sexta-feira

Poluição auditiva

Comprei uns tampões para os ouvidos para fazer face às músicas de Natal. Consegui suportar a tortura sem o uso de protecção. Contudo, num autocarro beirão de rádio a regurgitar música pimba, eles foram postos ao serviço da preservação da minha sanidade mental. Há limites para a dor.

quarta-feira

Os meus filmes de 2005

1 - Million Dollar Baby do Clint Eastwood
Uma obra prima e não se me enrola o cérebro em dúvidas quando o escrevo.

2 - Don´t come knocking do Wim Wenders
Outro filme sobre pessoas, mas desta vez uma está irremediavelmente perdida. Imperdível.

3 - Manderlay do Lars van Trier
Capítulo 2 da trilogia que começou com Dogville. Grace envolve-se noutra parábola, esta sobre liberdade. Tudo excelente e comovente e envolvente, excepto o fim. A sequência de fotografias, por si meritórias, estraga para mim a sensação de alegoria universal. Um anjo a quem lhe cortaram as asas. Mas ainda um anjo.

4 - Wallace & Gromit: A maldição do coelhomem do Nick Park
Eu adoro animação e eu adoro bonequinhos de plasticina e o resultado da técnica "stop-motion" e eu amo as histórias de Wallace, o inventor tótó e o seu inteligente e paciente cão Gromit. Este é a primeira longa-metragem e é fantástica. Tudo. Façam "Cheeeeeeese".

5 - Flores partidas do Jim Jarmush
Mais um filme sobre alguém perdido e ele lá vai bater às portas. As senhoras abrem-lhe as portas e perdem-no ainda mais.

Já não há pachorra

A sensação que tenho é que a comunicação social portuguesa está numa campanha para deprimir os portugueses. Se não têm nada de bom a opinar, limitem-se aos factos. Do que eu tenho visto seria uma revolução. Factos, factos, fatos, fatos, pois aquele fato do Sócrates é comparativamente com o do Zapatero de pior corte. Não é corte inglês. Não há pachorra.

sexta-feira

Pobres santos

Há ironias sublimes e deliciosas. Ver a estátua de um santo (Sto António ou S. José, o menino nos braços) no jardim de um colégio de freiras envolvido em luzes como uma mera árvore de Natal foi uma imagem interessante. O paganismo subjuga a religião cristã no seu próprio domínio.

Lojas, compras, prendas,

sinto-me a ficar esquizofrénica...



Art © 1998 Christopher Jones.

quarta-feira

Para que é que se embrulham as prendas?

Diremos: pelo elemento surpresa. O divertimento de quem dá no desembrulho questionativo de quem recebe.

Vou ter que reembrulhar todas as prendas que comprei hoje. As lojas pespegam as marcas onde podem no que eu senti uma ofensa a mim. Mas o mais anormal foi na perfumaria. O papel vermelho brilhante. Só. Eu extasiada em algo tão simples e bonito e aí aplicam um laçarote farfalhudo a dizer "perfume". Para que raio eu embrulho um perfume e escrevo no embrulho perfume? Não percebo.

segunda-feira

O número um

Após meio ano de surfe pela blogosgera, decidi o meu preferido, medalha de ouro, cinco estrelas.

George, o cáustico.

My lord, your crown.

Amanhã

Amanhã por esta hora o céu terá sol, as ruas serão luminosas, caminharei pela estrada com os carros alucinantes a centímetros de mim, senhores e senhoras venderão castanhas e guarda-chuvas na rua, esta será de pedras pequeninas pretas e brancas, haverá obras a cada segunda esquina e os liliputianos abrirão a boca e misteriosamente falarão português.

domingo

Message in the bottle

Esperar a carta na caixa do correio, esperar o toque do telefone, esperar o boneco a mudar de cor no msn, esperar o nome listado no correio electrónico, esperar o toque do sms, esperar o sinal da imanência distante.

