quarta-feira

Vida (2)

Talvez isto seja um pouco estranho, já que a vida teve imenso tempo para desenvolver as suas ambições. Se imaginarmos os 4500 milhões de anos da vida na Terra comprimidos num dia, então a vida começa cedo, pelas 4 da manhã, com o surgimento do primeiro ser unicelular, mas então não existe mais nenhum avanço nas próximas 16 horas. Só pelas 20h30, quando 5/6 do dia já passaram, é que a Terra tem algo para mostrar ao Universo: uma película vibrante de micróbios. Então, finalmente, aparecem as primeiras plantas marinhas, vinte minutos depois aparece a primeira medusa e a enigmática fauna Ediacarana vista, pela primeira vez na Austrália, por Reginald Sprigg. Às 21h04 os trilóbitas nadam em cena, seguidos mais ou menos imeditamente pelas criaturas elegantes da camada de Burgess. Quase, quase às 22h, as plantas começam a surgir sobre a terra. Pouco depois, com menos de 2h para que o dia acabe, as primeiras criaturas terrestres aparecem. Graças a 10 minutos de tempo ameno, pelas 22h24 a terra está coberta de grandes florestas carboníferas, cujos resíduos fornecem-nos hoje todo o nosso carvão e os primeiros insectos com asas são evidentes. Os dinossauros arrastam-se pesadamente em cena poucos antes das 23h, dominando-a durante 3/4 de hora. Aos 21 minutos para a meia-noite os dinossauros desaparecem e a temporada dos mamíferos começa. Os humanos emergem 1 minuto e 17 segundos antes da meia-noite. Nesta escala, a nossa história registada não é mais que uns segundos, uma única vida humana um instante.

A short history of nearly everything de Bill Bryson

Tradução minha.

segunda-feira

Tocada



de Laerte.

wow

estive a falar (melhor, ouvir) a Meryl Streep da ciencia. Podia ter ficado até sempre, mas como sempre com esta gente, estao de partida. Esteve a contar do glaciar da sua juventude que já nao existe. snif snif

sábado

Deriva



Everything is open
Nothing is set in stone
Rivers turn to ocean
Oceans tide you home
Home is where the heart is
But your heart had to roam
Drifting over bridges
Never to return
Watching bridges burn
You're driftwood floating underwater
Breaking into pieces pieces pieces
Just driftwood hollow and of no use
Waterfalls will find you bind you grind you
Nobody is an island
Everyone has to go
Pillars turn to butter
Butterflying low
Low is where your heart is
But your heart has to grow
Drifting under bridges
Never with the flow
And you really didn't think it would happen
But it really is the end of the line
So I'm sorry that you turned to driftwood
But you've been drifting for a long long time
Everywhere theres trouble
Nowheres safe to go
Pushes turn to shovels
Shoveling the snow
Frozen you have chosen
The path you wish to go
Drifting now forever
And forever more
Until you reach your shore
You're driftwood floating underwater
Breaking into pieces pieces pieces
Just driftwood hollow and of no use
Waterfalls will find you bind you grind you
And you really didn't think it would happen
But it really is the end of the line
So I'm sorry that you turned to driftwood
But you've been drifting for a long long time
You've been drifting for a long long time
You've been drifting for a long long
Drifting for a long long time

Driftwood dos Travis, álbum The Man Who

Vida (1)

Como a maior parte das coisas que vivem em ambientes hostis, os líquenes crescem devagar. Um líquen pode demorar meio século a ter o tamanho de um botão de camisa. Assim, os líquenes com o tamanho de um prato terão, como escreve David Attenborough, "provavelmente centenas, senão mesmo, milhares de anos." É difícil imaginar uma vida mais insatisfatória. "Eles simplesmente existem", continua Attenborough, "demonstrando o facto emocionante de que a vida, até nos seus níveis mais simples, aparentemente existe só por si mesma."

É fácil esquecer que a vida simplesmente é. Como humanos temos a tendência de sentir que a vida tem um sentido. Nós temos planos, aspirações e desejos. Nós queremos aproveitar todas as oportunidades que a existência intoxicante nos oferece. Mas o que é a vida para um líquen? Contudo, o seu impulso para existir, para ser, é tão forte quanto o nosso - discutivelmente maior. Se alguém me dissesse que eu teria de passar décadas como uma camada felpudinha sobre uma rocha numa mata, eu acho que perderia a vontade de viver. Os líquenes não. Como virtualmente tudo o que é vivente, eles sofrerão qualquer trabalho, aguentarão qualquer insulto, para existir um pouco mais. Em súmula, a vida quer ser. Mas - e este é um ponto interessante - na maior parte dos casos, a vida não quer ser muito.

