quinta-feira

Coisas fantásticas

Nas minhas últimas andancas comprei no aeroporto o livro "The undercover economist" de um homem que nao me lembra o nome. No inicio comecei a desapontar-me, pois na contra-capa prometiam-me que após aquele livro ia comecar a ver o mundo como a Eva depois de ter comido a maca. Mas lá pelo meio até encontrei umas cenas fantásticas, que nem eu no meu cinismo me tinha lembrado de esperar. O escritor comeca a descrever a estratégia número um entre as inúmeras estratégias para as companhias ganharem o maximo de dinheiro possivel. Porque para aqueles que nao vendem só para os perdulários ou só para os poupadinhos, o desafio é apanhá-los a todos, esmifrando bem os primeiros e esmifrando o melhor possível os segundos. Como fazer isto? Nao se pode vender a mesma coisa com dois precos. Portanto, por exemplo, numa daquelas marcas tótós de lojas de café que vendem canecas de café com todas as possíveis variacoes de ingredientes adicionais, tamanhos, mistura e espuma e uma pessoa pensa que merda de tótós é que bebem café nesta espécie de loja de café pra tótós?... O que os cérebros por tras destas marcas pretendem é fazer a coisa simples, tipo café com leite, um preco, espetam-lhe uns pós de chocolate, sobe o preco, com abanamento, sobe o preco, com uma camada de nata, sobe o preco, com canela, sobe o preco, com raspas de gelo, sobe o preco. O poupadinho compra a versao simples e os perdulários podem perder a cabeca pelas versoes mais caras. Para o vendedor a diferenca entre produzir a versao simples ou as versoes "melhoradas" é misera, mas a diferenca de precos pode ir até ao triplo! As lojas de roupa com saldos: na época dos saldos eles ganham dinheiro, o intuito é apanhar os poupadinhos; na época sem saldos apanham-se os outros que se estao a cagar pros precos. Portanto, o que as marcas tentam é ter a versao simples-saldo e a versao "melhorada"-premium, poucas diferencas de producao, mas oferecidas diferentemente conforme a facilidade com que o dono da carteira a abre. O que acontece com as marcas de computadores é entao fantástica: um produto informático é desenvolvido normalmente de raiz. E desenvolve-se um produto. Contudo, para apanhar todos é preciso duas versoes do mesmo produto. Portanto, o produto base é o premium. Neste produto desligam-se funcionalidades e tem-se a versao "simples". Ou seja, eles tem adicional trabalho para produzir a versao mais barata! E por vezes nem é só desligar funcionalidades, é mesmo sabotar o produto final! Nao é o mundo da economia fantástico?

3 comentários:

snowgaze disse...

também li. é genial.

jj.amarante disse...

Puro anarco-comunismo: "de cada um de acordo com suas capacidades, a cada um de acordo com suas necessidades", (http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarco-comunismo)

Helena Araújo disse...

Enfim, quer-se dizer...
Eu sou tarada por saldos. Desconfio até que compro mais do que preciso e acabo a gastar mais do que gastaria se comprasse só aquilo de que preciso (o que é isso?) e não aquilo que está barato.
Mas comprar nos saldos tem a desvantagem de só se ter acesso ao que sobrou. Se é que sobrou alguma coisa de jeito. Não é bem verdade que a mesma coisa está disponível a dois preços diferentes.

Admito que essa história dos saldos versus preços exagerados se aplique aos outlets (estive lá, nos EUA! ainda estou a babar! fartei-me de poupar dinheiro, tive de comprar duas malas para meter as poupanças todas), mas não se aplica às lojas normais. Uma amiga minha tinha uma loja de roupa de criança onde praticava uma margem de 50%, quer dizer: o cliente pagava o dobro do preço que a peça custava, e com isso ela pagava as despesas de funcionamento (renda, pessoal, energia, etc.). Quando fazia saldos de 50%, estava a tentar minimizar os custos - recuperar ao menos o que gastou na compra daquela peça.

E por falar no mundo da economia: já viste o cartaz da CDU com o ministro da economia? Impressionante como o gajo se transformou tão depressa no Joker da Merkel. Por este andar, ainda chega a chanceler.