sexta-feira

Ser europeu no Chile e no Brasil...

Para o meu amigo chileno eu não tenho aspecto de europeia porque sou como ele. Os europeus têm o aspecto da sua namorada sueca. Por seu lado uma minha amiga alemã, que está no Brasil, contou-me que os brasileiros desprezam os argentinos e apontam-lhes o dedo dizendo "Esses cara são europeu!" Talvez valha a pena pensar nisto. Provavelmente não.

quinta-feira

Aaltra


Penso que em toda a minha vida só vi três filmes belgas, mas todos eles eram de humor negro. Não sei se é coincidência, se é só o que sai para fora, mas um dia destes ainda me apanham a dizer que sentido de humor, do bom, do que eu gosto é o belga. Qual humor inglês! Foi chão que deu uvas.

Aaltra é um road movie em cadeiras de rodas. Imaginem bem o que pode acontecer numa viagem destas. Parem. Não conseguem. Não vão conseguir imaginar como passo a passo, correcção, rodadela em rodadela, dois imobilizados andam à boleia pelas estradas do norte da Europa, metendo-se e provocando situações politicamente incorrectas. É a cadeira motorizada que roubam a um casal velhinho para depois andarem em corridas na rotunda da terra ou as vezes em que os que resolvem ajudá-los acabam por os abandonar em maldições à beira de alguma estrada.

Não há aqui nenhuma comiseração, não há alegria ou tristeza sem remissão. Não há pinturas emocionais ou maniqueísmos, não há sequer cor. Há simplesmente um espelho que mostra o mundo dos outros direito quando parece distorcido. Ou vice-versa, que cada um veja o filme e o julgue. Não perde tempo.

terça-feira

O que mais nos irá acontecer

Pobres de nós latinos. Eu ainda estou com uma ressaca de rugby, os italianos também vieram de uma vitória mais envergonhados que outra coisa e agora os amiguitos foram despachados. Pela França, de quem eu tinha muita peninha. Eu realmente. Às vezes mais valia estar calada.

Martin Adler

Morreu. Fui leitora assídua da Grande Reportagem durante anos. Martin Adler foi um dos meus heróis de juventude. Ficava a olhar para as suas fotografias e para o que contava e pasmava. O que eu poderia escrever está entretecido nos textos no "Origem das Espécies". Resolvi não deixar em branco a minha tristeza. Nos meus sonhos de aventureira, quando sonhava o que poderia ser na vida, achava que não haveria melhor, nada mais admirável e fantástico que ser como o Martin Adler. A distância entre o sonho e a vida somos nós e os nossos heróis.

Na praia

segunda-feira

Mas mãe e os holandeses?

Isso já não há holandeses como antigamente.

As mães é que sabem

Foi o sangue latino.

Indecisa

Escondo a minha nacionalidade para que ninguém pense que eu sou uma bárbara (de barbarian) ou uso-a como sinalização "se te metes comigo dou-te uma cabeçada que até te viro"?

Perder a calma

A minha irmã esteve a explicar-me como se perde o controlo num jogo de futebol fazendo analogias com o trabalho de parto. Parece que os jogadores podiam ter-se esquecido de como respirar. Afinal, não correu assim tão mal.

O jogo

Não o vi. Na primeira parte estive à espera de um amigo que chegava de Itália e na segunda parte, incapaz de ver o rugby, virava costas e abraçava-me a ele. E nem tive psíquico para usufruir.

sexta-feira

Zen

Hoje estou melhor. Uns zen andaram a dar-me consolo.

Tem piada, que estive a pensar com quem convivia em Portugal e a diferença entre pessoas não são ideias. É mais como te vestes. Na Universidade ninguém discutia política ou filosofia. Ninguém discutia. Falava-se dos relatórios, dos exames, das festas... Lembrei-me disto, pensando que nunca ouvi nenhum discurso que fosse para lá do "coisas". Talvez quando se apaixonam, se interessam, mas ainda assim é o "eu".

É claro que num mundo assim, quem tem alguma ideia, nem que seja emprestada de um livro que se leu como se fosse a Biblia, é rei e se essas ideias apoiarem o senso "coisas" e "eu", então terá a carneirada atrás, se a carneirada estiver na pausa do pasto. O dono da ideia não se interessa pela própria ideia, que sofrerá sempre de relativismo, mas pelo que essa ideia lhe poderá dar no mercado de ideias.

Cheguei à Alemanha e há esta malta que na maioria fez trabalho voluntário no estrangeiro como se pertencesse ao currículo da vida, que tiveram diversos trabalhos antes de acabar a universidade e que discutem ideias e têm preocupações "pessoas" e que as aplicam no seu dia-a-dia. Além disso, têm princípios. Nunca tinha pensado nisto e agora deixa-me assombrada. Nas discussões que se têm, dei-me conta que eu sou o contra-ponto de origem demarcada portugal. Isto deixa-me ainda mais assombrada. Por seu lado, em Portugal, eu sou denominada de niilista.

quinta-feira

Haverá título para isto?

É uma sensação desesperante. Anda meio mundo a explorar o outro meio e é preciso é ter a sorte de ter nascido na metade certa. Uma pessoa tenta explorar o menos possível, mas não há escape. Além disso, é-nos dito que a solução é mesmo o materialismo. A solução é produzir, consumir, deitar fora. Produzir, consumir, deitar fora. Produzir, consumir, deitar fora. Parece que eu sou zen. Eu não sei o que sou. Neste momento eu não tenho a mínima ideia o que sou. Mas tudo isto deprime-me. O que me deprime é eu não ser suficientemente zen. De eu não fazer realmente algo útil e estar aqui, na metade boa, em vez de fazer algo que valha a pena na metade má. Ou talvez o pouco que faça de bom é suficiente. Eu sou pobre, mas ser pobre nesta metade do mundo não é nada de especial. Não é como ser pobre do outro lado. Um pobre do outro lado tem inveja da minha pobreza. Não sei que faça, mas sei que me sinto mal, deprimida e que isto é inútil. Completamente inútil.

Sem título

Apaixonei-me à primeira vista por esta fotografia. Zás, trás, foi num suspiro.
O autor deu-lhe título, mas eu prefiro-a sem título. Pode ser tempo (relógio), pode ser espaço (comboio), pode ser vida ou sonho (homem), pode ser desilusão ou cansaço, pode ser só um pensar, pode ser um ponto intermédio ou o fim da viagem. Esta fotografia impele a imaginação e faz saltar os olhos, é impossível só fixar e é por isso que é apaixonante.

O autor é Pedro Moreira e achei-a aqui.

quarta-feira

O tesouro (eu) e o Shrek

Um moço brasileiro escreveu um poste sobre os tesouros da lusosfera relativos ao Mundial (World Cup Culture Treasures from the Lusosphere). A minha voz foi incluída decerto pela sua alta nota em assertividade. Um excerto foi traduzido para inglês e só digo: a tradução é melhor que o original. Ele traduziu insurgentes por trolls. Pergunto-me o que o amigo tradutor do André Azevedo Alves tem a dizer disto...

E com isto ganhei o meu dia, até a semana!

P.S.: Estive a ler melhor o blogue que me citou. O moço brasileiro é José Murilo Júnior e é um dos editores, responsável pelo espaço lusófono. Depois há o espaço francófono, o árabe, o chinês, o castelhano... O blogue chama-se Global Voices Online e pretende divulgar a blogosfera para lá da anglofonia.

