quinta-feira

deus tb me cansa

Antes de retornar a dormir queria partilhar isto: acho piada que as pessoas achem conforto na ideia de deus. Olhando o mundo, a minha vida, se eu acreditasse em deus, acho que ficaria ainda mais triste.

31 comentários:

Anónimo disse...

E porquê? A razão vem no próximo poste?

Anónimo disse...

Compreendo-te.

Anónimo disse...

Compreendo?!

sabine disse...

Pois eu acredito em Deus. No entanto que não me consigo me rever é na religião católica versão Bento XVI: é como se aquela gente que defende as ideias dele fosse de outro planeta. Mas compreendo este teu cançasso!

sabine disse...

Ãbrunho: também estou a passar por um moento complicado na minha vida (pessoal, profissional, etc.). Potr isso queria deixar um abraço de solidariedade. Pode ñão valer de nada, mas aqui fica como terstemunho da grande consideação que tenho por ti. ;)
Beijos

Anónimo disse...

Ó Sabine, andamos todos tão "angstiedes"...

Um forte abraço ás duas, ás três, á 1/2 noite, tb, e a quem mais por aí/aqui andar.

cristina disse...

Este post lembrou-me um comentário que fiz há uns tempos, num outro blog, a propósito da positividade ser uma dádiva divina:

O problema «na busca incessante de Deus para a vivência de uma personalidade positiva» reside, a meu ver, nesse «incessante», nesse sentimento de eterna incompletude, na angústia assumida à partida de nunca conseguir. As pequenas conquistas são imediatamente subjugadas por tudo o que ainda há por conquistar… Aqui me parece estar o entrave a todo esse positivismo cristão: nunca fazemos nada completamente bem, estamos sempre em falta com alguma coisa.

Esse teu pseudo-cansaço anda por aqui ou nem por isso?

abrunho disse...

Nem por isso. Eu não acredito em deus. O meu cansaço, neste campo em particular e muito sumariamente, jaz no pensamento cristão que me envolve e que me ditam. Porque cresci num meio religioso eu penso que entendo o que me dizem, mas não o posso aplicar.

Mas indo a esse meu fundo católico, eu não concordo contigo. O encontrar de Deus completa-te e o encontrar de Deus não me parece estar ligado ao que fazemos, mas ao que somos. Ambos estão interligados, mas o início é a essência.

Anónimo disse...

Engraçado, apercebi-me, agora mesmo, que o cristianismo é uma tendência...

Um abraço da tresloucada,

CD

cristina disse...

Cansa-te, então, "apenas" a repetição que vem de fora; como, de um modo geral, cansa tudo aquilo que é repetitivo...

Às vezes eu acho que entendo aquilo que dizem, mas como aquilo que eu entendo já aplico e, pelos vistos, há algo mais, então não devo estar a entender...

«Encontrar de Deus» - acho que faz parte do que não entendo... Ou seja: não entendo, de todo! :)

Quanto ao ser e ao agir... Percebo, e concordo, com o que dizes. Mas isso não invalida a minha ideia de incompletude angustiante - e até reforça, talvez...

Confesso que tenho a minha visão toldada por conversas tidas há uns tempos com gente que, realmente, quer e sente a necessidade /obrigação de espalhar a "palavra do Senhor"... Há coisas que me ultrapassam; e a constante auto-diminuição é uma delas...

abrunho disse...

De certeza que a tua sensação de incompletude não está mais ligada a quem és do que ao que consegues fazer?


Eu também já me vi a falar e, com curiosidade, a seguir esses espalhantes da fé. Eu gostaria de acreditar em deus e na altura pareceu-me que o entusiasmo daquele pessoal talvez me contagiasse. Mas desisti. Eles eram tão exagerados que pareciam alienados.

Parei na ideia de um deus de Espinoza. Já agora, Espinoza foi um exemplo clássico da pessoa que é, mais do que faz e o que fez produziu-se de uma profunda e autêntica contemplação.

Anónimo disse...

Será que não estão a tentar descodificar a forma como os outros vêem Deus? O código, o segredo, é a própria vivência, a própria fé. Não se explica! Deixei-me partilhar um texto convosco:

Um homem murmurou: Deus, fala comigo!
E um rouxinol começou a cantar,
Mas, o homem não o ouviu.

Então, o homem repetiu: Deus, fala comigo!
E um trovão ecoou nos céus,
Mas, o homem ignorou.

O homem olhou em volta e disse:
Deus, deixa-me ver-Te!
E uma estrela brilhou no céu,
Mas, o homem não a notou.

O homem começou a gritar:
Deus, mostra-me um milagre!
E uma criança nasceu,
Mas, o homem não sentiu o pulsar da vida.
Então, o homem começou a chorar
e a desesperar:
Deus, Toca-me e deixa-me sentir
que Tu estás aqui!
E uma borboleta pousou suavemente no seu ombro...
O homem espantou a borboleta com a mão e desiludido, continuou o seu caminho.

abrunho disse...

