segunda-feira

Andy Borowitz, Ann Coulter, Al Gore

A minha única informação sobre os escritos da Ann Coulter é o que vou apanhando n'O Insurgente. Nao me despertou e baseando-me naquele pedaço de ideia dela, penso até que é de evitar. Não porque ela seja uma céptica, mas porque é burra.

Coincidentemente, o texto semanal do comediante Andy Borowitz no Truthdig é sobre ela. Tem piada. Torna-se hilariante quando penso quem é o seu fã português.

Para equilibrar, ponho também aqui um texto anterior, do mesmo autor, sobre o Al Gore.

Espairecer faz sempre bem.

Agora a sério, ainda no Truthdig, leio que detractores do filme do Al Gore, atacam o filme comparando-o a estratagemas propagandistas do Hitler e Goebbels. Não dizem em que está errado, não, isso daria trabalho, comparam-no a propaganda nazi. Parece que o poder de argumentação dos cépticos do Aquecimento Global se baseia na asneira preguiçosa ou no insulto reles.

9 comentários:

Helena Araújo disse...

O texto do Borowitz é mesmo divertido!

Já vi que percebes umas coisas disto. Podes explicar, então, o que há de verdadeiro (ou falso) no argumento:
"qualquer vulcão em actividade expele para a atmosfera gases em quantidade muito superior à que todos os carros do mundo produzem em décadas, de modo que é indiferente agir ao nível dos carros - o problema está na própria natureza."

abrunho disse...

É falso.

Os vulcões emitem diferentes gases, sendo que em termos de gases com efeito de estufa a quantidade emitida é, nos dias de hoje, negligenciável, nomeadamente quando relativizamos às emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis; em termos de metais tem grande importância para as populações a viver em redor; em termos climáticos os vulcões têm impacto através da emissão de compostos de enxofre (S). As emissões naturais são de aproximadamente 24Tg S (1Tg=1000000000000g)/ano, sendo que os vulcões representam 43% deste valor, portanto 10TgS/ano. As emissões antropogénicas são de 79TgS/ano. Considerando a estimativa de que 81% é queima de combustíveis fósseis e destes 31% é transporte, tem-se de carros a emissão de 20TgS/ano. Portanto, o dobro.

Para os vulcões isto são médias de décadas, contudo as emissões não são constantes. Existem vulcões que emitem continuamente, mas outros fazem-no esporadicamente, sendo que estes emitem muito num curto período de tempo.

Os compostos de enxofre na atmosfera têm um efeito contrário aos gases com efeito de estufa, sendo que arrefecem a atmosfera. Isto é mensurável aquando de enormes erupções (ex.: Pinatubo -1991- ou El Chichòn-1982) em que durante 1/2 anos existe globalmente uma diminuição da temperatura global.

A última parte da frase é intrigante. É verdade que a natureza em si não é sempre benéfica ao homem; é verdade que os vulcões são uma espécie de chaminés naturais. Em termos de poluição que prejudique o Homem a que se pode apontar é a dos metais. Pode-se tentar ajudar as populações que vivem vizinhas a vulcões. Não sei que tipo de acções são feitas neste sentido. Teria que me informar melhor. Contudo, é-me estranho que nos desresponsabilizemos das nossas acções, que no computo final ir-nos-ão ser prejudiciais, porque a natureza pode também em si ser uma poluidora.

Parece-me arrogante que conotemos problemático um meio tão propício à vida. Eu sei que não é o paraíso do génesis, mas a verdade é que o que nos envolve não foi criação de Deus só para nós e que acabou um pouco defeituoso, com uns vulcões chatos. Nós é que nos fomos adaptando. Excelentemente, por sinal. DE tal forma, que em vez de sermos nós os extinguidos por inadaptação, somos nós que estamos em vias de extinguir este mundo, por inadaptação. Soa-me realmente estranho dizer que é a natureza o problema.

abrunho disse...

Aquele 1/2 é por um, dois anos

Não é nenhuma divisão...

Helena Araújo disse...

Obrigada!
Quando for a Hamburgo, dás-me um autógrafo?
O que escrevi é vendido como "opinião de cientista".
E cada um serve-se pela opinião de cientista que lhe dá mais jeito.

Ora bem: quando o Bush se recusa a assinar acordos para redução de emissões, baseado em relatórios científicos deste género, qual é o lugar da responsabilidade do cientista?

abrunho disse...

Um autógrafo? Mas isto é só porque é a área adjacente ao meu estudo...

