quarta-feira

O que vale é que nao voto

A mim até me parece que o Barack Obama é uma pessoa séria e capaz, o pior é esta sensaçao quando ele fala, que a qualquer momento aparecerá o Bambi. O homem é, como dizer, demasiadamente disney.

segunda-feira

Eu nao sou eu

Que estranho é percebermos que o nosso corpo nao nos pertence. Talvez tenha sido nesta óbvia e estranha disjunçao que foi criada a ideia da alma. Mas se esta é uma ideia elevada, é uma ideia também terra-a-terra que persegue todas e cada pessoa todos os dias. Seria assim que todos temos um anjo da guarda, mas a guarda que nos faz é como um balao que prendemos com a mao. O meu primeiro dar conta foi na forma mais trágica dessa disjunçao que se dá com os transsexuais. Na altura fiquei apoplética com tal incompetencia da natureza. O que a biologia descobriu é que em princípio nao nos pertencemos. Somos potes que contem algo que deve ser passado ao seguinte pote, criando a natureza, que tem um valor todo seu. É claro que nao ignoro as pessoas religiosas que acham que a incompetencia é mais elevada. Dá jeito. Pelo menos sabemos a quem nos queixar.

quinta-feira

Onde a alma gentil da burocracia?

Andam a repatriar o grupo de penetras que desembarcaram na ilha da Culatra em Dezembro. Eu sou uma esquecida, mas lembra-me bem essa notícia, porque na altura senti pontadas, nao percebo nada de anatomia, poderia dizer nos rins para me salvar de acusaçoes de lamechona. Parece que eles andavam fugidos pela ilha, depois de dias de frio e fome, os pescadores perguntavam-se como eles teriam aguentado, mas mesmo no estado suposto de exaurimento em que se encontravam, parece que rastejavam pelas dunas, tentando mimetizar-se. Uma pessoa imagina o desespero destas pessoas contra as fronteiras dos homens e imagina polícias a caçá-los e há algo aqui que nao soa bem. No fim da notícia, uma senhora, penso que do governo civil, dizia que tudo tinha sido eficientemente resolvido. Uma palavra destas em Portugal, em que geralmente os serviços públicos se desculpam da ineficiencia é estranha. Mas mais desconfortável se torna quando a senhora acentua que tudo está resolvido, no sentido de que se pode esquecer, the end. Só que na minha cabeça, as estrelas sao os penetras e a história deles começou antes de chegarem a Portugal e continua depois. Aquela senhora é um símbolo kafkiano das dificuldades do mundo que os nossos heróis terao de vencer, uma burocrata, um vírus, uma nódoa. Mas porque ela nos representa a nós todos, como cidadaos de Portugal, é uma nódoa que se espalha, que nos penetra.

A história realmente continuou e desenlaça-se com outros nossos representantes. Os nossos heróis sao eficientemente despachados pelos burocratas. De novo eficientes. Porque sao eles agora eficientes? Porque entre as inúmeras rachas do sistema, sao eles agora tao eficientes despachantes de seres-humanos? Por entre as várias procrastinacoes possíveis, que sabemos possíveis, que aparecem para nós que nao podemos ser despachados, porque desapareceram elas para aqueles que podem ser eficientemente despachados? Que prazer é este, que estranho perverso prazer é este, de que é tomada a burocracia?

P.S.: Bem, nos EUA ainda é pior. Eles preferem deportar cidadaos americanos porque
"We have to be careful we don't release the wrong person", porque entre deportar alguém para um país que nunca viram, nem conhecem a língua, é muito, mas muito pior deixar imigrantes ilegais dentro. Todos sabemos os crimes especialmente horriveis que eles perpretam. Até se me arrepia a espinha.

P.S.: Esta cena dos americanos fazerem tudo mais que os outros chateia. Que armados.

terça-feira

Os tempos

Há um século, uns taralhocos de bigode, começaram a jogar nuns baldios de Lisboa e do Porto uma coisa a que os ingleses chamavam futebol. A coisa espalhou-se, formaram-se clubes, cuja pertença é oferecida a recém-nascidos do sexo masculino por parte do pai, para além da religiao, por parte da mae.