Anónimo:

fez exactamente o que me cansa. Não se explica, não se discute, só se sente na brisa do vento. Penso que quem se está a intrometer na forma como os outros veêm deus é você.

cristina disse...

«De certeza que a tua sensação de incompletude não está mais ligada a quem és do que ao que consegues fazer?»
- Não é uma questão de conseguir fazer, mas de apreciar o que já se fez... E não é uma sensação minha, é aquilo que eu capto quando os ouço falar... Vá lá, é uma sensação minha, mas não é uma sensação minha sobre mim... [Confuso?...] Mas eu concordei contigo nisso do agir: parte tudo daquilo que somos...

«Eu gostaria de acreditar em deus e na altura pareceu-me que o entusiasmo daquele pessoal talvez me contagiasse.»
- Eu não sei se gostaria, mas que naquelas conversas gostava realmente de os perceber, gostava...

«Eles eram tão exagerados que pareciam alienados.»
- Isso!!! Fez-me imensa confusão ver miúdos de 15 anos em sentimento de admiração e profundo agradecimento...


Quanto ao anónimo daí de cima, acho que percebi o seu ponto de vista e não me parece assim tão despropositado... É a ideia de que só vê quem realmente quer. Quem não acredita, não vê, quem já acha que não vai acreditar, não acredita mesmo. Ou seja, acredita-se porque sim, e nada mais! Depois de se acreditar, aí sim, pode haver um monte de (pseudo-)justificações, que serão compreendidas por aqueles que acreditam e continuaram a parecer inócuas àqueles que não...

abrunho disse...

A minha irritação com o anónimo é esta sacralização da fé. Se falamos de amor, se falamos de tristeza ou alegria, se falamos de incompletudes e outras maleitas existenciais, tudo sentimento único e individual, porque raio não havemos de falar de fé?

cristina disse...

Não sei se acompanhei... Queres tu dizer que a fé é um estado de espírito?!... Hoje sou crente, amanhã quem sabe... Não é isso, pois não?

abrunho disse...

O que eu questiono, independentemente do compartimento em que se introduza a fe', e' pq e' q n se pode falar da fe'. E' a fe' o mesmo para todas as pessoas? Nao se pode expressar por palavras o sentir ou n de fe'?

abrunho disse...

Mas respondendo directamente 'a tua questao: acho mesmo que a fe' pode ser algo diferente consoante as pessoas. O amor e' um estado de espirito? Provavelmente depende da pessoa.

cristina disse...

«E' a fe' o mesmo para todas as pessoas? Nao se pode expressar por palavras o sentir ou n de fe'?»

- Sem ter conhecimentos práticos na matéria, eu diria que a fé não é o mesmo para todas as pessoas - ou seja, concordaria contigo. E diria também que aqueles que a têm expressam-na (ou tentam...), os que não a têm é que não percebem... Acho que foi isso que fez o anónimo de lá de cima. A fé sente-se, e portanto é passível de ser expressa por palavras. Mas a expressão de sentimentos não é cabal... A diferença relativamente aos exemplos que deste é que o amor, a tristeza e a alegria, já foram sentidos por todos... E, se não foram, acredito que seja igualmente complicado apreender a expressão de terceiros.

Uma coisa que acho que é preciso distinguir claramente é a expressão e a explicação... E, se a expressão já é difícil, a explicação - sendo possível! - é muito mais complicada.

Quanto ao amor, à fé e aos estados de espírito... Acho que a principal e crucial diferença é a constância...

abrunho disse...

Não sei se toda a gente já sentiu amor, ou se o que uns chamam amor é um tipo de amor e a dos outros é outro.

Imagina que o que um chama alegria é um contentamento sem sal, o que o outro chama de alegria é uma esfuziante sensação de entusiasmo; o que um chama tristeza é uma simples indisposição existencial, o que o outro chama tristeza é um buraco escuro nas profundas do inferno...

Imagina que a fé de um é uma reacção de carneirice e a do outro é um optimismo apaixonante...

Imagina que a não fé de um é uma dúvida crónica e a de outro a impossibilidade de acreditar.

Agora imagina que o que um chama amor é medo da solidão e para outro é ser abraçado e para outro é morrer por alguém.

Agora imagina para que é que existe literatura.

cristina disse...

Por imaginar tudo isso é que eu digo que, quando o sentimento é diferente, torna-se difícil para o outro de o apreender... Mas na fé tens outra agravante que é a «não fé», onde, para além de não sentir o mesmo sentimento da mesma forma, se nega /se descrê /se duvida do sentimento do outro...

O que queres da literatura?! Que divage sobre a fé? Que a explore, que a exponha, que dela mostre as várias caras, como faz com o amor? E será que isso já não é feito?... - pergunto eu sem conhecimento de causa.

abrunho disse...

