Nenhuma entrevista me persegue mais que uma conversa que tive em 1996 com uma camponesa cambojana chamada Nhem Yen. Ela tinha 40 anos, mas parecia mais velha, e vivia com a família numa aberta da selva cambojana. A área era conhecida pelos surtos de malária, mas a família era ambiciosa, industriosa e pensaram que o dinheiro que podiam fazer a cortar e a vender madeira valia o risco.
A filha mais velha de Nhem Yen, de 24 anos e grávida do segundo filho, rapidamente apanhou malária. Sem dinheiro para comprar os medicamentos (um tratamento efectivo custaria menos de 10$), ela morreu no dia a seguir ao parto. Nhem Yen ficou a tomar conta dos seus cinco filhos, mais os dois netos.
A família possuía um mosquiteiro com capacidade para três pessoas. Estas redes são efectivas contra a malária, mas custam 5$ e a Nhem Yen não podia custear mais. Assim, todas as noites ela agonizava na decisão de quais das crianças colocar no mosquiteiro e quais deixar de fora.
"É muito difícil decidir," ela disse-me. "Mas não temos dinheiro para comprar outro mosquiteiro. Não temos escolha."
Esta é a verdadeira face da pobreza: não tanto a dor da fome ou a humilhação dos trapos, mas a das escolhas impossíveis.
Início de um texto excelente: "Wretched of the Earth" de Nicholas D. Kristof no The New York Review of Books.
Tradução minha.
3 comentários:
Olá Abrunho:
Queria só dizer que já há tempo venho, de vez em quando, dar uma vista de olhos pelo teu blogue. E encontro sempre que ler, porque fazes uma excelente selecção dos artigos que nos apresentas. Como gostei particularmente deste excerto sobre a pobreza, e do texto do qual o retiraste, achei que estava na altura de te dizer estas palavras (no geral, tenho tendência para ser uma leitora anónima e silenciosa).
Um abraço.
obrigada... {smile corando}
Olá,
Cheguei ao teu blogue e, especificamente, a este texto via Quinta do Sargaçal, e fiquei profundamente silênciosa perante estas palavras. Nós sabemos que é uma realidade diária em muitos países, para milhões de pessoas, mas dito dessa forma provoca um aglomerado de emoções impossíveis de descrever...
"Roubei" o teu post e divulguei no meu blogue com a devida referência, porque é demasiado precioso e merece ser partilhado.
Muito obrigado. Voltarei mais vezes.
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