segunda-feira

Austrália só à lei da asneira

Apetece-me a indignação. Estive a pensar o que mais me fez rugas na testa nos últimos tempos.

Há a constante da minha vida a quem chamo a enciclopédia de informação inútil (EII). A EII é uma italiana que tem a mania de me interromper a fala ou o pensamento com informação inútil. Por exemplo: Estou eu animadíssima a ver um apanhado de canções de bollywood (confesso, confesso que gosto imenso de ver as canções dos filmes de bollywood, as vozes agudíssimas das meninas e toda a gente a saracotear-se feliz e contente, sobre comboios e prados e jantares de arroz e dahl), quando o refrão é, sei lá, "bahra", e ela levanta a fuça e diz "quer dizer amor para todos...", espeta o dedo no ar "... e vem, quer dizer vem". Eu, que tenho muito mau feitio, digo "vem ou vem-se?", ela faz que não nota o meu tom de bombardeiro e remete o nariz ao dicionário de sueco-espanhol. Há inúmeros exemplos, desde enumerar Papas quando estamos a discutir algo relacionado com o Vaticano, elucidar-me sobre a capital da Mongólia, já não sei porquê, explicar-me as diferenças dos dialectos italianos (teve piada a primeira, segunda e até a terceira lição, mas a certo momento era cursinho), explicar-me medicamente assistida que o arroz faz prisão de ventre, quando eu digo inocentemente que gosto tanto de arroz que podia comê-lo todos os dias, etc., etc., etc. Tudo informações absolutamente inúteis e que só vêm sobrecarregar a minha vida pejada de outras informações inúteis. Que cruz, que cruz...

Na semana passada, a irritação nova foi no cinema. Os reclames antes do filme, na Alemanha, demoram uns bons 20 minutos. Como não sou burra de todo, estudei a situação em cada cinema e agora só vou o xis tempo azado para me livrar. A não ser que esteja acompanhada por não habitués, que são uns palonços e fazem-me sempre desejar ir sozinha ao cinema. Nestas minhas idas a ver os filmes portugueses fui, excepto uma vez, com companhia e apanhei tudo. Um dos reclames era de alguma associação de turismo que nos convidava a ir visitar a Austrália. Como é de esperar estava cheiínho de gente bem disposta e sorridente. A senhora que fazia de aborígene, se realmente tinha algum sangue aborígene, estaria tão misturado que já é um caso de antepassado homeopático. Isto irritou-me. À primeira irritou-me um bocadinho, à segunda muito, à terceira comecei a resmungar. Cada vez que via o reclame, menos conseguia ignorar que os australianos são uns racistas de merda e eu queria era que um daqueles bichos muito venenosos e de dentes muito aguçados, que abundam por aquelas bandas, os mandasse pró caralho que os pariu.

Pronto, já me indignei. Isto é tão inútil e bom quanto o ioga.

3 comentários:

João Melo Alvim disse...

() - tentativa de bolinha pelo uso de linguagem imprópria

Nunca negar a virtude terapêutica e libertadora de uma monumental caralhada...

abrunho disse...

Só que é confrangedor como eu sou tão incompetente a tentar dizer asneiras. Vê-se mesmo que sou um copinho de licor a tentar ser cerveja.

João Melo Alvim disse...

Pois, a arte tem as suas subtilezas e misturar aquelas duas palavras, por mais libertador que seja, acaba por não rimar lá muito bem. Seja como for, é tudo uma questão de dominar a Força...