quinta-feira

ai Jesus que lá vou eu



figura de Laerte.


Indo eu, indo eu,
a caminho de Viseu,
Indo eu, indo eu,
a caminho de Viseu,

Encontrei o meu amor,
ai Jesus que lá vou eu,
Encontrei o meu amor,
ai Jesus que lá vou eu,

Ora zuz, truz, truz,
ora zas, traz, traz,
Ora zuz, truz, truz,
ora zas, traz, traz,
ora chega, chega, chega,
ora arreda lá p'ra trás,
ora chega, chega, chega,
ora arreda lá p'ra trás.

quarta-feira

Desastre

Ontem uma amiga contava-me do seu desastre: o preservativo rompeu. A seguir retornaram e o outro preservativo também rompeu. Mas eu fiquei entalada entre as quecas e perguntei-lhe porque é que tinha usado preservativo á segunda vez. Isto é interessante por dois motivos conectados: primeiro porque ainda me esqueço das doenças sexualmente transmissiveis, segundo porque a minha amiga riu-se e disse que o # e o$ e o % tinham perguntado o mesmo, enquanto a @, a ^ e a * se tinham passado por ela tê-lo feito outra vez. Eu estou com os os, nao com as as, eu fiz a pergunta dos gajos. Eu sou uma acéfala irresponsável, que pensa que o perigo é só os bébés! Estao a ver o meu desastre?

terça-feira

adeus

Trabalho junto a um arranha-céus e de tempos a tempos alguém suicida-se dali. Hoje pela primeira vez ouvi o grito do suicida. Eu senti a necessidade de colocar importância nos meus sentimentos, de não abanar a mão em sinal da prática inutilidade de mim. É nestes momentos que a religião faz falta, como cerimonial, como repositório de atos significantes. Mas como sou ateísta vim para aqui escrever a minha vontade de assinalar: hoje alguém decidiu morrer onde eu o ouvi e eu queria de alguma qualquer forma poder mandar um adeus.

O que significa um sorriso

Philip G. Zimbardo no seu livro “The Lucifer effect: understanding how good people turn evil” tece uma credível tese de que em Abu Ghraib os principais culpados da indignidade das fotos não foram os fotógrafos, mas quem criou aquele ambiente. Pessoas consideradas normais ou seja como cada um de nós nos consideramos, seriam afetadas pelo ambiente criado e atuariam de formas consideradas anormais e neste caso, de formas repulsivas. Quem criou aquele ambiente, os responsáveis superiores escaparam a prosecução. Neste artigo diz-se algo mais: quem matou conseguiu escapar pelas malhas desculpantes, quem fotografou foi para a prisão. Contudo, no cômputo final, quem fotografou foi quem mostrou o horror do que se passava naquele sítio.

segunda-feira

monólogo

O desejo sem o conhecimento do desejado
É a fórmula da impossibilidade do acto
Fica no ar o desejo
sem saber em que direçao ir

Portanto desejo algo
sento-me e espero que se identifique
enquanto espero pergunto-me
o que significa o desejo

porque simplesmente nao há mais que faça
portanto penso se algum dia o desejo se cumprir
o que haverá para lá do desejo?
sou fatalista e de fins, proponho a morte

Após o desejo, a morte? E se assim for
caso o desejo me procure, irei ao seu encontro?
Irás, que tudo tem fim, até o desejo e a morte.

quarta-feira

Deve ser isso

Ainda não entendi porque a Manuela Ferreira Leite tem que dizer como vota. Porque anda na política? Pensei que mais do que esconder algo, o voto é algo privado, que é decisão nossa e só nossa descerrar. É preciso saber em quem ela votou, para compreender a que ela vem? Se o voto já não é secreto, proponho que passemos a votar por multibanco, que facilitava muito. Já agora, se me perguntarem sobre a minha vida sexual e eu me recusar a responder, é sinal de que sou puta? Ou isto só se aplica a putas profissionais? Ah, deve ser isso.

terça-feira

O parvo

O assessor disse: “é costume” e “não se importaram”.

