quarta-feira
Arrepio
Ir ao cinema na Alemanha é demasiadas vezes uma experiência a esquecer. O pessoal comporta-se como se estivesse na sala de estar da casa deles, só que com muitos sofás. Um dia senti duas presenças estranhas de cada lado da minha cabeça. Quando olhei eram os pés descalços da senhora atrás. Acho que nunca fiquei tão atónita na minha vida. Outra vez, andei a fugir com todos os outros de um senhor que empestava. Como podem imaginar éramos vinte todos juntinhos de um lado da sala e o senhor e a esposa no lado oposto. Ela resmungava contra nós. Gerou-se ali um problema de racismo: os com nariz e os sem. Nem falo das normais grunhices com telemóveis e comidas (pipocas é aperitivo) e pessoas a falar como se estivessem no bar ao lado. Mas o que me põe fora de mim e já me fez começar a asneirar várias vezes é o uso que fazem do riso: eles riem-se com a tragédia. Não é por acaso que no alemão há uma palavra para o ficar feliz com a infelicidade dos outros (Schadenfreude). É desconcertante eu a entristecer com uma cena e de volta o eco ridente. É irritante. Mas não é só no cinema! Um dia destes estávamos num imbiss (um boteco onde se come comida rápida) e a namorada autóctone de um amigo meu lia o jornal, quando viu uma notícia de um corpo encontrado no rio. Ela riu-se. Não conseguiu explicar porquê. Depois, quando já nos tinhamos separado dela, o namorado repetia "Mas ela estava-se a rir...". "Ela estava-se a rir, não estava?" Digo-vos: arrepiante.
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2 comentários:
Huummm...teclo de Udine e permite-me o desabafo: por cá, o asneiredo também dita a postura no cinema! As pessoas, diante da tela, e no escuro que pagaram, gozam dum qq sentimento de tudo-à-larga.... :P
Estive a falar com colegas alemas sobre a reaccao da namorada do meu amigo e elas responderam que o dono do corpo no rio talvez fosse o ex-namorado. Assim realmente entende-se a alegria.
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