que irão prosseguir na Universidade. Esta concepção do ensino pré-universitário não é restrita à ciência. Para que se entenda o que se discute, tem primeiro que se entender o ponto de partida.

Contudo, ensinar ciência não deve ser ensinar um manancial de factos desconexos, que desmotiva o aluno e o leva a exercícios de memorização, no cômputo final inúteis. Ensinar a ciência no seu percurso de becos, de hipóteses que se revelaram erradas, de acrescentos, de descoberta, de momentos de génio e anos de trabalho intenso, chegando ao fim e dizendo: "Hoje sabe-se isto.", penso que é suficiente para mostrar ao aluno que a ciência é na sua essência um processo anti-dogma. Além disso, os programas escolares (pelo menos em Portugal) ao ensinarem a Teoria da Evolução fazem-no no seu contexto histórico, começando pelo que se acreditava ainda antes de existir ciência, passando pelo criacionismo. Eu fui ensinada assim.

quarta-feira

Coisas que se esquecem

Porque não faz bem lembrar. Mas talvez fosse bom fazê-lo quando se pensa no retorno.

Estou a referir-me aqui, à história nr. 2

domingo

O Natal começou

Está a dar o "Música no Coração".

The Naked Woman

Andei a ler o livro "A mulher nua" de Desmond Morris. Achei o livro divertido, só um pouco seca quando o autor descreve a anatomia feminina como um biólogo e não como um homem maravilhado. Faz uma leitura leve e agradável com as suas histórias e explicações: do porquê de termos uma grande trunfa no cocuruto da cabeça, do maior sex-appeal das louras, o que é a ponta de Darwin, o sexo frequente como elemento de uma fisiologia equilibrada, a origem do beijo na boca, o pescoço como sumamente erótico na cultura japonesa, etc, etc.

"Assim, resumindo - no seu caminho evolutivo em direcção a uma cada vez maior neotenia, os machos assumiram comportamentos mais infantis, mas menos alterações físicas; enquanto que as fêmeas desenvolviam mais características físicas infantis mostrando menos qualidades mentais infantis."*
:-) Hehehe...

Como mulher a ler um livro escrito por um homem sobre o corpo feminino, no que ela tem de particular, eu não pude deixar de resvalar sempre para esse corpo tão pouco aclamado. Por muito tempo foi mal visto que uma mulher se expressasse relativamente ao corpo de um homem. Assim, devido a uma injustiça imposta à mulher surgiu uma injustiça imposta ao físico masculino. De tal forma que este só aparece como elemento de desejo nos meios homossexuais.

Pois enquanto eu lia sobre a mulher nua, eu pensava no homem nu e de como acho o corpo de um homem maravilhoso. Vós sois lindos.


© 2005 Paulo César Guerra - 1000imagens.com

* tradução minha.

sábado

Explicação

Um dia olhei-te...

Já não me eras amigo...

É por te amar que te não suporto.

sexta-feira

Nevado

O primeiro dia branco do inverno.

Hamburgo é uma cidade demasiadamente junto ao mar para que a neve pegue, pelo que cada dia branco é uma dádiva. Ontem de madrugada, quando o escuro se ia impregnando de claro, não resisti a fazer uma incursão pelas ruas desertas. A neve, o branco e o silêncio são uma perfeita combinação para um passeio nocturno. É mais fácil fazer as pazes com o mundo.

Hoje acordei e fiz na mesma o olhar infantil de deslumbramento, as tarefazinhas da manhã, que matam o bom humor, foram feitas de passo leve e quando já ia a sair encontrei a... portuguesa. :-) Logo ali encetamos uma conversa de inglês. Dissecamos o tempo nesta componente especial da neve (todos os dias passados de neve desde que cada uma de nós chegou a Hamburgo), trocamos a informação de quando da ida natalícia à pátria, fizemos um ar compungido de saudade e libertamo-nos uma da outra após mais um contacto demasiadamente cortês para significar algo.

E prontos. Só para dizer que hoje mais branco nao há.

