terça-feira

Começou a época da caça

Façam o favor de surfar pela blogosfera e vão ver de tudo. Eu que tenho como filosofia ver todas as cores da paleta fiquei maravilhada.

Há:

1) os que defendem que o caos dos últimos dias é um movimento pela supremacia ocidental;
2) os que defendem que foi pela liberdade de expressão;
3) os que defendem que é um movimento de hipócritas que acobertados pela liberdade de expressão querem afirmar a supremacia ocidental;
4) os que defendem que a supremacia ocidental deve tomar as sociedades muçulmanas à má fila, de mansinho, a rastejar e quando eles derem por ela já não escapam;
5) os que defendem que isto foi um movimento islamófobo;
6) os que defendem que somos islâmico complacentes;
7) os que defendem que o importante é a segurança, lixe-se a liberdade de expressão;
8) os que defendem que se queremos defender os nossos valores é juntando-nos aos americanos no Iraque;
10) os que defendem a responsabilização dos jornalistas;
11) os que defendem limitar a liberdade de expressão.

A blogosfera é um mundo de pluralidade e eu gosto.

Ora bem, eu escolho 2,6,10.

11 comentários:

João Melo Alvim disse...

E dois.

abrunho disse...

:-)

Pessoalmente quando escrevo responsabilização dos jornalistas estou a falar internamente. O que não é novo. Na edição de um jornal analisa-se o que é informação, o que é provocação. Claro que também entram interesses... Mas aí são os que compram e leêm o jornal que dão cobertura aos "interesses". Li que o Jyllands-posten é o jornal com maior circulação da Dinamarca, portanto é nos dinamarqueses que se deve procurar a origem da xenofobia que promoveu a provocação.

João Melo Alvim disse...

Em todos nós, europeus, estão as razões para o que está a acontecer. Ou enfrentamos o nosso passado de consciência tranquila, sem preconceitos e subserviências, ou continuamos a pintar a negro o futuro.

abrunho disse...

Referes-te a complexos de culpa colonialistas e imperialistas?

Talvez no que se refere a certas opinioes que sao conotadas com a esquerda, mas ha' muita opiniao que se baseia numa visao pragmatica da questao. Assim como a opiniao discorrida pelo nosso Ministerio dos Negocios Estrangeiros.

O futuro está longe de nos pertencer só a nós. Que farao os muculmanos do futuro?

João Melo Alvim disse...

Nós - europeus - fizemos asneiras com a colonização do Médio Oriente. A proposta do Lawrence da Arábia para dividir o Império Otomano baseava-se em questões religiosas e étnicas, ou seja, criaria estados com alguma lógica e substrato histórico. Evitaria violência e repressão? Não sei, mas seguramente que não faria o xadrez absurdo que existe hoje em dia (a criação da Arábia Saudita não lembra a um jogo de Sims).

Tenho obrigação de reconhecer que aquilo que os "meus" fizeram está errado e que contribuiram para este estado de coisas. Agora posso andar a nadar no passado anos a fio (tipo Astérix na Córsega) ou posso tentar dar um passo em frente, para o futuro, sem nunca esquecer o passado, claro. E para isso não pode haver meios-termos do politicamente correcto.

É por isso que o comunicado do MNE me tirou do sério: o que é que é aquilo? Que dissesse que lamenta que a publicação tenha ofendido uma comunidade, mas que não aceita a resposta com a violência. Que dissesse que os Tribunais têm que estar preparados para lidar com estas questões exigindo responsabilidades. Agora o resto? O pragmatismo cheirou muito a oportunismo e pior, cheirou a medo.

abrunho disse...

Sim, sim. Se bem que me sinto sempre confusa até onde arcar com as culpas nas minhas costas. Eu fui totalmente contra a guerra no Iraque, mas o sr. Durao Barroso fez o favor de entrelaçar o nome do meu país com esse acto. Agora quando me mandam 'a cara a invasao do Iraque para justificar as reaccoes dos extremos da comunidade muculmana eu fico encalacrada. Eu fico encalacrada e confusa de ter de atentar a dislates imperialistas britanicos na primeira metade do sec. XX.

