sexta-feira

Rememorar-se

Ele acomoda-se na solidão da cozinha, despida da actividade do dia, a cheirar a limpo, confortável, feita para o aninhar doméstico da alma. Ele senta-se no banco de madeira grosso, a cheirar a velho e a histórias contadas por noites dentro. Ele ouve-se, lá dentro as músicas do seu passado, coladas a memórias. Ele rememora-se. É a semana entre o Natal e o Ano Novo e ele pára-se. O som do vento gelado fora aninha-o e o ar limpo assopra-o. Ele pesa-se e sente-se leve, uma penugem de recordações. Ele acalma-se na felicidade da quietude que vive neste momento, naquele instante, noutro tempo. Tudo está bem. O caminho foi tomado e a viagem progride pelo futuro. No fundo do túnel, um sorriso.

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