segunda-feira

Schadenfreude.

Cala-te boca

Nesta última semana fui escrevendo largos postes, mas nao os publiquei.
Porque nao.
Podia ter sido porque sim.
Talvez eu tenha tentado poupar a estima que alguns ainda me tem. Porque num poste eu discutia a justeza da denominaçao Papa, principalmente quando contraposto a Aiatolá. Porque é que se precavem a audiencia para resguardar a tola? Haverá uma correspondencia católica? Será o Papa, um Papao de tolas? Haverá a conspiraçao do o no papa? Quem é realmente o Papa?
{aqui música tenebrosa} Noutro poste eu declarava o meu amor pelas Testemunhas de Jeová...
Noutro poste eu chamava toda a gente abébia e noutro ainda chamava toda a gente que gosta do último filme em que aparece o Clint Eastwood abébias ao quadrado e toda a gente que gostou daquela coisa com o Brad Pitt abébias ao cubo e toda a gente que acha o Slumdog Millionaire um filme espetacular, espetacularmente abébias.
Pelo meio da semana escrevi "A felicidade é um estado momentaneo de estupidez. Sim, ok, estou errada. Pode nao ser momentaneo." Pelo fim da semana escrevia isto á Helena: "Eu penso que há um influxo de temperança entre os ateus e os cristaos: os ateus limitam os ímpetos dogmáticos e os cristaos limitam os ímpetos materialistas. Se nos conseguíssemos entender acho que poderiamos vir a ser felizes juntos." Enfim... Quase parece que encontrei o Obama e o Bambi para uma bica. Acho que demonstrei a necessidade de me auto-censurar.

quarta-feira

Implicaçoes teológicas



Mensagem aos arqueólogos do futuro que estudam este presente que é passado: Eu tinha isto num canto escuro e poeirento da minha pasta de pessoais no meu computador no trabalho. Nao tenho a minima das minimas ideias de quem é.

segunda-feira

Acabar com a discriminaçao discriminando

Na UE há muita conversa sobre apoiar o igualitarismo entre os sexos e combater a discriminaçao baseado na idade, bla, bla, bla, bla....

Quando concorres a algo na UE as tres primeiras perguntas, as TRES primeiras perguntas na tua candidatura dao a tua idade e o teu sexo.

Chegando aqui eu penso que devo estar pedrada e nao estou a ver algo óbvio ou aquilo que me parece óbvio nao o é, o mundo simplesmente nao faz sentido.

Estou confusa, mas se a ideia é acabar com a discriminaçao, nao faz sentido nao fazer as perguntas que potenciam a tua discriminaçao? Quando eu fiz esta pergunta em voz alta, responderam-me que eles precisam de saber o meu sexo para fazer discriminaçao positiva. De novo: quao pedrada estou eu neste momento?

sexta-feira

o egoísmo vale a pena

há a impossibilidade de nao comunicar. de em cada movimento não se deixar transparecer o que vai por baixo da pele. sai e foge-nos como o cheiro. parece que somos nús, desamparados na incapacidade de nada dizer. até que de algum modo sabemos o que os outros pensam de nós. então sabemos que ou nao nos conhecemos ou a linguagem que emanamos é só nossa. se nao nos conhecermos seremos livros escritos em línguas mortas. em nós o egoísmo vale a pena.

terça-feira

No centro do poder alemão

Imaginem-se no planeta Siza Vieira e por entre vistas de curvas estilosas, brancos e sombras de vários tons, aconchegada num canto a que se tem de descer, encontram a cantina dos senhores deputados:



É muito gira, era só isso que eu vinha aqui adicionar.

quinta-feira

perceção

É favor seguir nesta direção para um texto que não obedece qualquer acordo ortográfico.

Notas duma odiosa

Ser portuguesa é muito difícil. Lenta e pausadamente anda-se a pastar a vida, sem grandes preocupações para lá de manter a atenção aos carros aquando da aventura do ar livre citadino, no esquecimento diário de pentear o cabelo (imaginando alegremente o calmo desespero da mãe que é minha), quando de esquinas súbitas dedos horizontais e sorrisos sabidos se nos apontam e algo como uma espécie de recorde de vergonha é-nos atirado à cara. O que é que vocês andaram a fazer?*

Ofereci o livro "Jangada de Pedra" a um colega, porque ele achou piada ao conceito. Tenho a impressão que pus demasiado enfâse (talvez tenha puxado a gravata à verdade) ao desalento dos espanhóis e dos portugueses quando se viram no mesmo barco. Vejo desapontamento no horizonte. Contudo, demonstrando que a generosidade é má política, ele falou de me dar um livro chamado (tapem os ouvidos) "Cona ácida". Parece que é feminista.