A short history of nearly everything de Bill Bryson

Tradução minha.

quinta-feira

Perfeito



fotografado: Luciano Thevenot da nextmodels. {não consigo fazer ligações}

Coisas que adoro:

quando os meus dois neurónios se juntam a intrigar.

Tenho boas e más notícias



quarta-feira

if god exists i don't know, but there seems to be angels below

Partida

Estavam parados no cais de embarque, pouco mais de dez minutos para a partida. Depois de horas a falar, o silêncio tornara-se imbatível. Que dizer? Que dizer? Que dizer? Ainda faltam dez minutos, ele diz. Ainda têm dez minutos. Ele afiança-a que o pode ir visitar, que é perto, já ali, que tudo vai correr bem. Ela sorri e diz-lhe que o verá em Portugal. Que ele vai gostar de Portugal. Sela assim o futuro com as mútuas ausências. Dez minutos. Ele abraça-a. Ela desprende-se. Ela não olha, vai-se embora. Espreme lágrimas dentro de si. Ainda quase dez minutos.

segunda-feira

double scenes

Old friends drop by
and you start to lie

Por amor

Lembrava-se dele e, por amor, ainda que pensasse

em serpente, diria apenas arabesco; e esconderia

na saia a mordedura quente, a ferida, a marca

de todos os enganos, faria quase tudo


por amor: daria o sono e o sangue, a casa e a alegria,

e guardaria calados fantasmas do medo, que são

os donos das maiores verdades. Já de outra vez mentira


e por amor haveria de sentar-se à mesa dele

e negar que o amava, porque amá-lo era um engano

ainda maior do que mentir-lhe. E, por amor, punha-se


a desenhar o tempo como uma linha tonta, sempre

a cair da folha, a prolongar o desencontro.

E fazia estrelas, ainda que pensasse em cruzes;

arabescos, ainda que só se lembrasse de serpentes.

Maria do Rosário Pedreira

domingo

sábado

Ah, estes dois...




Get down, get down, little Henry Lee
And stay all night with me
You won't find a girl in this damn world
That will compare with me
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
I can't get down and I won't get down
And stay all night with thee
For the girl I have in that merry green land
I love far better than thee
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
She leaned herself against a fence
Just for a kiss or two
And with a little pen-knife held in her hand
She plugged him through and through
And the wind did roar and the wind did moan
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
Come take him by his lilly-white hands
Come take him by his feet
And throw him in this deep deep well
Which is more than one hundred feet
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
Lie there, lie there, little Henry Lee
Till the flesh drops from your bones
For the girl you have in that merry green land
Can wait forever for you to come home
And the wind did howl and the wind did moan
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee

Nick Cave & The Bad Seeds AND PJ Harvey
China's poison for the Planet

sexta-feira

Se tiverem perguntas nao me importo de responder

Eu só nao faço isto mais amigo, porque me dá seca explicar tudo muito explicadinho. Prefiro dialogar e aí dá-me gozo. Assim, ou perguntam ou eu nao digo mais nada. Eu tenho aqui mais uns postes com gajos, por isso...

Adenda: na verdade, se tiverem perguntas adorarei responder. :-)

As más notícias:

CO2 + H2O + CaCO3 (s) -> Ca2+ + 2*HCO3-

CO2 + H2O + CO3 2- -> 2*HCO3-

Comecemos pelas boas notícias

O mar é nosso amigo.

Pois, um grupo de cientistas de Kiel andou pelo Mar do Norte e dizem que detectaram CO2 emitido pelo Homem a profundidades de até 4000 metros. Se o que eles acharam puder ser extrapolado para todos os sete oceanos, entao estes situar-se-ao na gama optimista do que poderao sugar da atmosfera.

quarta-feira

Tenho boas notícias e tenho más notícias

As calças de Pandora

Sobre o livro "Pandora's breeches. Women, science and power in the Enlightenment" de Patricia Fara.

Ranging from astronomy in Germany and Poland to botany in Britain, Pandora's Breeches tells the story of women's contribution to science in the seventeenth and eighteenth centuries. [...]

Paradoxically, perhaps, before professionalization moved science out of the home and into universities and industrial laboratories, there was more scope for active involvement from women who had no wish to see a radical reorganization of society. By and large, Enlightenment women did not wish to do the same things as men. They had houses to run and, usually, families to tend. Fara's book is, for the most part, the story of publicly unrecognized workers; a world not of masculine genius and heroism, but of quotidian rounds in which women worked alongside men, forming intellectual networks with international scholars, and with each other.