Não se pesquisa nos sites dos jornais portugueses

Deve ser mais fácil ter resposta a uma carta para o Pai Natal. Porquê? Porque é assim tão difícil? Porque é que posso comprar jornais turcos, chineses, árabes, franceses, espanhóis, gregos, italianos (etc...) e não posso comprar jornais portugueses em Hamburgo? Porque é que não respondem às minhas cartas electrónicas? Porque é que o quarto poder é tão português como os outros? Que seria de mim sem a blogosfera para saber notícias? Porque estou sem paciência?
Porra pra isto!
Snif... Snif...

sábado

Letícia, quero-te bem

Quando falo do drama da bébé Letícia, abusada pelos pais, agora num hospital em Coimbra, à minha família ou lendo o que se escreve pela Net fica a sensação de ingenuidade. Como se pode pensar que os pais podem ser assim? Talvez seja porque eu tenho uma irmã a trabalhar com crianças em risco, mas eu nunca confiei no amor dos pais. Lembra-me de ser jovem, muito jovem e uma das coisas do mundo que me deixavam confusa é que não se tivesse que prestar provas para se ser pai ou mãe. Eu estudava e fazia provas e passava de ano e diziam-me que eu tinha de prestar provas para guiar um carro e prestar provas para ter uma profissão, mas não para fazer e criar uma criança. Porquê, perguntava eu? Criar uma pessoa! É muito mais importante! Como se pode confiar? Porque há o amor e não há amor maior que o de uma mãe, dizia-me a minha, que sei que me ama, não o dúvido, mas será assim com todas as crianças? Uma dúvida que começou em mim em tenra idade deixa perplexos pessoa graúda, como se de repente algo novo surgisse. Sinto-me novamente confusa com tanta ingenuidade.

quinta-feira

Stanley Williams

Vale a pena ler o editorial de Nuno Pacheco no Público reproduzido pelo "Renas e Veados".

Teste: Compasso moral

Eu adoro testes. Faço-os todos. Desde o "Que tipo de vegetal seria se entrasse em estado vegetativo", até o indicado no blogue Glória Fácil, para ver o teu grau de pureza (tem piada :-)). Eu encontrei este na New Scientist (Vol.108, nr.2527 de 26.11.05). É um pouco sério, mas ainda assim divertido.

O objectivo é aferir o teu compasso moral. Como te guias para tomares decisões de cariz moral?

A pontuação é de 1 a 9, com todos os nrs naturais pelo meio, sendo que a gradação tem nos vértices:
1 - discorda totalmente
5 - nem sim nem sopas
9 - concorda totalmente

* Nunca é necessário sacrificar o bem estar dos outros. -> 1 a 9
* Nunca se deve maltratar física ou psicologicamente outra pessoa. -> 1 a 9
* As preocupações prioritárias numa sociedade devem ser a dignidade e o bem estar dos seus cidadãos. -> 1 a 9
* As pessoas devem ter a certeza que as suas acções nunca prejudicam outros, independentemente dos benefícios. -> 1 a 9
* É imoral decidir uma acção fazendo um balanço dos efeitos positivos e dos efeitos negativos. -> 1 a 9

FAZER O SOMATóRIO = .... IDEALISMO

* A ética varia com a situação e a sociedade. -> 1 a 9
* Uma mentira é moral ou imoral consoante as circunstâncias. -> 1 a 9
* Decidir o que é ético para todos é impossível, já que a questão do que é moral ou imoral está dependente de cada indivíduo. -> 1 a 9
* Os padrões morais são linhas mestras de cada pessoa que lhe indicam como se deve comportar, não devendo ser usadas no julgamento de outras pessoas. -> 1 a 9
* A codificação rigída de uma posição ética prevenindo certo tipo de acções pode constituir um obstáculo na melhoria das relações humanas e do seu ajustamento. -> 1 a 9

FAZER O SOMATóRIO = .... RELATIVISMO

Este questionário mede duas dimensões do pensamento moral: o idealismo e o relativismo. O idealismo mede o quanto uma pessoa acredita que o efeito de uma acção moral normalmente resulta em algum malefício (baixo idealismo) ou de que um resultado perfeito pode sempre ser alcançado (alto idealismo). O relativismo reflecte o quanto uma pessoa avalia a moralidade como baseada em regras absolutas (relativismo baixo) ou como dependente do problema em causa (relativismo alto).

Para saber onde se situa adiciona separadamente os itens relativos ao idealismo e ao relativismo. Para ambas as escalas, > 31 é considerado alto e <> baixo. A combinação das duas dimensões define quatro ideologias éticas, como se pode ler a seguir (clicar sobre a imagem para aumentar).



P.S.1: Eu sou excepcionista a pender para o subjectivo.
P.S.2: A New Scientist diz que este teste é baseado no "Ethics Position Questionaire" concebido por Donelson R. Forsyth da Universidade de Richmond, Virginia, EUA. Para mais informação: www.richmond.edu/~dforsyth/

quarta-feira

terça-feira

Homes ou as cousas que me atormentam

Um amigo mandou-me esta "breaking news". A animação com que ele fala da notícia e a sua insistência em metê-la nas conversas deixa-me a pensar no seu grau de inteligência. Mas ele parece inteligente... Normalmente. Será que há períodos de insuflamento? Será que eu perdi o meu sentido de humor?

segunda-feira

Tema para meditar

Estás no sítio certo?



