sexta-feira

Será que estes jornalistas algum dia param a pensar: "que faço no mundo?"

Uma pessoa abre o jornal e extasia no quanto se pode fazer com nada.

quinta-feira

Intermezzo

As pessoas perguntam: então onde andas? Eu? Eu ando a tentar ser feliz como os lobos. Se não percebem, não conhecem lobos. E não, não vou ensinar como são os lobos. Nem vale a pena pedir. Não.

sexta-feira

Oh D. Policarpo

Eu pessoalmente nao dou o ponto de um chavelho para o que um cardeal diz, mas como o gangue blogosférico em que ando fala destas coisas acabei por saber. Do que apanhei no meu desinteresse, sou capaz de estar ali com o Joao. Isto tem piada, porque estes assuntos afastam e nao aproximam, mas eu e o Joao discordamos de tudo, excepto nos assuntos fraturantes. Quanto ao fenómeno de alguém dizer algo e as pessoas resolverem ver no que digo o que elas pensam, pois D. Policarpo, compreendo-o completamente. Veja com olhos de ver o que me aconteceu nesta caixa de comentários. Escrevi uma frase, uma frase que á primeira vista daria para pouco e só esta frase mereceu-me liçoes (sabia que um muçulmano podia ser louro, ter olhos azuis e ser mais europeu que eu? Pois pode e isso até eu já tive visualizaçao comprovatória, ah, pois, imagine que eu já vi muçulmanos e falei com eles. Nao me custa acreditar que um muçulmano possa ser mais europeu que eu, mas a minha frase era sobre aqueles (muçulmanos ou nao) que tem laços essenciais para eles num país em que aquelas leis, que se pensarmos bem e comparativamente nos fazem muito bem á vida, nao existem. Mas a minha frase nao interessa, interessa todo um universo construído sobre a minha frase que nao é dominio meu. Já agora, sobre muçulmano ser só sobre religiao, aconselharia a ensinarem isso a pessoal que se reve como muçulmano para lá da religiao. Eles se calhar iam gostar de saber que estao enganados. O que eu gosto é que me preguem liçoes sobre generalizaçoes e nao generalizar e na liçao dizem-me que a generalizaçao de muçulmano é ser só sobre religiao, o que nao se enquadra com a realidade de como vários muçulmanos se sentem. Deve ser a pincelada humorística.). Pergunto-lhe, voce é cardeal, mas eu, que fiz eu a Deus para merecer isto?

quinta-feira

my grand plan

Esclarecimento

Em Portugal, quem emigra é porque foi obrigado. Ninguém deixaria Portugal se Portugal nao fosse Portugal. Há aqui um amor-ódio, a ideia de que nao poderiamos partir (amor), mas temos de partir escorraçados por um lugar que nao nos merece (ódio). A minha emigraçao nao se enquadra nisto. O motivo porque parti compreende-se facilmente. Sentem-se á frente de um mapa-mundo. Observem. O que veem? Terra que nao é Portugal para onde se pode ir. Foi só isto e nada mais. Nenhum grande plano, nenhum desejo de conquista, nenhum amor ou ódio, somente o movimento de um corpo para fora de umas linhas traçadas. A minha vida nao melhorou, nao vim ganhar mais dinheiro, nao fiz nada mais importante. Mas aprendi o quao o vosso amor-ódio é desarrazoado.

quarta-feira

Apenas

Lembro-me de um artigo qualquer num jornal israelita em que se falava num inquérito na Europa sobre, imagino que chamassem o confronto israelito-palestiniano, mas sejamos francos, a ocupação israelita, e a maior parte do pessoal dizia-se farto. Eu que não respondi ao inquérito, declaro-me pertencente. Construam um muro a toda a volta, coloquem uma tampa e espreitemos daqui a dez anos a verificar se há viventes. E no entanto, numa parte de mim que estremece à vista da injustiça, tremo cada vez que leio os palestinianos defraudados da sua humanidade e sempre, para todo o sempre transformados em símbolos. São símbolos de tudo por todos nunca em benefício próprio. Serão sempre apenas símbolos, meios para chegar a algum lado e esse lado pode ser extremamente vazio, como para a Helena Matos escrever a sua crónica semanal, enquanto eles morrem, sobre, grande furo, os "insurgentes de sofá"! Portanto além dos media não reverem fontes também ficamos a saber que para cronistas têm os espirituosos do teclado. Só que a Helena Matos quer ser MEC com a tragédia.

