quinta-feira

A nossa sorte

Uma colega foi ver o filme "O Leitor" e disse-me que se tinha zangado imenso com ele. Porque é que ele fez o que fez durante duas décadas e tem o trabalho de arranjar trabalho e casa a ela, mas nao consegue um carinho? Eu diria que o que ele nao conseguiu foi o perdao. Talvez ele tenha conseguido um perdao, mas talvez nem esse, porque senao o que foi aquilo em Nova Iorque? Que bençao era aquela a que ele procurava? Alguém que conseguisse perdoar ou um apoio ao seu nao perdao?

Para mim, o filme está bem construído, no sentido de que nao me senti tentada a julgar. Observei o que cada um deles conseguiu alcançar e senti-me horrorizada pela cegueira dela e triste pela incapacidade dele de nao se libertar. Num mundo melhor tudo seria como nós nos imaginariamos a atuar, nós conseguiriamos ter a incapacidade dela, mas ser honestos e até sábios e nós conseguiriamos na perfeiçao fazer a escolha entre amar e perdoar ou nao perdoar e nao amar (esse amor que se fixou naquela decisao, que nem será amor, o que é um amor fixado?). E no entanto, no entanto, quantos erros pequenos que fizemos esquecemos, qual a nossa sorte de nao termos enfrentado tragédias a sério, em que o esquecimento nao é possível? A nossa sorte de nao termos encontrado as encruzilhadas que nos conduzem a lugares de que nao é possível retornar?

1 comentário:

underadio disse...

É bem verdade...a nossa sorte.