Depois do almoço estive com a minha amiga americana. Conversamos sobre o desastre de Nova Orleães e questionei-a sobre a situação, a tentar perceber, de alguém mais próximo, as bases da desdita. Ela explicou-me que a Luísiana é o estado mais pobre, menos instruído e mais corrupto dos EUA. Contou-me de umas eleições para a posição de governador em que ambos os candidatos eram criminosos. Um deles era um ex-membro do Klu Klux Klan. O outro tinha como slogan "Vote the Crook". Num estado maioritariamente negro ganhou o trafulha. Ambos estão hoje na prisão por serviços prestados ao crime.
Além disso, o dinheiro destinado para o consolidamento dos diques foi desviado para pagar o Iraque. A maioria dos homens do Corpo de Guardas de Luísiana e correspondente equipamento (que estão encarregues de actuar em casos de catástrofe deste tipo) estão no Iraque.
No The Economist defende-se que as principais causas para o desastre prendem-se com as modificações da topografia de Nova Orleães e a despreparação para uma emergência, neste último caso, principalmente devido à insuficiência de pessoas [cá está: o Corpo de Guardas estripado...].
Durante boa parte do séc XX, o governo federal modificou o Mississipi no intuíto de melhorar as condições de navegabilidade e - ironicamente - prevenir cheias. No processo destruiu 405 hectares [1m acres] de pântanos costeiros que rodeavam Nova Orleães - algo que interessava os investidores imobiliários, mas que deixou a cidade sem boa parte do sistema natural de protecção contra as cheias. O sistema de diques, com manutenção deficiente, não aguentou a pressão.
Este desastre foi sendo cozinhado... O Katrina não foi nada de especial numa região que está habituada a este tipo de fenómenos. O que é provável é que as lições a tirar serão tiradas. Os americanos são conhecidos pelo pragmatismo. Não é como a infindável reposição de dejá vus dos desastres portugueses. Sim, pois, é natural.
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