Neste século, uns taralhocos de pantufas 'a frente de computadores em T1s de Lisboa e do Porto começaram a jogar uma coisa a que os americanos chamam caucus. A coisa espalha-se e esperam-se clubes e um dia um pai babado há-de vestir o recém-nascido de azul e dizer "é republicano como o pai". A ver o que as maes preparam.

domingo

Filme sente bem

Talvez seja o papel soberano do cinema: fazer-nos sentir bem. Mais importante que por-nos os cabelos de pé ou em suspense. Sinceramente, nao é memorável aquela vez que saímos do cinema a traulitar a banda-sonora e a achar que a vida é bela? Muito melhor, que aquela vez em que ficamos com os olhos em bico com os lábios do Brad Pitt, ou aquela vez em que achamos o argumento inteligentíssimo e juntamos cenas como pecas de puzzle... espera, esta é boa...

O dois papéis soberanos do cinema: deixar-nos, após ver o filme, a sentir-nos bem e entreter-nos, após ver o filme, a saborear um intrincado argumento.

Juno, faz-nos sentir bem, porque nos apaixonamos. Apaixonamo-nos pelo filme e pela interprete. Apaixonamo-nos porque tudo é muito giro e jovem e fresco. As pessoas sao todas boas e mesmo quando sao más, nao sao muito más. As pessoas sao razoáveis, tem um sentido de humor que decididamente lhes faz bem á pele e a interprete tem a língua rápida e aguçada, que é uma substituiçao benévola para a nossa necessidade de haver alguém a fazer mortos, nem que seja na pista do sarcasmo. A desonestidade deste filme é que para além de giro, é inteligente e isto é uma injustiça. Toda a gente sabe que para o mundo ser justo, as louras tem que ser burras! Toda a gente sabe, que é necessário por um lenço sobre os olhos da justiça. Toda a gente imagine que é gira e docemente inteligente.

sexta-feira

Nao se querem alimentos fumados

Eu sou uma pessoa limitada e para nao me perder, preciso de me agarrar a ideias simples e fundamentais. Assim, a lei do tabaco eu via-a como a protecçao dos efeitos nocivos do fumo, das pessoas que nao fumam, em locais públicos. Portanto, tudo o que fosse decidido a jusante era para obedecer a esta importante ideia-base. Agarrando-me a esta simples ideia, que eu corroboro, nao entendo a ponta de um corno do que é isto.

Segundo o DN, o director-geral de saúde, Francisco George, disse-lhes:"As discotecas não são restaurantes, não lidam com alimentos, pelo que não estão sujeitos às mesmas restrições de espaço para fumadores."

Portanto, parece que eu preciso de reestruturar a minha ideia-base para: a lei do tabaco é a protecçao do acto de degustacao em locais de restauraçao.

Podiam ter dito mais cedo. No meu universo de pensamentos, a fumaçao de alimentos, chamem-me esnobe, nao é importante. Assim, no meu universo, esta lei é uma grande patetada e é necessária outra lei do tabaco, que realmente tenha o que é importante na ideia.

P.S.: Há mais umas pérolas na notícia, que demonstram como no mundinho lá deles os bois cavalgam os carros.
Quanto à eficácia dos sistemas de ventilação e às perspectivas para a sua aplicação pelos estabelecimentos de diversão nocturna, Francisco George admitiu que "é de difícil exequibilidade".