A literatura existe como uma das formas de expressarmos o que sentimos. E permite a outros que a isso queiram, contactar com outros sentimentos e tentar percebe-los ou senti-los, de uma forma privada. Pessoalmente, a minha melhor janela para a alma dos outros é a literatura, porque cada um de nós esconde-se detrás de conversa vazia ou diz, isto nao se explica, eu nao posso explicar, eu nao quero explicar, eu nao quero falar, isto é fé, isto sou eu, mas dou-te a carapaça vazia, porque por dentro sou demasiadamente frágil. Ou simplesmente, as pessoas querem falar, mas nao há ninguem que as ouça. Portanto, escreve-se e le-se, pinta-se e ve-se, canta-se e ouve-se, destroem-se carros na rua e pintam-se graffitis.

abrunho disse...

Nao há nada que nao se expresse, incluindo a fé. E ou queremos tentar entender ou nao. Falar uns com os outros é uma forma de trocar ideias sobre o que vemos. Mas cada um fala do que acha interessante e importante.

abrunho disse...

E cada um ve o que quer.

abrunho disse...

Nao ter fé, nao significa que se negue a fé dos outros.

Anónimo disse...

Bom, acho que fui mal interpretada. Eu apenas disse que a fé não se explica, não disse que não se pode discutir, que não se pode falar, trocar ideias, partilhar experiências. A minha vontade no poste lá de cima era precisamente dar o meu testemunho pessoal, mas aí deparei-me com a dualidade: querer ser anónima num blogue, mas não querer sê-lo nesse papel.
O que quis dizer com o meu comentário foi precisamente a leitura que a Cristina fez: “É a ideia de que só vê quem realmente quer. Quem não acredita, não vê, quem já acha que não vai acreditar, não acredita mesmo. … … Depois de se acreditar, aí sim, pode haver um monte de (pseudo-)justificações, que serão compreendidas por aqueles que acreditam e continuaram a parecer inócuas àqueles que não...”
Eu acredito em Deus, e isso faz com que eu aja como ajo e seja o que sou hoje. E quem me conhece sabe como eu vivo a minha vida e a esses só tenho que dizer que no fundo no fundo a razão está no facto de eu ter fé. Aqui… é diferente, para mim é mais difícil. Não partilho da opinião da abrunho quanto à ‘utilidade’ da literatura
Eu sei que isto é difícil de compreender, mas estou aberta a mais questões ou comentários, embora preferisse fazê-lo de uma forma mais directa, às duas!

abrunho disse...

Nao acho que a fe nao se explica. Mas a fe e' individual e portanto e' sempre pessoal. Cada um explica-o de uma forma e quem ouve compreende-o com a sua lupa. Mas tudo o que e' pessoal e' assim.

Eu ja tive fe. E fiz o meu proprio caminho que posso po-lo por palavras se a isso estiver voltada.

Qual e' o problema da literatura ser util?

Anónimo disse...

Não tem problema nenhum! Eu só não costumo usá-la com o objectivo que tu falaste "A literatura existe como uma das formas de expressarmos o que sentimos."
Eu prefiro falar...

Quanto ao explicar... eu não consigo explicar assim no vazio porque é que tenho fé. Num diálogo seria mais fácil...

abrunho disse...

Tem piada, mas as pessoas nao sao todas iguais.

Mas agora resolveste comentar o meu blogue?

Anónimo disse...

Vencida pela dualidade..., aqui fica algo que escrevi há 5 anos atrás.

Há já muito tempo que conheço uma pessoa. Mas a nossa relação nunca foi muito chegada. Nos primeiros tempos raramente me encontrava com essa pessoa, depois começamos a marcar encontros semanalmente. Conversávamos..., mas eram conversas banais que se têm com qualquer pessoa, aliás eram mais monólogos do que diálogos. Eu falava mas não escutava nada, não escutava a sua voz, as suas respostas e muito menos os seus conselhos. De há uns anos para cá temos passado alguns fins de semana juntos, e ao mesmo tempo distantes, pois eu conhecia mal essa pessoa e também não me esforçava para que existisse alguma intimidade.

Um dia disse-lhe: “Quero conhecer-te, quero saber quem és e o que pensas, quero ser tua amiga, quero confiar plenamente em ti e a partir de hoje vou fazer o que estiver ao meu alcance para que isso aconteça. Quero ver-te todos os dias, quero partilhar contigo a minha vida, as alegrias e as dificuldades. Quero, acima de tudo, ouvir-te e escutar-te”.
A partir desse dia muita coisa mudou, a minha vida mudou de cor, e em tudo comecei a ver a mão dessa pessoa. Mudaram as minhas atitudes, a minha forma de estar, a minha maneira de enfrentar as dificuldades.

Hoje posso dizer que essa pessoa é o meu melhor amigo. É alguém que está sempre ao meu lado, que se preocupa comigo, que está sempre pronto a ajudar-me, que me escuta e me diz a frase certa no momento certo.
É alguém que eu amo e que me ama. O seu nome é Jesus.

Joana

abrunho disse...

:-)