sábado

Vida (1)

Como a maior parte das coisas que vivem em ambientes hostis, os líquenes crescem devagar. Um líquen pode demorar meio século a ter o tamanho de um botão de camisa. Assim, os líquenes com o tamanho de um prato terão, como escreve David Attenborough, "provavelmente centenas, senão mesmo, milhares de anos." É difícil imaginar uma vida mais insatisfatória. "Eles simplesmente existem", continua Attenborough, "demonstrando o facto emocionante de que a vida, até nos seus níveis mais simples, aparentemente existe só por si mesma."

É fácil esquecer que a vida simplesmente é. Como humanos temos a tendência de sentir que a vida tem um sentido. Nós temos planos, aspirações e desejos. Nós queremos aproveitar todas as oportunidades que a existência intoxicante nos oferece. Mas o que é a vida para um líquen? Contudo, o seu impulso para existir, para ser, é tão forte quanto o nosso - discutivelmente maior. Se alguém me dissesse que eu teria de passar décadas como uma camada felpudinha sobre uma rocha numa mata, eu acho que perderia a vontade de viver. Os líquenes não. Como virtualmente tudo o que é vivente, eles sofrerão qualquer trabalho, aguentarão qualquer insulto, para existir um pouco mais. Em súmula, a vida quer ser. Mas - e este é um ponto interessante - na maior parte dos casos, a vida não quer ser muito.

A short history of nearly everything de Bill Bryson

Tradução minha.

1 comentário:

Unknown disse...

Excelente escolha!

E o português está muito bom!