Enlightenment science emerges, for the first time, as a family affair: the story of men and women whose lives were entwined in scientific enterprise.

Sisters who waited for their brothers to return from university in the vacations so they could talk about science; wives who assisted their husbands with scientific experiments in the domestic space of the home, and also acted as translators and educators, lab technicians, illustrators and editors. Some women actively sought stimulating alliances: Margaret Cavendish, Duchess of Newcastle, advised women frustrated by their conventional education to marry the right man, as she had: from the privacy of her dining room she was able to participate in the scholarly debate she desired. Others had experimental science thrust on them. Charles Lyell made his wife, Mary, study geology during their engagement; she read and translated German for him, illustrated and edited his books, taught her maid to kill snails for scientific study, and became more expert than him in conchology. In the 1850s, Charles Darwin took over a kitchen shelf as a laboratory, used his children and pets for scientific study and probed the mothers of his extended family for information on their babies. His wife and her friends, also married to scientists, found themselves an unacknowledged editorial team as they read and discussed his work.

Pandora's Breeches reveals the extent to which such scientific giants as Descartes, Leibniz, Newton, Herschel, Lavoisier and Linnaeus were dependent on the patronage, support, or intellectual guidance of women whose contribution has been excluded by individualistic models of scientific discovery, with eureka moments -Newton, the apple and gravity being one perfect demonstration. [...]

Warning against refashioning neglected women as martyrs, Patricia Fara neither overstates nor undervalues their contributions, allowing them to remain embedded in the social and domestic structures and beliefs of their time. Her subjects are so diverse that no single narrative model suffices to tell their story; some are lone scholars, some reluctant wives, others aristocratic, erudite and sociable; and national differences presented different opportunities. But what she brings home is the domestic origins of experimental science: understanding how science started must involve looking at how families accommodated new investigations of the natural world. Pandora's Breeches is vital reading for anyone interested in the rapid growth of Enlightenment science, and the varied ways in which women indisputably affected the course of Western philosophy.

terça-feira

A mae que nao pode ser

A questao que nos envolveu nas últimas semanas era de bébés que nao poderao ser. Mas eu pensei na altura da menina Esmeralda e da luta que a envolve entre o pai biológico e o casal que a quer adoptar, da mae que nao pode ser. E ontem esta questao voltou a assombrar-me. A mae biológica da Esmeralda nao abortou, andou tres meses para trás e para a frente com a bébé, a pedir ajuda para poder ser mae. O ser ilegal ajudou ao seu desfortúnio, mas os Serviços da Segurança Social nao a poderiam ter ajudado através da filha? O pai da menina mandou-a passear, na incerteza do espermatozóide. Ela teve de desistir de ser mae. E há pouco o Tribunal Constitucional abriu a possibilidade do casal adoptante lutar pela custódia da Esmeralda versus um pai que a quis tarde demais, mas selou que a mae nao o poderá fazer.

Face a isto, face a uma mae que nao pode ser, qual o direito da sociedade que a nao ajudou, em obrigar alguém a ser mae, sem mais? Isto assombra-me e cimenta o meu sim, na luta com o meu natural nim. E perguntam: mas ainda pensas nisso? Ainda. Para que saibam como toda esta questao nao é fácil, que todo esse facilitismo, o pensar que isto foi somente um bater de espadas argumentativas nao é assim para todos. Nao o é para mim.

Mentalidade no séc. XXI em Portugal

Mas ok, se virmos por outro prisma, se virmos a mentalidade para com a mulher, que pode estar por detrás de um nao, entao tem razao. E aí nao sei se entramos no século XXI ou se ainda o estamos só a espreitar.

A semana passada, Daniel Serrão contribuiu com um pequeno texto para o DN, onde explicava o seu “não” à pergunta do próximo dia 11. Escrevia ele que após o referendo estaria ao lado das jovens para as ajudar a ser mais responsáveis com a sua sexualidade. Não se sabe se Daniel Serrão se referia às jovens que exploram a sua sexualidade sozinhas ou às jovens que exploram a sua sexualidade com outras jovens, sendo que, em qualquer dos casos, não parece alguma delas corra sérios riscos de assim engravidar. Com efeito, se o médico se queria referir às jovens que devem ser mais responsáveis com a sua sexualidade porque podem engravidar, como estas não engravidam sozinhas, nem umas com as outras, é óbvio que se esqueceu de um elemento importante nesta equação e que são os jovens.

