quinta-feira

Cara feia aos cara tapada

Na minha óptica, os véus integrais caiem direitinhos na educação. O que eu quero dizer com isto, é que somos educados a certas regras de estar no espaço público, que nos permitem viver num mínimo de agradabilidade todos juntos. Para mim, alguém tentar falar comigo de cara tapada é de muito má educação. Tal como é mal educado usar um decote de tal maneira aprofundado que eu tenho medo de ser projetada a qualquer momento por um mamilo. Contudo, educam-se as pessoas por decreto? O melhor seria o sistema normal de pressão social. Mas que fazer quando essa pressão não funciona e ainda por cima se dá a desculpa "Para mim ser mal-educado é um caso de identidade!"? Ou pior, "Para mim ser mal-educado é um caso de religião!" Portanto, até que ponto aguentar a má-educação dos outros e, ainda por cima, as más desculpas. Ah, mas dizem vocês, isto é só racismo e afins. Além disso, são só meia-dúzia de caras tapadas. Relativamente ao primeiro ponto, é verdade para algumas pessoas, mas não para todas, nem um mau cobre outro mau. Quanto ao segundo ponto, é possível aguentar alguma má educação. Não é como se não houvesse outros mal educados na via pública. E portanto, digo eu, aguentem-se os mal-educados, mas façamos todos cara feia aos cara tapada.

terça-feira

Fora o topfull!

Pelo menos nos serviços públicos vai ser proibido cobrir o rosto
Comité parlamentar defende proibição do véu integral em França


Querem saber? Concordo. Se há limitações no minimo de roupa, também deve haver no máximo. Só mudo de opinião quando começar a ver gente de biquini nas finanças.

segunda-feira

o inverno dá cabo da gente

Há dias prováveis. Uma pessoa acorda de manhã e sabe que provavelmente o dia vai correr mal. Uma pessoa pode lutar contra a probabilidade. Pode começar o dia com uma terrina de café e uma concha de natas do céu e ainda por cima lavar logo os dentes, para precaver a probabilidade da cárie. Mas sabe a probabilidade de escorregar no gelo que faz lá fora. Uma pessoa vive da coragem de sair de casa e enfrentar a probabilidade. Um segundo depois um quilo de neve cai em cima da cabeça e pensa "-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------porra!"

quinta-feira

A natureza mesmo à vista

Um amigo contou que já viu inúmeras raposas no meio de Zurique. Mesmo no meio, na baixa zuriquenha. Outro confirmou que há mais raposas a viver em Zurique, que nas envolventes e ele é biólogo. Outro afiançou-me que eu já deveria ter capiscado uma quando vou pra casa, bom percurso para avistar raposas. Portanto, limpei a arma, meti-a na mochila e comecei a caçada. Nã. Limpei os óculos e comecei o treino árduo de não olhar para o chão enquanto caminho. Nã. Não uso óculos. Meti um pau no pescoço para o manter direito. Desisto. Ver raposas em Zurique dá muito trabalho.

Olho por olho, dente por dente

Quando li este poste (e já agora, se anda por aqui perdido, sou ateia), pensei, tanto burburinho por nada. Porque a não ser que me esfreguem as coisas no nariz, se me derem a amplitude para eu ignorar, eu estou na minha onda, vive e deixa viver. O cardeal patriarca falou quinze minutos na RTP1, no dia 24 de Dezembro. Pude ignorar? Pude. Ok, cardeal fala. Mas depois parei, porque eu não o ignorei. Porque da forma que falou, ele ofendeu os ateus. Portanto, não me chateou que o cardeal tenha falado, chateou-me a sua atitude. Não só ele usa um espaço privilegiado na estação pública, mas ele tem o topete de pensar que ele tem direito a ele e de o usar para denegrir parte das pessoas a quem aquele espaço pertence. E é isso que chateia. A mim não me chateiam as cruzes, a mim chateia-me que as pessoas para quem as cruzes são importantes, achem que têm o direito de as impingir aos outros. O que assusta o cardeal patriarca é que nós possamos vir a ser a maioria e que possamos ser tão arrogantes quanto ele e as suas ovelhas. O que o senhor cardeal patriarca deveria saber é que eu não me importaria nada de os deixar pôr cruzes onde querem ou ele falar na televisão pública, mas que quando ele se arma ao pincarelho com os ateus, eu apoio quem acha que devemos impôr limites rígidos. Porque se não me toleram a mim, porque é que eu os hei-de tolerar a eles?

sábado

As ironias da vida

Li que ontem um espectacular arco-íris apareceu nos céus de Lisboa. Foi uma coincidência fantástica. Eu não sei não, beatos, mas parece-me um sinal inegável do vosso chefe supremo. Uma belíssima estalada.

De resto, agora os homossexuais, querendo adoptar, têm de adiar o casamento uma década. As ironias divinas têm sempre as versões mais pobres dos humanos.

quarta-feira

Ao D. Policarpo, que almeja ser meu inimigo

Estava eu a concentrar-me na digestão, depois da primeira ronda daquele desporto maravilhoso que é comer durante as festas, quando me aparece o D. José Policarpo naquela caixa sempre iluminada em todas as salas-de-estar portuguesas. Para meu enorme espanto, o D. José falava de mim! O homem parece que resolveu achar que os ateus são um perigo, o que demonstra que necessita de sair do convento. Podemos ter os nossos momentos de alarvidade, mas chamar-nos perigosos é como estar ocupado a matar aranhas durante o ataque de um tubarão. O D. JP, que não pode casar para ter todo o tempo do mundo para pensar no que lhe compete, mas deve ter arranjado algum passatempo no entretanto, parece precisar de gente que o ajude a capiscar as suas ovelhas. Portanto, D. Policarpo, aqui vai: as suas ovelhas que se autodenominam de não praticantes e que só vão à igreja para casar, são iguaizinhos aos ateus. A única forma de os diferenciar é com uma pergunta: pergunte-lhes se acreditam em bruxas. Se disserem que não, são ateus, os outros são todos seus. Assim, D. José Policarpo, como pessoa que também não se casou e que posso passar o tempo que passaria a passar as camisas do meu marido a pensar no seu problema, penso que a solução é em o D. Policarpo focar-se na educação dos milhares de católicos não praticantes. E por amor de deus, deixe os ateus em paz.