Até agora, os equipamentos que poderão melhor garantir o respeito pela lei ainda não estão homologados, sendo essa uma preocupação do sector.

quinta-feira

Na Sicília chamam os afro turcos

Pelo menos com o Barack Obama os americanos daquele país muito categórico não erram quando dizem que ele é african-american.

quarta-feira

não sei que faça com o cansaço

terça-feira

Os leprosos

Passo-me absoluta e completamente com vitimizações. Chateiam-me, mas não posso deixar de lhes dar a razão para o que é expectável no futuro. Ficando o acto de fumar circunscrito ao espaço privado, aos ostracizados da porta da entrada, o fumar tornar-se-á um acto somente vicioso, desprezível. Eu senti isso nos EUA. Lembra-me de ir comprar tabaco pela primeira vez e como não conhecia as marcas (para lá da marlboro que detesto) perguntei a opinião da vendedora. Ela trejeitou como se eu lhe tivesse perguntado se tinha herpes genital. Eu trejeitei como se me tivesse chamado leprosa. Após ela ter salientado (bem demarcado para que eu não duvidasse) que não fumava (cruz-credo, bater três vezes em madeira), eu salientei que era esquisito uma pessoa que não fuma estar a vender tabaco. Ri-me e disse-lhe que fumar não era nada demais e porque já me estava a passar com a cara que ela me deitava, pedi marlboro e fui embora. Depois disso senti esse sentimento de leprosa várias vezes e desejei retornar muito, muito, contar os dias para a volta, voltar à Europa, em que fumar é normal. Vai ser assim. É esse o futuro. É pena. Quero apoiar o direito dos não fumadores, mas adoraria que os fumadores não se tornassem os leprosos.

Confesso

que até há uns pouquitos de dias não tinha a mais corpúscula ideia que um senhor chamado Luiz Pacheco tinha existido. Mas segundo a blogas é um ícone. Do pouquíssimo que li sobre o que escreveram sobre ele fiquei-me a perguntar se era pela sua assertividade. Consigo imaginar o gajedo a ficar passado com um tipo, cuja originalidade é afirmar com linguagem desabrida e a gozar. É bom poder rir com o bêbado da aldeia. Havia um aonde cresci e as pessoas achavam-lhe piada. Espero estar a ser injusta. E essas merdas.

segunda-feira

Os pobres fumadores passivos

Agora sabemos qual era a estratégia do José Bandeira para continuar a fumar depois de deixar de fumar:


domingo

Frio, frio


Tempestade de gelo em Oklahoma City ______ Clicar na imagem para ver melhor as lágrimas de gelo na face da estátua.
É daquelas imagens que me chama e me põe a contemplar. Não consigo imaginar a mesma estátua sem o gelo. Sinto que o homem tem os olhos fechados devido ao gelo, que resiste numa qualquer tarefa que envolve salvar a humanidade segurando uma esfera. Que essa esfera contém deus e que a melhor forma de o salvaguardar, salvaguardando um mito essencial, é guardá-lo ali. Aquele é o protector do mito, gelado, que é a melhor metáfora para uma tarefa que implica um sacrifício. Podia-me dar para pior.

sábado

É tanto o fumo que não vejo nada

A ler os blogues percebe-se como a inteligência fica estranhamente adormecida quando tem a ver connosco. A lei do tabaco, que também começou agora aqui na Alemanha, é para proteger os não fumadores, não é para chatear os fumadores. Não é nada pessoal. Está provado que o fumar passivo é mau para a saúde e não entendo porque é que as pessoas que não fumam têm de arcar dia após dia com locais públicos cheios de fumo. Eu, que sou fumadora, detesto o fumo passivo. Incongruência? Talvez. Simplesmente só gosto do meu fumo. Eu sei que isto custa, que apetece tirar do cigarro, mas imaginem alguém que gosta de escarrar na rua, que gosta de mijar nas portas, que gosta de cagar nos elevadores, de ejacular nos sofás da discoteca, que lhe custa não fazer nada dessas coisas. Portantos, porque lhe custa muito pessoalmente restrinjir-se, vamos todos também compreender estas pessoas e deixá-las fazer o que querem no espaço público, que supostamente como o nome indica é um espaço de todos nós. Quando todos nós não restrinjirmos os nossos instintos, vamos a ver que mundo maravilhoso será esse em que ninguém respeita ninguém. E sim, fumar é sujar o espaço dos outros e equipara-se a outros sujares da via pública, até é pior, porque os exemplos que dei não afectam a saúde dos outros, só dá nojo e nunca ninguém adoeceu de nojo. A única estranheza até agora foi essa primazia da aceitação social de atirar fumo no nariz dos outros, que tinham de comer e calar, ou falar e comer, basicamente uns chatos. Repito, sou fumadora e não penso parar, mas sinto que é meu dever não importunar os outros (sim, já prevariquei muitas vezes, mas também já me segurei muitas vezes e eu não sou nenhum modelo de vontade de ferro, nem nunca me passou pela cabeça que posso fazer o que bem me apetece). Sabem aquela frase de que a nossa liberdade começa onde termina a liberdade dos outros? Pois. É isso.