É óbvio que o costume é haver animálias no governo e que o resto do pessoal não se "importa". O estado do país num avião. Gil Vicente volta, que há material para ti.

Adenda: Porque é que agora deu este furor e nao daria antes? Quem está por detrás dos jornalistas nao é parvo. Antes era prerrogativa da TAP decidir se deixava fumar dentro dos seus avioes. Agora há uma lei que é de aplicaçao geral, incluindo ministros. O PM e compinchas acham que como o aviao foi requisitado, que é um espaço privado e nao público. Portanto, se eu alugar um bar para uma festa privada, eu poderia definir que se pode fumar na minha festa. Contudo, isto é assim, se o dono do espaço assim o conceder e pelo relato, havia os normais sinaizinhos dos avioes a informar que nao se podia fumar. Presumo que a TAP poderia deixar fumar no caso em particular, mas talvez haja previstos adicionais na tal lei do tabaco que ignoro. O facto de tirarmos exemplo disto é moralismo serodio? Eu sou fumadora e se há moralismo nao é de fumo, mas de respeito por leis e por co-viajantes. Em caso de dúvidas, que neste caso seriam só para cegos, pergunta-se. O Sócrates vir agora dizer que vai deixar de fumar é ridículo e ainda irrita mais. Pior que alguém prevaricar, é alguém fazer-se de estúpido.

quinta-feira

Pancas

Há uns dias vi um documentário sobre uma panca que nunca me tinha passado pela cabeça que existia e eu pensava que já tinha ouvido de tudo, mas a panca humana parece ser infinita. Era sobre pessoas que veêm partes do seu corpo como estranhas a si e vivem obcecadas em se verem livres dessas excrecências. Magoam-se e, por vezes, morrem na sua procura de se verem livres de pernas, braços, o que seja que nas suas mentes está a mais. Um cirurgião na Grã-bretanha resolveu que o melhor é mesmo amputá-las porque pelo menos ele fá-lo de uma forma segura, já que estas pessoas recorrem ao que for, ao talhante da esquina se tal for necessário. Algo que parece existir em comum entre estas pessoas é que começaram com a panca em crianças e um senhor falava de que se lembrava exactamente do momento em que a panca começou: viu um amputado na rua quando tinha uns seis anos e aquilo ficou-lhe fixado. Eu também tenho pancas e lembro-me também quando começaram e começaram quando eu era pequena. Portanto, a panca é uma questão de sorte do que nos passa à frente do nariz na idade de sermos condicionados, aliado à propensão de ficarmos pancões. Como pais não há forma de controlar as pancas dos filhos. Já repararam nisto?

quarta-feira

Filme matuto


Estes filmes são um espanto. Pode muito bem acontecer que eu saia do cinema a imprecar e a remoer o dinheiro que paguei. Mas depois começo a matutar e acabo por gostar do filme. O apaixonamento tardio torna estes filmes uma experiência distendida e surpreendente, dando-me um prazer que se deslarga como a energia numa bolacha para diabéticos. O último em que isto me aconteceu foi o "Frailty". Se não viram o filme, não continuem a ler. Vou explicar e pôr a boca no trombone.

A maior parte do filme parece não carregar qualquer mistério. Está tudo às caras e só é pedido aquele sentimento dual de horror com alguém que faz horrores, mas pena e misericórdia porque ele é louco. O ator Bill Paxton, que também é o realizador, carrega muito bem o papel e o filme. Assim, uma pessoa muito religiosa tem um sonho em que um anjo lhe diz que é um vingador de Deus. O anjo comunica-lhe o nome de demónios, disfarçados de seres-humanos, e ele tem de os destruir. Os demónios parecem não saber que são demónios, bem, mas claro, o homem é louco. Ele é viúvo e tem dois filhos pequenos, a quem ele exige ajuda. O mais velho dos dois já tem idade suficiente para perceber que o pai está doido e rebela-se o melhor que pode. Portanto, o sentimento dual torna-se agudo, num cenário de um pai amoroso, mas que na realidade está a abusar psicologicamente dos seus filhos, a um ponto tal que é tortura.

