É óbvio que um feto e mesmo um embrião são "vida". É óbvio inclusive que são vida da espécie humana. É por isto ser tão óbvio que tanto os apoiantes do "sim" como os apoiantes do "não" concordam que a decisão quanto a abortar é um problema moral e ético que se coloca a quem tem que decidir. E é por isto ser tão óbvio que há qualquer coisa de ridículo nas discussões sobre o "começo" da vida - feitas por qualquer dos lados da "barricada".
(...)
Mas será o referendo sobre os direitos das Pessoas, neste caso especificamente das mulheres? Em rigor, não. O referendo é sobre a despenalização, o que não invalida a punição do aborto depois das 10 semanas (tem que haver sempre uma fronteira, por arbitrária que possa parecer nos casos limite -10 semanas e 1 dia -, exactamente como na idade do consentimento, por exemplo - x anos e um dia). Não invalida tão-pouco que continue a existir o problema moral e ético referido acima. Problema ético e moral que deve ser resolvido pela consciência de cada uma das Pessoas autónomas que se vejam confrontadas com o problema. Incluindo as mulheres que, ganhando o sim, nunca serão obrigadas a interromper a gravidez (mas é mesmo preciso explicar isto?) se forem radicalmente contra o aborto. (...)
Miguel Vale de Almeida n'Os Tempos Que Correm
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