Este sábado vou a Berlim. Dá chuva. Nos últimos dias, no reino alemão, um edifício aterrou e um tiroteio espalhou-se. Vou ter que sair de casa. Está lá uma exposição sobre a vida e o trabalho de Manoel de Oliveira. Os prenúncios adensam-se.

* É claro que isto pode ser uma vingança coletiva à minha pessoa e não ter nada a ver convosco, já que a minha máxima capacidade para palear vai no sentido "Então agora proibem os autocarros ateus? O Berlusconi, digitalizar (literalmente) os ciganos, o Vaticano no meio. Não achas que a Itália se está a tornar um país fascista?" "O que é que anda a passar com os filandeses? É sempre o mosca morta com o telemóvel que se passa dos carretos." "Então pá? Que se passa lá na Grécia? Acabou o queijo de cabra?".

terça-feira

A pasmaceira diária das notícias

Achei esquisito a notícia da besteira excomunatória do bispo brasileiro só chegar agora a Portugal (ontem o José Bandeira tinha o cartune sobre o assunto. O cartune antes da notícia? Será que veio só no papel?). Na net andei a esfurancar o DN e pelo menos neste parece que hoje foi a primeira vez que isto foi relatado lá (fiz umas pesquisas no Público e nao encontrei nada, mas estou habituada a nao encontrar nada nas pesquisas no Público). Isto num país tao católico tao católico que parece só ser católico e com laços supostamente apertadinhos ao Brasil. Eu normalmente leio jornais alemaes e britanicos, pessoal menos católico e que tem a mania de querer falar espanhol comigo (os alemaes, os ingleses nem ingles sabem) e que tinham esta notícia escarrapachada em local visível há uma semana atrás. Portanto, as notícias no DN nético chegam com a mesma rapidez de há cem anos atrás.

Enfatizando

Argumentos insuficientes para o arcebispo de Olinda e Recife, José Cardoso Sobrinho, que resolveu excomungar os médicos e a mãe, que autorizou o aborto.

O pai da menina, evangélico, tinha-se mostrado contra. O padrasto, que se encontra detido e arrisca agora uma pena de 15 anos de prisão, não está abrangido: "Ele cometeu um crime enorme, mas não está incluído na excomunhão. Foi um pecado gravíssimo, mas, mais grave do que isso, sabe o que é? O aborto, eliminar uma vida inocente", enfatizou o arcebispo, que comparou o procedimento ao Holocausto.


Eu a enfatizar: Mas mais grave do que isso, sabe o que é? Violar uma criança, eliminar a inocencia de um inocente.

segunda-feira

O mundo exaspera-me

Hoje no escritório perguntaram-me pelo dia da mulher. A minha resposta foi "Hã?". Mas a certa altura achei que sim, que é um dia importante de sublinhar, pelas mulheres que sofrem injustiças terriveis pelo mundo por serem mulheres. Nisto contam-me da iraniana a quem um homem, por ter sido relegado por ela para casamento, lhe deitou ácido à cara. O caso foi a tribunal e foi julgado que ela, como tendo a importancia de metade de um homem, tinha o direito de deitar ácido num olho do homem. Ela recorreu e, grande vitória, foi julgado que afinal pode cegar o homem em ambos os olhos. Isto é considerado uma vitória para o lado da igualdade dos sexos. Eu fiquei estarrecida com toda a história e só digo uma coisinha: pessoas com mentalidade de pastores de camelos de há 4000 anos atrás, o máximo de tecnologia que deviam ser admitidos de possuir é calhaus e daqueles pequeninos.

P.S.: A Helena escreveu hoje do caso-exaspero no Brasil, que na semana passada já me teria promovido cabelos brancos, se a minha herança genética de XX nao fosse tao espetacular.

quinta-feira

A nossa sorte

Uma colega foi ver o filme "O Leitor" e disse-me que se tinha zangado imenso com ele. Porque é que ele fez o que fez durante duas décadas e tem o trabalho de arranjar trabalho e casa a ela, mas nao consegue um carinho? Eu diria que o que ele nao conseguiu foi o perdao. Talvez ele tenha conseguido um perdao, mas talvez nem esse, porque senao o que foi aquilo em Nova Iorque? Que bençao era aquela a que ele procurava? Alguém que conseguisse perdoar ou um apoio ao seu nao perdao?