MST sobre OTA

Foi você que pediu um aeroporto?
Miguel Sousa Tavares


Aquilo parecia uma reunião de vendas da Tupperware, em ponto gigantesco. Setecentos convidados escolhidos a dedo passaram um dia a ouvir o Governo e os consultores por ele contratados (e todos eles parte interessada no negócio) a defenderem os méritos do futuro aeroporto da Ota. Dos setecentos convidados, alguns eram institucionais, ligados ao assunto pela própria natureza das suas actividades, mas a grande maioria era composta por candidatos à compra do negócio: consultores, bancos, construtores, advogados de negócios públicos, enfim, a nata do regime, as "forças vivas" da nação.
Lá dentro, os setecentos magníficos estavam positivamente desvanecidos à vista de tantos e tantos milhões que o Governo socialista tinha para lhes dar. Havia dinheiro no ar, dinheiro nos gráficos apresentados, dinheiros nos "documentos de trabalho", dinheiro a rodos. O nosso dinheiro, os milhões dos nossos impostos. Mas ninguém nos convidou para entrar: é assim a democracia.
A primeira mentira que o Governo promove acerca da Ota é a de tentar convencer os tolos que o futuro Aeroporto Internacional Mais Perto de Lisboa não vai custar praticamente nada aos cofres públicos. Acredite quem quiser, o Governo jura que a "iniciativa privada" resolveu oferecer um novo aeroporto ao país. Assim mesmo, dado, sem que saia um tostão do Orçamento do Estado, fora os milhões já gastos nos estudos amigos. É falso e é bom que ninguém se deixe enganar logo à partida: parte do dinheiro virá da UE e podia ser gasto em qualquer coisa mais útil; parte virá do Estado directamente; parte poderá vir dos utilizadores da Portela, chamados a custear a Ota, a partir de 2007, através de uma taxa adicional cobrada em cada embarque; e a parte substancial virá ou da venda de património público (a ANA), ou da cedência de receitas do Estado a favor dos privados - as taxas aeroportuárias dos próximos 30 a 50 anos. É preciso imaginar que somos completamente estúpidos para não percebermos que abdicar de receitas ou vender património rentável é, a prazo, uma forma indirecta de realizar despesa, agravar o desequilíbrio das contas públicas e forçar o aumento de impostos para o compensar. E também uma forma de pagar bastante mais caro as obras públicas, para garantir o negócio à banca e aos investidores privados - como sucede com as Scut e com a Ponte Vasco da Gama. Se voltarem a ouvir dizer que a Ota vai sair de borla aos contribuintes, saibam que vos estão a tomar por estúpidos.
Resolvida esta questão prévia, o Governo e os seus cúmplices tinham mais três outras questões essenciais a explicar: que Lisboa vai precisar de muito maior capacidade aeroportuária num futuro médio; que, existindo o problema, a solução passa pela construção de um novo aeroporto de raiz e não pelo acrescento do actual ou pelo seu aproveitamento complementar com os adjacentes - Alverca ou Montijo; que esse novo aeroporto é viável, cómodo para os utentes e economicamente sustentável, situado a 50 quilómetros da cidade. Nada disso foi conseguido: o estudo apresentado pela Naer, mesmo para ignorantes na matéria como eu, é uma pífia peça de publicidade para tolinhos ou distraídos, capaz apenas de convencer os directamente interessados no negócio. É lastimável que se queira comprometer mais de 3000 milhões de euros de dinheiros públicos, que se planeie retirar a Lisboa um instrumento económico tão importante quanto o é o Aeroporto da Portela e tornar pior a vida de milhões de pessoas que o utilizam, com os argumentos constantes de um folheto que mais parece destinado a vender time-sharing no Algarve.
Por falta de espaço não posso agora analisar ponto por ponto esta lamentável peça propagandística, decerto paga a peso de ouro. Mas, para se ter uma ideia da leviandade com que ela foi apresentada, dou o exemplo dos 56.000 postos de trabalho que supostamente a Ota irá criar - 28.000 dos quais directos e mais 28.000 indirectos "na envolvente", sem que se explique minimamente de onde é que eles nascem e o que é isso da "envolvente". Ou o exemplo do tal shuttle, que, saído da Gare do Oriente todos os quinze minutos em cada sentido, ligará Lisboa à Ota em 20 a 25 minutos - sem que se explique onde é que existe a capacidade da Linha do Norte para absorver esse shuttle. Ou o exemplo do silêncio feito sobre o destino do Aeroporto Sá Carneiro, em cuja modernização se gastaram recentemente 300 milhões de euros, e que tem a morte anunciada com o aeroporto da Ota. Ou o facto de não se incluírem nos custos estimados nada que tenha a ver com as acessiblidades necessárias, quer ferroviárias (o shuttle mais o TGV), quer rodoviárias, incluindo a construção de uma nova auto-estrada e o prolongamento da A13. Ou ainda o facto de não haver qualquer estudo económico que se proponha quantificar os custos de utilização da Ota, no que respeita a horas de trabalho perdidas nas deslocações de e para o futuro aeroporto, o acréscimo brutal de consumo de combustível, o aumento da sinistralidade rodoviária, o aumento dos custos de exploração da TAP, das demais companhias aéreas, das empresas sediadas no aeroporto, das agências de viagem e turismo, das actividades hoteleiras, etc., etc.
Tudo foi feito, não para convencer os portugueses e os contribuintes da necessidade imperiosa da Ota, mas sim para convencer o grande dinheiro das vantagens desta oportunidade única de negócio. Foi feito ao contrário: os que ficaram à porta deveriam ter sido os primeiros a ser convidados, e só depois se chamavam os setecentos. Eu não tenho, e julgo que ninguém poderá ter, a pretensão de ter certezas absolutas sobre isto: não sei se a Ota se virá a revelar uma decisão visionária ou antes um imenso e trágico desperdício. Mas o que sinto em todo este processo é que a decisão já estava tomada desde o início e, tal como sucedeu com a regionalização - outra das soluções mágicas dos socialistas - o Governo se acha competente para tomar decisões que comprometem drasticamente o nosso dinheiro e o nosso futuro, sem se preocupar em explicar e convencer os que têm dúvidas. Por isso é que toda esta questão da Ota cheira mal à distância: cheira a voluntarismo político ao "estilo João Cravinho", que tanto dinheiro custou e continua a custar ao país, e a troca de favores com a clientela empresarial partidária, a que costumam chamar "iniciativa privada".
Para esse peditório já demos. Já demos demais, já demos tudo o que tínhamos para dar. O país está cheio de fortunas acumuladas com negócios feitos com o Estado e pagos com o dinheiro dos impostos de quem trabalha, em investimentos cuja utilidade pública foi nula ou pior ainda - desde os estádios do Euro até aos hospitais de exploração privada. Seria bom que quem manda compreendesse que já basta.

Jornalista


Peço desculpa ao Público por ter feito cópia integral da crónica do MST, mas sinto que posso estar a fazer um serviço público. Avisem-me se me quiserem processar, que eu elimino logo isto. Gostaria de ir a casa no Natal sem perigo de prisão preventiva.

quinta-feira

Aos renegados

Eu comecei a ir e vou ao Renas e Veados pela chacota que fazem ao Ratzinger e vaticano. Acho piada. Mas ultimamente comecei a dar-me conta (desculpem sou lenta de raciocínio) que o que para mim é uma grande farra, poderá para eles ser uma reacção de católicos excluídos. Caso leiam isto, corrijam-me se eu estiver enganada. Eu preferiria estar.

Amig@s, tentar chegar a Deus através da igreja é como tentar chegar ao Tibete de triciclo.

Preocupem-se com o vosso lugar na sociedade e deixem a igreja. Esta é puxada pela primeira e em Portugal mesmo os católicos só escolhem da religião o que lhes dá jeito, o que se poderia chamar de hipocrisia, mas pessoalmente eu neste caso aplico o adágio: "Ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão".

Boas e de resto continuem a bater no B16... mas na desportiva.

quarta-feira

Sondagens...

... na Alemanha

1. Thomas Mann ... 22%
2. Bertolt Brecht ... 15%
3. Günter Grass ... 10%
4. Hermann Hesse ... 7%
4. Heinrich Boell ... 7%
6. Franz Kafka ... 3%

terça-feira

Amizade é:




Clicar para aumentar (por partes)

Aqui

segunda-feira

Isto soa tão inteligente

que parece mentira.

Mas a realidade não interessa nada!

O MST recebe elogios de alguns quadrantes blogueiros porque foi contra o politicamente correcto que é ser pró-gay e pró-lésbica. Este politicamente correcto é uma abstração teórica. Portugal é um país onde se ostraciza o homossexual, em que estes têm de viver escondidos e os que se mostram fazem-no no contra-ataque.

Este politicamente correcto é em discussões sem sentido prático, de pessoas que não vivem em Portugal, mas vivem nos livros sociológicos de outros países. Vivendo em Portugal, experimentam vivências fora de Portugal. Ou então extrapolam eventos como as gay parades para o dia-a-dia. Onde? Onde existem essas gay parades diárias? Ou será que se referem a programas televisivos em que a figura do homossexual é encaixilhado na imagem do preconceito? Dizia um bloguista d'O Acidental que se chateia que alguém se lhe apresente como homossexual. Mas já pensou porque o fazem? Eu também já tive a experiência, na Alemanha, de alguém se me apresentar de sopetão como judeu e eu fiquei na posição de lhe desejar muitas felicidades na sua religião (que afinal até nem era a religião da pessoa, mas uma descendência tortuosa). Mas porque é que essa pessoa se sentiu na necessidade de o fazer? Essa é que é a questão. Entender essa necessidade e que esta provém de uma não aceitação (que no caso do pseudo-judeu que eu conheci na Alemanha é do foro histórico) tem muito mais valia do que este parlapuê hipócrita ao mesmo nível do preconceito puro.

Vivendo num país altamente homofóbico, onde nunca em toda a minha vida vi qualquer manifestação de amor homossexual, esta gente impreca contra os exibicionistas gays e lésbicas.

Às vezes ler muito faz mal. Deve-se regrar a leitura com um pouco de realidade.

