domingo

Cruzetas

Andei a pensar na rebaldaria dos crucifixos. A contemplar, que afinal foi o meu objectivo ao criar este blogue.

Quando me perguntam sobre a minha posição religiosa eu defino-me como agnóstica. Não é só, mas é o mais perto dos meus sentimentos. De uma forma científica eu não sei se existe ou não Deus e portanto só contemplo. No meu mundo sem certezas eu consigo colocar-me numa posição de imparcialidade perante todas as fés, se bem que criada e educada num meio católico o meu sistema cognitivo esteja inquinado. Um querubim há-de sempre suscitar pouca curiosidade, enquanto que um deus azul hindu há-de fazer-me parar para perguntas. Eu sentir-me-ei propensa a emitir opiniões sobre as celeumas cristãs e nem por isso sobre a dos monges do Tibete. Uma questão de proximidade.

É necessário separar o Estado da Igreja. Mas para mim há uma diferença entre a exclusão mútua do Estado Político e do Estado Religioso e a exclusão do Estado Político e os sentires dos seus cidadãos. Esta celeuma à roda das cruzes cai no segundo ponto. Não percebo porque a lei não define somente a liberdade de religião de todos, mas em cada ponto do país serem os cidadãos que aí vivem que decidem se sobem ao escadote e tiram a cruz ou até se o sobem e a põem, ou até põem outra coisa qualquer. A democracia, a tolerância e o respeito devia começar pelas bases e não ser empurrado pela garganta como se fosse xarope para a tosse.

Nas escolas então eu ficaria muito mais optimista se em vez de tirarem a cruz, lhe juntassem todos os símbolos religiosos de que se tivesse conhecimento e se desse a conhecer à criança os diferentes caminhos tomados pelo ser humano na busca de um significado menos terreno. O facto de todas as culturas terem feito essa busca demonstra o poder da religião e parece-me obtuso fazer-se de conta que não existe. Principalmente quando a França, a campeã do laicicismo, na sua estratégia de varrer para debaixo do tapete as diferenças, não parecer ter uma comunidade mais respeitadora e tolerante.

O respeito e a tolerância nasce da vivência e do conhecimento da diferença, não na ignorância. O Estado deve emanar leis gerais, promover esse conhecimento e proteger os elementos mais desprotegidos. Não oprimir os possíveis opressores.

P.S.: devo confessar que a alegria oportunista mostrada pelos "Renas e Veados" demonstrou-me como a intolerância é uma questão de oportunidade. Nem a lei é o garante da justiça, nem a natureza é a lei do comportamento humano. O que realmente interessa a uns e a outros é as pedrinhas... Para apedrejar melhor.

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