Aparece no Diário de Notícias

sábado

A verdade segundo o niilismo

Um exército móvel de metáforas, metonímias e antropomorfismos - ou seja, uma súmula de relações humanas que foram relevadas, transpostas e embelezadas poética e retoricamente e que, após longo uso, parecem firmes, canónicas e obrigatórias para um povo: as verdades são ilusões que esquecemos serem ilusões.

Friedrich Nietzsche, Sobre a verdade e a mentira no sentido extramoral

A arte e a política (há um século)

Este é o caminho que os Homens Brancos percorrem
Quando vão limpar um território -
Ferro sob os pés e a vinha sobre a cabeça
E o abismo em cada mão.
Já trilhámos este caminho - húmido e ventoso -
Tendo por guia a nossa estrela escolhida.
Oh, que bom para o mundo quando os Homens Brancos trilham
O grande caminho lado a lado!


Rudyard Kipling, Verse

Rudyard Kipling foi considerado o poeta do Império Britânico. Ganhou o prémio nobel da literatura em 1907.

Discurso de Harold Pinter... (Actualização)

... para a cerimónia da entrega do Nobel da Literatura: Arte, Verdade e Política Actualização -> Versão em português!

Excertos:

In 1958 I wrote the following:

'There are no hard distinctions between what is real and what is unreal, nor between what is true and what is false. A thing is not necessarily either true or false; it can be both true and false.'

I believe that these assertions still make sense and do still apply to the exploration of reality through art. So as a writer I stand by them but as a citizen I cannot. As a citizen I must ask: What is true? What is false?

Truth in drama is forever elusive. You never quite find it but the search for it is compulsive. The search is clearly what drives the endeavour. The search is your task.


(...)

So language in art remains a highly ambiguous transaction, a quicksand, a trampoline, a frozen pool which might give way under you, the author, at any time.

But as I have said, the search for the truth can never stop. It cannot be adjourned, it cannot be postponed. It has to be faced, right there, on the spot.


(...)

Political language, as used by politicians, does not venture into any of this territory since the majority of politicians, on the evidence available to us, are interested not in truth but in power and in the maintenance of that power.

(...)

Look at Guantanamo Bay. Hundreds of people detained without charge for over three years, with no legal representation or due process, technically detained forever. This totally illegitimate structure is maintained in defiance of the Geneva Convention. It is not only tolerated but hardly thought about by what's called the 'international community'. This criminal outrage is being committed by a country, which declares itself to be 'the leader of the free world'. Do we think about the inhabitants of Guantanamo Bay? What does the media say about them? They pop up occasionally – a small item on page six. They have been consigned to a no man's land from which indeed they may never return.

(...)

Early in the invasion [of Iraq] there was a photograph published on the front page of British newspapers of Tony Blair kissing the cheek of a little Iraqi boy. 'A grateful child,' said the caption. A few days later there was a story and photograph, on an inside page, of another four-year-old boy with no arms. His family had been blown up by a missile. He was the only survivor. 'When do I get my arms back?' he asked. The story was dropped. Well, Tony Blair wasn't holding him in his arms, nor the body of any other mutilated child, nor the body of any bloody corpse. Blood is dirty. It dirties your shirt and tie when you're making a sincere speech on television.

(...)

I know that President Bush has many extremely competent speech writers but I would like to volunteer for the job myself. I propose the following short address which he can make on television to the nation. I see him grave, hair carefully combed, serious, winning, sincere, often beguiling, sometimes employing a wry smile, curiously attractive, a man's man.

'God is good. God is great. God is good. My God is good. Bin Laden's God is bad. His is a bad God. Saddam's God was bad, except he didn't have one. He was a barbarian. We are not barbarians. We don't chop people's heads off. We believe in freedom. So does God. I am not a barbarian. I am the democratically elected leader of a freedom-loving democracy. We are a compassionate society. We give compassionate electrocution and compassionate lethal injection. We are a great nation. I am not a dictator. He is. I am not a barbarian. He is. And he is. They all are. I possess moral authority. You see this fist? This is my moral authority. And don't you forget it.'


(...)