P.S.: o mais triste é se agora sobre a cobertura de ser-se politicamente incorrecto se possa ser correctamente homofóbico.

domingo

Posto de observação

Ontem saí prá noite e ainda com a cena dos exibicionismos na cabeça andei a prestar atenção. Pois vi vários beijos e dar de mãos e expressões faciais demonstrativas de lascívia imperdoável. Vi até um apalpanço e confesso que corei quando me dei conta que a mão era a minha. Um lapsus cervejus? (Não, mãezinha. Um gesto entre pessoas que se gostam. :-) ) Todos os "exibicionismos" foram entre homens e mulheres. Talvez tenha existido um congresso de homossexuais em Campo de Ourique e eles andaram a exibir-se nas barbas fumadas do MST. Pobre homem. Acho que está paranóico.

sábado

Portugal 1976




Fotos de Josef Koudelka

Simplicidade



Hoje estou assim descomplicada. Simplesmente a existir, só sei que sou e de resto tudo bem.

sexta-feira

MST

Eu gosto de ler o que o Miguel Sousa Tavares escreve. Desde que eu comecei a ler jornais e a pensar o que é a sociedade e o meu papel nela. Desde aqueles tempos em que eu era muito idealista (ainda sou um pouco e fica-me uma sensação de vergonha, como se agora já devesse ser adulta e ser adulto E idealista fosse um pecado de estupidez).

Quando penso o que me atrai nos textos do MST penso na sua frontalidade e paixão. Sinto que ele não escreve para se ler ou para exibir os seus textos como um pavão a exibir a cauda. Ele escreve de dentro. Ele opina porque se importa, porque lhe faz confusão, porque quer gritar e acordar gente. Ele não escreve por escrever, porque em terra de iliteratos tem-se um geito com as palavras. Ele não escreve porque gosta de provocar, como numa pequena guerra de galos. Pelo que ele se revela e pelo que ele se importa, eu sinto que vale a pena ler o que ele escreve.

Quando se usa um pouco de diplomacia começa-se pelo elogio e termina-se na crítica.

Há três opiniões do MST que eu discordo. Uma é a sua posição sobre o fumar em espaços públicos. Para não se pensar que eu sou uma não fumadora fundamentalista, declaro a minha condição de ex-fumadora, que de vez em quando pega num cigarro e sabe bem a relação de prazer que se pode ter com o fumo. Contudo, como já me acusaram, a minha faceta racional fala mais alto e, pesando prós e contras, deixei-me disso. Passou de relação matrimonial para flirt ocasional. Contudo, mesmo quando um cigarro era elemento usual na ponta dos meus dedos eu detestava ser fumadora passiva. Odiava aquele fumo que não era meu. Para mim é falta de educação impôr aos outros os seus esgotos. O que a mim me diverte é que o MST acha um direito ele pufar fumo pra cima de outra pessoa, mas segundo a crónica desta semana no Público, acha do piorio que as pessoas exibam beijos, apalpões e afins em público. Eu também tenho uma certa resistência a fazerem-me de voyeur. É desconfortável e apetece-me sempre perguntar "Mas vocês não têm um quarto?". Ainda no outro dia, no metro, vi uns preliminares no banco em frente e fiquei a chuchar no dedo, que depois ninguém me convidou pra festa propriamente dita. Isto é imoral.

Lá está. Uma certa educação de não envolver os outros em acções que devem ser privadas. Mas um beijo, uma carícia, um dar de mãos, algo que seja só uma bela e pequena mensagem, qual é o mal? Eu não sei em que mundo o MST vive, mas ele acha que os gays e as lésbicas são uns exibicionistas. Eu, no dia a dia, o que vejo, quando vejo, são os heterossexuais em apalpanços. O primeiro beijo homossexual vi-o eu na Alemanha e acho que se o visse em Portugal iria procurar refúgio com medo de ser atingida por fogo colateral de um qualquer grunho a impôr a ordem e bons costumes. Talvez seja exagero, talvez só riscassem o carro aos provocadores. Parece que o mundo em que o MST vive não é o mesmo em que eu vivo.

A terceira posição do MST, de que eu discordo, é o uso que ele faz para avaliação de comportamentos humanos do que o resto da animalada faz. O ser humano pode ser homossexual se a girafa também for. O ser humano pode caçar porque o leão também o faz. Eu proponho todos nós andarmos por aí a rebolar merda porque há uns escaravelhos que também o fazem. Vamos lá todos. Bora, nessa!

P.S.1: se eu continuo neste mau humor crítico vou ter que mudar o nome do blogue.

P.S.2: dei-me conta que pela posição 3 o MST não devia fumar. Não há nenhum bicho que fume, portanto não é natural, portanto...

P.S.3: mas já exibicionismos sexuais estão completamente dentro da naturalidade. Quem não viu o animal doméstico em poucas vergonhices comente. Tenho a certeza que isto vai ficar em zero.

Não há falta de médicos

Segundo um levantamento sobre recursos e produção no Serviço Nacional de Saúde realizado em 2003 pela Direcção-Geral da Saúde.

Excerto da notícia do Público...
"O administrador hospitalar salienta que "em Portugal o número de médicos por habitante é superior ao da média europeia": "O problema é que esses médicos acumulam o trabalho no público com a clínica privada de forma descontrolada e há uma má distribuição de clínicos, quer geográfica quer de especialidade." Ou seja, é uma questão estrutural de funcionamento do sistema e de ausência de planeamento, diz."

Saúde, justiça, educação, há uma tendência de recursos suficientes, má gestão, pessoal a fazer pela sua vidinha... Claro que há excepções. Há mesmo locais com más condições. Mas quando se vêem as excepções positivas não é que as pessoas tenham mais e melhores recursos, é porque as pessoas têm brio no que fazem e/ou sentido de responsabilidade. As PESSOAS é que fazem a diferença.

O estudo é de 2003. O que fizeram até hoje? eH? Se o governo tentar fazer algo o que vai acontecer? eH? Ah, pois...

Hoje é a greve dos professores: desejo-lhes um bom fim-de-semana prolongado.

quinta-feira

A lógica dos professores

Mais: o ministério compromete-se a "fornecer meios tecnológicos actualizados, designadamente computadores portáteis e kits multimédia, para apoio do trabalho dos professores". Para as medidas anunciadas o Governo tem, para gastar em 2006, 40 milhões de euros. Quanto ao facto de não ter sido possível chegar a acordo com os restantes sindicatos, a governante explicou que tal não aconteceu "devido ao centramento" dessas estruturas no regime de faltas dos professores e na questão das aulas de substituição - "não podemos aceitar propostas que passam pela suspensão dos despachos que permitam a ocupação plena dos tempos escolares", referiu. "O princípio das actividades de substituição não estava em cima da mesa para negociação, mas reconhecemos a necessidade de clarificar conceitos", continuou. "É preciso ter a noção de que hoje o quotidiano das escolas está muito alterado e daí surge alguma insatisfação que necessariamente o tempo se encarregará de mitigar. Não tenho dúvida de que o que estamos a fazer é em favor de uma escola de qualidade."

No Público de hoje


De tudo o que leio relativamente à educação, aos professores e às minhas recordações de aluna não tenho um infimo de dúvida em apontar o dedo aos professores. Se não gostam de ser professores façam um favor à gente e mudem de área. É triste que não haja muitos empregos em que possam passar as horas a ler a Máxima e a Bola e depois irem pra casa tirarem a folha amarfada com o plano das aulas do próximo dia, que é o mesmo de há anos. Aqueles primeiros anos em que se tem que realmente preparar algo. Eu sei como pode ser cansativo aturar crianças. Por isso é que não sou professora. Entendem a lógica? A gente escolhe aquilo que gosta, não aquilo que dá possibilidades de menos trabalho.

Os estudos da OTA!!!!!

Através da
barriguinha do arquitecto a ligação aos Estudos para o novo aeroporto internacional.

