terça-feira

Foi firmada a coligação em Israel

No Haaretz.

Leram o artigo? Estamos muito não optimistas, não é? Enfim, o mesmo. Fico-me por uma citação, que continua actual depois de mais umas eleições.

Sistema eleitoral israelita
É evidente que o absurdo sistema eleitoral israelita já não é capaz de produzir maiorias funcionais e governos eficientes. Isto é reflexo somente da estrutura de caleidoscópio de uma sociedade fragmentada. Nestas condições, a tarefa árdua de produzir uma coligação, quase invariavelmente, produz um governo paralisado em equilíbrios políticos internos. O segundo governo de Sharon é um caso típico do enunciado. Em vez de servir como um meio de resolver o conflito palestiniano, ou mesmo outro qualquer conflito interno, o sistema político é tão disfuncional que se torna o maior obstáculo. O governo é incapaz de responder às ânsias de paz da população. Pois, independentemente das lealdades partidárias e de acordo com a maioria dos estudos, uma larga maioria dos israelitas apoiaria um acordo de paz baseado nos parâmetros de Clinton - dois estados, retirada dos territórios, grande desmantelamento dos colonatos, duas capitais em Jerusalém - mas eles não confiam nem no seu sistema político nem, claro, na liderança palestiniana para chegar a uma acomodação a esses parâmetros. O que talvez explique os resultados de uma sondagem realizada em 2002 pelo Centro Steinmetz para a Paz da Universidade de Telavive, que indicava que 67% dos judeus israelitas, convencidos da incapacidade do seu sistema político para produzir soluções, apoiariam uma acção americana para recrutar uma Aliança Internacional que coagiria as partes a aprovar tal acordo.


Em Cicatrizes de Guerra, Feridas de Paz. A Tragédia Israelo-Árabe de Shlomo Ben-Ami ("Scars of War, Wounds of Peace: The Israeli-Arab Tragedy", pág. 290, Oxford University Press, 2006)

Tradução minha

9 comentários:

João Melo Alvim disse...

O que hoje ouvi de manhã era esclarecedor, o Kadhima e o Labour precisam do Shaas, mas quando as decisões sobre definições de fronteiras apertarem (com o "abandono" de colonatos), o Shaas pode ser dispensável e depois logo se verá... A frase inicial deste depoimento resume (quase) tudo.

abrunho disse...

É a mesma história. Só que eu li um artigo muito interessante no Haaretz (ligação neste blogue ali nos "Textos que me interessaram", o do Tony Judt) sobre a nova situação relativamente aos EUA. Segundo o autor, Israel está para deixar de ter as costas quentes. Afinal a guerra do Iraque pode por linhas muitíssimo tortas forçar, talvez, o início de um processo de paz.

abrunho disse...

De um real processo de paz. Não aquelas coisas em que tanto a OLP e Israel fingiam estar a fazer algo.

abrunho disse...

Isto pensando que os palestinianos também perderam o apoio monetário e não acredito que os hipócritas dos irmãos árabes os ajudem.

João Melo Alvim disse...

"Afinal a guerra do Iraque pode por linhas muitíssimo tortas forçar, talvez, o início de um processo de paz."

Foi esta a única razão pela qual "aceitei" a intervenção militar no Iraque, mas que ainda falta muito para a fat lady cantar, ainda falta.

Quanto aos hipócritas dos irmãos árabes, mais uma verdade que tem sido esquecida: a causa palestiniana serve de bandeira quando dá jeito, já que nos países vizinhos (já sem falar no massacre na Jordânia) são tratados como cidadãos de segunda. Na Europa e também nos EUA, continuamos a tratar tudo a preto e branco, qual sindrome dos Westerns...

abrunho disse...

"Foi esta a única razão pela qual "aceitei" a intervenção militar no Iraque"

Mas João, se realmente Israel e a Palestina se virem sem apoios e obrigados a lidar uns com os outros, este será um resultado completamente inesperado da Guerra no Iraque. Há 3 anos atrás nunca se pensaria isto, portanto explica-me essa tua clarividência...

P.S.: Eu às vezes sou um pouco bruta a discutir. Espero que não me leves a mal...

João Melo Alvim disse...

Era bom que a minha clarividência desse para tanto.

Mas não, obviamente que não antevi este resultado. Referia-me era a uma esperança de que a intervenção ocidental no Médio Oriente levasse à pacificação da zona, afectando, claro está, a questão israelo-árabe.

Agora o aceitei está entre aspas por motivos óbvios, já que reagi, com essa "esperança", perante a inevitabilidade da intervenção e o desejo de guerra que se demonstrava. Obviamente que a miséria e sofrimento de antes se mantiveram, mas nunca vi um plano que acabasse com o Saddam de outra forma.

PS: Os estilos de discussão são tipo opiniões.

abrunho disse...

Penso que concordamos que uma mudança positiva em direcção à liberdade, à auto-regulação democrática tem de vir de dentro. O Iraque está à beirinha de uma guerra civil. Problemas imersos pela ditadura vieram à superfície. E agora? As pessoas continuam e continuarão a sofrer. Não há palavras para exprimir como toda esta história me deixa fora de mim.

João Melo Alvim disse...

Acho que agora é a minha vez:
na mouche.