Para mim, o filme está bem construído, no sentido de que nao me senti tentada a julgar. Observei o que cada um deles conseguiu alcançar e senti-me horrorizada pela cegueira dela e triste pela incapacidade dele de nao se libertar. Num mundo melhor tudo seria como nós nos imaginariamos a atuar, nós conseguiriamos ter a incapacidade dela, mas ser honestos e até sábios e nós conseguiriamos na perfeiçao fazer a escolha entre amar e perdoar ou nao perdoar e nao amar (esse amor que se fixou naquela decisao, que nem será amor, o que é um amor fixado?). E no entanto, no entanto, quantos erros pequenos que fizemos esquecemos, qual a nossa sorte de nao termos enfrentado tragédias a sério, em que o esquecimento nao é possível? A nossa sorte de nao termos encontrado as encruzilhadas que nos conduzem a lugares de que nao é possível retornar?

domingo

Nota muito positiva {conclui-se que nao é bem assim}

Porque eu nao quero dar uma negativa sem uma positiva, porque acho que os alemaes o merecem, quero aqui deixar a positiva. Na generalidade, os alemaes gostam das situaçoes claras, se lhes emprestamos dinheiro fica muito claro quando pagam de volta e fazem-no com um brio que espanta, definem claramente direitos e deveres, sao diretos e frontais e aceitam que o sejamos de volta. Nunca me aconteceu na Alemanha, o que me acontece em Portugal, que é eu fazer uma critica em trabalho e as pessoas ficarem pessoalmente ofendidas. Aquele rancor que cresce, mas que nao admitem, esta coisa de portugues que a mim me poe doente: o cortar na casaca e a critica mastigada. Isto, graças a uma verdade que eu admiro sem reservas, isto nunca me aconteceu na Alemanha.

P.S.:"Blogger Rita Maria disse...

Eu gosto da Alemanha e gosto até muito dos alemaes, mas sim, as pessoas aqui chateiam-se com críticas e vao fazer críticas ao teu trabalho directamente à gerência, sem pensar sequer que tepodiam apontar primeiro os erros a ti....nao sao nem directas, nem solidárias e eu sou boa pessoa, juro.

O que vale é que a gerência gosta de mim...

6/Mar/2009 10:51:00

Blogger abrunho disse...

Fiz uma sondagem entre os meus colegas alemaes e ficou concluido que eu é que nao percebo alemao. :)

9/Mar/2009 22:53:00"

Eu tentei ser positiva, eu tentei...

O direito da escolha

Na Alemanha, quando as crianças tem 10-11 anos, sao escolhidas em termos de potencial, tu tens cabeça para estudar, tu mais pra pedreiro, tu rato de repartiçao e ali sao dirigidas para os futuros que lhes foram decididos almejar. Notem bem, aos 10-11 anos. Eu nessa idade nao tinha a menor ideia de um futuro, vivia na alegria infantil da brincadeira, nao me passava pela ideia ser uma estudante boa, os meus pais nao me pressionavam e se alguém me tivesse dito que eu era boa, no máximo, para cozinheira, eu tinha acreditado. Na Alemanha, se os pais nao estao lá para proteger as suas crianças do Estado, estas estao basicamente lixadas.

Assim, na Alemanha, o Estado processa eficientemente engenharia social. E quando eu vocifero contra isto, os alemaes ficam surpreendidos que eu ache mal. Eu dou-lhes o meu exemplo, o que seria eu na Alemanha com as minhas raizes? E eles respondem que seria cozinheira, mas acrescentam que eu seria feliz. Talvez, talvez eu fosse feliz, quem sabe, como podem eles saber dessa eficiente definiçao aos 11 anos de idade? Mas ainda que fosse verdade, essa felicidade certa prescrita por outros aos meus onze anos de idade, eu sinceramente prefiro um mundo em que eu tenha a possibilidade de escolher a minha própria (in)felicidade. Para mim este é um direito básico de qualquer ser-humano.

P.S.: Eu elimino o meu anterior post-scriptum porque é capaz de ser demasiadamente mauzinho. A Helena acha que isto é uma forma de organização civil. Eu desconfio de uma organização civil que passa pelo Estado.