Por vezes, pequenos detalhes como este revelam toda uma forma de pensar o outro, que, neste caso, é a mulher. Esta boa vontade de estar ao lado das jovens e de encarar as mulheres que abortam como vítimas, que convive, aparentemente de forma harmoniosa, com a atribuição de um ónus de culpa, revela uma forma, tão cara à Igreja Católica, de ver a mulher como um agente do mal. Umas vezes perfidamente consciente desse papel; outras ingenuamente seduzida por algo que não consegue compreender bem. Mas, sem dúvida, um agente do mal.


Miguel Silva

segunda-feira

A chegada de Portugal ao século XXI

Meus senhores e senhoras,

equiparar o Sim com a chegada de Portugal ao século XXI é um disparate, uma idiotice, uma visao muito umbiguista dos valores humanistas. Imaginem-se, sff, na pele de uma pessoa que pensa, considera que há uma pessoa desde a concepçao. Sem preconceitos, sem machismos, somente esta percepçao de valor. É justo, respeitoso, verdadeiro dizer a esta pessoa que nao pertence a este século? Tenham tento na língua e respeito por pessoas que nao sao mais que boas pessoas. Um pouco metediças, mas no fundo boas pessoas.

P.S.: Prefiro a companhia de um nao do século XX do que de feministas radicais (seja de que século for).

Já se notam os novos ares

Despedida ao telefone de parentela:

- E se engravidares, nós estamos cá, nao precisas de abortar.

E depois de tanta luta?



Agora é o SNS.

domingo

Solidão

Um dia ele deixou de escrever, pois a única palavra que conseguia escrever era solidão. Poemas inteiros com a palavra que se repetia, por entre vírgulas e pontos, sempre colocadas em linha e bicha, nenhuma palavra capaz de se encontrar com as outras palavras e deixarem juntas de ser solidão.
Like An Angel Passing Through My Room
dos Abba

Long awaited darkness falls
casting shadows on the walls
in the twilight hour
I am alone
sitting near the fireplace
dying embers warm my face
in this peaceful solitude
all the outside world subdued
everything comes back
to me again
in the gloom
like an angel passing through my room

Half awake and half in dreams
seeing long forgotten scenes
so the present runs
into the past
now and then become entwined
playing games within my mind
like the embers as they die
love was one prolonged good-bye
and it all comes
back to me tonight
in the gloom
like an angel passing through my room

I close my eyes
and my twilight
images go by
all too soon
like an angel passing through my room

Nao encontrei a música para aqui por, mas hoje é assim.

sexta-feira

Evolução do número de Interrupções Voluntárias da Gravidez (IVG) na Europa

Após a legalizaçao do aborto verifica-se o aumento do seu número, mas isto é porque se passa de uma situaçao de estimativa 'as escuras, do que nao se conhece, para a contabilizaçao real do que é feito 'as claras. Depois do salto, o que se verifica em países com a legalizaçao da IVG, é uma estabilizaçao ou descida dos abortos realizados. Ver aqui.

Humor preto

Na Alemanha, onde o aborto foi legalizado já não há crianças, só pretos. Querem que Portugal fique igual?

p.s.: Sim, Sabine, isto é o embate frontal com o país real.

p.s.2: provavelmente uma grunha do mesmo quilate, mas alema, diria que a grunha portuguesa tem razao e até apontaria na minha direcçao, nao fosse o caso de ter degenerado nos genes dos meus antepassados africanos.

Não é só nascer

Porque será que eu sofro e sofrerei domingo com os resultados do referendo? Eu não preciso da vossa lei. Egoisticamente falando, eu vivo fora de Portugal, num país que permite o aborto até às 12 semanas. Vivendo em Portugal, eu posso ir ao estrangeiro. Eu não terei que me sentir clandestina, vou poder seguir a minha consciência, tomar a decisão em liberdade e consoante a relação em que estiver, com ou sem o pai. Não será por causa da lei que terei um filho, não será nenhum hipócritazinho que me vai dizer quem amar, nenhum cérebro machista me vai dizer quando amar, nenhum legista dos sentimentos alheios ir-me-á dizer quando ser mãe. A minha vida não está ao vosso alcance. Os meus afectos não estão ao vosso alcance. A minha consciência não está ao vosso alcance. A minha saúde não está ao vosso alcance. Ainda assim, sofro pelas pessoas que terão de morrer, ficar estropiadas, de cerviz vergada a imposições alheias. Homens também, pais, maridos, namorados, vítimas em segundo grau. Filhos que ficarão sem mãe. Mães que ficarão sem filhas. Mulheres estéreis. Filhos que não serão amados. Desfortunados, porque alguém, que é outra eu, mulher, eu, não tem acesso à minha liberdade. Nao é só nascer. É também nascer com sorte.

quarta-feira

Conflito essencialmente geracional ou mental?