At a time when the international English-language media ignores many things that are important to large numbers of the world’s citizens, Global Voices aims to redress some of the inequities in media attention by leveraging the power of citizens’ media.

Interessante; diria até, muito interessante.

P.S.2: Como estava à espera. Na última hora dois insurgentes lá se puseram a clicar no sitemeter. Eles parecem achar que quem tem mais razão é quem tem mais audiência. Como se razão e massas tivesse alguma ligação directa. Tenho a impressão que eles confundem a blogosfera com a Eurovisão da Canção.

Como se está de loucuras?

Vós, imagino, estais já fartos do slogan que li no autocarro da equipe portuguesa. Aquele que diz algo como "Uma bandeira em cada janela. Uma nação no relvado." O M., o meu amigalhaço croata, achou bonito. Eu estava demasiadamente ocupada a resmungar que não queria ver o autocarro, que é uma estupidez, um servilismo de beija-cú dos fãs. Um autocarro é um autocarro que é um autocarro! Um rapaz alemão, como com quase todos os rapazes alemães que conheci, resolveu elucidar-me (parvos idiotas paternalistas) que aquela visão podia acontecer uma só vez. Ignorei-o e comentei com o M. que os vidros escuros era para esconder as negociações dos angolanos com os portugueses, para estes ganharem ao México. A oportunidade lusa para uns negócios escusos com diamantes. O M. adora este tipo de piadas e eu gosto de o ver feliz. Foi muito mais memorável e divertido ter apanhado com o Oceano no eléctrico. Qual é a probabilidade de eu me enganar no eléctrico em Frankfurt e ter o Oceano a um metro de mim? Ele e outro tipo alto, que também foi jogador da selecção, mas não me alembra o nome. Lembro-me claramente da cara, mas o nome não está registado.

Se querem saber sobre as bandeiras aqui em Hamburgo: há algumas pelas janelas. Discreto, nada de loucura. As bandeiras que se estão lentamente a reproduzir com os dias são as espetadas nos carros. Não só uma bandeira em cada carro. Pode ir até quatro, todas da Alemanha ou uma mistura, não sei se de afectos parciais ou duplas nacionalidades ou triplas fidelidades ou quadradas bestialidades.

segunda-feira

FDS de Bola

Que dia... Além de abafado no aquário em que trabalho, custou-me a tirar da cabeça a maluqueira futebolística do fim-de-semana. No sábado à noite a boazona do grupo urgiu-nos a falar de outra coisa e houve um silêncio, até que nos demos conta de que não há nada de que queiramos falar, nada de interesse, nada que valha a pena, para lá de futebol. Assim, ela deixou-nos e continuou a sua rotina de ir amealhando os convites que lhe vão caindo dos tipos no bar. Ainda no sábado, perdi a paciência com os alemães. Acabada de chegar de Frankfurt do Portugal-Irão, eu ainda vinha deliciada com Cristiano Ronaldo e os seus truques, o prazer de o ver a correr, a dançar, a ser magia deliciosa. Os alemães informaram-me de que ele não foi eficiente, foi egoísta, não jogou para a equipe. Não foi eficiente? EFICIENTE? Se pudesse tinha cuspido veneno junto com a palavra e acertado-lhes no meio da cara. Claro que tentar explicar a um alemão que o resultado não é tudo, é como tentar explicar o aquecimento global ao André Azevedo Alves (um dos insurgentes que me ocupou alguns postes anteriores. Não o linco porque me chateia que venha para aí masturbar o sitemeter). Após o tête-a-tête amainar, recomeçamos outra conversa futebolística: eu e o M. a choramingar o azar da Costa do Marfim ter calhado no grupo em que calhou e agora vão deixar-nos com muitas saudades. Lá vieram de assalto os alemães do futebol-geometria. De novo: não são eficientes! Eu tenho de sair deste país ou estes gajos ainda me arranjam uma úlcera. Futebol a alemães é como pérolas a porcos.

Estive também nas tertúlias "os mais giros". A minha amiga argentina gosta do Ballack (peloamordedeus). Este mundial está a pôr em perigo a nossa amizade. Ela é doente, ela não tira a camisola da argentina desde que o mundial começou, ela andava a deitar a língua de fora aos espanhóis porque eles só meteram 4 secos enquanto que os argentinos meteram 6! Eu espero que Portugal não jogue com a Argentina, pois ela é uma pequenitates e se me irrita muito ainda lhe amando com um vermelho no meio do nariz.

Hoje encontrei a trupe espanhola do instituto em que trabalho. Disseram-me que eram poucos para ver o jogo. Perguntaram-me se eu hoje queria ser espanhola. Disse que sim, com prazer. Eu gosto dos espanhóis. Gente boa. E agora tenho de deixar o computador e correr para me encontrar com eles, mas para finalizar: ainda não me recompus do França - Coreia. Nos primeiros momentos detestei a Coreia e depois percebi que era deja vu. O mundial sem a França... O mundial sem Zidane... Suspiro... É nestes momentos que me dói o tempo a passar.

fonte.


Nota de atenção: Penso que não se devia ensinar inglês aos membros do sexo masculino do país Portugal. Grunhices em português vá que não vá, fica entre nós, mas grunhices em inglês para toda a gente perceber! Por amor de deus homens, não venham para a Alemanha embaraçar-me!

sexta-feira

No one can do the things you do




Falcon Settles Me
dos Rogue Wave
Album: Out Of The Shadow
Ano: 2004


No one can do the things you do,
no one 'round here.
robot and industrious voodoo
on all the window shades.

see people be undivided
you open your window pane
look into your little garden.
you're the seed and I am the planter,
just you and I
roll through poppies and oleander
on all the window shades.

see people be undivided
you open your window pane
and into your little garden.

but when the falcon settles me,
then I know I'm right.
if your good looks could settle me,
then I know I'm right.

and when the falcon settles me,
then I know I'm right.
if your good looks could settle me,
then I know I'm right.

Obrigado, Daniel.

quinta-feira

Shot me down... do,do,down...dddo...down



Audio Bullys Feat & ...


I was five and he was six
We rode on horses made of sticks
He wore black and I wore white
He would always win the fight

Bang bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, my baby shot me down.

Seasons came and changed the time
When I grew up, I called him mine
He would always laugh and say
"Remember when we used to play?"

Bang bang, I shot you down
Bang bang, you hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, I used to shoot you down.

Music played, and people sang
Just for me, the church bells rang.

Now he's gone, I don't know why
And till this day, sometimes I cry
He didn't even say goodbye
He didn't take the time to lie.

Bang bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, my baby shot me down...

... & Nancy Sinatra

quarta-feira

No expresso da meia noite*

Vinda do Brasil - Croácia, no comboio de Berlim, conversei com um moço japonês que vinha a ler um livro que explica O Código Da Vinci do Dan Brown. Dizia-me ele que tinha lido o livro, visto o filme e agora queria perceber o que é verdade e mentira. Eu comecei-me a rir e disse-lhe que ao fim ainda lhe davam um diploma. Ele não se riu, mas também não me senti mal, pois ele era muito simpático de uma maneira muito calma. Eu estava demasiamente cansada para ler, feliz por ter alguém com quem conversar já que o M. andava a conversar com outros croatas.

