terça-feira

A tragédia na literatura

Quando andava a ler o último livro do António Lobo Antunes, o 'Ontem não te vi em Babilónia', escrevi isto. Sinto realmente que a literatura é uma forma nobre de expressar sentires dificilmente explicáveis. Uma forma de expressarmo-nos, como outras formas de arte, usando letras, palavras, pontos, gramáticas, em vez de tintas, pianos, pernas e braços. Há a necessidade humana de comunicar, seja de que forma fôr, incluindo escrever em blogues. Quando essa comunicação é de tanta honestidade que leva um pouco da alma da pessoa, é especial.

Alguns escritores escrevem magistralmente, de forma original, tocam-nos, são exímios no ponto e na vírgula. Outros têm sucesso, mas só contam boas histórias. Outros escrevem-se e muitos nem publicam, mas o que escrevem não tem valor?

Eu, numa caixa de comentários neste poste, escrevi a minha ideia de literatura de acesso à alma. Disse-me uma amiga que prefere falar, talvez pensando nos meus pseudopoemas. Cada um é como é, mas quando alguém escolhe escrever e os outros escolhem não ler, não usar essa porta, parece-me uma perda. Estava nestes raciocínios quando me lembrei de um texto interessantíssimo ao quadrado que um elemento do 5 dias teve a amabilidade de traduzir do francês.

Parece-me que nem todas as pessoas falam e muitas que falam falham a verdade e há muitas maneiras de ver a sério os outros e acho que muitas vezes pode-se chegar mais facilmente até aos outros por outros meios comunicacionais. É uma perda a estreiteza e por vezes até, uma tragédia.

5 comentários:

cristina disse...

Tendo ainda presente a caixa de comentários do tal post, não sei se percebi bem onde queres chegar... A «literatura de acesso à alma»... E isso é suposto ser o quê? Uma obrigação? - a única forma de acedermos ao que nos vai na alma é pela literatura.?... Uma inevitabilidade? - toda a literatura é uma porta para a alma?...

Acho que estás a radicalizar um bocado... Há literatura que nos toca e nos alcança a alma - sem que tenha de ser, inevitavelmente, uma revelação da alma de quem escreve. E há, claramente, outros meios de "falarmos" sobre o que nos vai na alma - as restantes artes (pintura, escultura, música, dança,...) são um bom exemplo, mas a conversa em si mesma (como defende a tua amiga) não deve ser desprezada, sendo de valorizar a sua capacidade de diálogo imediato...

«Cada um é como é» - ora aí está uma grande verdade! :)

abrunho disse...

Cristina,

nao deves ter dado conta, mas tu e' que radicalizas as minhas opinioes. Ja' nao e' a primeira vez: o poste da eutanasia, em que falamos de suicidio, em que eu questionava a Helena e tu fazias presuposicoes a que eu nem respondi.

Eu falo de outras formas de arte no texto e falo da literatura como essa possibilidade de acesso ' a alma. E nao necessariamente 'a alma do escritor, mas 'a alma humana. Acesso aos outros.

Obrigacao? Depende o que e' importante para ti. Queres entender os outros? Pode-se evitar que alguem fique sozinho, a tentar chegar aos outros e a nao consegui-lo? Pode-se evitar esbanjar os outros?

Aquela expressao do pa'ra para cheirar as rosas. POde ser, pa'ra e ve os outros. Mas todos somos livres para esbanjar. O resultado pode nao ser bonito, pode ser tragico, mas c' est la vie.

abrunho disse...

Ao afirmar que o vermelho é bonito não estou a afirmar que as outras cores são feias e não estou a afirmar que todos devem gostar do vermelho.

cristina disse...

Confirma-se: eu não tinha percebido bem onde querias chegar...

Peço desculpa pelas interpretações erradas, mas, de facto, eu não li essa tua apologia da Literarura como um "o vermelho é bonito"... paraceu-me mais uma indiganção do género "se o vermelho é bonito, porque é que não vestimos todos de vermelho?!"

Na outra caixa quase exigias que a fé, para ser credível, fosse tratável de forma literária. E neste post pareces condenar o não aproveitamento da Literatura como forma de expressão trivial...

Mais uma vez peço desculpa, pelas interpretações erradas, mas foi isso que eu li das tuas palavras...

abrunho disse...

No outro poste eu primeiro defendi que a fé é explicável, interpretável, duscutível. E se nao podemos explicar por diálogos na mesa do café, podemos faze-lo por outros meios. Como a literatura. Mas basta ir a uma missa para estarmos rodeados de uma panóplia de formas de expressao de fe: arquitectura, escultura, música, canto, pintura, etc.

Aqui o que eu escrevo é: "Sinto realmente que a literatura é uma forma nobre de expressar sentires dificilmente explicáveis. Uma forma de expressarmo-nos, como outras formas de arte, usando letras, palavras, pontos, gramáticas, em vez de tintas, pianos, pernas e braços. Há a necessidade humana de comunicar, seja de que forma fôr(...)"

Ou seja, a literatura é uma, como outras formas de arte.

O que o caso de Virginia Tech me despertou primeiro foi: ninguém deu conta? Depois começou a saber-se que sim e com o texto que liguei soube que nao só deram conta, como escolheram nao usar a porta literária. Sinto isto como uma tragédia imensa. Eu talvez devesse ter escrito: quando alguém é incapaz de falar, devemos aproveitar as outras portas comunicacionais. A literatura nao é só histórias para entreter ou genialidades de forma. Sei lá: sejamos menos egoístas. Paremos, olhemos, ouçamos. Nao andem a por as culpas nos jogos de video e nos filmes do Tarantino.

As pessoas descomunicam muito. Toda a gente muito ocupada, a viver as suas vidas. Há por aí também pessoas alienadas, que se nao chatearem muito ninguém liga e se a coisa fica muito má, receita-se uns ansiolíticos, anti-depressivos e que tal. E todos esperamos sol, debaixo do chaparro. Felizmente, por aqui nao é tao fácil comprar armas.