Encontrei o colega irlandes na cozinha e coitado lá levou o enxerto do referendo em Portugal (estou doida que isto passe, que sinto-me em obsessao). Acabei por perguntar-lhe como é que vao as coisas no país dele.

- Ah, faziamos um referendo a cada tres anos, mas agora fizemos uma pausa. Estamos 'a espera que morram os velhos.

- É? Em Portugal nao sei se será conflito geracional. Talvez... Mas dentro da gama dos letrados o conflito parece-me sem idade. É mais de mentalidade.

Bem visto

A pergunta não faz qualquer referência ao progenitor, conferindo no seu texto um poder absoluto à mulher grávida. A partir daqui, e para além do texto, é com a imaginação de cada um.

Valupi

Mas, já agora gentes do NÂO, pq raio não incluem,na lei,a penalização para o pai que não quer que a mulher tenha o filho??? porque não penalizam com pena de prisão os pais q abandonam a mulher grávida?..."

comentário da amok aqui

vi aqui.

merda desta na minha caixa de correio é q nao

Agora os do Nao mandam-me textos para a minha caixa de correio. Num texto presunçoso de Luciano Amaral (começado a dizer que é um texto escrito sem presunçoes), somos informados que a despenalizaçao do aborto que os do Nao enbandeiram agora é um gesto de compromisso generoso aos do Sim (e eu, malévola, a pensar que este compromisso aos seus valores era porque querem ganhar um referendo). Segundo o dito: Cada um dos lados é obrigado a ceder em alguns pontos da sua
opinião em nome da convivência na mesma comunidade política. Ganhando o
Sim, a verdade é que esse equilíbrio compromissório se rompe.

Equilíbrio compromissório... Mas que equilíbrio existe hoje? Está-nos Luciano Amaral a dizer que os do Nao nao concordam com as actuais excepçoes 'a lei? Que já sao um compromisso?

Assim, a morte de fetos até 'as 24 semanas que a actual lei permite foi uma exigencia do Sim? Será este um compromisso aceitável, ou é aceitável porque sao fetos malformados? Se for eugenia o Nao aceita? Os do Nao fazem propostas de despenalizaçao para durante toda a gravidez. É este um compromisso aceitável perante a inviolabilidade da vida, que está na nossa constituiçao? LA num parentesis de inteligencia duvidosa diz-nos que nos EUA está que todos os cidadãos da república têm certos “direitos
inalienáveis”, nomeadamente a “vida, a liberdade e a busca da felicidade”
, quando basta alguma informaçao para saber que para a lei americana um feto nao é um cidadao.

Vejamos, os do Nao podem comprometer-se nao só na inviolabilidade da vida humana, mas incluso vida humana sentiente, em casos particulares, de ética extremamente duvidável, num admirável mundo novo. Podem-se até comprometer num grau mais grave que o requerido na pergunta do actual referendo. Mas isto nao é um contra-senso aos seus fundamentos, é um compromisso fantástico.

Finalmente, não estou de acordo que o aborto seja despenalizado se feito
“até às dez semanas”, muito simplesmente porque é um limite (ou um limiar)
que não entendo.


Nao entende o Luciano Amaral. O LA quando nao entende, automaticamente nao concorda. Olha que estratégia mais inteligente... Inacreditavelmente burra num texto sobre compromissos!

Este texto só se admitiria no início da discussao. Agora, depois de tudo o que já foi argumentado, isto é de alguém que nao quis ver, nem ouvir. Isto é um texto de um autista intelectual, que acha que argumentar com os outros, ou simplesmente ler os outros com olhos de ler está abaixo de si. Nesta altura do campeonato isto é uma merda de texto. E merdas destas na minha caixa de correio é que nao. Spam abortavel (perdao pelo oximoro), fodas, poe-me mesmo chateada.

terça-feira

O Opel Manta

Ele, olhar divertido - Está um opel manta estacionado na Universidade!
Eu, olhar "aaah?" - E?
Ele, olhar "tás a mangar?" - Um opel manta....
Eu, olhar "isto deve ser uma piada alema" - E?
Ele, olhar "nao tou a acreditar q ela n sabe" - os opel manta sao guiados por aqueles parolos estúpidos que deixam o vidro aberto e poem o cotovelo para fora e a música aos altos berros.
Eu, olhar "já tou a ficar entediada com isto" - E depois?
Ele, olhar pedante - Na Universidade! Achas que combina?
Eu, olhar divertidamente apontador - O que? Estás-me a dizer que nao há estúpidos na Universidade?