When we look into a mirror we think the image that confronts us is accurate. But move a millimetre and the image changes. We are actually looking at a never-ending range of reflections. But sometimes a writer has to smash the mirror – for it is on the other side of that mirror that the truth stares at us.

I believe that despite the enormous odds which exist, unflinching, unswerving, fierce intellectual determination, as citizens, to define the real truth of our lives and our societies is a crucial obligation which devolves upon us all. It is in fact mandatory.

If such a determination is not embodied in our political vision we have no hope of restoring what is so nearly lost to us – the dignity of man.

sexta-feira

Este dia

A tristeza é a ausência de alegria. Acorda-se e o dia tem a cor cinzenta do desespero. Só que é manso, amordaçado em muita tristeza. Hoje, decididamente, não me apeteceu viver. Mas o dia existiu e tendo que o encher só o pude fazer de tristeza. O sorriso que tentei fazer foi húmido de tristeza. As pessoas foram sombras no nevoeiro que tentei evitar. Este dia devia ter tido a gentileza de não existir.

Boa noite. Eu vou dormir até um dia com cor.

quinta-feira

Espírito empreendedor...

...dos meus hospedeiros.

Eles têm sentido de humor!!! Veêm? :-)

quarta-feira

Sinto torpedos a vir...

© Luís Afonso / Público

Com licença...

P.S.: Há dias assim. Só disparates... (hey! deles, não meus!)

Prioridades

Os nossos governantes acham que um aeroporto novo nos põe na rota do desenvolvimento. Não a investigação. Não o conhecimento. Não. Novas pistas no meio de não sei onde, com mais umas estradas pra lá chegar (com a poluição inerente) e até um TGV para o pessoal do Porto demorar menos 15 min a chegar lá baixo. Os tripeiros devem estar mesmo felizes.

Estamos todos. Para comemorar deviamos fazer um arraial num daqueles Estádios de Futebol às moscas.

terça-feira

Quando não interessa, nem dou conta

Andam blogonautas chateados porque o Manuel Alegre não desmente que não é doutor.

Acreditando que neste país se usa mal o título doutor porque não usá-lo melhor? Assim, em vez de se ser doutor porque se saiu da Universidade com um canudo, é-se doutor porque se fez algo na vida? Sendo que assim o Manuel Alegre é mais doutor que outros doutores.

Contudo, se a tese é que isso não interessa para nada, para que é que o Manuel Alegre há-de-se estar a chatear com isso? Porque está a mentir ao Zé Povinho que não é inteligente como os restantes e ainda dá importância a essas coisas. É isso?

O que eu desconfio é que isto não tem a ver com a probidade do Manuel Alegre, mas que afinal aquela história de que os títulos nao interessam para nada, afinal é só conversa. Isso é só moda de gajo bem pensante. Tornou-se o politicamente correcto português. Só que no fundo, fundinho, continua-se pavão. Porque senão, ser ou não ser passaria a não ser a questão.

Eu acho que continua tudo no mundo das aparências e cheira-me mal, mesmo mal esta indignação, mas que depois passa a pente fino o título de outros candidatos.

Dou a palavra a quem soube escrevê-la

Ateu tranquiliza católico

Cruzamentos emendados

Vim reler o meu texto "Cruzetas" (abaixo da alface). Ok, exagerei no oprimir os opressores. Aceito. Também aceito que quando um sitio público é público não devem existir cruzes e ademais adereços religiosos. Mas assim no cubiculo onde só entra o empregado público para ler a Bola e tricotar, pode ser. De resto fica tudo.

P.S.: Gostaria mais que se ensinassem as religiões todas e haver até debates entre os apoiantes, mas caso isto não seja possivel, acho que sim. Tirem as cruzes das escolas.

Jesus vs Thor. Nã, este era muito grunho. Provavelmente Jesus saia com o martelo entalado nos miolos.

Viram o filme "Super Size Me"? Quando mostraram um desenho de Jesus e nenhum dos putos o reconheceu? Mas todos conheciam o palhaço do MacDonalds? Andem lá. Ensinem sobre as religiões, convidem o padre e o rabi e o imã e quem mais for e que se tiverem levem umas fotografias. Eu sei que os muçulmanos têm um certo pó a imagens. É como os protestantes. Nada de dourados e anjinhos e nossas senhoras múltiplas. Estilos. Tudo bem. Que traga um tapete. São muito giros. Em Hamburgo há uns armazéns a abarrotar de tapetes orientais. Há cafés muito fixes onde se fuma cachimbo de água e vê-se a dança do ventre e só não conto a origem desta dança porque podem andar por aqui crianças. Agora armam-se em púdicos. Termino que isto está a descambar.

segunda-feira

Alfacinha


A internet é maravilhosa. Encontra-se de tudo.

domingo

Cruzetas

Andei a pensar na rebaldaria dos crucifixos. A contemplar, que afinal foi o meu objectivo ao criar este blogue.