Só andei a desfolhar pelo "Novo aeroporto internacional - ponderação do seu diferimento através da expansão da Portela" da IATA e o "Lisbon airport traffic forecast 1998-2015", estudo coordenado pela FCT/UNL.

O que me passou pelo cerebelo foi...
Ambos foram realizados nos finais dos anos 90, antes do aparecimento das companhias de baixo custo. Pelos gráficos, o tráfego é maioritariamente com a UE e não me parece que nos últimos 6-7 anos essa realidade tenha mudado. Portanto, sem ter em conta as baixo custo qualquer estudo de previsões de tráfego e serviços está fora de mão. OU?

Um primeiro pensamento, mas há muito material para novos pensamentos...

Tenho um olho que me adivinha... {## Actualização}

os próximos a entrarem de luto.

OU

Ensaio sobre a cegueira em Lisboa, pelos 59 oftalmologistas dos Capuchos.

OU

Sugestão para reportagem televisiva, que eu tou a morrer de curiosidade: 24 horas na vida de um oftalmologista no Hospital dos Capuchos. Um representativo, não os estagiários.

## Parece que o ministro se enganou... No "Bicho Carpinteiro" fala-se sobre o assunto.

quarta-feira

Manifestem-se!

Disse-me uma amiga que os senhores professores estão de luto e que a apoteose será na próxima sexta-feira (sexta, absolut teacher), porque coitadinhos estão muito desmotivados (Sócrates faz-lhes umas festinhas), as crianças deixam-nos esgotados (já tenho ali o bastão para quando vir os terroristas dos meus sobrinhos), tanta coisa para preparar e tudo em 35 horas de trabalho por semana (isto é a escravatura!), sem condições de trabalho (isto não sei porquê vem sempre no fim das queixas).

Eu pergunto-me porque é que os outros, os que trabalham mais e que não têm direito a desmotivações, os que são avaliados ao fim do mês de acordo com o que produzem (e não corridos a "bom" mesmo que nem saibam a diferença entre o teclado e a bengala do encosto), porque é que não se manifestam. Ah, pois. Porque não têm tempo. Porque andam a dar o litro a trabalhar por eles e pelos outros. Os desmotivados que choram as mágoas à frente da bica. A vida é dura.

De colegas que entraram para a função pública ouvi sempre a mesma queixa: se queres trabalhar és ostracizado. Nas avaliações o trabalhador recebe o mesmo que o preguiçoso. Os pobres andavam desmotivados, andavam.

Se me perguntarem, acho a crise muito boa. Para acabar com os acomodados. Aí, a dançar o vira minha gente.

Uma das coisas que me chateia em Portugal

CP acaba com comboio Intercidades para a Régua
Carlos Cipriano no Público de hoje

""Mais transbordos e comboios mais lentos no Minho e no Douro a partir de 11 de Dezembro. Autarcas contestam perda de qualidade do serviço

O serviço Intercidades vai desaparecer da Linha do Douro depois de, há quatro meses, a CP ter previsto reforçá-lo com mais duas circulações diárias. O comboio com mais qualidade que liga o Porto à Régua deverá realizar-se pela última vez no dia 10 de Dezembro porque no dia seguinte entra em vigor o horário de Inverno que reforça o serviço regional em detrimento de marchas mais rápidas.

Os tempos de percurso vão aumentar, ficando a Régua a mais de duas horas do Porto, quando hoje é possível percorrer aquela distância em 1 hora e 46 minutos. Segundo o PÚBLICO apurou, a Régua poderia ficar apenas a uma hora e meia do Porto se a CP utilizasse locomotivas mais potentes na Linha do Douro. O novo horário prevê também que alguns comboios desta linha terminem a sua marcha em Caíde de Rei (concelho de Lousada), devendo os passageiros fazer transbordo para os suburbanos. Tratando-se de unidades de negócios diferentes, esta é uma forma da empresa reforçar o seu tráfego da CP-Porto à custa da CP-Regional.

Do Marco de Canaveses para a Invicta, a lógica é a mesma - a CP-Regional assegura o transporte dos passageiros até Caíde e a CP-Porto leva-os até Campanhã. A razão deste transbordo não é comercial, mas sim técnica, pois é em Caíde de Rei que termina a linha electrificada. A Refer chegou a ter previsto no seu plano de investimentos para 2005 a continuação da modernização da Linha do Douro até ao Marco, mas a mudança de governo fez congelar o projecto.

Transbordos também na Linha do Minho

A CP vai também cortar ao meio a Linha do Minho, fazendo uma ruptura de carga em Nine. Cerca de 20 comboios diários de e para Viana do Castelo e Valença terão origem e destino naquela estação e não em Campanhã, quebrando-se uma prática com mais de cem anos em que os comboios para o Minho eram directos.

A ligação a Vigo mantém-se, mas a CP deu uma ajuda para a sua extinção a curto prazo depois de o não ter conseguido fazer em Junho passado devido aos protestos dos autarcas da região e da Junta da Galiza. Agora, em vez de duas circulações diárias em cada sentido, passa a haver apenas uma e o comboio passou a ser um simples Inter-regional, que multiplica o número de paragens. Resultado: entre Porto e Valença, em vez das duas horas actuais, passa a demorar entre duas horas e meia e duas horas e 48 minutos.

Na zona suburbana da Invicta haverá, contudo, uma melhoria qualitativa e quantitativa nas ligações entre Aveiro/Ovar e o Porto.

A Região Norte fica agora mais perto do Algarve com dois comboios pendulares directos em cada sentido entre Campanhã e Faro, que farão o percurso em 2 horas e 55 minutos. E Lisboa fica agora dez minutos mais próxima, pois entre o Douro e o Tejo a viagem no Alfa Pendular demorará duas horas e 49 minutos, em vez das três horas actuais.

O PÚBLICO tentou saber junto da CP as razões das alterações dos horários nas Linhas do Minho e do Douro, mas a empresa disse apenas que está a analisar a nova oferta.""


Quando é que os abéculas da CP compreendem que não funciona só procura -> oferta, mas que se houver oferta de geito também poderá aumentar a procura? Mas será que eles alguma vez se lembraram de perguntar? E a gente que está condenada ao carro! Não sei se ainda tenho paciência para um país motorizado.

terça-feira

Blogues presidencialistas

Ao ler esta avaliação dos blogues apoiantes de três candidaturas presidenciais pensei que talvez fosse interessante e informativo eu lê-los.

Estive lá e resolvi procrastinar. Prefiro trabalhar. Chiça.

Os torturadores

Estava para aqui a ler sobre o debate sobre tortura nos EUA, em mais um capítulo na luta contra o terrorismo.

Desde o 11 de Setembro que se assiste a uma degeneração de valores na sociedade aterrorizada. Pergunto-me se será necessário tornarmo-nos mais como terroristas para combater terroristas?

Relativamente à tortura, para lá da dúbia utilidade de um depoimento feito sob tortura, o que se estará a semear em termos da brutalização da sociedade que o permite e dos indivíduos que aplicam a tortura? Procuram-se os sádicos já existentes ou corrompem-se mentes? Criando-se os lobos, quem será o cão polícia?

É isto que se quer? É por isto que se luta?

Insurgente subsidiado


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sexta-feira

A cor da esperança



A semana passada foi de eleições na Libéria. Este país africano teve uma guerra civil de 14 anos, que acabou a 2003.