Tirei da mala o livro The time of our singing, de Richard Powers, que ando a ler e fiz o maior dos elogios, pois é um livro deslumbrante. Já estive várias vezes para escrever sobre ele aqui no blogue, mas é difícil. Tem sido muito emocional, eu como que trago as personagens dentro de mim, quase que de alguma forma as amo, sentindo-lhes a falta antecipada de quando acabar o livro. Nos EUA da luta pelos direitos dos negros, uma mulata, cujo sonho impossível é ser cantora clássica (nos EUA seria negra, porque uma das bases do livro é a questão racial ser vista na dualidade: é-se branco ou é-se preto) e um físico alemão judeu e branco apaixonam-se. A imagem que é dada é a de que o peixe e o pássaro apaixonam-se. Onde podem eles fazer o seu ninho? Esta é a peça central deste livro, que derrama um lirismo pelas páginas que é tão bom que chega a ser obsceno. Os dois casam e têm dois filhos e uma filha. Ambos apaixonados pela música dão aos seus filhos esse mundo de harmonia e fuga. Pretendem criá-los para lá da raça. Cada um deles será a sua própria raça. A luta é constante. Quando os filhos crescem está-se no pico da convulsão (Panteras negras, demonstrações a acabar em violência, Martin Luther King). Aos filhos é-lhes negada a pertença da música que eles aprenderam e amam, porque justificação, é música branca. A filha segue o mesmo raciocínio e é ela própria que a nega. Uma amiga minha, que já leu o livro, disse-me que ele veio pôr em questão a sua ideia de que bastava ter uma família cheia de amor para as pessoas poderem ser completas. Quando se ama um livro a situação extravasa a loucura. Páro a ouvir ópera numa onda de nostalgia que me sucumbe e até quando estou a ver futebol (cheiínho que está de mulatos) pareço ver as personagens a correr para cima e para baixo e esqueço-me do jogo.

Eu e o moço do comboio falamos das armadilhas chamadas livrarias e aí ele disse-me que nesse dia tinha comprado o último livro do Al Gore, An Inconvenient Truth. Perguntei-lhe se podia folhear o livro. Ele acedeu. Achei piada que, depois dos meus últimos postes, fosse ali com aquele estranho que o livro me viesse parar às mãos. O livro é figuras, fotografias e frases curtas e directas. É um prazer para os olhos e pareceu-me esclarecedor da forma mais simples possível. Não vi erros, mas não o li todo. Tem alguns textos mais longos e li um, mas não era sobre o Aquecimento Global ou as Alterações Climáticas. Era sobre a irmã dele. Sobre ela ter morrido com cancro dos pulmões devido a ser fumadora desde os treze anos. Ele pensa que se não fosse a campanha das empresas de tabaco contra a investigação da altura, ridicularizando, minimizando, relativizando a ciência feita, as pessoas poderiam ter visto mais cedo os riscos que corriam, incluindo a irmã dele. Ele compara a estratégia das companhias tabaqueiras com a estratégia hoje em relação à investigação do Aquecimento Global e das Alterações Climáticas, adiando a consciencialização do problema. Esta associação já a vi várias vezes, mas esta é a mais sentida e emocional. Estou a pensar comprar o livro e pareceu-me uma boa sugestão para as pessoas em geral que podem ler o essencial, sem linguagem especializada e sem ser aos bocados desgarrados.

Eu e o moço japonês combinamos ver juntos o jogo Croácia - Japão no Domingo. O M. também vem.

* Título dado para efeito. Foi verdadeiramente o expresso da 01:06.

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De Tom Toles, Washington Post, aqui.

Clicar sobre a figura para aumentar de tamanho.
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Quanto ao Brasil - Croácia: acabei por passar o jogo a torcer pela Croácia. Eu estava admirada comigo própria, mas os brasileiros não me deram razões para mudar o meu sangue. Foi infeliz que eu não tivesse tido a oportunidade de ver a magia canarinha ao vivo, mas, pelo menos, o M. está muito satisfeito por eu afinal me ter mostrado uma amiga fiel. Adorei o novo Estádio de Berlim, mas eu, nestas coisas de arquitectura, adoro a simplicidade e a junção do antigo com o novo. Para quem não sabe, este foi o Estádio Olímpico em que Hitler quis mostrar a superioridade da raça ariana e acabou por ser rasteirado pelo Jesse Owens.

Hoje no El País: ao escreverem sobre o jogo Brasil - Croácia descrevem o que é escrito na imprensa lusa e na imprensa croata. Nem uma menção à imprensa brasileira. Não é esquisito?

terça-feira

Preciso urgentemente de um gestor de imagem

A EII vai fazer anos. O que é que pretendem dar à EII? Um dicionário de 4 línguas! Eia! Eia! Perguntaram-me o que eu achava e eu obviamente disse que era perfeito. A questão que me preocupa é que esta gente que agora demonstra bom senso deu-me, quando foi a minha vez, um isqueiro que parece uma pistola. Cópia exterior perfeita. Até no peso. Se eu fosse com aquilo para um aeroporto provavelmente era morta. Se a minha primeira teoria está errada (gente alienada), então que tipo de mensagem ando eu inadvertidamente a dar às pessoas sobre mim própria?

segunda-feira

Andy Borowitz, Ann Coulter, Al Gore

A minha única informação sobre os escritos da Ann Coulter é o que vou apanhando n'O Insurgente. Nao me despertou e baseando-me naquele pedaço de ideia dela, penso até que é de evitar. Não porque ela seja uma céptica, mas porque é burra.

Coincidentemente, o texto semanal do comediante Andy Borowitz no Truthdig é sobre ela. Tem piada. Torna-se hilariante quando penso quem é o seu fã português.

Para equilibrar, ponho também aqui um texto anterior, do mesmo autor, sobre o Al Gore.

Espairecer faz sempre bem.

Agora a sério, ainda no Truthdig, leio que detractores do filme do Al Gore, atacam o filme comparando-o a estratagemas propagandistas do Hitler e Goebbels. Não dizem em que está errado, não, isso daria trabalho, comparam-no a propaganda nazi. Parece que o poder de argumentação dos cépticos do Aquecimento Global se baseia na asneira preguiçosa ou no insulto reles.

sexta-feira

A lógica da batata - o ataque dos clones

Cá está porque não gosto de me meter nestas tricas. Pessoas que não se informam porque é que as alterações climáticas podem significar mais quente e mais frio e mais seco e mais molhado (como se diz na citação). O AAA não quer saber o porquê, nem mesmo pelo ensejo de fazer uma argumentação fundamentada. Cita uma menina da liga dele e está o caso arrumado na mais perfeita lambonice. O mais interessante é que até podia sentar-se no sofá e usar, mais ou menos, a sua lógica da batata. Pensava assim, agora há Inverno (frio e molhado) e também Verão (quente e seco). Com a mudança de fase no clima espera-se maior variabilidade. [Aqui o cérebro do AAA é capaz de aquecer um pouco e precisaremos de aplicar toalhas molhadas.] Isto significa mais eventos extremos de frio, de molhado, de quente e de seco. Sim? Não? Desenhos? Eu ponho um desenho:


O AAA sabe ler inglês, tal como o seu amigo tradutor e vai aqui onde se explica o conceito. E se fosse ler podia fazer uma argumentação interessante. Eu até podia fazê-la por si, mas não me apetece dialogar comigo mesma sobre o que já sei, nem educá-lo. Cada um educa-se a si mesmo quando chegamos à idade que temos.

Sendo que o AAA escolheu as alterações climáticas para correr atrás dos denominados "esquerda", eu aconselho-o e ao seu amigo a fazerem um esforço para entenderem um pouco do que estão a falar. A lógica que demonstram nos vossos postes é simplista e a cortar a direito. Eu nem digo que por vezes os media, os políticos (o Al Gore é na verdade um tipo que leu e domina bem o assunto, dizendo poucas asneiras) e outros não se esbarrem, não levem longe demais as suas conclusões. Por isso, o AAA e o seu amigo tradutor têm hipóteses de fazer um vistão a amandar abaixo pela lógica alguns "esquerdistas", mas é essencial que façam os trabalhos de casa.

Eu gostava de saber a vossa explicação para o facto do gelo boiar na água. Queria mesmo ver a vossa lógica brilhante a funcionar aqui. Sim, acho que a Ann Coulter não escreveu um livro contra a existência da água, essa molécula rebelde, esse paradoxo físico-químico. Penso mesmo que a H2O devia ser presa pela sua rebelião à lógica simples. Esta molécula é um perigo à lógica, é obviamente uma força subversiva, deve ser presa e obrigada a restabelecer-se ao senso-comum. Se a H2O se conformasse, o mundo acabava-se logo ali, mas pelo menos lavava-se a honra da lógica da batata.

Preto no branco

De Erwin Olaf

quinta-feira

A lógica da batata (revisãozinha a azul)

Eu não me queria meter, mas acabei, num impulso de irritação por escrever isto, e como me comeu algum tempo e sarcasmo é algo que não gosto de desperdiçar, resolvi publicar. A arrogância do André Azevedo Alves é por vezes demais para aguentar. Surpreende-me o Rui Oliveira demonstrar, de barato, tanta ignorância. A questão não é ele ser tradutor, a questão é que sendo tradutor é um homem que sabe ler e até outras línguas, pelo que podia ter-se dado ao trabalho de ir buscar um livro e ler um bocadinho sobre a história da Terra. Mas não o fez. Ou então deixou mesmo assim, sabendo que entre os ignaros da matéria a piada iria ter eco.

Para o planeta Terra isto não é novo, se o planeta Terra tiver consciência de si próprio estar-se-á basicamente a cagar para nós, que no seu livro histórico nem a uma página temos direito. Somos um rodapé. E um dia seremos uma linha de pó entre camadas de terra. Como outras linhas de pó que já lá estão. Já houve várias extinções acima dos 90%, o planeta Terra já esteve 100% coberto de gelo [estava para aqui a ler um livro que diz que 100, 100 é capaz de não ter sido possível, já que a vida necessita de água no estado líquido. Ok, quase 100% - :-)], já houve zero de oxigénio, já houve mais CO2 na atmosfera que hoje, altura em que era hot, hot, hot, vegetação nos pólos, houve uma altura em que não havia carnívoros, até que um belo dia uma espécie de medusa deu uma dentada noutra espécie de medusa e agora andamo-nos a comer uns aos outros, e etc. Quem não se habituou morreu (olha a espécie de medusa que levou a dentada). O planeta Terra não dá subsídios. O planeta Terra está aqui na maior e outra grande extinção, outro período hot, hot, hot, não o vai chatear por aí além.

As alterações climáticas não interessam ao planeta Terra, interessam-nos a nós, que estamos neste preciso momento a viver sobre ele. Também interessariam a todos os outros bichos e plantas e outras coisas viventes que evoluiram connosco, mas esses pobres não têm voto na matéria. Se forem queridinhos, fofinhos, se nos divertirem e pudermos beneficiar deles ainda terão hipóteses de sobreviver, mas senão, azar. Fucking luck. Tivesses evoluído com um freaking big brain! Sai oh verme!

Para vossa educação, nós estamos a viver um período em termos climáticos calmo (ou estávamos, que as últimas duas décadas, com os seus diversos recordes, prognostica a passagem a outra fase). Foi devido a esta calmaria que pudemos desenvolver a agricultura e tudo o resto que por aí veio a seguir. Se um tipo andasse a plantar centeio e não pudesse estar mais ou menos atido que à primavera seguiria o verão não haveria agricultura. Na altura se houvesse azar morria-se à fome. Assim, quando esta previsibilidade começou há 10 000 anos atrás começaram uns tipos a plantar coisas, em vez de andarem sempre para cima e para baixo atrás de mamutes e veados e neandertais...

Portantos, porque tivemos a sorte de viver nesta calmaria somos o que somos hoje. Não sei bem se diga civilizados. Parece-me mais novo-ricos, arrogantes, com a mania. E com estas riquezas todas andamos a mudar o clima. Além disso, o Homem, aquele que não é preguiçoso como o Rui Oliveira, pode debruçar-se sobre o desconhecido e estudá-lo. Estudar mesmo, não sentados no sofá a mexer com a lógica. Eu acho muita piada quando se diz que com a lógica consegue-se definir se o Aquecimento Global é patacoada ou não. Mas dou de barato que os gregos antigos só com a lógica enunciaram a existência de átomos (benza neurónios) uns, quê?, 3,4 mil anos (bem, antes de Cristo) antes dos ditos serem realmente apanhados em flagrante, mas também levou as mesmas mentes brilhantes a achar que quando se junta sal a água, o sal se transforma em água. Prontos, a lógica não dá para tudo.

Os cientistas, para além de estarem no sofá a usar a lógica, usaram outros métodos para estudar os ciclos climáticos terrestres. Muito trabalhinho de mouro a estudar a correlação dos ciclos climáticos com ciclos solares, ciclos bioquímicos, eventos geológicos, impacto de meteoritos, através de métodos de análise laboratorial, medição instrumental, trabalho de campo (e mar e ar), estudos com modelos matemáticos para analisar os processos de causa-efeito e juntaram-se as peças de um puzzle que continua a ser construído na compreensão do clima terrestre. Pesando os meninos que usam a lógica e pelos seus postes parecem ainda não ter percebido o básico dos básicos nestas lides que é a diferença entre Efeito de Estufa e Aquecimento Global, com os cientistas e toda a sua labuta usando, matemática, física, química, biologia, geologia, todo esse amontoado de conhecimento a que se chamam ciências naturais, diversas estradas para chegar a uma conclusão: há aquecimento global e neste ponto actual do ciclo deve-se às actividades humanas. Deixa cá ver, ui, que difícil, deixa-me cá lançar uma moeda...

De tudo o que se sabe e compreendeu, neste ponto do ciclo natural, havendo uma alteração do clima natural deveria ser para frio, não para quente. Para além do sentido, o mais relevante é a rapidez com que está a acontecer. É a rapidez da mudança que não permitirá a adaptação dos outros seres vivos (mas, tendo em atenção que os metemos numas ilhas biológicas que vão encolhendo progressivamente também a sua extinção seria uma questão de tempo). Excepto os oportunistas. Ficaremos muito bem acompanhados, com as baratas, os ratos, as pombas, enquanto que os outros estarão em bibliotecas biológicas. Há gente que duvida que mesmo nós nos consigamos adaptar. Eu cá sou optimista. O mundo vai ser diferente, pobre, homogéneo, mono, a viver de memórias, por gerações inúmeras (realço inúmeras), mas eu acredito que havendo centros comerciais, a novela das cinco e um jogo de futebol de vez em quando, toda a gente será relativamente feliz. Além, que a gente tira bués de fotografias para os que não vão ver nada disto. Para quem gosta de ver álbuns vai ser mega-giro. O pior é que os putos terão aulas de história que nunca mais acaba. Não sei se vai haver tempo no programa para ensinar os descobrimentos. Mas o que interessa é: alguém se vai sentir mal? Uns parolos nostálgicos, mas quem é que quer saber desses tipos?