Quando me perguntam sobre a minha posição religiosa eu defino-me como agnóstica. Não é só, mas é o mais perto dos meus sentimentos. De uma forma científica eu não sei se existe ou não Deus e portanto só contemplo. No meu mundo sem certezas eu consigo colocar-me numa posição de imparcialidade perante todas as fés, se bem que criada e educada num meio católico o meu sistema cognitivo esteja inquinado. Um querubim há-de sempre suscitar pouca curiosidade, enquanto que um deus azul hindu há-de fazer-me parar para perguntas. Eu sentir-me-ei propensa a emitir opiniões sobre as celeumas cristãs e nem por isso sobre a dos monges do Tibete. Uma questão de proximidade.

É necessário separar o Estado da Igreja. Mas para mim há uma diferença entre a exclusão mútua do Estado Político e do Estado Religioso e a exclusão do Estado Político e os sentires dos seus cidadãos. Esta celeuma à roda das cruzes cai no segundo ponto. Não percebo porque a lei não define somente a liberdade de religião de todos, mas em cada ponto do país serem os cidadãos que aí vivem que decidem se sobem ao escadote e tiram a cruz ou até se o sobem e a põem, ou até põem outra coisa qualquer. A democracia, a tolerância e o respeito devia começar pelas bases e não ser empurrado pela garganta como se fosse xarope para a tosse.

Nas escolas então eu ficaria muito mais optimista se em vez de tirarem a cruz, lhe juntassem todos os símbolos religiosos de que se tivesse conhecimento e se desse a conhecer à criança os diferentes caminhos tomados pelo ser humano na busca de um significado menos terreno. O facto de todas as culturas terem feito essa busca demonstra o poder da religião e parece-me obtuso fazer-se de conta que não existe. Principalmente quando a França, a campeã do laicicismo, na sua estratégia de varrer para debaixo do tapete as diferenças, não parecer ter uma comunidade mais respeitadora e tolerante.

O respeito e a tolerância nasce da vivência e do conhecimento da diferença, não na ignorância. O Estado deve emanar leis gerais, promover esse conhecimento e proteger os elementos mais desprotegidos. Não oprimir os possíveis opressores.

P.S.: devo confessar que a alegria oportunista mostrada pelos "Renas e Veados" demonstrou-me como a intolerância é uma questão de oportunidade. Nem a lei é o garante da justiça, nem a natureza é a lei do comportamento humano. O que realmente interessa a uns e a outros é as pedrinhas... Para apedrejar melhor.

sexta-feira

Ser filho de imigrantes

:-)

Lixo

Eu nem comento. É que eu nem comento!

Religião e Ciência - revisto

Se bem se lembram foi apresentada uma acção em tribunal (EUA - Dover, Pensilvânia) contra o ensino da Concepção Inteligente em aulas de ciência, como contraponto à Teoria da Evolução Natural. Os últimos argumentos foram enunciados há quase um mês (4 de Novembro) e agora o caso está a ser ruminado pelo juiz. Não se espera decisão antes do fim do ano.

No entretanto o conselho escolar dessa mesma escola foi votado fora. O sistema americano escolar é muito diferente dos europeus. Os conselhos escolares são eleitos pela comunidade e são estes que decidem como se faz o ensino das matérias. O julgamento parece ter trazido à atenção das pessoas o que o conselho escolar andava a decidir e resolveram que não concordavam.

Vi em dois blogues portugueses a defesa da ideia de que a concepção inteligente é uma vitória contra o dogma científico.

É errado. A a evolução em biologia é tão aceite porque desde que Darwin primeiro esboçou a teoria esta tem vindo a colectar um número impressionante de factos a suportá-la. Não há outra teoria que explique melhor esses factos. Além disso, não há outro ramo da ciência que possa apresentar tal conjunto de material corroborativo. E mais ainda: o estudo da evolução do sistema geológico corre harmoniosamente lado a lado com a evolução do sistema biológico. É consistente com os princípios da química e da física, etc.,etc...

