terça-feira

My dears

Que dizer amigos? Para lá da sensacao de inutilidade em mover qualquer restia de mim? Nao, nao, nao há qualquer problema em ter a total consciencia da minha inutilidade. É a realidade e sempre tive uma certa afeiçao pela realidade nua e crua. O caminho fica livre para a liberdade. Os tempos que correm nao me dizem nada. Sento-me a olhar para o peitoril da janela que contém os meus livros e sinto prazer em reve-los como amigos em fotografias. Fico assim longos tempos, sem passado ou futuro. Posta no presente, imovel no tempo e no espaço, com pouco para dizer, a saborear a minha mortalidade. Bem, talvez retorne ou nao. Por agora vou fumar um cigarro. Beijos.

quinta-feira

meto a mão em pó
e retiro-te de quando eras outro
quando o teu azul era só azul
ainda não oceano
a tua palidez era encardida
ainda não prateada
as tuas mãos despercebidas
ainda não sentidas
a tua boca ruminando sons
em vez de beijos
todo tu ordinário
metido num sudário fantasista
que dispo com as unhas
raspo com os dentes
esmago
desfrutando algo
algum momento, algum sentimento, algo
quicá, quem sabe, algo que vem em brisa
que cheira a podre
que morre ao redor.