A senhora no meio da imagem chama-se Ellen Johnson-Sirleaf e após a contagem de 97% das estações de voto é a vencedora com 59%
das escolhas.

O principal oponente chama-se George Weah (uma antiga estrela do futebol) e houveram alguns problemas provocados pelos seus apoiantes que alegam fraude. As autoridades da UN dizem que o processo decorreu com transparência, ordeira e pacificamente. Observadores da Unidade Económica dos Estados do Oeste Africano também declararam as eleições justas.

A Libéria é um país brutalizado pela guerra em que linhas éticas e morais foram ultrapassadas. O passado recente é de morte, tortura e injustiça.

As pessoas precisam de alguém que ponha em prática a esperança. A que se espelha no sorriso das mulheres.

Soares e a blogosfera

Os blogues de direita dão-me vontade de votar Mário Soares.

Os blogues de esquerda dão-me vontade de não votar Mário Soares.

Questão que me passa pela cabeça e eu nem sei porquê: um veneno é o antídoto de outro veneno?

Racismo debaixo da pele

Este último fim-de-semana estive numa festinha onde encontrei uma parisiense. Falamos dos túmultos e ela deu ênfase ao racismo subterrâneo. Os franceses "antigos" ainda vêem a França de bochechas rosa e não consegue lidar com a nova França mais "latte". Ter um CV com um nome começado por Jacques traz muito mais valia do que o outro com um nome como Mohamed.

De tudo o que li e ouvi este foi o aspecto que ressoou um pouco da minha experiência de portuguesa. Somos racistas, mas daquele que não se põe o dedo. Mas também existe o racismo televisivo que eu acho "divertido". É o caso da minha mãe. A minha adorável progenitora vê as notícias e fica chocada com todas as guerras civis em África e arenga sobre os pretos e a sua intrínseca maldade. Eu chamei-lhe a atenção que os vizinhos são mulatos. Ela nunca se tinha dado conta. Os maus são os da televisão, não os que ela diz bom dia na rua. Não o padre angolano que cuida das ovelhas da sua paróquia. São os que vivem em África, que são maus e matam-se uns aos outros.

Contudo, há um racismo debaixo da pele. Aquele que acha que um preto com um bom carro só pode ser criminoso. Que um preto só pode ser preguiçoso. Que um preto tem de certeza uma fraqueza só porque é preto. Um racismo sem substância, mas que há, há.

Devo dizer que não conheço a realidade de Lisboa, em que existe uma grande comunidade imigrada de África. Onde eu vivi existem mulatos, portugueses retornados. Ainda assim... Há hábitos difíceis de vencer. Talvez com cirurgia?

quinta-feira

Sinais na barricada

Os abutres sobrevoam

Os hipócritas na marcha da liberdade

A vingança serve-se fria

Há uns tempos dei o livro "The pleasure of my company", do Steve Martin, a um amigo e de sorriso irónico disse-lhe que ele me fazia lembrar o personagem do livro.

Ele agora deu-me "A pomba" de Patrick Süskind. :-(

p.s.: Se não entenderam, vejam isto como uma possível motivação para a leitura.

domingo

Venha o diabo e escolha

Como se distingue um blogue liberal de um blogue socialista?

Os primeiros babam-se de deleite com as desgraças na Europa, os segundos deliram com as desgraças nos EUA.

sábado

Pela minha janela vejo o Outono a acabar



Aqui

Confrontos em Paris

Falei com um amigo francês e ele deu-me uma imagem dos causadores dos confrontos bastante similar à que encontrei neste artigo, encontrado no "A origem das espécies". Uns rufiões que gostam de rap e da cena de gangs dos filmes americanos e cada um tendo mais dinheiro no bolso que eu e ele juntos.

Andei a ler o que os liberais escrevem sobre o assunto e revejo-me na crítica à leniência dos governos europeus. Será cobardia ou consciência pesada do que fizeram nos países de origem destes jovens?

Claro que aproveitaram para criticar o sistema social europeu, mas lembro-lhes que a Alemanha tem também um sistema social pesado e nada disto se verifica. Parece-me que o problema está mais na solução urbanística encontrada para alojar a população imigrante e a demissão no policiamento e na punição. Além da cantata do "pobrezinho".

Quanto ao Islão. Duvido que estes jovens sejam islâmicos. Estes jovens não têm é valores. Nenhuns.

P.S.: O islamismo é uma religião com os seus valores éticos e morais. A nível de tolerância por outras religiões teve na prática comportamentos do maior respeito e que põem a religião cristã de joelhos a rezar por perdão sem fim. Comunidades cristãs, judias e zoroastristas foram protegidas até ao século XX. Os movimentos imperialistas na zona e a criação de Israel retiraram estas comunidades da sua existência pacata. Ainda outros aspectos que não compreendo totalmente criaram o islamismo radical. Os hábitos tribais dos povos do Médio Oriente fundiram-se com a própria religião. O desrespeito pelos direitos das mulheres tem uma origem tribal e não religiosa.

Estes descendentes de islâmicos estão entre dois mundos. Perderam os valores dos pais e não tomaram os valores da terra que devia ser deles. São uns proscritos. A culpa é provavelmente de todos.

sexta-feira

O preto, o branco e o cinzento

Os vandalismos e os confrontos da última semana em Paris são daqueles acontecimentos que me calam. Ouço os opinamentos e surpreendo-me com a capacidade de colocar tudo bem arranjadinho numa estrutura a preto e branco. A primeira vez que me dei conta do caso foi 4 dias após o início quando o vi escarrapachado no monitor da minha amiga americana. "Riots in Paris?". Aprochego-me para ler a notícia. "Yes, poor boys." Eu não disse nada porque não sabia nada e porque estou habituada a que ela tenha uma visão muito maniqueísta do mundo. A colega de gabinete dela que tem um filho adolescente mulato acercou-se e disse "At least they speak about it. Here in Germany everyone avoids to recognise the problem of police racism.", "Yes?!?" Eu completamente surpreendida. "The police can arrest someone for 1 day without charge and they do it to non white teenagers. Just because they hang around."

Cinzento, cinzento, cinzento.

A Alemanha tem um aspecto que permite que nunca se atinja o nível virulento de confrontação parisiense. Controla-se a construção de bairros que se possam tornar guetos. Não se consegue discernir à primeira bairros de maioria alemã de bairros de maioria imigrada. Mistura-se. Em Hamburgo, quando se fala de bairros turcos e portugueses é porque são os mais vivos, de pessoas, de bares e restaurantes, de cores (no Lonely Planet, um dos pontos altos de Hamburgo é ir jantar ao bairro português junto ao porto). Não há nos subúrbios desta cidade de 2 milhões e multicultural nada como os banlieues.

Um dia, andava a passear com uma amiga portuguesa (de visita) uma terrinha nos arrabaldes de Hamburgo. Iamos distraídas e quando nos demos conta estávamos num pequeno bairro de imigrantes. Fiquei surpreendida, pois era um aglomerado de casas modestas de um piso e aquelas pessoas viviam ali declaradamente separadas do resto. No campo, as crianças a brincar livres, adolescentes a compôr as bicicletas e as motos à porta. A minha amiga sentiu-se desconfortável, provavelmente a pensar nos acampamentos ciganos. Quando me apercebi também me quis vir embora. O castiço é que eu não tenho medo dos adultos, mas ponham-me uma criança de dez anos à frente e eu começo a transpirar. Isto deriva de várias experiências em que eu fui chingada por crianças ciganas e me atiraram pedras e latas. Desde aí tenho sempre o cuidado de evitar os seus acampamentos.

