domingo

Indignação monstruosa

Estava num jantar; ponham juntos um grupo de falantes de línguas românicas e o único momento em que estaremos todos unanimemente interessados na conversa, será quando compararmos as nossas línguas-mães. Agora que já nos conhecemos há mais de quatro anos, somos como gente caquética, repetindo as mesmas histórias, mas estamos felizes. Mas por vezes há histórias novas: uma italiana esteve em Portugal e vinha com as histórias pitorescas da atitude corta-garganta da língua portuguesa. Imaginem que "A Bela e o Monstro" é noutras realidades "A Bela e a Besta". Eu estava incapaz de ver como ser uma besta é melhor que ser um monstro, mas parece que uma besta não perde a possibilidade de ser giro, um príncipe, uma carinha laroca. Eu tenho sobrinhos e cumpri a obrigação familiar de os aturar; nas alturas em que queria descansar e os punha a ver filmes no vídeo, "A Bela e o Monstro" era uma das chupetas visuais. O tipo era um monstro e esta é uma das bases da história: que a princesa amou o eu interior, que era bom, pelo que o tipo não podia ser uma besta! Chamá-lo uma besta para que possa ser bonito, é uma desfiguração da moral da história. Dizer "A Bela e a Besta" é inaceitável.

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