Aos palestinianos seja Deus a dar redenção por cada vez que foram usados e terão o paraíso só pra eles. Que seja Deus, porque aqui em baixo discute-se que o desespero não é desculpa. Viver numa prisão não é desculpa. Viver com o arbítrio dos prepotentes não vale. Viver os dias a paredes meias com a injustiça não é argumento. O mundo só promete a benção em caso de paciência de santo, senão mesmo divina. Votar mal? Sem opções na política? Isso é para nós que discutimos a falta de opções na escolha. Para os palestinianos não há desculpas para defraudarem a democracia ou as nossas expectativas na democracia deles. Sejam apenas o que nos der jeito que sejam. Haverá melhor palavra para os palestinianos? Apenas. Só não são símbolos para o governo israelita que tem que ser pragmático na resolução do problema da sua existência. Para esses, os palestinianos ainda não são o que deveriam ser: apenas pó.

A única coisa que todos, mas todos, pedem aos palestinianos é que sejam mártires. Deste lado da cristandade quer-se o martírio de jesus, de gandi, de tianamen. Haverá algo mais admirável que o martírio dos outros? Voltem a face, deitem-se debaixo dos tanques, encarem as pedradas e os escarros, deixem-se morrer. Infelizmente para o nosso lado, há o outro lado, que não se importa de os ver mortos, mas um martírio mais abrangente, que leve daqui vítimas e algozes numa cajadada só. A única opção para um palestiniano é a morte. Há consenso universal: um bom palestiniano está morto.

Entre o consenso e a impotencia, pergunto-me, porque entre, vai em quantos, 900 mortos, temos de passar pelas crónicas míseras? Na aldeia em que cresci, pelo menos no dia dos enterros, as comadres escondem-se. Nao seria possível o último respeito? Nem na morte? Estou farta, farta, farta até à pontinha da minha capacidade humana para os jornais e os seus cronistas. E se me vierem dizer que precisamos dos cronistas para sabermos que o Hamas se aproveita da situaçao, isso é como dizer que precisamos das comadres para resolver crimes.

sexta-feira

????

Apenas

Andava no Público a procurar o MEC e vejo este chamariz de crónica da Helena Matos:

"No dia em que escrevo, quarta-feira, confirma-se que mais uma vez uma cadeia de televisão europeia, a France 2, transmitiu imagens falsas numa reportagem que dedicou ao ataque israelita a Gaza. Crianças mortas e uma casa destruída ilustravam os efeitos dramáticos entre os civis palestinianos dos bombardeamentos efectuados pelo exército de Israel.
Poucas horas após a emissão da reportagem concluía-se que destas imagens apenas os cadáveres e o prédio destruído não foram ficcionados."

Fui logo ao Blasfémias para ver o que tinha sido ficcionado (não achei). Crianças feridas, peluches semeados pelos escombros, mulheres pagas para carpir? Afinal, o resto são apenas crianças mortas. Apenas. Apenas? Desculpe, APENAS?

quinta-feira

Voces ser esquisitos

Os portugueses adoram os seus telemóveis. Um dia hao de nascer já com telemovel incorporado e este com muitas capacidades. Podem-se ver filmes nos telemóveis. Nao consigo imaginar que alguém queira ver um filme num telemóvel, mas presumo que sim, coisas mais estranhas acontecem. Quando o bébé nascer, em vez de perguntarmos se é menina ou menino, pergunta-se pelo telemóvel, em vez de perguntarmos pela saúde, pergunta-se se tem rede. O meu telemóvel velhinho, que nem pode tirar fotos, que é uma daquelas coisas que já nem se pergunta se pode, nao me preparou para o linguajar técnico que os portugueses tem para descrever os seus telemóveis com ar de mini-televisao. No autocarro soube de coisas muito privadas em conversas de horas. Poderia ter posto os tampoes nos ouvidos, mas estava perplexa com o desnudamento e com a minha aparente invisibilidade e pouca importancia. No metro, um rapaz fazia chamadas umas sobre as outras, caminhando pela carruagem, saltitando pelos bancos, nos intervalos das chamadas parecia perdido. A minha sobrinha, que dormiu no meu quarto, deitava um alo para o escuro do meu sono enquanto, presumo, mandava mensagens. Havia telemóveis pelos móveis, entre os pratos á hora das refeiçoes, a mascararem-se de comandos. Na véspera de Natal, fiquei a falar prá parede enquanto quase todos os meus familiares que sao todos portugueses se afadigavam a responder ás boas festas. Ei, pessoal, vim da Alemanha para falar convosco. Nao, desculpa, temos de responder, nao, eram obrigados a responder, disseram-me, senao profundas rupturas sociais gerar-se-iam e imagino eu, no dia seguinte um vazio instalar-se-ia e ninguem jamais comunicaria. O desastre seria que talvez nao fosse mais preciso usar o telemóvel. Talvez devesse ter ficado na Alemanha, ligado o meu telemóvel e mandado mensagens. Isto se eu ainda fosse portuguesa, mas consigo ainda pensar o mundo sem telemóvel.