Cinzento, cinzento, cinzento.

Parece-me absurdo o discurso "coitadinhos destes pobres jovens, só exteriorizam a frustração perante uma sociedade que os marginaliza". Que dizer daqueles que têm vidas difíceis, mas são responsáveis e trabalhadores e até são vizinhos destes pobrezinhos e veêm o carro, que lhes custou muito a pagar, a transformar-se em sucata numa noite de "justa" revolta?

Nem preto nem branco.

Mas também é absurdo considerá-los meros criminosos. Deixar construir bairros horríveis, depósitos de pessoas, sem verde, sem espaço, sem horizontes, anónimos, sem locais para conversar, para poder construir uma comunidade, uma identidade, prisões de cimento. Ignorar, alienar e ficar muito surpreendido quando algo assim acontece e numa de politicamente correcto gritar "Pobrezinhos", ou egoisticamente gritar "Ralé".

Que tal exigir dos nossos governantes medidas preventivas de civilização? É que há pessoas que sabem e estudam estas coisas há décadas. Não são só teorias sociológicas, arquitectónicas ou urbanisticas. Qual a prioridade? Construir estádios de futebol ou providenciar condições para as pessoas viverem como as pessoas devem viver e não em gaiolas de cimento?

Além disso, apavora-me a leniência total. Uma senhora, aqui na Alemanha, contou-me que nos tribunais alemães era prática corrente dar a pena mais leve por crimes de honra. Os magistrados consideravam que era algo cultural. Eu fico fora de mim e grito: cultura não é assassínio! Cultura não é mutilação!

Os direitos humanos são independentes da cultura. Cultura é o falar, o escrever, o pintar, o cantar, a comida, os gestos, é a expressão da humanidade. Não a sua diminuição!

Pela rua dourada

Caminhamos pela rua que de ontem para hoje ficou dourada. Um despertador arborícola soou em silêncio e ruborizou de amarelo-outono todas as folhas. Agora nevam por entre o ar ameno. O sol tem uma cor mais quente, ainda que não na pele e é possível ser feliz só pelo olhar.

O meu amigo tem rugas na testa.
- Não sei... Não sei... Parece que ela não compreendeu.
- Explicaste-lhe?
- Tudo claro.
- Então como é que ela não compreendeu?
- Disse desde o início que não posso viver aqui. Não posso! Eu vou-me embora e aí tudo acaba.
- Porquê? Não gostas dela? E se ela te quiser acompanhar?
- Não é possível.
- Porquê?
- NÃO É POSSíVEL!
- Porque é que não consegues viver sozinho, mas também não te comprometes?
- Não é assim tão fácil.
- Não? Se não fosses meu amigo deixava-te.
- Sempre a exagerares!
- Pois...

Abandono-me ao sol e às sensações da rua dourada. As pessoas são demasiadamente difíceis.

segunda-feira

Há constituições e constituições

É interessante que uma revista como a vossa apoie a constituição iraquiana quando, há alguns meses, se opuseram à versão europeia. Talvez que a vossa oposição a este último documento abrande se se der um papel oficial à religião e se introduzir a exigência de que os juízes do Tribunal Europeu sejam educados na lei do Levítico?

KYRRE HOLM de Oslo, Noruega ao The Economist no The Economist desta semana, secção Cartas.

Tradução minha.

Tremei!



Não é que a minha colega americana hoje parece uma bruxa!
Na minha modesta opinião, ela leva o dia demasiadamente a peito. O meu lado estético gostaria de dar-lhe umas vassouradas.

sábado

Um pulinho da mesa para desabafar:

Detesto, odeio, desprezo gnocci!!!!

Porra para o multiculturalismo...

Software & Nirvana

Anda toda a gente a falar com deus e eu não consigo! Buá, buá, buá! It's not fair!

Olá, agradecimento, parabéns

Tenho blogue há três meses. Começou por acidente e acabei por usá-lo para agarrar, com palavras, pensamentos, interrogações, indignações, sensações, brincar comigo como mirando-me num espelho. Apreender o que se passa, que por vezes me ultrapassa a não ser que eu pare e olhe. Zanzando pela blogosfera acabei por fazer "contactos". Dou-me conta que sou visitada. Pensei que tinha chegado o momento de...

Para todos os que aqui param sem blogue um olá. Para os blogistas que me visitam um vibrante "Oi, galera!", para os que eu visito, um agradecimento por sorrisos que me tenham despontado, por algo que me tenham ensinado, por despertarem-me curiosidades, me fazerem pensar ou até por me exasperarem.

Finalmente, parabéns à Rua da Judiaria pelo seu segundo aniversário. Desculpa o atraso, mas no início achei que não era importante, que a Abrunho é fruta miúda debaixo da árvore. Mas fiquei com medo de parecer rude e para não arriscar e como gosto de delícias assim, porque a rua da judiaria é blogue que eu visito há imenso tempo, que me desnortearia se acabasse, aqui vai o meu abraço. Que eu possa continuar a lê-lo por muitos e bons. Não é preciso agradecer de volta.

{Esta é a última que me apanham nestas lamechices, snif, snif...}

Para os blasfemos que passem por cá



Tá bem, tá bem. C'est moi! Sou gata de rabo de fora.

O meu outro lado felino está:


Só que aqui não há provocações. Isto é geralmente um diário pacato e introspectivo. Nada que vos interesse... Assim. Adeusinho. Obrigado pela visita...

sexta-feira

Justiça?

"Democraticamente" absolvida nas urnas, como era de esperar, a D.ª Fátima Felgueiras está agora em vias de se ver alijada dos seus problemas judiciais, como também era de esperar. A senhora merece que se lhe tire o chapéu: fez uma sábia gestão dos seus trunfos e dos seus timings e, entre a demissão cívica do seu povo e a demissão institucional da justiça, descobriu o caminho para a impunidade. "Dei uma lição ao país!", exclamou ela, triunfante, na noite de 9 de Outubro. E deu mesmo. A lição foi esta: o único crime que não se perdoa é o da falta de esperteza.
O Tribunal da Relação de Guimarães liquidou, de facto, o processo de Fátima Felgueiras, mandando refazer o essencial da instrução e, com isso, remetendo o julgamento para as calendas do ano vindouro. Os desembargadores de Guimarães entenderam que o Ministério Público e o juiz de instrução não fizeram senão asneiras na construção da acusação: as escutas telefónicas são ilegais porque o juiz não as foi validando dentro de "um prazo razoável", e os principais testemunhos acusatórios são nulos porque os depoentes foram ouvidos como testemunhas e não como arguidos, como o deveriam ter sido (e embora, posteriormente, ouvidos como arguidos, tenham confirmado o que haviam dito antes). Pouco importa, todavia, o conteúdo de umas e outras provas: para a justiça portuguesa, a fórmula é tudo, a substância é um estorvo.
Longe de mim - valha-me Deus! - contestar a lógica irrebatível dos argumentos dos senhores desembargadores de Guimarães. Limito-me a observar que uma magistratura passou aqui um atestado de incompetência à outra e que tudo se encaminha, uma vez mais, para que os formalismos processuais conduzam à denegação de justiça.


Miguel Sousa Tavares no Público de hoje.

