Andam blogonautas chateados porque o Manuel Alegre não desmente que não é doutor.
Acreditando que neste país se usa mal o título doutor porque não usá-lo melhor? Assim, em vez de se ser doutor porque se saiu da Universidade com um canudo, é-se doutor porque se fez algo na vida? Sendo que assim o Manuel Alegre é mais doutor que outros doutores.
Contudo, se a tese é que isso não interessa para nada, para que é que o Manuel Alegre há-de-se estar a chatear com isso? Porque está a mentir ao Zé Povinho que não é inteligente como os restantes e ainda dá importância a essas coisas. É isso?
O que eu desconfio é que isto não tem a ver com a probidade do Manuel Alegre, mas que afinal aquela história de que os títulos nao interessam para nada, afinal é só conversa. Isso é só moda de gajo bem pensante. Tornou-se o politicamente correcto português. Só que no fundo, fundinho, continua-se pavão. Porque senão, ser ou não ser passaria a não ser a questão.
Eu acho que continua tudo no mundo das aparências e cheira-me mal, mesmo mal esta indignação, mas que depois passa a pente fino o título de outros candidatos.
2 comentários:
A razão pela qual critiquei Manuel Alegre por se ter deixado chamar "senhor dr" na entrevista, bem como por se ter deixado cinicamente chamar "senhor deputado" por Cavaco Silva não é, como sugere "porque está a mentir ao Zé Povinho". É por um motivo muito mais simples: porque não é honesto.
Não me parece necessário tentar demonstrar que um Presidente da República tem de ser alguém com um carácter no mínimo íntegro. Nesse aspecto Manuel Alegre e Cavaco Silva prestaram más provas na entrevista.
Não sei se se dirigia ou não a mim referindo que "afinal aquela história de que os titulos nao interessam para nada, afinal é só conversa" mas aproveito para dizer que Manuel Alegre teria feito boa figura e prestado um bom serviço ao país se tivesse rejeitado aquela esmola de títulos.
O Manuel Alegre poderia e deveria fazer boa figura a demonstrar que é um candidato sério e a sério. O que segundo li, não o fez.
Quanto aos titulos, ou se dá importância e pensa-se que devem significar algo, caso em que o Manuel Alegre merece um doutor; ou não significam nada e o Manuel Alegre dizer algo ou não, não significa nada.
Eu nesta coisa castiça dos titulos ando no limbo. Sou licenciada em engenharia. Só que isto pra titulo é incomportável. Portanto, consoante os dias ou não me chateava e deixava chamarem-me de doutora, senhora, engenheira e diabo a quatro; acordava de mau humor e dizia o minimo dos minimos o que significava uma coisa assim:
Engenheira Abrunho; Não sou engenheira; Doutora...; Não sou doutora; pessoa a pensar; pessoa a desnortear; eu a mal-humorar; ou explicava pacientemente o caso de que eu pra responder por engenheira teria de prestar provas na ordem dos engenheiros ou precisava de uns anos de trabalho a demonstrar que sei fazer as coisas. O Manuel Alegre está noutro limbo, no sentido de que as pessoas devem chamá-lo a torto e a direito doutor porque é escritor e pessoa pública. Pra pessoas como nós esta coisa só pode ser levada na leveza. A não ser nos dias do periodo, em que tudo entorna. Mas aí o Manuel Alegre não tem desculpa, que já passou a andropausa.
Se isto dos titulos atrasa o pais... Nao sei. Acho que há outras coisas muito mais importantes pra ser iconoclasta. Como ser honesto, realmente honesto, no sentido de não roubar o estado. Porque em Portugal acha-se que roubar o colectivo não é roubar: é ser esperto.
Quanto ao estrangeiro em que as pessoas são muito mais pão, pão, queijo, queijo... Eu não gosto. Quando alguém me diz para não a tratar por senhor (doutor acaba por ser um equivalente), mas pelo nome, eu sei que se chegou a um novo patamar relacional. No estrangeiro a coisa parece sempre superficial. De Bill ou Martin salta-se para onde? B? O que é que significa? Nada. Absolutamente nada.
Na Alemanha vi o uso de Dr na morada de email. Aqui Dr quer dizer doutorado, mas mesmo assim... Pareceu-me um poucochinho exagerado pô-lo na morada email...
Enviar um comentário