Caminhamos pela rua que de ontem para hoje ficou dourada. Um despertador arborícola soou em silêncio e ruborizou de amarelo-outono todas as folhas. Agora nevam por entre o ar ameno. O sol tem uma cor mais quente, ainda que não na pele e é possível ser feliz só pelo olhar.
O meu amigo tem rugas na testa.
- Não sei... Não sei... Parece que ela não compreendeu.
- Explicaste-lhe?
- Tudo claro.
- Então como é que ela não compreendeu?
- Disse desde o início que não posso viver aqui. Não posso! Eu vou-me embora e aí tudo acaba.
- Porquê? Não gostas dela? E se ela te quiser acompanhar?
- Não é possível.
- Porquê?
- NÃO É POSSíVEL!
- Porque é que não consegues viver sozinho, mas também não te comprometes?
- Não é assim tão fácil.
- Não? Se não fosses meu amigo deixava-te.
- Sempre a exagerares!
- Pois...
Abandono-me ao sol e às sensações da rua dourada. As pessoas são demasiadamente difíceis.
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