Ele virou costas e foi-se embora.

segunda-feira

Os defensores do feto (*adenda)

Dizia a Maria José Nogueira Pinto, citada numa notícia, que os do Sim sao só pela mulher, enquanto que os do Nao sao pela mulher e pelo feto (de notar que antes das dez semanas nem se usa a palavra feto, mas embriao, já que estamos numa fase muito inicial do seu desenvolvimento).

Depois do Marcelo Rebelo de Sousa, já outros, que fazem campanha pelo "Nao", vem a terreiro pela despenalizaçao do aborto, mas como nao dizem limites, parece que será por toda a gravidez.

Assim, os do Nao, que sao pelo feto, pretendem abrir as portas para a sua morte quando já sentirá que o matam. A mulher sai livre e descomprometida* mesmo que o que tenha feito já possa ser descrito por infanticídio. Depois do mal feito vamos ser muito compreensivos e tolerantes, prometemos. Pelo prisma da mulher, ela pode continuar a fazer abortos, desde que nao haja a possibilidade dela ter acompanhamento na decisao, desde que sejam clandestinos e ela arrisque a vida e a saúde. O que interessa é que seja longe da nossa vista. Notem bem: estes sao os que defendem o FETO e a mulher.

Eu neste momento sinto um grande nojo por esta gente. É só.


* Esperem. Nao é descomprometida. O dr. Villas Boas aplicava-lhe sançoes psicológicas (ele tem formaçao de psicologia), o dr. Daniel Serrao: "Para mim, seria suficiente chamar a mulher, fazer-lhe um discurso que a obrigasse a ponderar. Bastava que pedisse desculpa à sociedade para arrumar o assunto." ; os do Movimento "Nao obrigado" querem obrigar 'a ressocializaçao. Nota-se logo quando uma mulher vai abortar. Anda sempre tao dessocializada...

homens pela vida

Uma amiga disse-me que ouviu na televisao um advogado, que defendeu mulheres que foram a julgamento por terem abortado, dizer que todas elas tinham sido acusadas pelos ex-namorados ou ex-maridos.

domingo

Maria

Maria Ester, mulher, 32 anos. Profissionalmente activa, esposa e mãe de duas crianças. Morreu no Hospital S. Teotónio (HST) de Viseu, em 2000, devido a uma "disfunção multiorgânica", aparentemente provocada por uma "manobra abortiva". No registo médico não constam sequer os nomes dos pais. Os clínicos que a assistiram presumem que tenha "ingerido algum produto tóxico" para pôr fim a uma gravidez não desejada. Para os movimentos Médicos Pela Escolha e Viseu Pelo Sim, este é um exemplo paradigmático e "terrível" das situações que serão evitadas com a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) e que justificam o voto "sim" no referendo do próximo dia 11 de Fevereiro. A médica Ana Paula Viana trabalhava, na altura, na Unidade de Cuidados Intensivos, onde Maria Ester esteve internada durante três semanas. Explicou que os clínicios foram "incapazes de controlar as complicações", tendo assistido impotentes ao "esvair-se de uma vida", num "custo incalculável" para uma "família que ficou destroçada". Sabe, porém, que este é apenas um nome entre milhares de mulheres de um "universo perfeitamente desconhecido", já que, "sendo criminalizadas, as mulheres não confessam e os médicos têm algum cuidado com os registos das situações que recebem nos serviços dos hospitais".

Vejam bem:

1. O Não ganhou em 1998. O que mudou? Nada. Mas não prometia o Não de então, que as coisas mudariam, como prometem hoje? Prometiam. O que mudou? Nada. As mulheres continuaram a abortar clandestinamente, a morrer e a esvaírem-se em sangue nas urgências dos hospitais quando o citotec e outros falhavam no vão de escada da parteira que sabia fazer o desmancho ou na casa de banho de casa. Afinal, o Não ganhou, mas nada mudou. Afinal, o aborto continua liberalizado (já é!), livre das 0 semanas aos 9 meses, feito quando e como se quer, em estabelecimentos não autorizados.

