sexta-feira
Desejos nas passas
Em momentos em que tinha de desejar algo, tinha sempre um desejo já ali, o agregador de todos os desejos, o pai de todos os desejos, pensava eu, satisfeita com a minha argúcia. E pensava "Quero ser feliz". Sintético e rápido, o que dava imenso jeito no final do ano e as suas perigosas (perigo: asfixia) passas. Agora, à espera das brancas, resolvi reavaliar esse desejo e querendo ser arguta e pragmática, penso "Quero ser contente", ou, porque estou mesmo no epicentro da minha fase minimalista, "Quero ser simples". Divirto-me a imaginar as reavaliações seguintes: uma década, "Quero ser satisfeita", duas décadas, "Quero ser", três décadas, "Quero existir"...
quinta-feira
ama o teu vizinho como te amas a ti
A conclusão de um inquérito sério nos EUA é de que os norte-americanos (exceto Canadá) não se amam, o que explica muitas mortes. A resolução deste problema poderia ser um blitzer de peluches.
quarta-feira
Há coisas em que não acredito
As pessoas que escrevem que a Internet tornou a informação eterna, estão a dizer que a eternidade depende da eletricidade, o que me custa a aceitar.
Erva
Pode-se comer todos os dias exactamente a mesma coisa. Esta descoberta maravilhosa mudou completamente a minha vida para melhor. Não tenho que pensar no que vou comer e não há restos no frigorífico, porque não há refeições perdidas como meias sem o par. No dia seguinte, o resto incorpora a nova refeição num prosseguir de perfeição canónica. Não há pacotinhos, frasquinhos ou latinhas de coisas que se usaram pela metade, como leites de coco ou ramas de hortelã. Menos lixo, portanto. O cozinhar é eficiente como bem faz a prática e não há perdas de tempo no comer, com pensamentos de gosto ou desgosto sobre o resultado final. Quando há um espreitar de aborrecimento compram-se novas ervas para a salada e assim se satisfaz aquela coisa tonta de novidade. Tenho vários frasquinhos de ervas para salada para dar, se quiserem... Tenho ervas de montanha suíça, de montanha italiana, de montanha ucraniana, ervas biológicas, ecológicas e que se lixe, ervas da provença, ervas indianas e algo que comprei no mercado negro das ervas, tenho marijuana e erva de hóstia e uma erva que mata formigas. É só contatar aqui no blogue. Obrigada.
segunda-feira
Deste alto
Parece-me neste ponto da minha vida, que estar neste ponto da minha vida e talvez por um largo tempo que há de vir, que cada vez que pensar na minha vida, vou-me sentir como num miradouro, a mirar passado e futuro de cima, como se tivesse realmente aprendido algo. Parece-me, assim de cima, que qualquer que fosse o caminho que tivesse tomado, eu continuaria a considerar este miradouro muito longe da sua ideal perfeição e, no entanto, tentando ser verdadeira, muito dificilmente teria encontrado melhor miradouro. Arriscaria a pensar que quanto melhor a minha vida tivesse sido, quanto pior seria eu hoje.
sexta-feira
Nunca mais chega
Este blogue, é provável, morreu. É um corpo santo com a podridão invísivel. Isto digo eu a fazer tempo para a fresca da noite.
quinta-feira
Ahhhhhhhh, o fresco da noite
Numa noite de Verão, sento-me aqui querendo escrever o significado de algo muito importante para mim, porque sinto-me incapaz de não fazer uma enormidade que mude destinos e percursos. E no entanto, saiem-me sequências de palavras como sequências de segundos, despidos se não por nós, pelo que lhes colamos em cada respiração. Se eu disser que me sinto feliz, daquela felicidade simples e quente com uma brisa de noite de Verão, será que empresto a enormidade que preciso à minha apoucada sequência de palavras?
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