terça-feira

sequoia sempervirens

Uma sequóia é um extremo. Qualquer árvore é um marco que só nao emociona as pessoas porque as pessoas sao intrinsecamente estupidas. Mas uma sequoia é tao fora das dimensoes a que estamos habituados que até uma pessoa que para além de estúpida, cega e em coma sentirá que há algo diferente no ar*. Um manto a pingar água segurado por colunas. Um cheiro a água e verde e fresco. Caminhar numa floresta de sequóias é a magia natural de uma floresta, os sons de fundo abafados, espécie de ecos, a neblina trespassada por gotículas de água, o sol que de repente se derrama por entre a fresta de uma árvore caída. A atencao tem de ser constante. Tento ouvir um pássaro, a água no ribeiro transparente, talvez um mamífero a fugir pelos arbustos, um cogumelo de cores vibrantes a esconder-se, os meus passos no caminho curvilíneo. Há algo de prazentoso no caminhar na natureza que obviamente nos deve estar escrito nos genes. Uma floresta de sequóias tem as proporçoes de um sonho, provavelmente dá o tipo de deslumbramento que sentia o pobre campones a entrar numa catedral medieval, demonstrando-lhe em tal imensidao a grandeza de Deus na Terra. Uma sequóia possui a desfiguraçao da imaginacao. É quando a realidade é melhor que a fantasia.

* Causou-me uma certa impressao as pessoas que observei na entrada do parque, que penetraram uns passos, tiraram umas fotografias, compraram parvalhices carissimas na loja de recordacoes e foram embora. Se isto nao é estupidez nao sei em que usar o adjectivo estúpido. Mas por outro lado, se nao houvesse muitos estúpidos, a floresta propriamente dita teria de ser interdita a todos. Por outro lado se nao houvesse muitos estúpidos, talvez houvesse mais florestas. Epá, isto dá para um livro: stupidity for dummies.

4 comentários:

Anónimo disse...

Só faltou falar do torcicolo, depois de tentar descobrir o topo das árvores. Sao sítios mágicos.
Onde estiveste?

Perto de San Francisco há uma floresta de redwoods: Muir Woods.
Se bem me lembro, assinaram o tratado fundador da ONU debaixo de um grupo dessas árvores, a que chamam "a catedral".

O que remete para o teu comentário sobre o pessoal que consome em vez de sentir: vi o mesmo fenómeno na catedral de Compostela - pessoas que entravam, filmavam, saíam. Levavam o monumento para armazenar em casa, mas nao se deixavam penetrar por ele.

abrunho disse...

Na mouche: Muir Woods.

Eu fiquei com a impressao de que houve uma reuniao importante para a fundacao da ONU em S. Francisco e que a ida a Muir Woods foi uma visita de grupo. Acho que homenagearam o Roosevelt que tinha morrido há pouco.

Anónimo disse...

Se não escreveres o livro, também poupas uma árvore. thanks!

abrunho disse...

Tambem nao me parece que esteja á altura do tema.