Anda pela internet uma petição de apoio ao jornal Jyllands Posten.
Chamo a atenção que este jornal tem como linha editorial a publicação de artigos racistas e xenófobos. Ao assinarem a petição estarão a dar implicitamente o apoio a esta faceta do jornal.
Eu apoiei o posicionamento que pretendia defender o princípio da liberdade de imprensa. Eu congratulei-me com a decisão de outros jornais de também publicarem os cartoons. Seria injusto abrir excepções para uma religião e seria perigoso tornar todas as religiões não censuráveis e não criticáveis. Mas esta luta era por um valor: a liberdade.
Eu adoraria que o caso dos cartoons tivesse dado azo à discussão da responsabilidade que vem com a liberdade (como a Helena tentou desde o início), da complacência para com as comunidades muçulmanas na Europa (parece ser a tendência dos alemães), por um lado, e por outro, a reacção perniciosa de apoio a governos que tomam medidas xenófobas e chauvinistas (o caso da Dinamarca). Contudo, os protestos extremos de países tecnocráticos do médio oriente enrijeceu-nos na posição defensiva.
Quando a situação amainar (sabendo que infelizmente qualquer pedagogia perdeu-se nesses países) é altura de discutir os outros pontos. Não saltar em rebanho para a parvalheira de apoiar outros extremos também perigosos. A febre foi alta, mas é altura de reavermos a claridade de pensamento.
Os jornais poderiam agora usar essa liberdade de imprensa e mostrar o que é hoje a Dinamarca.
Boa parte da terceira página do meu jornal diário (Süddeutsche Zeitung) é dedicada hoje ao problema da xenofobia nesse país [Dinamarca].
Um exemplo: para poderem casar, os estrangeiros são obrigados a ter ambos pelo menos 24 anos de idade, um apartamento conveniente, rendimentos suficientes, 7000 euros num Banco e "em conjunto, uma relação mais forte com a Dinamarca" que com qualquer outro país. Bolette Kornum, uma dinamarquesa que foi viver para o Egipto em 1999 e casou com um egípcio, viu-se impedida de voltar para o seu país, em 2003, porque "o casal tinha uma relação mais forte com o Egipto que com a Dinamarca". É a lei.
4 comentários:
Obrigado pelo "aviso". Embora na minha opinião, a questão fulcral não tenha que resvalar para aí, nada como ver os vários lados de cada questão.
Confesso que esses critérios legais me deixaram perplexo. A lógica de não promover culturas que tentam violentar direitos humanos é incompatível com rótulos do tipo "ligação a um país".
Li no "Quase em Português", que uma ministra na Holanda defende a proibição de se falar nas ruas uma língua não holandesa. Pode-se perguntar à pessoa: "posso falar português?", mas tem que se ter a certeza que a tua língua não poderá semear o medo.
O mundo está cada vez mais estranho.
Mais um caso.
Conheci um rapaz meio-dinamarquês meio-sueco. Até há uns meses, ele sempre tinha vivido na Dinamarca, se bem que vai amiúde à Suécia visitar um dos pais (esqueci-me qual deles). A namorada é norte-americana. Segundo as leis dinamarquesas seria difícil eles construirem uma vida juntos na Dinamarca. Os laços dele parecem ser insuficientes para colmatar os laços inexistentes da namorada com o país. Vivem na Alemanha, mas pretendem tentar a vida nos EUA. Provavelmente é mais fácil.
Em relação a essa história da Holanda, li-a no "Público". É absolutamente surreal essa lógica do não falar a língua para melhor integração. Não faz sentido nenhum mesmo e isso sim agrava as diferenças porque nega a hipótese de acolhimento num país.
Já quanto às leis dinamarquesas, confesso a minha estupefacção. Esta obsessão em deixar o Estado escolher o melhor para nós é, no mínimo, ridícula.
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