quarta-feira

Promete

Li na National Geographic uma coisa fascinante, de que estão vivas hoje mais pessoas do que todas as que morreram em toda a história da humanidade. Por outras palavras, se todos quisessem fazer Hamlet ao mesmo tempo, não o poderiam, pois não haveria suficiente nr. de crânios!

Em Extremely Loud & Incredibly Close de Jonathan Safran Foer


Tradução minha

gents and madams, deêm-me algo digno de admiração

Estive a ver as fotografias da India e reparei que o que mais me impressionou foi a relação dos hindus com os seus templos. Eu situo-me em terreno movediço. Sou agnóstica, mas fui criada católica e assim, entendo melhor o sagrado de uma igreja do que o sagrado de um templo. Mas não vi nada de sagrado nos templos hindus. Nao vi qualquer intento de colocar a religião num nível acima do mundo terreno, de ultrapassar os limites humanos, de ser mais e melhor. O templo hindu é uma extensão da vida terrena. Continua a ser, como o resto, um local sujo, barulhento, caótico, um local com tudo o que é indiano e humano e ordinário, um local onde se fazem piqueniques, se põe a roupa a secar e se faz negócio. No início pensei que seria uma limitação minha, da minha origem cristã. Quantas vezes me veio à ideia Jesus a expulsar os comerciantes do templo? Mas agora não estou tão certa. Não é do meu passado religioso o meu desprezo por uma religião extremamente utilitária. Se uma religião não tem caminho para um ideal, não sei por que ponta lhe pegar...

terça-feira

Israel e Palestina

Um cão ladra e o homem caminha até ao cão preso a uma árvore e dá-lhe um pontapé. O cão gane e o homem pontapeia, o cão guincha e o homem pontapeia, o cão morde e o homem pontapeia, o cão morde e o homem pontapeia e o cão morde e o homem pontapeia e o cão morde e o homem pontapeia e o cão... Quem vê diz: "Maldito cão que nunca mais se deita a morrer."

segunda-feira

Voces ser esquisitos

Vou-vos ser sincera. Eu fico estarrecida quando vou a Portugal com a vossa simpatia. É anormal! É como se houvesse um concurso qualquer e o mais simpático ganhasse a lotaria. Basta estar um minuto a olhar com ar de parvo para uma máquina qualquer e lá está alguém a explicar-te o funcionamento da geringonça. Perguntas pelo nome de uma rua e acompanham-te á rua para terem a certeza que nao te perdes. Pequenas conversas crescem por aqui e ali, sorrisos envergonhados e eu pasmo com essa espécie de pequeno paraíso em que todos gostam uns dos outros. Claro que me vejo obrigada a corresponder e acabo por sentir algo estranho como, sei lá, harmonia no mundo. Depois venho para a Alemanha e apetece-me dar-lhes pontapés, por serem assim, gélidos e tristes. E fico eu triste que eu nao possa parar numa qualquer esquina, por um ar perdido por um minuto, e vir alguém salvar-me. Aqui os salvamentos sao raros, a nao ser que estejas num edificio em chamas. Aqui os salvadores sao profissionais e ganham dinheiro por isso.

A minha primeira descoberta

Já é dia 5?

A minha segunda ideia de 2009

Esteticamente falando os noves sao bonitos, mas pessoalmente acho que têm a mania.

A minha primeira ideia de 2009

Ouvi dizer que uma prova de inteligencia é nao cometer o mesmo erro duas vezes (eu concordo). As passagens de ano demonstram a estupidez generalizada e vergonhosamente recalcitrante. Tenho dito.