terça-feira

Lei para enfeitar

Os defensores do sim à criminalização da IVG sabem bem que o estatuto de pessoa que dão ao embrião tem um mero valor argumentativo e retórico. Se assim não fosse, e sabendo-se que está em causa uma oportunidade de alteração legislativa, provavelmente não teríamos hoje uma querela entre os que entendem que a IVG deve ser descriminalizada e legalizada, e aqueles que entendem que ela deve ser uma prática condenada criminalmente, para passarmos a ter uma oposição entre os primeiros e aqueles que defendem um agravamento da pena, qualificando a IVG com uma moldura penal de um homicidio. Ora se os defensores do sim à criminalização são defensores de que o embrião é uma pessoa e mesmo assim aceitam que a moldura penal para a IVG seja diferente daquela que resulta da morte de um recém-nascido, também, continuando a achar que é uma pessoa, poderão aceitar que não tem sentido nenhum dizer-se que os oponentes da criminalização IVG entendem que há pessoas de primeira ou de segunda.

A incoerencia, como sabemos, é ainda pior: num certo desrespeito pelo que é a justiça e para que servem os juízes, os defensores do nao pretendem que os juízes esqueçam a lei e sejam uma espécie de agentes sermoneantes 'as prevaricadoras, que, segundo eles, mataram pessoas, mas taditas. Li, de um senhor que defende o nao, que a lei é reflexo de quem somos como uma sociedade. Concordo: uma sociedade que quer as leis só pra enfeitar, é mesmo nós. Porque, e esta já ouço há muito, Portugal tem da melhor legislaçao no mundo!... Para por na árvore de Natal.

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