sábado

Letícia, quero-te bem

Quando falo do drama da bébé Letícia, abusada pelos pais, agora num hospital em Coimbra, à minha família ou lendo o que se escreve pela Net fica a sensação de ingenuidade. Como se pode pensar que os pais podem ser assim? Talvez seja porque eu tenho uma irmã a trabalhar com crianças em risco, mas eu nunca confiei no amor dos pais. Lembra-me de ser jovem, muito jovem e uma das coisas do mundo que me deixavam confusa é que não se tivesse que prestar provas para se ser pai ou mãe. Eu estudava e fazia provas e passava de ano e diziam-me que eu tinha de prestar provas para guiar um carro e prestar provas para ter uma profissão, mas não para fazer e criar uma criança. Porquê, perguntava eu? Criar uma pessoa! É muito mais importante! Como se pode confiar? Porque há o amor e não há amor maior que o de uma mãe, dizia-me a minha, que sei que me ama, não o dúvido, mas será assim com todas as crianças? Uma dúvida que começou em mim em tenra idade deixa perplexos pessoa graúda, como se de repente algo novo surgisse. Sinto-me novamente confusa com tanta ingenuidade.

2 comentários:

Helena Araújo disse...

Há um livro de Elisabeth Badinter, chamado "o amor incerto", que questiona o amor maternal. Observando o comportamento das mães da classe média/alta na França, desde a Idade Média até ao séc.XX, chega à conclusão que a ideia que temos hoje de uma mãe e do seu instinto de maternidade é uma construção cultural dos sécs. XVIII e XIX. O instinto maternal seria uma invenção burguesa...

Sempre que, na Alemanha, ouço as discussões ideológicas sobre o valor e o papel da mãe, lembro-me desse livro e dá-me vontade de rir.

Por outro lado, não me parece fácil entrar num esquema de exames para conceder uma "autorização de maternidade". Demasiado controlo da sociedade também pode ser muito perigoso.

Talvez cursos para pais?
As revistas tipo Eltern/Pais já me irritam porque dão a sensação que temos que ser perfeitos e super-controlados.
Mais um assunto que não se esgota em meia dúzia de frases!

Anónimo disse...

Tem razão. O controle da sociedade sobre as pessoas e as suas opções de vida é perigoso, intrincado. Por isso é que eu não me vejo seriamente a seguir ou a apoiar o raciocínio até à acção.

As pessoas têm uma visão idealizada do mundo. Quando as pessoas são técnicos a trabalhar na área de apoio a crianças e adolescentes isto pode ser perigoso. Parece que são precisos cursos para que estas pessoas vejam que pode haver o lado mau, que estejam peparadas para o identificar e assim salvar.

Além disso, a lei portuguesa nesta área dá enfoque à família, submetendo o bem estar da criança ao grupo. Além disso, esse grupo por que se luta até às últimas consequências é a ideia da família idealizada (mãe biológica, pai biológico, filhos).

Eu critico esta postura ideológica e teimosa. E não será tão perigosa quanto a minha ideia de adolescente do porquê de não avaliar os futuros progenitores?