Dei-me conta que a UE, que eu penso ser das melhores coisinhas que aconteceu aos portugueses dando-lhes largueza de opcoes e mundo (que vao esbanjando alegremente), da-me na contrapartida as culpas de todo um mundo ocidental. Ja nao é só a Africa de crioular acentuado em portugues. Ja nao é só aturar com os traumas coloniais dos brasileiros. É um outro historial que nao me ensinaram na escola e que tenho de procurar. De que me acusam de dedo em riste?

Ao segundo ponto da declaracao do Ministro dos Negócios Estrangeiros... Estás a ler ali "Negócios"? Nao é "Assuntos". I rest my case.

João Melo Alvim disse...

Eu ainda estou para saber como é que não se gerou uma guerra contra os Croissants (homenagem à vitória sobre os turcos em Viena, 1683) e como é que esses não são considerados símbolos humilhantes...

Enfim, brincadeiras à parte, conhecer o passado sim, aprender com o passado sim, viver no passado, não. Era bom que toda a gente se entedesse sobre isto.

Em relação aos Assuntos/Negócios, seria difícil pôr as coisas de forma mais clara (deve ser por isso que prefiro um State Department ou um Foreign Office), por isso, prossecution rests...

abrunho disse...

Ontem fui ver o filme "O jardineiro fiel" e fiquei a matutar no meu comentário sobre a "culpa". Já agora, é um filme maravilhoso. Ainda estou a matutar.

João Melo Alvim disse...

O filme é extremamente interessante e não haja dúvida que aborda a questão da "culpa" de outras formas. O "não quero saber" não será logo culpa, mas que ajuda, ajuda. Por outro lado, a nossa vida seria assim tão "boa", sem esse tipo de entorses (generalizando a partir do filme)? Mais parece uma insustentável/insuportável leveza do ser... Apesar de tudo, tenho que acreditar que este sistema, onde se misturam ideias políticas com questões sociais e culturais ainda é aquele que poderá fazer a diferença em termos de vida. Mas também aquele que mais convida, de forma aparentemente simpática, ao conformismo mental. E isso assusta.

abrunho disse...

Sim e Nao. O sistema nao convida; dá espaço ao conformismo mental. As pessoas tem a opcao de serem preguicosas e a maior parte delas toma esta via.

Falava no outro dia com uns amigos sobre propaganda. O caos levantado pelos cartoons no Médio Oriente foi baseado num golpe de propaganda. O ocidente nao está livre de propaganda. Contudo, temos mais recursos (como seja a liberdade de expressao e imprensa) para termos uma melhor visao da realidade. A liberdade e os recursos que estao ao nosso dispor da-nos maiores responsabilidades. Eu olho com maior tolerancia os iranianos a elejer o desprezivel Mahmud Ahmadineyad, do que os britanicos ou os americanos a re-elejer Blair e Bush.

As pessoas por vezes parecem menosprezar essa liberdade de expressao, mas é essa liberdade que nos torna menos atreitos a manipulacoes como as que sao sujeitos os habitantes dos paises muculmanos. Se caímos na esparrela é por cretinice propria.

João Melo Alvim disse...

Tudo bem, mas eu continuo a achar que o sistema, de forma cínica, convida. Basta pensar no sistema de educação público (do qual sou um produto). A capacidade de escolha é toldada com todas as consequências. Será isto uma justificação para os coitadinhos? Não. Apenas duvido que a partidocracia instalada seja tão benevolente (e eu milito num partido). Acho que o sistema está a ser perigosamente subvertido (basta pensar que se fosse tudo uma questão de mau gosto, a esmagadora maioria da programação portuguesa em horário nobre seria banida) e há que a combater, obrigando o próprio sistema a fazê-lo, contrariando a lógica de séculos da carneirada. Isto, no entanto, não esquece uma verdade: a capacidade de escolha. Temo é que, hoje em dia, it's not an option to make an option...