O negrito é meu.

quinta-feira

Saga





Acabou-se! Terminou a preocupação com o mundo! Chorar os empobrecidos, os calcados, os que carregam os pecados do mundo, porque assim lhes coube em sorte, que a miséria é questão de fado e eu estar aqui ou ali dá no mesmo. Tenho só que viver satisfeito de ter-me calhado a parte boa do hemisfério. Acabou o ser verde, que eu sou só eu, enquanto eu limpo o terreiro andam os outros a cuspi-lo e quem vier depois que se amanhe. Tenho só de ficar contente de me ter calhado viver no tempo certo. Acabou-se! Há que fazer isto simples. Acordar cedo e fazer o que se me presta, para ter os tostões ao fim do mês e anestesiar-me no que me dão para me entreter. Nada muito intelectual e absorvente, que isto é sempre a andar no mesmo sítio. Está decidido!

Coitado do João... Quando se pressente, a ignorância não traz a felicidade. Morreu ontem a ruminar.

Aquecimento Global

Interessantérrimo este artigo no
The Seattle Times.

A seguir um excerto da peça anexa em que especialistas da matéria são questionados:

What is the major argument used by the "debunkers" of global warming? What can be done by the average citizen to help stop global warming?
— Kate Yamamoto, Bellingham

Snover: It's interesting to look at how the major argument used by the skeptics has shifted over time. From "the greenhouse effect is a myth" to "there's no evidence of warming" to "there's no way humans can influence climate" to "the climate will probably warm, but it will be a good thing," the argument has shifted over the years.
In an earlier post [below] I described some things that an "ordinary" person (is there any such thing?) can do about global warming. These could be broken down as follows:

• Individual action (reduce actions that rely on fossil fuels, e.g., in transportation, home heating and lighting, consumption.)

• Collective action (encourage friends and neighbors to do the same, elect politicians who will make the needed policy changes, work for broad institutional change.)

Shifting the world's economy away from its dependence on fossil fuels is a huge challenge that won't be accomplished by any one change. It will require actions big and small by individuals, corporations and governments around the world. Sometimes people feel like nothing they do matters, but I like to say that the only thing that matters is what people do.

quarta-feira

Imparcialidade (## Actualização estilo Casmurro)

O que é isto?
Um palavrão desconhecido dos bloguistas políticos.
Uma mesma entrevista e Soares é, para uns, múmia de sarcófago e, para outros, sábio geniquento.
Estou a ser má. Porque não poderia uma sábia múmia de sarcófago não ser geniquenta? Olha aquele filme. A múmia, pois. Que eu me lembre, a múmia era super-geniquenta.

##
- Abrunho, como podes esperar imparcialidade na política? Política são pessoas, líderes e acólitos.
- As ideias?
- É secundário.
- Tudo vale, até a pretensão da cegueira?
- É um jogo Abrunho. Já tens idade para não seres parva.
- Eu percebo, mas faço-me de cega com medo de me tornar cínica.

Diagnóstico



Dentes de tubarão a necessitarem de um pouco de fio dental... Ufa...

Pela segunda vez, em dois meses, dois médic@s dizem-me que eu tenho demasiada tensão na minha vida. Isto, vindo de uma dentista, deixou-me confundida. Mostrou-me a parte de dentro das bochechas. Isto à noite deve ser um "Fight Club"!

PeSaDeLo

terça-feira

Alho

O que se faz quando por distracção e falta de comunicação se acumula muito alho em casa?

Juntam-se os amigos a cozinhar vários pratos com alho, destrói-se a leveza do hálito e veêm-se filmes de vampiros.

Por coincidência escolheu-se um filme europeu e um filme americano. Num os caçadores de vampiros são cientistas meigos e distraídos. No outro são brutamontes assassinos. Num não se mata um único vampiro. No outro é uma matança. Num os vampiros são poeirentos, cultos e aristocráticos. No outro são cruéis e super-cool. Num goza-se com todos os clichés possíveis. No outro até o cliché é chacinado. Num o par romântico é no final transformado em vampiros e partem com o próprio chefe-matador para popular o mundo. No outro, o par romântico é transformado em vampiros e, depois de um abraço irmão, são avisados pelo chefe-matador que têm dois dias de avanço. Depois serão perseguidos como bestas.

Divertimo-nos com ambos.

segunda-feira

Medo da gripe



2005 João Gomes http://www.1000imagens.com

Segunda-feira




2005 Mark Heath www.spotthefrog.net

sábado

Broken



Deram-me o disco com a banda sonora do filme Broken Flowers. A música é muito boa (jazz e talvez mais algo... Eu sou uma incompetência a rotular música) e não se consegue imaginar o filme sem ela, como sem o Bill Murray. Este filme não seria Broken Flowers sem estes dois ingredientes. Bill Murray é um espanto a fazer o papel do homem de certa idade a ter que fazer face à sua vida. Bill Murray é para a depressão, o que Charlot é para a pobreza. Lembra o Don't Come Knocking, mas a abordagem é totalmente diferente. Se o objectivo é fazer-nos sentir pessoalmente esta busca, Bill Murray é o actor errado. Ou Jim Jarmusch é o realizador errado. Ou eu sou insensível.

Com isto tudo esqueci-me de escrever que o filme vale a pena. Pela música, pelo Bill Murray, pela realização, pelos secundários, pelos pormenores (rosa e não rosa), pelas flores, pelos silêncios, a alegria e a tristeza... É lindo.

P.S.: Se estivessem atentos ao nr de actualizações que eu já fiz a este poste ficaria óbvio que este é um filme difícil de explicar... Ufa...

sexta-feira

De onde veio a lua?



Comecei a semana com a lua (Visita) e termino com ela. A contar a teoria actual para a sua origem. Pois, foi Deus. Lá pelo segundo dia de trabalhos, ele chateou-se com um dos anjos e, como Ele é bom, em vez de mandar com o dito para os quintos do Universo, deu um pontapé num calhau e formou a lua...

Estou a brincar ao criacionismo... Hehehehe!

O que se pensa é que numa altura em que a Terra era esta bola de materiais incandescentes, um outro planeta (a que se chamou Orfeu), mais ou menos do tamanho de Marte e no mesmo nível de desenvolvimento (os planetas também têm o seu percurso de vida) esbarrou com a Terra. O que se pensa é que o núcleo do Orfeu integrou-se na Terra, enquanto que o manto, com um pouco do manto da própria Terra, espalhou-se pelo espaço. Mais tarde este material coalesceu na LUA!!! É menina!

quinta-feira

Psicologia Infantil



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Aqui

Coisas que se contam

Soares escreveu a Saramago:
Não gosto muito de si. Mas fiquei deslumbrado com os seus livros.
Saramago escreveu de volta:
Eu ainda gosto menos de si. Mas a sua carta deu-me muita alegria.

Que resposta sensaborona do Saramago!... Seja como for, está aqui.

quarta-feira

Portantos...

1) apoio a descriminalização;
2) urgente que se faça funcionar a lei;
3) aparte dos casos contemplados pela lei eu sou contra a liberalização da prática do aborto.

Dói-me algo. Pode ser que seja o coração.

Pensando na bolha...

... vou encontrando disto.

Viver numa bolha III

Eu já vou no quarto poste e começo a chutar-me para canto, ou neste caso, bolha.

