A New Scientist [vol.187, nr.2514] de 27 de Agosto tem um artigo especialmente interessante sobre o papel do homem no cuidado dos filhos: Father nature, pág.38.
A sociedade vê o cuidado das crianças como primordialmente uma tarefa da mãe. Parece natural. Nos mamíferos o acto de mamar reinforça a primacia da relação mãe-filho. Contudo, a ciência segue pistas que parecem mostrar que o homem estará programado para ser tão "maternal" como uma mãe.
A maior parte dos pais-mamíferos são ausentes no cuidado dos filhos, excepto em algumas espécies de roedores e pequenos primatas. Há duas décadas, o primatologista Alan Dixson descobriu que os machos titi (um primata da Amazónia) respondem hormonalmente ao seu papel de pai activo: na companhia de uma fêmea grávida os níveis de proctalina sobem. A proctalina é uma hormona que induz a lactação [este obviamente só na mulher :-)] e os cuidados de teor maternal. Em 2000, uma equipa do Memorial University em Newfoundland, Canadá, descobriu a mesma resposta no homem: estes quando a coabitar com mulheres grávidas (ainda que não fossem os progenitores) apresentavam valores de proctalina mais altos, subindo (em média) 20% nas três semanas antes do parto. Na altura deste, os níveis de testosterona caíam a pique (podendo atingir descidas até 33%).
A passividade paternal não é completamente homogéneo nas sociedades humanas. São conhecidos povos em que os homens e as mulheres dividem o cuidado dos filhos igualmente. Entre dois grupos de pigmeus africanos (os Aka e os Efe) caso se lhes pergunte quem cuida das crianças, a resposta será: "Todos nós". E assim é.
Assim, pode-se pensar que em tempos idos o homem estaria intimamente envolvido na criação dos filhos, já que não é ausente este fenómeno e o homem está endocrinamente equipado para o efeito. Mas, sendo realmente assim, porque teria o homem evoluído para este comportamento, quando nenhum primata do nosso próprio ramo o fez? Uma suposição dos cientistas é o tamanho da cabeça relativamente ao corpo. O Homem partilha com os pequenos mamíferos um rácio cabeça/corpo grande, o que torna o parto difícil e perigoso para mãe e filho, o que torna importante um substituto rápido e atencioso. Além disso, relativamente aos humanos há os encargos inerentes com a grande dependência das crianças e o seu transporte. Com os humanos a perderem o pêlo e a tomar a posição bípede, uma mãe teria de carregar com a criança nos braços durante largos períodos de tempo. Isto resulta na incapacidade da mãe de se sustentar a si e aos filhos sozinha. Os cientistas pensam que isto poderia levar nas "sociedades primitivas" ao desenvolvimento da cooperação entre a mãe e o pai como nas sociedades Aka e Efe.
Outra questão: se o homem cooperou em igualdade de circunstâncias nos primórdios porque perdeu esse hábito na maior parte das sociedades humanas? As hormonas têm um papel fundamental na determinação de comportamentos, mas a sua existência pode somente significar a sua possibilidade, mas não inevitabilidade. A proctalina capacita o homem e a mulher a responderem protectivamente em relação à sua descendência, mas esta capacidade depende da experiência. As sociedades actuais oferecem à mulher um papel activo na vida profissional, o que lhe dificulta ser mãe a tempo inteiro. Isto pode despoletar no homem a resposta há muito dormente das suas hormonas "maternais". Um novo pai estar-se-á a preparar para recuperar um velho papel.
Isto tem piada. :-)
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