2. "... se realizada, por opção da mulher". No mundo real, o que quer dizer esta parte da pergunta? Quer dizer que a concordância com a despenalização da IVG deve ser dada (apenas e só) no pressuposto de que ela seria realizada por opção da mulher. Basicamente, significa que se uma mulher for forçada a abortar por uma terceira pessoa, esse aborto é crime e essa tal terceira pessoa será punida. Quer dizer que, se fulano apanhar uma mulher grávida, a anestesiar e lhe interromper a gravidez, não poderá eximir-se respondendo que "o aborto foi despenalizado", precisamente porque graças à segunda parte da pergunta o aborto só é despenalizado se for por opção da mulher.

3. A verdade é que se aceitarmos que nenhuma mulher aborta apenas porque lhe apetece, somos obrigados a concluir que estas mulheres precisam de uma oportunidade. Oportunidade que lhes é negada ao manter o aborto ilegal. Enquanto o aborto for ilegal, nenhuma mulher poderá ir a um hospital, a um centro público ou à segurança social aconselhar-se, porque se o fizer estará a confessar uma intenção criminosa. Apenas sendo legal será possível dizer a cada mulher que há alternativas, que há imensas famílias que querem adoptar bebés, que há grupos de apoio, inclusivamente dizer-lhe que se vai sentir culpada para o resto da vida.*

Uma tão medida simples foi já avançada por Maria de Belém Roseira e Vital Moreira e é, ao que julgo saber, aplicada em alguns Estados dos EUA: obrigar a mulher a alguns dias de reflexão. Nesses dias, podem-se incluir sessões de esclarecimento, pôr a mulher em contacto com potenciais famílias adoptantes. Mas claro, até uma medida tão simples obriga a que o aborto seja legal.

Legalizar o aborto é o primeiro passo para adoptar medidas que o combatam. Só depois de devidamente estudado será possível desenhar as políticas correctas. Mas há que tirá-lo da clandestinidade para que possa ser devidamente estudado.


* Nao concordo. Penso que seria cruel e inútil. {ou talvez nao. Talvez seja mesmo melhor avisar que há mulheres que nao esquecem. Talvez este seja um daqueles arrependimentos que podem destroçar}

sábado

sexta-feira

Imprescindível

Aborto, uma polémica de sempre de Ana Cristina Leonardo, jornalista do semanário Expresso.

Exercício

Resolvi seriamente imaginar que ficava grávida. Pensar o que é que sentiria, o que é que faria, o que é que me passaria pela cabeça. Tem sido revelador.

Cuidado com os dogmas a que poem o selo ciencia

Revela a apropriação intelectualmente desonesta que o seu autor quer fazer da ciência e dos cientistas. É contra a ciência, mas invoca a ciência. Chegou ao ponto de vestir a pele do fundador da ciência experimental para fazer passar posições que não podem ser apoiadas pelo actual saber experimental. É o que acontece, por exemplo, com o dogma de que a vida começa no momento da concepção. A ciência diz que antes dessa forma de vida já há outras formas de vida, que de resto vão prosseguir. E é também o que acontece com o dogma que a pessoa está no DNA do óvulo fecundado. A ciência diz que há uma grande distância entre uma molécula que contém o código da vida e uma vida humana plenamente desenvolvida. Defender a «vida» e a «pessoa» sem mais nada é não dizer nada! Mas quem é que não defende a «vida» e a «pessoa»?

Carlos Fiolhais, físico

Sim, que este pessoal a usar a palavra ciencia nas suas hipocrisias poe-me fora de mim.

quinta-feira

Depois de Marcelo Rebelo de Sousa preleccionar:



de Ares.

Tenho um pó a gajas

Maria José Nogueira Pinto, da Plataforma «Não Obrigada», que se opõe à despenalização do aborto, afirmou em Braga que
«os defensores do «sim» são unilaterais, porque apenas defendem a mulher, enquanto que os do «não» são bilaterais, batendo-se pela mulher e pelo bebé», noticia a Lusa.
(...)
Nogueira Pinto indicou que «qualquer lei tem de ponderar o valor da vida humana», frisando que «quando se fala de violência sobre as mulheres tem de se ponderar outra violência, a de destruir um feto que é vida humana, como o demonstra a ciência».

Lei «alçapão»

Maria José Nogueira Pinto referiu que o maior problema da sociedade actual não é o da pobreza é o do abandono, para sustentar que «uma lei que deixa a mulher completamente sozinha na decisão de abortar é um alçapão para ela». «Com esta lei a mulher será exposta a mais pressões para abortar, por exemplo, pelo empregador que lhe promete uma promoção ou por qualquer outra razão», acentuou.