Há uma cena, a que não dei grande importância (o homem afinal é louco), em que ele diz ao filho rebelde que o anjo lhe comunicou que ele (o filho) é um demónio, mas que ele (o pai) não acredita e que ambos vão demonstrar ao anjo que ele é dos bons. Um dia o filho rebelde acaba por matar o pai. Ele enterra o pai e diz ao irmão que quando ele (o irmão vingador) um dia vier por ele (o filho assassino) que o enterre ali, junto ao pai. O irmão promete. Esta é uma cena extremamente importante, que só dei conta da importância no fim do filme, como muitas outras. Neste momento, o filho rebelde acredita que é um demónio.

Mais tarde sabe-se que o filho rebelde tornou-se em adulto num assassino em série. Também se fica a saber que o irmão mais novo tomou para si a tarefa divina do pai e acabou por fazer exactamente o que o irmão rebelde estava à espera: veio por ele e destrui-o. E mesmo no fim do filme é dado como certo que o pai não estava louco, que afinal era verdade que deus estava por dentro da história, na sua luta com o diabo e os seus demónios.

Em primeiro detestei esta intromissão de deus na história do filme, mas numa segunda leitura achei muito interessante. O filme mostra no fim que as pessoas que eram escolhidas como demónios, na verdade tinham cometido crimes horrorosos. De uma certa forma está a dar uma explicação para os criminosos: eles são demónios, ainda que o não saibam. É por isso que fazem o que fazem. É por isso que há pessoas que não resistem a matar ou violar. Numa altura em que se faz a procura desta intrínseca maldade nos genes destas pessoas, o filme diz que sim, que nasce com elas, mas porque não são pessoas, são demónios. Outra leitura extremamente interessante, é aquele filho que se torna assassino em série. Nós sabemos que quando ele mata o pai, há uma viragem para ele: ele é aos seus próprios olhos um demónio. Mas ter-se-á tornado ele um demónio porque o é ou porque o aceitou ou porque a experiência que sofreu na infância o transformou nesse demónio? Lembra a Bíblia, no que nesta contém de confuso entre o livre arbítrio do ser humano e o que já está previsto. Deus sabe antes que o faças, o que vais fazer, mas então como incluir aqui o livre arbítrio? Se for da sua natureza alguém ser um demónio, possui esse alguém o livre arbítrio de o não ser? E se Deus levou a essa transformação em demónio, quem é afinal culpado? É impressionante que um filme como "Frailty" possa conter este tipo de questões, que são velhas questões filosóficas e teológicas, e a inclusão disto num filme de horror (de bom gosto, já que não procura chocar o espectador com imagens explícitas gratuitas, apesar do que possam ter pensado com a figura que pus ali encima) e suspense é delicioso.

terça-feira

Agora falta-lhe a responsabilidade de imprensa

Repórteres sem fronteiras: Portugal é um dos países com maior liberdade de imprensa numa lista de 169 países.

Já há muito que não fazia um bom descobrimento

Pelo bl-g-x-st cheguei a este blogue que, geralmente, passa a pente fino os conhecimentos de matemática e economia dos media ou simplesmente a capacidade crítica dos jornalistas. Divertido e instrutivo. Fica anotado.

sexta-feira

Conversê

As conversas que fazemos para não estarmos calados são atreitas a movimentos muito belos. Eu estive envolvida numa destas singelezas em que se começou com o horror dos vienensses a vitaminas, passou-se pela estatística dos gordos e magros na Europa (dois mais gordos: Alemanha e Grã-Bretanha, dois mais magros: Itália e Áustria), passou-se para a avaliação de fenótipos europeus e acabou-se com a minha estupenda espirituosidade em que respondendo à pergunta se os portugueses e os espanhóis diferem, eu respondi que os espanhóis são Picasso, os portugueses Miró. Podem-me bater palmas.