Desta vez falei com uma assistente social, habituada a contactar com pessoas e a acercar-se dos seus problemas. Disse-me ela que não são os pobres que recorrem ao aborto. Esses vão em frente e têm muitos filhos.

Os outros, na maioria, são irresponsáveis. Arriscam na assumpção em voga de que isto só acontece aos outros.

A questão que se me pôe é: quando as pessoas são irresponsáveis porque hão-de os outros de lhes pôr o Serviço Nacional de Saúde ao dispôr?

Isto são mesmo questões que me apoquentam.

Viver numa bolha II

A minha amiga respondeu-me de novo. Diz-me ela que nós tivemos 16 anos há 14 anos atrás!!! (Pontos de exclamação dela). Que a juventude hoje tem a informação toda que precisa, que há internet nas escolas e concertos em que se distribui brochuras e até um preservativo, que há os "Morangos com Açucar"!

Querida amiga, eu continuo céptica, mas desejosa que tenhas razão. Espero que seja eu na bolha.

Espero também que a discussão que se avizinha nos esclareça...

Viver numa bolha

Uma amiga respondeu-me ao meu último poste dizendo que achava impossível que com a comunicação social de hoje uma jovem de 16 anos não estivesse informada sobre doenças de transmissão sexual, métodos contraceptivos...

Eu sorri e pensei que eu acho exactamente o contrário. Com a comunicação social de hoje aprende-se pouco. Estão mais interessados em notícias flamejantes, chocantes, esfusiantes, do que o aborrecimento de informar com conta e medida. Para ser-se informado tem de se procurar a informação e uma jovem de menos de dezasseis anos pode não ter os meios ou o discernimento de saber onde procurar.

Imaginei-me com dezasseis anos. Com dezasseis anos eu não tinha qualquer ideia sobre métodos contraceptivos. Sabia a biologia da coisa, mas ninguém se tinha dado ao trabalho de me explicar o pragmático da questão. Tive sorte. A minha vida sexual começou mais tarde, quando já tinha procurado por mim a informação. Se tivesse ficado grávida na altura estava lixada.

As pessoas vivem em bolhas. As pessoas não entendem que para se procurar a informação é necessário perceber que se necessita de informação. Que nem toda a gente é bem ou tia. É por isto que é necessário estender a mão. É necessário que a informação chegue antes.

terça-feira

Aborto um direito?

Vinha hoje no Público. Uma audição no Parlamento Europeu com o tema "Tornar o aborto um direito para todas as mulheres da União Europeia". Iriam testemunhar três mulheres portuguesas, sendo que uma delas fez três abortos antes dos 16 anos!

Eu não consigo ver o aborto como um direito. Consigo vê-lo como um mal menor, como um último recurso em certas situações, a par de uma rede de informação, aconselhamento, educação sexual sem hipocrisias e pruridos...

O corpo é meu. Eu sou eu, mas eu vivo numa sociedade e tenho certos deveres e direitos. Não será meu dever respeitar o meu corpo? Não poderá a sociedade exigir-mo?

Contudo, a sociedade só me pode pedir essa responsabilidade se me informou, me educou, me aconselhou e me disponibilizou os métodos contraceptivos.

A sociedade portuguesa tem uma higiene mental ao nível sexual tão podre que uma jovem fez TRÊS abortos antes dos dezasseis! É culpa nossa. Vamos a deixar-nos de hipocrisias!

Senhores e Senhoras

apresento-vos o Pacheco Pereira de Teerão!

segunda-feira

Gata



Aqui

Visita

Esta noite tive uma visita inesperada. Dormia sobre um livro, quando senti que à minha volta havia uma luz branca que, como habitual, não tinha conseguido apagar antes da rendição. Numa economia de sono, procurei o interruptor e dei-me conta que a luz vinha da janela. Grande, enquadrada, cheia, a lua esbanjava luz a toda à sua volta. Demasiadamente fosforescente. Deixei-me estar de olhos meios abertos, meios a dormir, a seguir o movimento pela minha janela, até que num último entreolhar a luz branca tinha ido e a lua continuava o seu passeio nocturno por outras janelas. Eu pude então dormir sem sentir que feria os mínimos de educação para com a minha visitante.

sexta-feira

O coelho transgénico


Fui ver o último Wallace e Gromit. É divertidíssimo. Fui com o meu amigo, "le toujour deprimée"*, e ele veio pelo caminho a trautear.

A história conta-se em poucas linhas: uns tomates sobredesenvolvidos raptam uma abóbora desmiolada. Na acção criminosa apertam a última invenção de Wallace transformando um pequeno e querido coelho num monstro enorme e feroz que tal king kong rapta uma lady e a obriga a uma relação de facto que transtorna o papa, que pela segunda vez excomunga toda a Grã-Bretanha, obrigando Blair a pedir ajuda a Bush, que simplesmente elimina o Vaticano do mapa. Penso que os Veados e Renas vão gostar do filme. Claro, que o salvador do mundo, tal como o conhecemos, é o Gromit!

* está mal, eu sei, não sei francês.

Religião encapuçada vs Ciência

Penso que o assunto mais abordado por mim nestes três meses de blogue foi a Concepção Inteligente (ver abaixo ligações). Provavelmente porque como pessoa que trabalha no mundo da ciência, é para mim desconcertante e até, a certo nível, assustador assistir ao eruptir de uma guerra entre a religião e a ciência. Já não é suficiente aprender a comunicar ciência. Agora é preciso aprender a defender a ciência de fundamentalistas.

Sendo que a batalha do ensino da Concepção Inteligente nas escolas secundárias se desenrola nos EUA, o campo de acção passou aos tribunais. Onze pais apoiados por dois grupos de pressão (American Civil Liberties Union e Americans United for Separation of Church and State) interpuseram uma acção judicial para que a escola dos seus filhos (Dover perto de Harrisburg, Pennsylvania) seja proibida de apresentar a Concepção Inteligente como uma teoria ao mesmo nível da Teoria da Evolução Natural.

Se os pais perderem, a ciência perde no país. Se ganharem, é uma batalha numa escola, mas uma importante batalha.

Assim, relativamente à Concepção Inteligente, publiquei:
definição de conceitos
contra-ataque humoroso
crítica a texto do Afixe
comentário de um leitor do "New Scientist"

E fiz ligações ao "A barriga de um arquitecto" para uma
deliciosa alegoria e ao "Conta Natura".

terça-feira

Devo ser eu

Sou limitada. Não chego lá, não compreendo o mundo. Sou uma alheada, uma não pragmática. Admito que seja eu. Mas irrita-me, irrita-me todo este regabofe de quem perdeu, se foi o partido este e aquele e a esquerda e a direita, como se fosse um jogo. Um jogo de votos.

Tenho medo das conclusões, das novas estratégias, mais demagogia e mais populismo. É isto a democracia? Este campeonato dos partidos? É para isto que se vota? Não há respeito pelo eleitor que pesou candidatos, que pensou, que acredita que a democracia é o melhor dos sistemas. Eu não votei, que as autárquicas não me afectam, mas apetece não entrar no campeonato. Nas presidenciais, que não devia ter nada a ver com partidos, já temos os ditos a engendrar posições. Que cansaço...

P.S.: estou longe (sárává meu deus), mas, do que me lembro, o país deve estar revestido de plásticos, cartazes e papéis. Será que este ano se lembram de limpar ou eu quando aí for no Natal ainda vou poder analisar a publicidade eleitoral balofa?