Deviam dizer a esta gaja que as mulheres nao precisam que ela se bata por nós. Muitas de nós, a maior parte de nós, até lhe pagavam para estar quietinha. Para além disso, esta gaja devia explicar como é que a lei actual acompanha e nao deixa completamente só a mulher. Além disso, gaja, um dos problemas da sociedade actual é gajos e gajas que querem enfiar pela garganta abaixo aos outros os seus valores morais. E gaja: até 'as 10 semanas nao há bébé, como o demonstra a ciencia!!!!!!!! Agarrem-me que eu bato-lhe.

Fui censurada (revisao**)

Pus tres comentários n'O Blogue do Nao e dois nao foram publicados.

A este comentário:

Gostava de saber se os intervenientes já tiveram o prazer de assistir a uma ecografia às 6 ou 8 ou 10 semanas. Caso tenham oportunidade de o fazer, ouçam com atenção o coração que, embora pequeno, bate com força, com aquela força que nos faz sorrir e pensar como é perfeita a vida, do início ao fim. Gostava de lembrar que nao se trata apenas da saúde das mulheres, mas das oportunidades e direitos que todos temos ao ser concebidos.

E já que falam dos direitos das mulheres, da escolha, da opção e da enfadonha liberdade, peço que se lembrem que têm todos, temos todos antes de mais, o dever de pensar, reflectir e ser Responsáveis em todos os momentos.


Eu disse que antes das dez semanas nao há coraçao. Há um conjunto de células já diferenciadas para serem do coraçao que começam a actuar como se espera de uma célula do coraçao: a contrair e a relaxar. Isto dá um batimento, mas nao há um bombear de sangue feito por este proto-coraçao. Todos sabemos que o feto está em desenvolvimento. Além que nao é só o coraçao que faz a pessoa. Aqui eu disse ao comentador para livrar-se dos seus orgaos, excepto o coraçao e verificar se era capaz de cumprir o dever de pensar, reflectir e ser Responsáveis. Informei-o que era capaz de nao sobreviver 'a experiencia. ** Fui ler melhor e o sistema circulatório completa um circulo completo 'as 5 semanas, sendo aqui que o coraçao começa a trabalhar. Portantos estava enganada e há realmente um coraçao a bombear sangue. O coraçao e o sistema circulatório sao os primeiros a começar a trabalhar. O som do coraçao só é discernível com o uso de um instrumento de Doppler. O som que se ouve numa ecografia, a sua intensidade depende unicamente do instrumento. Pode soar fraco ou forte consoante o que o médico definiu no instrumento e consoante os ouvidos dos progenitores, que acho bem que fiquem excitados e felizes e imaginem tudo e o mais que quiserem. O problema nesta discussao toda é as pessoas imporem as suas fantasias pessoais nos outros. Estou a ficar cansada disto.

Isto é assim tao chocante? ProntoS, até posso ter tido mau gosto no fim, mas também nao exageremos.

A este poste e reagindo mais especificamente ao lamento d' "...a publicidade (apareceu nos dois diários...) ao caso dramático da paraplégica que ficou grávida porque a pílula falhou e foi abortar a Espanha por não querer que "uma comissão de ética decidisse sobre o seu corpo"?" eu disse que pela lei (aconselhei-os a ler a lei, pois digo-vos que eles ou nao sabem ou fazem que nao sabem) neste caso nao seria preciso que uma comissao ética se pronunciasse. As comissoes de ética sao supostas de intervir nos casos de malformaçoes. Só que os hospitais usam abusivamente das comissoes de ética, inclusive em casos de violaçao, deixando muitas vezes passar os prazos (provavelmente é esse o objectivo). Aí contei de dois casos de que eu tenho conhecimento, de duas mulheres que ficaram grávidas em condiçoes dramáticas: uma por incesto e outra por ser incapaz (é débil mental). Em ambos os casos, foi interposta uma comissao de ética que nunca se pronunciou. Os prazos foram ultrapassados e as duas crianças foram institucionalizadas por nenhuma das mulheres ter condiçoes de ficar com as crianças, nem haver ninguém da família que o quisesse ou pudesse fazer. E aqui chamei-os de ignorantes, de nao quererem saber a realidade e até insinuarem que histórias como a da sra paraplégica ou da menina de 14 anos contada pela Fernanda Cancio sao feitas a jeito.

A minha acusaçao fortaleceu-se. O que vai contra as fantasias daquela gente é censurado.