Este fim-de-semana descobri que a modernidade é velha. Ando a reestruturar a minha ideia do mundo. Fui à exposição sobre o movimento Bauhaus na Alemanha. Seguidamente, vou escrever a minha superficialidade e escrevo esta declaração de pessoalidade, este óbvio de um blogue ser opinião, porque a Helena anda por aí e ela é uma especialista em Bauhaus e não quero que ela se me atire às canelas. Eu não estou a ensinar ninguém sobre o Bauhaus. Provavelmente estou só a ser moderna.
Portanto, a minha primeira declaração, talvez herética, é: o Bauhaus é o pai da IKEA. Só que o Bauhaus deu-se de 1919 a 1933 e foi um movimento extremamente rico de ideias. Os conceitos desenvolvidos estavam cimentados numa visão do futuro com várias dimensões: políticas, sociais, artisticas, etc. A IKEA é uma superficialidade, uma degenerescência. A IKEA é a actualidade: um mundo vazio de ideias e cheio de marcas. Portanto, a modernidade hoje é a superfície da modernidade de ontem.
A segunda impressão que me ficou da exposição é uma reposição do deslumbramento que eu sinto com essa Alemanha entre guerras, berço de tanta ideia revolucionária, que em 1933 começaram a ser mortas uma a uma, por uma ideia que se mostrou um horror: o nazismo. A pergunta tem que surgir: porquê esta e não outras? O que me têm ensinado é que as pessoas viviam uma situação económica que os fazia sentir de tal forma inseguros, que acolheram quem lhes desse um sentido forte.
Eu tenho um certo medo do futuro. O 11 de Setembro de 2001 aconteceu nos EUA, quando assassinaram à volta de 3000 pessoas e daqui os americanos deixaram que a administração Bush ratasse as suas apregoadas liberdades e pusesse em questão fundamentos de direito internacional. Aqui, metade do pessoal mete o rabinho entre as pernas cada vez que um gajo de toalha na cabeça grita e a outra metade chateia-se com meros lenços na cabeça das mulheres, enquanto o verdadeiro problema está submergido na confusão. Agora estamos em crise económica e finalmente demo-nos conta que é impossível o crescimento infinito que nos era propagado pelos economistas. Não sei que pensar, mas num mundo sem ideia, estaremos preparados para não deixar uma má ideia tomar conta de nós?
5 comentários:
A tua pergunta é hiper pertinente.Acho que o problema é que esta coisa da crise financeira já é uma mais q suficiente má ideia a tomar conta de nós. E q poderemos nós fazer para regular, para equilibrar isto? Pa a sério agora só nos faltava alguns loucos começarem a III...
Abrunho,
já alguém te disse hoje que és formidável?
Eu sei alguma coisinha sobre a Bauhaus, mas tu sabes fazer as perguntas essenciais.
Alguns detalhes, só para continuar um pouco o teu post:
- As ideias não começaram a morrer em 1933. Na Turíngia havia um forte apoio aos nazis, centrado em Adolf Bartels, que levou à saída desse movimento de Weimar para Dessau já em 1925. Já nessa altura o movimento foi acusado de estar "infiltrado por judeus". Em Dessau o primeiro ponto do programa eleitoral do NSDAP (julgo que em 1933) era justamente o encerramento da Bauhaus. Sempre houve imensas resistências a esta ideia.
- Em Weimar, aconteceu tudo ao mesmo tempo: o nascimento da Bauhaus foi paralelo à fundação da "república de Weimar". A cidadezinha, que já em tempos irritara Goethe devido ao seu provincianismo, viu-se invadida por deputados, polícias e estudantes "malucos", que faziam ginástica semi-nus ao ar livre com o "tresloucado" do Itten. E é para não falar nas roupas indecorosas e nos despenteados das estudantes...
- O problema não era apenas a insegurança económica. A insegurança política era ainda mais grave. De leste chegavam notícias assustadoras sobre a revolução bolchevique. Na Alemanha, a monarquia dera lugar a uma democracia muito frágil. As pessoas estavam a morrer de medo do futuro - e, devido às compensações da primeira guerra e à crise de 1929, com preocupações imediatas no presente.
Contudo, não tenho tanto medo do futuro. Quase um século depois, as democracias estão mais estáveis e muito mais certas dos seus valores fundamentais. A História já nos mostrou quais são as consequências de certos discursos populistas. É muito mais difícil que um Estado entre em deriva totalitarista.
OK, agora podemos discutir se o episódio Bush está realmente a ser corrigido, e se a força representada por Obama terá condições para reorientar os EUA; também podemos discutir se o que se passa no Mediterrâneo com a recusa de ajudar os emgrantes africanos não é sinal de continuarmos a pensar em categorias de "Untermensch". E podes dizer "Berlusconi" ou "Haider". Temos aqui muito pano para mangas.
Mas mesmo assim penso que não seremos capazes de regredir até ao ponto de 1933.
Obrigada pela licao. Obviamente, o livro que preciso de comprar é sobre a Alemanha. :)
Não é preciso, está tudo na wikipédia! ;-)
Ou então, vai viver 5 anos em Weimar. Aprende-se muito!
Mas não pretendia dar uma lição, era mais assim tipo tertúlia.
Tá bem, tertúlia. :-)
Estive a pensar que talvez o kadhafi consegue na UN que eu nao me mude pra Suica, mas pra provincia da Alemanha dos Schweiz Duetcsh... :D
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