terça-feira

do Afeganistão, trazido aos EUA, passando pelos Países Baixos e acabando em Portugal ou quem é imensamente pobre

Já lá vai para cima de um ano que vi as fotografias da fotógrafa Stephanie Sinclair no New York Times. Tal como eu fiquei perplexa (sabemos que acontece, mas levar assim com as imagens que valem mil palavras), ficaram muitos outros (não sou abençoada pela originalidade de sentimentos, apesar de fingir que sim) e uma das fotografias apareceu-me outra vez pelo blogue dois dedos de conversa como uma das fotografia do ano para a Unicef. Poucos dias depois no compilador de textos alldaily vem este, abaixo ao dois pesos e duas medidas. Neste excerto:

It is likely that all of the female forebears of the girl in the photograph were likewise sold -- and the girl, no doubt, saw it as her fate. At the same time, she realizes that what is happening to her is not right. She might think it is "natural" for a young girl to be sold, but she also knows that it's neither good nor legitimate for her to spend the rest of her life as this man's slave. It is a type of knowledge that has little to do with experience. Rather, it is knowledge that is rooted in humanity, and in the hopes and dreams of a little girl.

The man in the image is oblivious of his wrongdoing. He's only doing what his forefathers did. Sticking to traditions increases the chances of survival. His seed will create a new person and strengthen the clan. He will impregnate this girl without love and without regret, since love is a word from far-off stories and songs, a word from the decadent West, where people have no comprehension of the harshness of life in the desert and of war without end, which is the essence of life in this part of the world.


lembrei-me deste excerto provindo do Pedro Arroja:

Os preconceitos são regras de acção automáticas que as gerações anteriores nos legaram e que nos permitem economizar muito tempo e outros recursos. Cada cultura possui os seus preconceitos e as culturas mais prósperas são aquelas que possuem um stock maior de preconceitos eficazes. Tendo-se confrontado com problemas semelhantes aos nossos no passado, as gerações dos nossos antepassados tiveram de encontrar soluções para eles. E, tendo encontrado aquela que consideraram ser a melhor para cada um desses problemas - a solução que funciona melhor na maior parte dos casos semelhantes - elas legaram-nos essa sabedoria sob a forma de regras automáticas de comportamento: "Perante tais e tais circunstâncias, faz assim e assim - não percas sequer tempo a pensar".

É o conjunto dos seus precoconceitos que define uma cultura e a distingue de outra cultura. E quanto maior fôr o número de preconceitos eficazes que uma cultura possui em relação a outra, mais próspera essa cultura será em relação à outra. É esta também a razão porque é tão difícil mudar uma cultura. Uma cultura faz-se sobretudo de comportamentos automáticos - preconceitos - que as pessoas generalizadamente aceitam e praticam de forma acrítica sem nunca questionarem a sua racionalidade. E ainda bem que assim é, caso contrário seriam imensamente pobres, na realidade, nunca chegariam a sair de casa de manhã para o trabalho.


O progresso pode ser feito com um passo atrás e dois adiante, mas há pessoas que conseguem resvalar de tal maneira que acabam por cair num atraso paradoxal.

P.S.: Bom Natal e se me esquecer, boas entradas.

Sem comentários: