quarta-feira

O peixe-miúdo da ciencia é muito miúdinho

Há situaçoes na lei alema, em que apesar de nao se fazer descontos para a segurança social, o tempo é contado para definir o momento em que uma pessoa se pode reformar. Assim, na Alemanha, o tempo passado numa prisao conta, mas o tempo passado com uma bolsa, nao. Isto vai sem expletivos. A minha indignaçao está muda.

terça-feira

As limitaçoes do ensino público

Nao sei bem o que mostra do sistema de ensino portugues: saboreei convenientemente esta cena do "Life of Brian" dos Monthy Phyton depois de ter começado a aprender alemao. O que é que se anda a fazer na escola se nao nos preparam para perceber, em camadas de significado, as piadas dos filmes? Hee?

segunda-feira

A faca com que o Manel matou o Henrique era da Maria

A língua alemã tem quatro casos, o que significa que existe a declinação de substantivos, adjectivos e artigos (e talvez outras coisas que me passaram ao lado) conforme quatro situações gramaticais: quando definimos a coisa, quando algo pertence à coisa, quando a coisa faz algo e quando algo é feito á coisa.

Na prática, para um estrangeiro como eu, uma frase como a do título em alemao é uma dor de cabeça, pois é-me dificil definir quem matou quem. Á primeira vou perceber que alguém morreu e que a faca teve um papel no crime. O humor alemão está-me vedado, pois o pessoal parou de rir, foi comer um gelado, veio e dormita no sofá, quando eu termino de consultar os meus apontamentos de alemão e estou pronta para perguntar: "Qual é a piada?". O alemão é uma língua em que facilmente estás na situação em que sabes exactamente o que todas as palavras de uma frase significam, mas a frase em si não se percebe. E daqui se pode ver como os alemaes sao: enquanto todos os outros que comecaram com o latim acharam que o melhor era esquecer a dificuldade dos casos, os alemaes deixaram estar a coisa, porque senao quem sabe, ainda se perdiam sem as regrazinhas. A primeira moral da história já devem saber, a segunda moral da história é: os alemaes planearam tudo há muito para que nao se goste deles.

sexta-feira

Uma folha do mil folhas

Estive a desfolhar a constituiçao virada tratado. Nao posso dizer muito. Estive numa parte cheia de vazio, estilo eu dizer "Sou pela felicidade das pessoas". Ainda bem para mim, mas ser pela felicidade das pessoas nao contribui um nico para a sua felicidade. Que perda de tempo. Mas aquele pessoal senta-se e o galo diz: Muito bem vindos. Blá, blá blá, palha, palha. Estamos aqui para escrever a constituiçao europeia e para nos começarmos a conhecer, iniciamos a escrita de inutilidades em que todos concordamos e prá semana começamos realmente a trabalhar. Palha, palha, palha. Pausa para o café.

terça-feira

Quando a gente ama

sequoia sempervirens

Uma sequóia é um extremo. Qualquer árvore é um marco que só nao emociona as pessoas porque as pessoas sao intrinsecamente estupidas. Mas uma sequoia é tao fora das dimensoes a que estamos habituados que até uma pessoa que para além de estúpida, cega e em coma sentirá que há algo diferente no ar*. Um manto a pingar água segurado por colunas. Um cheiro a água e verde e fresco. Caminhar numa floresta de sequóias é a magia natural de uma floresta, os sons de fundo abafados, espécie de ecos, a neblina trespassada por gotículas de água, o sol que de repente se derrama por entre a fresta de uma árvore caída. A atencao tem de ser constante. Tento ouvir um pássaro, a água no ribeiro transparente, talvez um mamífero a fugir pelos arbustos, um cogumelo de cores vibrantes a esconder-se, os meus passos no caminho curvilíneo. Há algo de prazentoso no caminhar na natureza que obviamente nos deve estar escrito nos genes. Uma floresta de sequóias tem as proporçoes de um sonho, provavelmente dá o tipo de deslumbramento que sentia o pobre campones a entrar numa catedral medieval, demonstrando-lhe em tal imensidao a grandeza de Deus na Terra. Uma sequóia possui a desfiguraçao da imaginacao. É quando a realidade é melhor que a fantasia.

* Causou-me uma certa impressao as pessoas que observei na entrada do parque, que penetraram uns passos, tiraram umas fotografias, compraram parvalhices carissimas na loja de recordacoes e foram embora. Se isto nao é estupidez nao sei em que usar o adjectivo estúpido. Mas por outro lado, se nao houvesse muitos estúpidos, a floresta propriamente dita teria de ser interdita a todos. Por outro lado se nao houvesse muitos estúpidos, talvez houvesse mais florestas. Epá, isto dá para um livro: stupidity for dummies.

sexta-feira

Sumidades

Ha' aquelas ideias que nem que sejam negadas com um martelo na testa das pessoas, elas continuam na delas. Por mais que os turistas vao a Paris, continuam a chamar a cidade de Cidade da Luz ou do Amor. Porque? Por nada, porque os parisienses comecaram com essas bacoradas e colou. Nao ha' evidencia que pare com a mentira que e' chamar Paris Cidade da Luz ou do Amor. O que e' preciso e' marquetar. Tipo o Freud foi um grande pensador. Foi um tarado a impor as suas taradices nos outros, mas nao ha' cronologia do seculo vinte que nao tenha la' as suas ventas como mestre do pensar. Ou que os homens nao fofocam. Essa e' do melhor. Eu queria que me pagassem um centimo por frase de fofoquice esparramada entre homens. Seria a mulher mais rica do mundo, ao ponto de poder nomear o Presidente dos EUA (yep, neste pais compra-se tudo).

Nao sei de onde me veio isto tudo, mas amanha vou apanhar outro aviao e da-me para estas sumidades.

quinta-feira

Hoje liguei a televisao ao pequeno-almoco

Segundo percebi os EUA estao a ser conquistados por homossexuais e mexicanos. Tambem houve bastante conversa sobre sexo. Pareceu-me um pouco rude falarem de sexo tao cedo.

quarta-feira

Gastronomia em Boulder

A maior parte dos restaurantes alardeiam que sao tipicos, tradicionalmente italianos, classicamente americanos, a unica casa-de-cha autenticamente persa no hemisfero ocidental, tipicamente franceses e por ai' fora. Felizmente eles oferecem uma mistura de influencias que tornam uma ida a um restaurante uma experiencia surpreendente, deliciosa e sempre generosa. A unica coisa que fabricam com a sua publicidade e' a desilusao dos seus compatriotas quando visitam o estrangeiro.

terça-feira

Livre expressao



de Michael Kountouris

Cuidado: este poste e' curto

Tendo em atencao o conteudo dos avisos que vou lendo por ai', hoje quando vi um letreiro junto a uma piscina aproximei-me para verificar se algum dos itens era: "Beware wet inside the pool" ou ate', quica, "Water impairs breathing".

segunda-feira

Snapshot

Perguntem-me: como e' um pequeno-almoco ajantarado num suburbio americano com uma data de mulheres acima dos 50 e sem homem que lhes ocupe tempo? Falaram sobre:
1) renovacoes na casa, azulejos, tintas, apliques, etc.
2) os "dates"
3) politica, incluindo o que me deixa admirativa: o voluntariado que fazem para apoiar os seus candidatos.

No ano passado foi o mesmo. Acho que e' mesmo assim.

A comida precisava de sal e menos cabelos. De resto foi interessante.

domingo

Os americanos coloradorenses

Ah, deixem-me resmungar mais um bocado, agora armando-me em antropologa.

Do meu posto de arrogancia europeia, eu classifico os americanos que vejo em tres tipos, simplificando o complexo como e' apanagio do olho cientifico. Assim,

1) o homo auto-cus;
2) o homo-sportie-em-formus e o homo-yuppie-em-formus;
3) o homo-auto-cu-sonha-formus.

O homo auto-cus nao e' um ser erecto. O seu habitat natural e' o carro. E' um ser extremanente aventureiro que frequentemente entra em habitats estranhos em que tem de adquirir o estado erecto, como seja um supermercado ou um centro comercial. Contudo, rapidamente retorna ao seu habitat natural ou similares, como seja o sofa ou a cama. Este ser come no carro, telefona do carro, levanta dinheiro no carro, percorre a minima distancia com o carro, copula no carro, em cidades construidas para que ele possa ocupar o seu habitat natural o maximo tempo possivel.

Os homos do ponto 2 sao seres que vivem para o estar em forma. A diferenca entre o homo-sportie-em-formus e o homo-yuppie-em-formus e' que o primeiro fa-lo ao ar livre, correndo, ciclando, subindo, descendo, escalando, tudo o que lhes aparece 'a frente. Os segundos preferem faze-lo num ginasio. Preocupam-se em comer saudavel, o que os coloca par-a-par com coelhos que tambem comem hamburgueres. [Por falar em coelhos: este pessoal nao come coelhos. Acham-nos demasiadamente giros. Cada vez que vejo um coelho aos pinotes a passar pelo meu caminho fico triste com o desperdicio.]

Finalmente, o mais querido deles todos e' o homo-auto-cu-sonha-formus. Este ser tem uma vida muito parecida com os homo auto-cus, contudo, por vezes tentam praticar exercicio como os homos-em-formus. Sao seres altamente divertidos quando tentam ocupar o nicho que nao lhes pertence. Sao o grupo-alvo dos produtores de comida saudavel, caloria-zero, maquinetas que derretem gordura enquanto pedalam uma bicicleta que vai a lado nenhum e veem a novela das seis. Entram em qualquer esquema que lhes prometa viver em forma, pagam qualquer dinheiro por qualquer mistela feita de algas japonesas que os fara' ser saudaveis como os homos-formus, sem que tenham que fazer o regime de exercicio que estes fazem. Sao uns seres sonhadores, com o frigorifico empalado de vitaminas, o armario a abarrotar de especiarias que compram quando pensam em cozinhar em vez de comer comida congelada, mas que acabam por nunca usar, a cave cheia de brinquedos esquisitos que lhes treme a gordura em excesso.

quinta-feira

Portugal e o Pais Basco: the connection

Eu primeiro achei que o americano em questao tinha confundido a Peninsula Iberica, mas agora ja' nao sei. Dois anos consecutivos, duas pessoas diferentes, quando digo que sou de Portugal, perguntam-me pelo pais Basco. Foi um filme, um documentario, e' na escola?

quarta-feira

Ontem 'a noite passei por estes tres.




Politicamente incorrecta como sou, eles passaram por mim a correr. E' dificil ser diferente nas terras do tio sam.