terça-feira

Da indignidade

N'O mundo perfeito:

Os objectos, as ideias, os valores não são apenas o que deles compreendermos, mas o que realmente são. Podemos pensá-los e usá-los de diferente forma, nas não os modificamos. As putas e os clientes podem gostar do que fazem, mas isso não torna a prostituição defensável. Nem a pedofilia. Nem o tráfico. Nem a corrupção.
Um adolescente compreende facilmente a Alegoria da Caverna. Sabe distinguir entre objecto real e a sua sombra, o que é real e o que fazemos parecer real. Aquilo que julgamos ser e o que realmente somos. O bem e o mal, o certo e o errado; o claro e escuro convivem e geram equilíbrios. É essa a natureza dos opostos: equilibrarem-se. A vida resulta desse equilíbrio. Mas o claro não é escuro nem o escuro claro. A indignidade da prostituição não reside na prática de sexo, mas na inadequação desse consumo ao que é imaterial num corpo. É muito bom que o corpo possa ser usado para atingir satisfação, saciedade. Mas nem tudo o faço do meu corpo ou do corpo alheio o nobilita.


Mas o que é dignidade? Ainda n´O mundo perfeito:

A dignidade é um princípio moral, mas por aqui também me meto em trabalhos. O que é um princípio? E a moral? Adiante, para facilitar a comunicação, digamos que a dignidade implica que encaremos a nossa existência humana exactamente como se encara o símbolo do nosso clube de futebol. Orgulhamo-nos do que simboliza. Não queremos queremos vê-lo sujo nem rasgado. Não queremos que o usem para fins inapropriados, que o desrespeitem. O nosso clube de futebol não é o melhor na medida em que ganha os jogos todos. Não; mesmo que perca é bom, está é em baixo de forma. O nosso clube de futebol é um valor indiscutível. Como um diamante. O valor de um diamante não depende da sua utilidade. Pode nunca sair de um saco de veludo e mantém o valor. É riqueza. A dignidade é mais ou menos isso. Como se fôssemos um clube de futebol cuja claque somos nós. Como se fôssemos, para nós, a garantia de um diamante dentro de um saco de veludo, dentro de uma gaveta.

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