sábado

badalam levemente como quem acorda por mim

Há uns tempos, talvez já contados em ano, li que, num promontório qualquer da Suíça, queriam proibir por lei a construção de mesquitas. A razão mais proeminente dada, era o barulho. Depois disso, na India, estive perto de uma mesquita pela altura em que estão a rezar ou a chamar para a reza ou a cantar no duche, e aquilo é mesmo um chinfrim. Na altura pensei, nos neurónios que ainda não tinham migrado para um côncavo escuro do meu corpo, "os suíços é que têm razão". Agora estou na Suíça e é uma chinfrineira de sinos. Têm imensas igrejas, todas com badalos, a badalar a qualquer hora, desde a madrugada à noitada. Disseram-me que um, obviamente hereje, requisitou que só badalassem depois das 9h. Não, responderam, que isto já se fazia assim há centenas de anos.

Como estão a ver, os suíços são muito mauzinhos a inventar desculpas.

Adenda: Onde vivo agora, a igreja católica só toca para a missa: para ir e na saída.

3 comentários:

Rita Maria disse...

Eu em Istambul gostei muito do chinfrim e também gosto no caso dos sinos, gosto da ideia do espaço público enquanto comunidade. Nunca estive numa cidade onde se ouvissem os dois, mas gostava muito, seria esse o tipo de cidade onde gostava de morar.

abrunho disse...

Eu não gostei do barulho da mesquita. Estava bastante perto e era impossível abstrair-me. Os sinos não me incomodaram até agora, mas cresci com sinos. Também não me incomodam cães a ladrar, crianças aos gritos e música de arraial. Incomodam-me ares condicionados, frigoríficos, tic-tacs e pessoas aos gritos (especialmente para dentro de um megafone). O que nos incomoda depende do que vivemos.

"espaço público enquanto comunidade"
estas quatro palavras são essenciais para o meu poste. Aqui temos um espaço público que se recusa a mudar. Recusando comprometer-se a pensar um pouco no descanso dos outros, ou que outros façam basicamente o mesmo que eles. Será ainda uma comunidade?

Helena Araújo disse...

Não, não é comunidade, é mais umbiguicidade.

E se fossem os touros de Barrancos? Estão bem em Barrancos, mas ai de quem se lembrar de matar golfinhos em Barrancos (é uma crueldade), e ai de quem mandar fazer touros de Barrancos noutro sítio qualquer (outra crueldade).

Estas histórias das comunidades, das tradições e da "lei natural" tem muito a ver com isso mesmo. E com quem chegou primeiro àquele lugar. Que a antiguidade é um posto...

Ah, também aposto que se ouvem muito poucos sinos para os lados de Istambul.
Não que eu faça as minhas opções éticas em função do exemplo dos outros, mas aqui seria talvez adequado exigir um pouco de abertura de parte a parte.