sexta-feira

MST

Eu gosto de ler o que o Miguel Sousa Tavares escreve. Desde que eu comecei a ler jornais e a pensar o que é a sociedade e o meu papel nela. Desde aqueles tempos em que eu era muito idealista (ainda sou um pouco e fica-me uma sensação de vergonha, como se agora já devesse ser adulta e ser adulto E idealista fosse um pecado de estupidez).

Quando penso o que me atrai nos textos do MST penso na sua frontalidade e paixão. Sinto que ele não escreve para se ler ou para exibir os seus textos como um pavão a exibir a cauda. Ele escreve de dentro. Ele opina porque se importa, porque lhe faz confusão, porque quer gritar e acordar gente. Ele não escreve por escrever, porque em terra de iliteratos tem-se um geito com as palavras. Ele não escreve porque gosta de provocar, como numa pequena guerra de galos. Pelo que ele se revela e pelo que ele se importa, eu sinto que vale a pena ler o que ele escreve.

Quando se usa um pouco de diplomacia começa-se pelo elogio e termina-se na crítica.

Há três opiniões do MST que eu discordo. Uma é a sua posição sobre o fumar em espaços públicos. Para não se pensar que eu sou uma não fumadora fundamentalista, declaro a minha condição de ex-fumadora, que de vez em quando pega num cigarro e sabe bem a relação de prazer que se pode ter com o fumo. Contudo, como já me acusaram, a minha faceta racional fala mais alto e, pesando prós e contras, deixei-me disso. Passou de relação matrimonial para flirt ocasional. Contudo, mesmo quando um cigarro era elemento usual na ponta dos meus dedos eu detestava ser fumadora passiva. Odiava aquele fumo que não era meu. Para mim é falta de educação impôr aos outros os seus esgotos. O que a mim me diverte é que o MST acha um direito ele pufar fumo pra cima de outra pessoa, mas segundo a crónica desta semana no Público, acha do piorio que as pessoas exibam beijos, apalpões e afins em público. Eu também tenho uma certa resistência a fazerem-me de voyeur. É desconfortável e apetece-me sempre perguntar "Mas vocês não têm um quarto?". Ainda no outro dia, no metro, vi uns preliminares no banco em frente e fiquei a chuchar no dedo, que depois ninguém me convidou pra festa propriamente dita. Isto é imoral.

Lá está. Uma certa educação de não envolver os outros em acções que devem ser privadas. Mas um beijo, uma carícia, um dar de mãos, algo que seja só uma bela e pequena mensagem, qual é o mal? Eu não sei em que mundo o MST vive, mas ele acha que os gays e as lésbicas são uns exibicionistas. Eu, no dia a dia, o que vejo, quando vejo, são os heterossexuais em apalpanços. O primeiro beijo homossexual vi-o eu na Alemanha e acho que se o visse em Portugal iria procurar refúgio com medo de ser atingida por fogo colateral de um qualquer grunho a impôr a ordem e bons costumes. Talvez seja exagero, talvez só riscassem o carro aos provocadores. Parece que o mundo em que o MST vive não é o mesmo em que eu vivo.

A terceira posição do MST, de que eu discordo, é o uso que ele faz para avaliação de comportamentos humanos do que o resto da animalada faz. O ser humano pode ser homossexual se a girafa também for. O ser humano pode caçar porque o leão também o faz. Eu proponho todos nós andarmos por aí a rebolar merda porque há uns escaravelhos que também o fazem. Vamos lá todos. Bora, nessa!

P.S.1: se eu continuo neste mau humor crítico vou ter que mudar o nome do blogue.

P.S.2: dei-me conta que pela posição 3 o MST não devia fumar. Não há nenhum bicho que fume, portanto não é natural, portanto...

P.S.3: mas já exibicionismos sexuais estão completamente dentro da naturalidade. Quem não viu o animal doméstico em poucas vergonhices comente. Tenho a certeza que isto vai ficar em zero.

1 comentário:

xipsocial disse...

Engane-se a certeza...Tambem acho mal o fumo de uns invadir o espaço de outros. Sou fumador mas tenho um certo cuidado para nao perturbar os que estão à minha volta. As cenas obscenas também me repugnam quando as observo em público. Quanto ao resto cada animal tem as suas preferências e acho muita má e pobre a analogia do MST. A escrita dele nunca me cativou...tem uma saída ou outra, mas não se destingue, exemplo disso é a forma como tenta atacar as diferenças sexuais rotulando-as e não admitindo directamente que as considera menos boas que as generalistas.
Tenho dito, bom fim de semana!