Tá boa

O Túmulo da Liberdade

quarta-feira

Tudo o que sobe tem de cair

Mesmo aqueles que ascendem o seu mundo, são produto desse mesmo mundo. É assim que Eça de Queiroz mostra nos seus escritos, pessoal anti-semitismo e que Benazir Bhutto deixa como herança ao partido que herdou do pai o seu próprio filho.

P.S.: de acordo com isto a mulher não era tão excelsa quanto eu pensava.

Do mal o menos

Eu compro bastante livros na Amazon. No outro dia, mandaram-me uma mensagem electrónica em que baseados nas minhas compras sugeriam-me três livros. Dois eu já tinha lido e o terceiro pensei nisso. O não lido era o "God delusion" de Richard Dawkins. Portanto, segundo o algoritmo da Amazon, eu sou uma das pessoas supostas de ler este livro, e tendo em atenção que o algoritmo é bom, eu sou MESMO suposta de ler aquele livro. Nas minhas prioridades de leitura, um livro sobre religião da forma como Dawkins parece ter empreendido a sua critíca (digo isto com base nas várias recensões que li sobre o livro), em que demonstra grande ignorância sobre temas teológicos, não me parece muito gratificante. Contudo, admiro o ímpeto de Dawkins.

A religião implica para um ateu uma grande capacidade de engolir sapos. Para um cientista é ainda pior, pois as pessoas religiosas pedem que em favor delas em certos momentos, uma pessoa que está habituada a pensar o mundo dos factos, desligue o cérebro superior e passe a usar somente o sistema límbico. Há muitos cientistas que o fazem, há cientistas que até conseguem escrever defendendo esse ligar e desligar cerebral, o que só demonstra a grande capacidade humana para viver duplos, triplos e que mais papéis, o que explica que os nazis faziam festinhas às criancinhas antes de as mandarem para as câmaras de gás, que os inquisidores matassem pela salvação das almas em nome de Cristo, que pais abusem dos filhos sem que ao mesmo tempo os deixem de amar. Contudo, mesmo sem os extremos que listei, seriamos considerados misantropos sem esta capacidade para esquecer momentâneamente conforme as exigências do momento. Sabendo o que se sabe de como nasceu a Bíblia, não é deslumbrante de como ainda existam pessoas que leiam o livro e procurem significados? Uma espécie de procura de formas em nuvens e premonições em folhas de chá no fundo da caneca. Tudo isto casado com a vida secular. Quantas vezes os não religiosos ouvem a frase: "Não é para levar literalmente." Então porque não procurar significados nos Lusíadas? He he he he. Mas que digo? Não andavam à procura de significados nos filmes do Matrix? Pois. O que eu penso pessoalmente é que escrever um livro só contra a religião é inconsequente. É ir contra a natureza do ser humano. É impossível que o ser humano não acredite em algo misterioso, invisível, indizível, enfim, algo ali do bairro emocional do sistema límbico, que vive ali e que mesmo o Dawkins sentirá muitas vezes. Assim, o máximo que se pode pedir é essa capacidade inata para ter duas caras. Muito melhor isso, que as trupes que levam a Palavra à letra.