Um ano comecou de aluviao. Quando as aguas já tinham assentado, apanhei o comboio para Sul. Perto de Coimbra, o comboio amainou e pelas janelas o céu era de chumbo e prata, a água espalhava-se aos pés da ponte e as árvores mostravam nos ramos decoracoes que lembravam o Natal, talvez por aproximacao temporal ou preconceito ideologico. Sacos de plástico. A paisagem era muito bela: os campos inundados e o céu incrível reflectido nas águas. Os plásticos entornavam incongruencia. Dei-me conta que havia turistas estrangeiros na minha carruagem, que tiravam fotografias com a ansia da captura. No filme "Auf der anderen Seite", um personagem senta-se á beira-mar, só se ouve o quebrar das ondas. Permanecemos minutos, vários, ele a olhar o mar, á espera de alguém e nós a olhá-lo a ele e ao mar e á história que acabamos de ver. Daí vem do lado esquerdo a rebolar um saco de plástico. A incongruencia provocou risos na sala.
Mas haverá paisagem moderna que para ser congruente possa nao ter um saco de plastico?
Na Alemanha, o normal é pagar os sacos de plástico. Há mercados por todo o lado, coisas tipo Lidl ou melhor, mercadinhos turcos, e as pessoas vao de cestos de verga, de mochilas, de sacos de pano e compram pequenas quantidades. É até normal saltar de mini para mini, porque num vendem isto, mas naquele vendem aquilo. Mesmo quando sao grátis, eu nao aceito sacos de plástico. Nos EUA tive a impressao que acabaram por me conhecer no hipermercado, pela minha recusa de usar sacos de plástico, pois a certa altura já dispunham os artigos sem os meter nos sacos como faziam com os outros clientes. Quantidades enormes de sacos, por vezes um item por saco, como em Portugal (nao se pode juntar o azeite ao shampoo, senao sabe-se lá que criatura hedionda surgirá do contacto). Estais tao mal habituados que mete impressao.
3 comentários:
Em 17 anos de Alemanha, devo ter comprado no máximo uns 3 sacos de plástico. Se não tenho nenum saco comigo, levo as compras num caixote.
Por isso, mais impressão me faz ver o furor com que os portugueses, nos supermercados, se atiram aos sacos, como se só isso em si fosse sinal de prosperidade e abundância.
Uma amiga minha disse-me que já se pagam os sacos nas pequenas superfícies. Portanto, a realidade nem é assim tao diferente. O que é diferente é que eu na Alemanha nao vejo as pessoas a fazerem compras em quantidades industriais como em Portugal.
O que nao percebi é porque raio é que o governo portugues se ia meter com uma "taxa do saco plastico"?
Mas se bem me lembro, a quantidade de sacos aumentou quando os próprios empregados dos hipermercados comecaram a ensacar as compras. Eu lembro-me, quando ainda morava em Portugal, de reduzir em tres vezes a quantidade de sacos que levava para casa quando era eu a ensacar. Claro que cometia crimes como juntar o azeite com o shampoo.
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