Assim, cá andamos, os seres humanos que andam de carro e têm centrais termoeléctricas e aviões e essas cenas giras e que nos fazem a vida tão mais confortável, mas que infelizmente seguem a merda da lei de Lavoisier. Andamos a retirar substâncias que estavam sepultadas nas entranhas da Terra e andamos a metê-las na atmosfera. Chamam-se gases com efeito de estufa. O efeito de estufa existe desde os primórdios da Terra. É um processo em que estes gases retêm parte da energia que nos vem do Sol, permitindo que a Terra estabilize a temperaturas superiores do que se estes gases não fizessem parte da atmosfera. Sem o efeito de estufa a Terra seria um berlinde de gelo. O efeito de estufa não existe só no planeta Terra. Falando dos planetas que nos estão mais próximos: existe em Vénus, só que o equilíbrio energético que se estabeleceu neste planeta transformou-o num forno. Quanto a Marte, devido ao seu tamanho é incapaz de prender a si uma atmosfera, pelo que exceptuando esparsos períodos em que houve emissão de gases formando uma atmosfera, estes acabam por escapar para o espaço e de novo Marte restabelece o seu eu mais gélido. Ao introduzirmos gases com efeito de estufa na atmosfera estamos a mover o equilíbrio energético da Terra. Esta está a reter mais energia vinda do sol e consequentemente a mover-se para temperaturas médias globais superiores. Como o planeta Terra é um sistema de ciclos e contra-ciclos, se mexemos neste equilíbrio energético, mexemos noutras variáveis e daí estas alterações climáticas.

Nós estamos num momento do saber em que negar a correlação entre os gases com efeito de estufa (que estão na atmosfera por arte nossa) e o aquecimento global seria como virar um copo de água sobre a cabeça de alguém e negar que essa acção teve alguma coisa a ver com o facto da pessoa estar a escorrer água da cabeça. Está-me a culpar a mim? Já viu se está a chover lá fora?

A questão agora é perceber em que consistirão as alterações climáticas. O que vai acontecer exactamente? Estudar o passado da Terra é uma grande ajuda. Analisar como era o planeta Terra quando os gases de estufa estavam em concentrações mais elevadas, entender o que levou às várias alterações climáticas, como é o ciclo climático e o que o "despista" é uma das formas de responder à questão do futuro que nos aguarda.

Assim, o que está em causa é um mundo em mudança e caso a gente não goste muito do que vem aí, azar. Fucking luck. É desconfortável para muitos pensar que somos nós os responsáveis por estas alterações climáticas e que sendo nós os responsáveis poderiamos fazer algo para retroceder o processo. Pessoalmente, acho que estamos demasiadamente confortáveis no nosso estilo de vida para o mudarmos. Basta olhar à volta. Basta saber como funcionamos. Nós choramos sobre o leite derramado. É assim que funcionamos. Se as alterações climáticas não fossem responsabilidade nossa, haveria menos consciências pesadas, mas estariamos no mesmo ponto a estudar como manter tudo como está agora. Esta é a Terra a que nos habituamos. Esta é a Terra após milhões de anos de evolução biológica. Esta é a Terra num momento de abundância. É isto que vamos perder. Além de que atendendo à forma como vivemos, onde vivemos e quantos somos não augurar nada de bom na nossa capacidade de sairmos incólumes num clima mais variável. A questão não é se aconteceu. A questão é que estamos aqui para o viver e morrer. Nós somos seis mil milhões de pessoas! O que o caso Katrina veio demonstrar a mim, no ano passado, é que se os EUA que é o mega, o mais rico, o que tem meios de protecção civil, deixou um desastre daqueles acontecer, então que será dos outros? Onde vivem mais pessoas e mais desprotegidas?

Quanto a consensos, os cientistas não discutem se vai haver alterações climáticas. A não ser que apareça por aí um artigo científico revolucionário que coloque em questão centenas de outros. Ficamos à espera, mas até lá o caso está arrumado. O que anda a perturbar o sono destas almas é: que alterações? Por isso andem por aí a discutir o sexo dos anjos. Se houvesse dúvidas quanto à reversibilidade do aquecimento global bastava isto para nos tirar as ilusões: anda-se no meio científico a discutir como e o resto a discutir se. Benza Deus. Telefonem quando descobrirem se é menina.

P.S.: Aproveito para mandar as minhas condolências mais sentidas aos botânicos e aos zoólogos, cujo futuro é serem coveiros, guardas de zoo e guardas de gavetas cheias de cadáveres de plantas. Opá, não fiquem tristes, ser bibliotecário também é giro. Os livros da vida sem direito a novas edições.

quarta-feira

Burrice

O meu amigo croata arranjou bilhetes para o Brasil-Croácia. Iupii, que bom, que bom, que felizes estamos, aí ele diz: temos de arranjar uma bandeira e eu digo: não te preocupes, eu tenho uma bandeira do Brasil. Ele foi-se embora sem me dizer palavra. Terei perdido o meu companheiro de mundial?

terça-feira

Os mais bonitos do mundial

O Die Welt diz que é:
Roque Santa Cruz
Raúl
Figo
Cristiano Ronaldo
Thierry Henry

Pessoalmente acho que o Figo não é bonito, O Cristiano Ronaldo é um fofo, O Raúl põe-me KO e o Thierry Henry é para intelectuais esquerdistas que eu não sou. Ok, não é nada disso, estou-me a armar: o Thierry Henry tem a cabeça pequena. Agora vou ver quem é o Roque Santa Cruz.

Caros visitantes que chegam aqui com a frase de busca do título: poderiam explicar-me porque é que desde o passado Domingo (2 de Julho) vós tendes sido tantos a chegar aqui? O que aconteceu?

Ressuscitamento

Acabou tudo bem.

Pede-se a quem tenha encontrado na madrugada de terça-feira (06 de Junho) uma mochila preta lowepro no passeio em frente ao Hospital Privado dos Clérigos, o favor de a entregar a nelson d’aires. No interior da mochila encontra-se:

- uma carteira com todos os documentos pessoais
- um telemóvel nokia de cor prateada (que estava desligado).
- uma Nikon D1x com o número de série 5121942
- uma objectiva nikon 20mm f2.8
- uma objectiva nikon 50mm f1.4
- um flash SB-28dx
- um gravador de voz
- e mais umas quantas coisas pequenas que não me consigo de momento lembrar.

Esta mochila, como já disse, é para mim muito importante. Em Dezembro despedi-me de um trabalho de dez anos para recomeçar uma nova vida. Uma vida dedicada à fotografia documental. Desde Janeiro até ao dia de hoje, tive de investir tudo para divulgar o meu trabalho e neste momento não tenho nada, a não ser um saldo negativo no banco. Se por acaso você souber quem tenha achado a minha mochila com a minha vida lá dentro, por favor informe-me e acima de tudo informe de que a mochila não pertence a uma pessoa rica nem a uma pessoa que vive bem. Essa mochila é o meu investimento e ao devolver-me pode ter a certeza que me vai ressuscitar.

obrigado.

nelson d’aires

domingo

Quando começa a vida humana? Até onde ir? [revisão a azul]

A cambada da New Scientist são uns incompetentes. Procrastino o renovar da subscrição e os tipos continuam a mandar-me a revista. Como é que eles querem que eu lhes pague se não me dão motivo? Motivem-me!

