Hoje estou melhor. Uns zen andaram a dar-me consolo.
Tem piada, que estive a pensar com quem convivia em Portugal e a diferença entre pessoas não são ideias. É mais como te vestes. Na Universidade ninguém discutia política ou filosofia. Ninguém discutia. Falava-se dos relatórios, dos exames, das festas... Lembrei-me disto, pensando que nunca ouvi nenhum discurso que fosse para lá do "coisas". Talvez quando se apaixonam, se interessam, mas ainda assim é o "eu".
É claro que num mundo assim, quem tem alguma ideia, nem que seja emprestada de um livro que se leu como se fosse a Biblia, é rei e se essas ideias apoiarem o senso "coisas" e "eu", então terá a carneirada atrás, se a carneirada estiver na pausa do pasto. O dono da ideia não se interessa pela própria ideia, que sofrerá sempre de relativismo, mas pelo que essa ideia lhe poderá dar no mercado de ideias.
Cheguei à Alemanha e há esta malta que na maioria fez trabalho voluntário no estrangeiro como se pertencesse ao currículo da vida, que tiveram diversos trabalhos antes de acabar a universidade e que discutem ideias e têm preocupações "pessoas" e que as aplicam no seu dia-a-dia. Além disso, têm princípios. Nunca tinha pensado nisto e agora deixa-me assombrada. Nas discussões que se têm, dei-me conta que eu sou o contra-ponto de origem demarcada portugal. Isto deixa-me ainda mais assombrada. Por seu lado, em Portugal, eu sou denominada de niilista.
7 comentários:
Deixa ver se eu percebi: eu e outros como eu, cá, não podemos desancar em Portugal e nos Portugueses mas tu podes achar que isto aqui é uma anedota do mais idiótico que há? Não acho bem...
Só te digo uma coisa, aliás, duas: há um caminho muito comprido ainda a fazer e, na apreciação que fazes na capacidade intelectual e de discussão, embora eu não me possa queixar muito (muita sorte), há muita verdade infelizmente. Mas antes ser zen que ser um zero, à esquerda e à direita, não?
João,
é verdade. Até existir a blogosfera eu nunca vi discussão entre as pessoas em Portugal. A minha Universidade foi diferente? Diz-me. Desancar em Portugal e nos portugueses não se enquadra na minha ideia de ideias.
A blogosfera foi, é um arejar. É mesmo. Mas mesmo assim, não vês os sinais da carneirada?
Sabes qual é a tirada tribalista que me ficou da Universidade? Acho que tem uma simbologia impressionante. "E quem não salta é..."
Eu concordo contigo, pá. Daí os meus desabafos do Portugal no seu melhor/pior.
A carneirada é completa. Penso que até deveria registar o termo carneirização que é um must nas minhas croniquetas políticas cá no burgo.
Por acaso, dentro da minha vida, apesar de ser numa vila com peneiras de cidade, tive sempre rodeado de pessoal desasossegado das ideias. Na faculdade fugiu para um antro de mais desasossegados ainda, já que por aqueles lados aprendia-se a encornar direito e mai nada que isto de pensar é dentro da caixa e já é muito bom.
Alinhei na praxe, mas sempre muito en passant, um bocado tipo Nuno Gomes jogos da selecção: estou para ali, não atrapalho e se faço alguma coisa não tem grande consequência. Não gosto de tribos mas gosto de agrupamentos de gente arreliada da cabeça onde se discute quase anarquicamente. É pena que muitas vezes quem pode potenciar essas coisas goste mais de se demorar em cima de pedestal.
800 anos de descaminho não se endireitam assim de um momento para o outro, mas há quem queira fazê-lo ou contribuir para.
E quem não salta é... o quê?
Depende dos cantores. Pode acabar homofóbico: quem não salta é paneleiro. Pode ser tribal: quem não salta não é um dos nossos. Pode ser durante as manifestações contra o ministro da educação: quem não salta é "o nome do ministro". Pode ser nacionalista: quem não salta não é português. A versão mais usual é a primeira. Enfim... O avanço das ideias na Universidade deixou-me sempre bamba. E os meus colegas agora, que ficaram na Universidade, diz que esta geração é muito pior. Parece que são mais burros. Sou céptica. Eu não gosto quando me vêm com estas conversas e penso que já notaram, que já pararam de se queixar comigo. Fico irritadíssima e começo a fazer imensas perguntas e eles ficam surpreendidos. Parece que estão à espera que eu os apoie imediatamente. "Pois, pois, nós eramos muito melhores..." Não há paciência.
Abrunho,
vou contar um segredo: não me importo nada que me chamem paneleira, porque o sou (gosto de homens).
Em compensação, não gosto nada de saltar...
É uma das coisas mais importantes que tentamos explicar aos nossos filhos: tens de saber distinguir se "saltas" por pressão do grupo, ou porque é realmente o que queres.
Quando era miúda e ainda morava em Braga, ia com os meus pais ao Porto ver o desfile da Queima da Fitas (horas de viagem...).
Era antes do 25 de Abril, e os estudantes aproveitavam para fazer um manifesto político. Apenas 15 anos mais tarde, a Queima estava transformada num deboche de bêbedos.
Mas, cuidado connosco: o discurso tipo "esta juventude é uma desgraça" já se faz desde o tempo da Grécia antiga. Tenho provas.
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