sábado

entralgo

A quem me conhece, aviso para não construirem estereótipos, fotos-tipo, do português sobre a minha pessoa. Pelo menos quando encontro emigrantes sinto sempre estranheza. Estranheza pela saudade, pela quase atitude sofredora, porque o destino bruto os pôs fora de Portugal. E não consigo deixar de me perguntar se não é uma quase peça teatral que somos chamados a declamar, que somos emigrantes obrigados, que estamos tristes, que sem sol engordamos mirrados de maldito fondue. Como parece que faltei às aulas de teatro, calo-me e deixo-os interpretar as minhas palavras como lhes aprovem, faço cara de comiseração e tento que não se apercebam que me baldei às aulas como ser emigrante.

E quando encontro suíços, também me baldei às aulas de como ser imigrante. E quando me perguntam se não é absolutamente magnífico estar nas montanhas, como a felicidade nos abraça, eu remarco que a felicidade vem de dentro de nós. E que o fondue cheira mal e me faz mal ao figado. E não, a estação de comboios de Zurique não é especial, tirando a gaja gorda pendurada no tecto. Mas sim, adoro o sistema de comboios e a perfeita lógica das suas regras, lógica sendo algo que os alemães não percebem e os portugueses pensam ser nome de sereia.

Pergunto-me se não devia pedir um passaporte neutro, algo para pessoas que não entendem o mundo.

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