domingo

Alsácia e outras coisas



Ainda não disse uma palavrinha sobre a Alsácia, onde andei no passado fim-de-semana. É um torrão de terra turístico e bonito, com aldeias pitorescas. Do que eu vi, e atendendo ao adjectivo pitoresco, Colmar foi o superlativo. Obernai era uma vila simpática, Estrasburgo tem um núcleo bonito e o resto era um árido despopulado (Domingo). Estrasburgo fica nos anais da minha vida gastronómica por ter sido o local onde comi pela primeira vez pernitas de rã (esperemos que não a última). Precisava de um pouco mais de alho, mas gostei do petisco, cujo sabor e consistência é um prevísivel cruzamento entre pescada e frango.

Segundo os guias turísticos, a Alsácia está pejada de castelos e realmente vislumbrei da estrada vários perfis sonhadores. Visitei um destes castelos, que foi restaurado em 1900 a mando de um alemão: Guilherme II. Este nobre teve o azar de ter vivido numa época em que a moda militar germânica tinha a estranha peculiaridade de espetar um penico adornado com uma seta nas cabeças dos oficiais. Pergunto-me se era um adereço de último recurso (parecido com as cápsulas de cianeto), em que no momento de captura pelo inimigo eles se lançariam num ataque suicida, de cabeça baixa em riste (estilo touro).

Era possível sonhar que se estava num castelo medieval. Entra-se por uma rua estreita a serpentear ligeiramente pela porta forte até uma praça rodeada de muros e um par de casas e estas rodeadas por fortificações e imagina-se a populaça em tempos de ataque albergando-se do perigo e ajudando a ferver o azeite. Cortaram-me logo o devaneio, pois este não era um castelo para proteger uma aldeia ou vila, mas nomeadamente de observação. A Alsácia foi um daqueles torrões de terra que mudou de senhores várias vezes na sua existência. Um dia era francês, no outro alemão, o que pensei seria confuso para as populações. Mas se calhar nem tanto. O dialecto moribundo da região parece-me uma sopa de alemão e francês, provavelmente o resto era a mesma mistura e as gentes viviam bem as mudanças desde que não as matassem ou as mutilassem muito, claro está.

Lembro-me de um amigo me contar de uma vila (esqueci-me onde), que várias vezes mudou de senhor (Conde, Princípe, algo assim ostentoso). A particularidade é que nestas mudanças a religião da vila era definida pela religião do senhor, o que significava que umas vezes eram católicos e passavam a protestantes e tinham que desnudar a igreja dos anjos rubicundos e dos variados santos em poses de martírio e júbilo (arrepiante quando ao mesmo tempo), meter tudo na cave, até que algum dia vinha um católico e tinham de limpar as teias de aranha e reguarnecer a igreja. Devia dar cá um trabalhão. Presumo que haveria outras mudanças, tal como festejar ou não o Carnaval, ter ou não cortinas (disseram-me que os protestantes não tinham apreço por cortinas, pois queriam deixar bem claro aos vizinhos que estariam a trabalhar ou noutras actividades altamente puras. Os protestantes cheiram a aborrecimento concentrado mil vezes.)

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