Este debate não é um ataque a um dogma, mas o ataque a uma teoria científica extremamente bem sucedida na sua capacidade de explicação e previsão. Além disso, uma teoria que mexe na concepção muito cara da origem da vida para as religiões. Porque não se deixem enganar. A concepção inteligente é a nova arma de arremesso da religião cristã. Após tanto tempo, os literalistas da fé ainda não conseguiram engolir que o início da Biblia, com o seu paraíso, o seu Deus a criar da lama, o pecado original, é uma história. A luta destes literalistas deixa no ar que é impossível ser-se religioso e acreditar na ciência. O que é errado.

Os pais em Dover não são ateus. São pessoas religiosas, mas como dizia uma das mães queixosas:
"I reserve the right to teach my child about religion. I have faith in myself and in my husband and in my pastor to do that, not the school system."
[New Scientist, Vol.188, n.2523, 29.10.05]

É possível ser um cientista religioso. Contudo, a religião e a ciência devem ter caminhos paralelos e não cruzados. Uma das melhores explicações destes dois pontos de vista li-a no The Economist [06.10.05]:
To illustrate the difference between scientific and religious “levels of understanding”, Mr Haught [professor de teologia que testemunhou no processo] asked a simple question. What causes a kettle to boil? One could answer, he said, that it is the rapid vibration of water molecules. Or that it is because one has asked one's spouse to switch on the stove. Or that it is “because I want a cup of tea.” None of these explanations conflicts with the others. In the same way, belief in evolution is compatible with religious faith: an omnipotent God could have created a universe in which life subsequently evolved.

It makes no sense, argued the professor, to confuse the study of molecular movements by bringing in the “I want tea” explanation. That, he argued, is what the proponents of intelligent design are trying to do when they seek to air their theory—which he called “appalling theology”—in science classes.


Se se diz que não há explicação para um fenómeno, que basta dizer que emana de Deus, então não há ciência. A religião mata a ciência quando mata a pergunta. E ainda que se perseguisse a pergunta aconteceria como o que dizia uma das testemunhas da acusação (Kenneth Miller):
"If you invoke a non-natural cause, a spirit force or something like that in your research and I decide to test it, I have no way to test it. I can't order that from a biological supply house, I can't grow it in my laboratory. And that means that your explanations in that respect, even if they were correct, were not something I could test or replicate, and therefore they really wouldn't be part of science."

Cell biologist at Brown University in Providence, Rhode Island [Nature 438, 11 (3 November 2005)]

Pessoalmente eu penso que a coexistência pacífica de religião e ciência é possível se se visionar a primeira num plano filosófico que pretende responder a questões de ordem moral e ética e a ciência como um método para compreender o mundo material.

Acentuo o facto de que este debate nos EUA se desenrola nas escolas preparatórias e secundárias, onde os currículos são decididos por pessoas que muitas vezes não têm preparação científica e decidem não com base na ciência, mas com base em ideologia. Nas Universidades os currículos são decididos pelos estudiosos especialistas na área. Estes sabem qual é o consenso do momento no que se refere às questões básicas e sabem o que está em controvérsia (dentro da ciência, sem misturas de alhos com bogalhos).

Numa boa Universidade as polémicas também devem ser ensinadas, pois estão-se a preparar profissionais das áreas (sejam eles praticantes ou continuadores da busca de conhecimento), que deverão saber as últimas. Nas escolas preparatórias e secundárias dever-se-ia ensinar o consensual, o que já deu provas e tem uma grande certeza. Ensina-se a base. Para que todos tenham uma cultura geral da ciência e para preparar os que irão prosseguir na Universidade. Esta concepção do ensino pré-universitário não é restrita à ciência. Para que se entenda o que se discute, tem primeiro que se entender o ponto de partida.

Contudo, ensinar ciência não deve ser ensinar um manancial de factos desconexos, que desmotiva o aluno e o leva a exercícios de memorização, no cômputo final inúteis. Ensinar a ciência no seu percurso de becos, de hipóteses que se revelaram erradas, de acrescentos, de descoberta, de momentos de génio e anos de trabalho intenso, chegando ao fim e dizendo: "Hoje sabe-se isto.", penso que é suficiente para mostrar ao aluno que a ciência é na sua essência um processo anti-dogma. Além disso, os programas escolares (pelo menos em Portugal) ao ensinarem a Teoria da Evolução fazem-no no seu contexto histórico, começando pelo que se acreditava ainda antes de existir ciência, passando pelo criacionismo. Eu fui ensinada assim.