Assim, aqui estava repimpada a ler uma data de revistas, na prática roubadas, quando apanho com o texto ali embaixo. E vem a correr de novo para o meu circuito sináptico as minhas leituras da altura da discussão à volta da PMA (Procriação Medicamente Assistida).

Neste caso sobre o embrião. Esta designação não é consensual: aparece atribuída ao zigoto após a primeira divisão celular (20-30 horas) ou só a partir da implantação na parede do útero (cerca do sexto dia após a fertilização) até ao feto (cerca da décima semana). A grande questão que norteia o aborto, a PMA ou a investigação científica em embriões é: quando, em que momento começa a vida humana? Quando é que um conjunto de células e mais células, menos organizadas e depois cada vez mais organizadas, quando é que a luz da humanidade se acende? Todos gostariamos que Moisés subisse ao monte e trouxesse a resposta. Desprotegidos que estamos da luz divina, teremos de ser nós a encontrar essa resposta e é tudo menos fácil.

No "Relatório Procriação Medicamente Assistida" (1), do CNECV (Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida)é feita uma citação de um documento redigido por Daniel Serrão intitulado Livro Branco. Uso de embriões humanos em investigação científica (2):
Só porque é um ente vivo, dizem uns, já deve ser protegido com o maior cuidado, visto que o respeito pela vida, em todas as suas manifestações, é um dever bioético; o embrião humano, sendo um ente vivo humano, merece o respeito máximo, porque o homem é um fim em si próprio e nunca um meio que possa ser usado e destruído, ainda que para benefício de outros seres humanos ou de outros seres vivos não humanos.

Mas quando começa este novo ente vivo humano cuja vida deve ser protegida em absoluto, interrogam-se outros.

O instante t do início de uma nova forma de vida humana não é fácil de determinar no plano do conhecimento biológico.

É logo que o espermatozóide passa a barreira da membrana do ovócito e entra no seu ambiente estrutural com o material genómico que lhe é próprio?

É o apagamento das membranas dos pró-núcleos, masculino e feminino, possibilitando o início de uma "conversação" bioquímica entre eles?

É quando se dá o emparelhamento e as trocas genómicas entre os pró-núcleos até ao estabelecimento e estabilização da diploidia (zigoto), logo seguida de divisão de duas células, que são totipotentes ainda?

Todo este processo pode durar até 30 horas e durante este tempo desenvolve-se o que designo por embrião nascente.

Há tendência generalizada para marcar o instante t de nascimento do embrião quando, concluída a singamia, está constituído um zigoto, ainda unicelular, mas no qual já há a expressão do genoma para desencadear a primeira divisão celular.

Mas há quem afirme que a nova forma de vida humana só atinge o instante t alguns dias mais tarde, quando o genoma deste novo ente vivo da espécie humana se exprime plenamente, de forma autónoma e com independência do genoma dos gâmetas originais (imprinting parental).

Há outros que esperam pelo fim da implantação humana na mucosa uterina para reconhecerem aí, o instante t, ou seja, afirmam que o início da relação mãe-filho é, de facto, o princípio de uma nova vida humana.

Ainda nesta linha de uso das características de diferenciação deste ente vivo humano, alguns sustentam que só após o aparecimento da linha primitiva e da configuração polarizada do embrião, o que ocorre cerca do 14. dia, é que estamos, seguramente, de uma, e uma só, nova forma de vida humana.
O CNECV considera esse momento como aquele em que o zigoto se forma, ou seja, no fim da singamia, com a fusão dos dois proto-núcleos (o do ovócito e o do espermatozóide). Defende, portanto, a natureza humana da matéria viva ainda antes da existência do embrião. Interessante é que de 1993 a 2004, período em que produziu os seus vários pareceres e relatórios sobre a PMA, é sobre o embrião que se dá a maior modificação. Não em termos de quando a natureza humana, que continua no mesmo ponto, mas renunciando à sua inviolabilidade. É como se em desespero de causa e porque não sendo o embrião usado pelo casal que lhe deu origem, não sendo possível a sua adopção, então o CNECV acaba por permitir o seu uso para investigação, em vez da sua destruição. Esta decisão é feita à luz de que melhor existir e servir um bem colectico maior (investigação que traga conhecimentos que possam originar curas de doenças) do que existir e morrer sem mais. Digamos que o CNECV tenta dar sentido a proto-vidas. Eu que não tenho a visão restrita do CNECV fiquei entristecida. Vendo a situação como eles vêem esta conclusão é trágica.

Na maior parte dos países em que se faz investigação em embriões é a linha primitiva que define o momento limite para a sua utilização. Este é o tal texto que me levou a começar este poste:

A linha primitiva
Qual é o momento mais importante da nossa vida? O nascimento, deixar o ninho dos pais, o casamento, a morte? Nenhum destes, segundo o biólogo Lewis Wolpert, que define um momento único duas semanas depois do espermatozóide se fundir com o óvulo, em que se forma uma depressão na superfície do embrião em desenvolvimento - a linha primitiva.


Porque é tão crucial? A linha primitiva indica a reorganização extensa do embrião de uma esfera num organismo diferenciado, num processo designado por gastrulação. Marca a determinação dos planos do corpo do futuro feto. Quando a linha está completamente desenvolvida, adensa-se na sua extremidade para formar uma estrutura chamada de nódulo de Henson, que produz químicos que, por sua vez, iniciam a formação do sistema nervoso. Além disso, é também um marcador de individualidade: a divisão do ovo fertilizado, com o originar de gémeos, acontece quase sempre antes da formação da linha primitiva.

A linha primitiva marca um momento de máxima importância no desenvolvimento do embrião, mas a sua importância não é limitada à biologia. É um ponto central no debate de quando a vida humana começa, tendo implicações éticas e políticas profundas, ditando o tempo limite, em muitos países, para a realização de experiências científicas em embriões humanos. É o caso do Reino Unido, em que o Decreto relativo à Fertilização e à Embriologia Humana (FEH) [Human Fertilisation and Embryology (HFE) Act], que entrou em vigor em 1990, dita que nenhum embrião pode ser usado ou armazenado após o aparecimento da linha primitiva, 14 dias após a fecundação. A maior parte das nações industrializadas, que permitem a investigação em embriões humanos, adoptam o mesmo tempo-limite de 14 dias (nos EUA só alguns Estados permitem a investigação científica em embriões humanos).

Porquê 14 dias? É um pouco arbitrário - suficientemente cedo para evitar a existência de qualquer tecido nervoso ou sensação, mas tempo suficiente para permitir a investigação sobre fertilização in vitro. É aceitável? Depende com quem se fala. Enquanto muitos cristãos se opõem a qualquer investigação em embriões humanos, outras pessoas argumentam que o tempo-limite de 14 dias impede a realização de investigação terapêutica valiosa. Recentemente, no Reino Unido, no âmbito da consulta pública à revisão governamental ao Decreto relativo à FEH, investigadores da Universidade de Newcastle recomendaram que o limite de 14 dias fosse estendido, pelo menos, aos 20.