Como em qualquer profissão a integridade profissional é importante. Há aqui dois mundos: há o meio de discussão científica e de publicação de resultados, em que o cientista é interrogado pelos seus pares. Uma frase daquelas não passaria neste mundo. E há os relatórios político-científicos. Eu não conheço este mundo, mas um cientista que declaradamente minta obviamente ficará descredibilizado.A frase que escreveste anteriormente é nada científica. Que relatório é este?

Helena Araújo disse...

Não sei qual é o relatório. Ouvi falar dele numa dessas discussões em que alguém diz "mas há cientistas que afirmam que..."
- na realidade, isto lembra-me o presidente do Irão, quando diz que há cientistas que afirmam que o Holocausto não foi bem assim como contam.

Admito que haja cientistas que não se preocupam muito com a descredibilização. Bem, isso é todo um mundo. Leste um livro chamado Cantor's Dilemma?
http://www.djerassi.com/cantor.html

Quanto à Ann Coulter, que não é cientista nem nada que se pareça, não é original. A minha filha de 11 anos, ao atravessar os Alpes no inverno, também comentou que aquilo não está nada com ar de aquecimento climático...
;-)

abrunho disse...

Não, não li esse livro.

Eu sei que o aquecimento global e as alterações climáticas, por vezes, à primeira vista, parecem não ter os efeitos que parecem os mais lógicos. Por vezes falta uma peça de informação. Por exemplo, há observações na Antárctida e no Árctico de que a espessura do gelo aumentou. Contudo, isto é devido a uma maior precipitação, já que com o aquecimento da atmosfera, há também o aquecimento do oceano, logo maior evaporação e logo mais vapor de água na atmosfera. O aquecimento global está a diminuir também a área de gelo. Este é antigo e não será restabelecido por muitíssimos anos. As pessoas não compreendem estes pormenores e pensam que não há lógica.

Helena Araújo disse...

Bem, hoje estamos na secção de livros e filmes pedidos: viste The Day After Tomorrow? Explica de modo simples como é que o aquecimento global vai dar um frio dos diabos. Enquanto o faziam, o realizador disse ao pessoal que tinham de se despachar, senão em vez de um filme faziam um documentário...
E outro livro, a propósito desse que referiste: já leste "a nódoa humana", de Roth?

O Dilema de Cantor arruma com as idealizações sobre a excelência universitária. O que há de intrigas nos circuitos Nobel...
Uma amiga minha, que investigava em Stanford, contou histórias do género: colegas que desligavam frigoríficos para danificar o material necessário a um doutoramento, discos duros que eram roubados, etc.

abrunho disse...

Eu escrevi sobre isso em Setembro no Sargaçal. Vai aqui:

http://www.sargacal.com/2005/09/27/o-arctico-e-o-aquecimento-global-1/

http://www.sargacal.com/2005/09/28/o-arctico-e-o-aquecimento-global-2/

Pensa-se muito no sistema climático como um sistema físico de forças do ambito da mecanica. Imagina um cubo sobre uma mesa. Imagina que empurras o cubo. Este mover-se-á tao rapido quanto a força que tu fazes. Certo? O mesmo no clima. Quanto mais gases com efeito de estufa adicionais na atmosfera maior o aquecimento. Quanto mais particulas menor o aquecimento. Quanto mais energia vinda do sol... etc e etc... Mas aí descobriu-se que nao era bem assim. Que no passado a Terra sofria modificaçoes abruptas do clima. Passava-se de uma fase para outra em décadas. Isto é muito rápido. Começou-se a estudar porque. Aí chegou-se 'a possibilidade da corrente termohalina parar e concluiu-se que, sim é possivel e que já aconteceu varias outras vezes no passado.

Nao se sabe quando e' que isto irá acontecer. Uma vez li uma analogia certeira: estamos a caminhar de noite por uma floresta. Há um abismo nessa floresta. Estamos a aproximar-nos dele. Podemos estar longe, perto, quase a cair. Está escuro. Nao veremos o abismo aproximar-se e só saberemos que fomos apanhados, só saberemos o quando no momento em que começarmos a queda.

Nunca li Philip Roth, mas de tanto ouvir falar dele, começa-me a parecer que é imperdoável.

Os cientistas sao tao humanos e ambiciosos como as outras pessoas. Mas felizmente nunca tomei conhecimento de tal coisa que a tua amiga contou. Isso é crime. Há invejas, há uma competiçao feroz, mas também há entre-ajuda, cooperaçao. Como diz um amigo meu: somos um zoo.