É justo dizer que a vida começa com a linha primitiva? Alguns acreditam que começa com a fertilização, mas poder-se-ia argumentar que até à formação da linha primitiva não se sabe quantos seres humanos resultarão, pelo que não pode com correcção ser chamado de indivíduo - ou uma pessoa em potencial. Outros dizem que mesmo neste momento, é demasiadamente cedo para fazer a distinção, argumentando que um embrião pouco tem de humano até se ter formado o cérebro e o sistema nervoso. De qualquer ângulo que se olhe para a questão, Wolpert tem razão numa coisa: você não iria muito longe sem a linha primitiva.

New Scientist, volume 190, n. 2550, pág.54, 6 de Maio de 2006

Tradução minha

Prevê-se no futuro mais cedências do CNECV na sua visão do embrião. Mas mesmo para os mais liberais e até deseja-se, mesmo para os mais radicais, é necessário saber até onde ir. O que nos faz humanos? Quem queremos vir a ser? Na verdade, o que hoje surge extremamente complicado, um dia há-de-nos levar a dizer: "Antigamente a vida era simples."

Criança feita à medida
Em Junho de 2003, Michelle Whitaker deu à luz, no hospital de Sheffield, Reino Unido, um menino: o James. Durante o nascimento os médicos recolheram uma amostra do sangue do cordão umbilical e guardaram-na para uso posterior. O recipiente em mente não era James, mas o irmão mais velho, Charlie, que sofre de uma forma rara de anemia e cuja única esperança de cura é uma injecção de células estaminais com correspondência ao seu tecido biológico.

James foi um bébé "feito à medida", concebido por FIV (fecundação in vitro) e seleccionado entre muitos embriões de forma a assegurar de que seria o dador adequado a Charlie, através do diagnóstico genético pré-implantação. Esta técnica implica tirar uma única célula do embrião, quando este está numa fase muito primária - somente 4 a 10 células - e escrutinar o seu genoma. Tem sido utilizada milhares de vezes desde a primeira vez bem sucedida, em 1990; contudo o caso Whitaker abriu novos horizontes.

Até James, o diagnóstico genético pré-implantação tinha sido utilizado exclusivamente para rejeitar embriões com doenças genéticas ou que iriam produzir incapacidade do seu portador, tais como a doença de Huntington, a fibrose cística, a anemia falciforme e até predisposição para o cancro. Com o caso Whitaker, foi utilizado para seleccionar positivamente certas características desejadas. E aqui, algumas pessoas acreditam, começa um mundo em que os pais podem escolher a estrutura genética dos seus filhos.

Características Específicas
Obviamente que para escolher as características que se desejam, é necessário saber que genes se procura, o que é um enorme desafio. Ainda assim, alguns geneticistas pensam que brevemente será possível definir características relativamente simples como a altura e a magreza e à medida que o conhecimento do genoma progride as possibilidades expandir-se-ão.

Contudo, escrutinar não é o mesmo que fazer bébés por medida. Para tal ter-se-ia que trabalhar geneticamente o embrião. Alguns investigadores em diagnóstico genético pré-implantação estão já a trabalhar em "terapia genética do embrião", de forma a reparar genes defeituosos numa fase muito precoce. Quando se conseguir isto, talvez seja possível também alterar genes perfeitamente saudáveis para aumentar a inteligência, a altura ou outras características desejadas.

Ninguém acredita que será fácil e muitos cientistas pensam que não é realista esperar algo assim. Características como a inteligência resultam da interacção de centenas, talvez milhares de genes, e adicionalmente uma miríade de factores ambientais. Controlar o resultado poderá revelar-se quase impossível e enormemente caro. Existem também obstáculos técnicos, como a necessidade de criar dezenas de embriões entre os quais fazer o escrutínio. Mas como o Presidente do Conselho em Bioética disse: "Neste campo enormemente fértil e em rápido crescimento o futuro é desconhecido... Ninguém deve apostar com confiança no caminho que irá tomar o progresso científico e tecnológico."

New Scientist, volume 190, n. 2551, pág.36, 13 de Maio de 2006

Tradução minha

Em Portugal só se faz o diagnóstico genético pré-implantação quando se desconfia que os progenitores sejam portadores de doenças genéticas. Duvido que o CNECV se tenha pronunciado sobre um caso como o de Whitaker, em que muitos embriões (sublinhado meu no texto), portanto, segundo o CNECV, muitas vidas foram sacrificadas por uma: Charlie. A reacção e direcção do Conselho é prevísivel. Quanto aos planos de escolha de características específicas, eu fico balançada. Gostaria de acreditar que as pessoas não iriam entrar numa corrida ao bébé louro de olhos azuis, mas eu na verdade suspeito que sim. Contudo, para lá de características simples, talvez o genoma seja demais para a nossa massa cinzenta (3):
(...) os genes representam apenas capacidades, que se expressam ou não e se traduzem numa ou noutra realidade, conforme o ambiente. Acrescem os factores de mutação estocástica e as complexas cascatas de interacções entre os vários genes, assim como entre eles, os seus produtos e o ambiente. Se se reconhece hoje que é grande a indeterminação dos processos físicos, maior é ainda a imprevisibilidade da expressão génica.
(1) Agostinho de Almeida Santos, Michel Renaud, Rita Amaral Cabral, Relatório Procriação Medicamente Assistida. CNECV, Julho de 2004.
(2) Daniel Serrão, Livro Branco. Uso de embriões humanos em investigação científica. Ministério da Ciência e do Ensino Superior, Lisboa, 2003.
(3) Relatório e Parecer sobre implicações éticas da genómica: 40/CNECV/01. CNECV, 6 de Novembro de 2001.

Nunca saberei como é o paraíso



Soube realmente deste filme palestiniano (vi uns cartazes por aí, mas não liguei) aquando dos óscares americanos. Era um dos filmes nomeados para melhor película estrangeira e associações judaicas nos EUA e em Israel protestavam que o filme fosse nomeado. O argumento de que me lembro era de que constituía um desrespeito para com as vítimas dos ataques suicidas. Na altura presumi que o filme de alguma forma fazia a apologia da violência. Ontem vi-o e dei-me conta que o que incomodou essas associações judaicas foi o facto do filme dar humanidade aos suicidas. São pessoas. Será que aqueles que protestavam viram o filme? Ou será só uma reacção pavloviana de negar os palestinianos?

Paradise Now não lava os palestinianos, nem os demoniza. Li que durante as filmagens, a equipe recebeu ameaças tanto de palestinianos como de israelitas. Uma demonstração como o filme é uma expressão de uma situação difícil sem maniqueísmos. Naquela região só se aceitam visões que sustentem a política de ódio, a negação da existência, o sangue nas mãos de ambas as partes.

O filme é assim valioso pelo que contém e por ser uma obra conjunta de palestinianos e israelitas. Abre uma brecha para olharmos para dentro de um muro que se constrói. "Tendo os israelitas convencido o mundo de que são opressores e vítimas, então fiquemos nós vítimas e assassinos." Esta é a frase, não textual, de um dos suicidas. Eles são escolhidos e docilmente se prestam a serem assassinos e vítimas e mártires pela causa que lhes é trazida pelos funcionários do terror. Movimentam-se entre a dúvida, a resolução e a tristeza. A preparação dos suicidas é ritual. Antes de sairem para a missão, comem com todos os outros operacionais, cena composta a ser uma alusão óbvia à última ceia de Jesus Cristo. Existe esse senso de que aqueles homens são sacrificados e que aqueles que os aprestam são Judas. Fiquei extremamente surpreendida por esta simbologia cristã, pois trata-se de um filme feito por judeus e muçulmanos. Outro momento meu, este de prazer sem mácula, foi quando identifiquei a palavra "Oxalá"; identifiquei-a mil anos após a palavra ter entrado na nossa língua...

É um filme que vale muito a pena.

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No filme há uma mulher que personifica o palestiniano estrangeirado que tem a voz de moderação. Há dois dias li um texto de Martin Kramer em que ele analisa as opiniões dos intelectuais palestinianos relativamente ao Hamas. Começa por colectar as opiniões de Edward Said, o representante da intelectualidade palestiniana, ainda hoje, mesmo após a sua morte em 2003. Seguidamente, colecta as opiniões de vários intelectuais em reacção à vitória do Hamas nas passadas eleições. Uma leitura interessante.

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Actualização:
A realidade.

A justiça de rua.

No filme, um dos suicidas perdeu o pai aos dez anos: foi executado por colaboracionismo com os israelitas. É uma das suas dores e questões interiores. A mulher que ele começa a amar é respeitada e quase venerada porque o pai dela foi um homem que morreu pela causa. Ainda antes de saberem da missão, o amigo diz-lhe, que sorte ele tem, ela é a filha de Abu!

quinta-feira

Plano Nacional de Leitura

Eu desconfio que este seja um daqueles documentos com frases falhas de sentido prático, idealismos insuportáveis em quem governa e tem de definir prioridades, que tem de ser responsável na gestão de dinheiros públicos com eficiência.

Em vez de mirabolismos pirotécnicos de boas intenções eu gostava de saber algo muito simples, muito básico: as escolas têm livros? As escolas têm bibliotecas que os professores possam usar para estimular a leitura? Ou que um espírito mais curioso possa explorar? Como querem que as pessoas leiam, se os únicos livros que folhearam na sua vida têm títulos como: Bíblia, Salmos, Geografia, Língua Portuguesa, Lista telefónica, etc. As revistas e jornais chamam-se: Bola, Record, O Almanaque, a Maria, a Helena e a Vanessa?

Eu sei que agora com os hipermercados e os centros comerciais a situação melhorou. As pessoas vêem lojas que, maravilha das maravilhas, só vendem livros! Os hipermercados vendem livros em conta. As pessoas não lêem obras-primas da literatura, mas começaram a ler. O que é fantástico. Só que claro os intelectuais já se queixam que se lê porcaria. E o que é que os intelectuais fazem? Aceitam pertencer a uma comissão para o incentivo à literatura quando não acreditam minimamente no que estão a fazer. Dizendo algo assim:
"Não vale a pena o voluntarismo, é inútil, ler sempre foi e sempre será coisa de uma minoria. Não vamos exigir a todo o mundo a paixão pela leitura", afirmou, caracterizando o facto de pertencer à comissão de honra do plano como "uma fatalidade, como as bexigas", decorrente do seu estatuto como vencedor do prémio Nobel.

Com intelectuais destes pode-se fazer um bom gaspacho. Neste ponto eu nem coloco em questão o que o José Saramago diz (acho que há mais disparate que acerto), mas a inconsequência e até irresponsabilidade de pensar assim e pertencer à comissão!

Usem o dinheiro para equipar escolas com livros. O meu liceu não tinha uma biblioteca! Bem, a minha cidade não tinha uma biblioteca. Bem, a minha cidade não tinha uma livraria! Acontece que existiam livros em minha casa. Foi a minha sorte na vida. Há casas sem livros e o outro local em que se pode descobrir o livro é na escola. Que os livros não estão só cheios de coisas para estudar e exercícios. Nem todos hão-de ter a paixão da leitura, mas não é preciso estarmos todos apaixonados. Muitos verão o livro como algo normal na sua vida e alguns poderão detestar ler. Eu penso que muitas pessoas não lêem porque nunca se habituaram a ver no livro algo mais que um compêndio.

Eu às vezes perco a esperança com estas elites alienadas. As que dizem que lêem (clássicos, obviamente) e as que dizem que governam.

P.S.: Podia-se pôr a comissão a fazer a revisão ortográfica dos jornais e revistas mais lidos. Para lhe dar uma verdadeira utilidade. Ah, pôr multas aos textozinhos que passam em rodapé na televisão. 10 Euros o erro. Ao fim de um mês dava para comprar uma data de livros. Livro a livro enche a biblioteca o papo. Este tipo de angariação de dinheiro para livros é ridículo? Ainda que fosse ridículo, provavelmente o meu plano teria mais hipóteses de efeitos práticos do que o proposto. Gato escaldado de água fria tem medo, ou seja, já tenho anos suficientes para não acreditar em planos baseados em boas intenções e coadjuvado por intelectuais.

Actualização:

Ora muito bem, assim por atacado parece que vão:

1) fazer publicidade
2) fazer promoções (não os saldos)
3) fazer formação
4) fazer um sítio da internet para ensinar os professores, os bibliotecários, educadores, mediadores, animadores e eventuais voluntários a publicitar, a promover e a formar.

No meio disto, presumo, andarão livros reais, com páginas, frases e letras. Se calhar a fase de equipar as escolas de livros já passou. Afinal, eu saí do liceu há treze anos. Mas duvido...

Já estou a imaginar o Figo de oculinhos, com um livro na mão e a dizer ao maralhal que ler faz bem aos ossos. E a Catarina Furtado de lábios rechonchudinhos a declamar um poeminha da Sophia de Mello Breyner Andersen entre a telenovela das 5 e das 6. Quantos livros se compram pelo preço de um spot de publicidade?

Ah, vão apoiar blogues sobre livros e leitura. Será que se eu me candidatar me pagam alguma coisinha? Há uns livros na minha lista que eu queria comprar. Eu comprava e depois publicitava aqui. Não sei se os iliteratos lêem o meu blogue, mas eu de certeza ficava a ganhar. Pelo menos eu, em vez de ser só os gandulas das agências de publicidade. Escrevi gandula porque acho que é uma palavra pouco utilizada para denegrir e quero começar a educar o povo iliterato que anda pelos blogues. A palavra de hoje é gandula. Querido iliterato, quando não se sabe o que uma palavra significa vai-se a um livro chamado dicionário. Como estamos na internet, eu dou-te a ligação a um dicionário on-line. Internet e on-line são palavras em inglês. Dou-te também a ligação para um dicionário de inglês. Não sabendo inglês és um analfabeto on-line e esse é outro programa. Este é só para iliteratos. Que segundo percebi, não percebem o que lêem, portanto não deves estar a perceber nada e já te bazaste. Vou fazer o mesmo.

P.S.: Acho até uma injustiça irónica que os senhores da publicidade e da informática fiquem a ganhar com isto. Essas duas tribos que escrevem textos que nem são português nem inglês. Deviam ser flagelados no Terreiro do Paço quando escrevem para pessoas de bem como eu. Esses selvagens fazem-me sentir uma iliterata, só que eu sei que a culpa não é minha. Há também iliteracia de expressão. Selvagens!


Actualização 2:
No "A Razão das Coisas", a experiência de outros nobres Planos Nacionais de Leitura.