sexta-feira

Se és hetero diz não ao casamento

Teresa e Helena voltam a ver negada a pretensão de se casar.

Tem piada que ontem estava a conversar com uma amiga americana que anda em complicações para arranjar o visto para o namorado dinamarquês para se mudarem para os EUA. Da mesma forma, um amigo francês viu-se à nora para se acompanhar pela namorada de origem indiana, mas nacionalidade sueca, para a Austrália (os australianos devem ser os racistas mais desavergonhados na superfície do planeta). Em ambos os casos eu perguntei-lhes porque é que não se casavam e limitavam as chatices. Eles responderam-me que não queriam usar um sistema discriminatório. Chego à conclusão que é mesmo isso: os heterossexuais não devem usar um sistema que discrimina. Apetece mesmo dizer a esta gente que metam o seu casamento pelo ** acima.

12 comentários:

Paulo Fassina disse...

Gostei. Sai com um presente daqui.

Felicidades!

Anónimo disse...

Não percebi.
Eles não querem assumir oficialmente a relação, mas querem que os países onde vão morar acreditem que essa relação existe?!

abrunho disse...

Nao, Helena, nao é nada disso. Leste o artigo do DN?

Anónimo disse...

Pronto, já li.

Um primo do meu marido morava há anos com a companheira. Ela teve uma embolia, ia morrendo, e ele tinha de ficar à porta do hospital, porque não podia provar qualquer laço de parentesco com ela. Aprenderam a lição, e casaram.
São essas as regras do jogo.
Se os teus amigos querem emigrar como casal, têm de ser um casal oficial - ou por casamento, ou por declaração de união de facto, se isso for aceite nos países onde eles se movem.
Se recusam as regras, pagam o preço. É bonito, mas não é eficiente.

A Teresa e a Helena não recusam estas regras, muito pelo contrário: querem casar, querem jogar pelas regras desta sociedade, mas são impedidas - o sistema não previu o caso delas.
Se eu recusar essas regras, com prejuízo próprio, não as ajudo. Não é a recusa, mas a revisão dessas regras, que as ajuda.

Outro referendo? ;-)
Por um lado, penso que é preciso dar aos casais e às famílias homossexuais os mesmos direitos, reconhecer-lhes a mesma dignidade, garantir-lhes protecção legal.
Por outro lado, tenho uma certa resistência a dar o mesmo nome a tudo. Uma família homossexual é igual a uma família heterossexual?

abrunho disse...

Mas a questao é que eles resolvem recusar as regras porque as regras discriminam contra os homossexuais. É isso. Nao é que eles queiram ver a uniao deles aceite como um casamento oficial. Nao há momento algum em que eu escreva isso ou em que eles se queixaram disso. O que eu tento mostrar (no que parece fui mal sucedida) é que eles passam chatices monumentais pelos seus principios e eu respeito-os por isso. Os australianos tem regras discriminatórios racistas, o que é ainda mais bonito.

Eu nao discuto o significado do casamento. Eu discuto o casamento quando este é utilizado como instrumento de poder. É triste que ele seja apresentado como um produto, mas sinceramente nao me interessa. O que a mim me interessa é que as pessoas possam escolher e que nao sejam discriminadas. C'est tout.

abrunho disse...

Relativamente 'a tua última pergunta: para mim nao há discussao. Nao é tarefa minha decidir que família é a melhor, que amor é melhor, que sofrimento é mais sofredor, que riso é mais alegre, que beijo é mais sincero. A sociedade só se deve meter para proteger os mais fracos de uma situaçao de abuso e/ou violencia.

Por amor de Deus, há assuntos que tem de ser discutidos numa sociedade, mas esse é uma intromissao horrorosa.

Anónimo disse...

Abrunho,
não te exalteres, que isto somos só nós a falar. Não vamos mudar o mundo hoje.

Por acaso, já me tinha ocorrido ontem a possibilidade de casais homossexuais quererem emigrar. Mais um caso de discriminação.
Mas, para o resolver, será preciso mudar a definição de casamento?

Que eu saiba, até agora o casamento é a união de um homem e de uma mulher, com a intenção de constituir família. Oficializado e protegido de várias formas pela sociedade.
Admito que tenha sido instituído para atribuir paternidades, garantir estabilidade ao núcleo familiar, regular questões de propriedade.
Não terá sido, penso eu, para chatear os homossexuais.

Esta definição é uma intromissão?
A prática de proteger a família é uma intromissão?
O próprio facto de se afirmar que a base da sociedade é a família já será intromissão?
E se se recusasse isso, e se se decidisse que afinal a base da sociedade não é a família, e se se anulassem todas as regras que protegem o núcleo familiar?
Dava um nihilismo engraçado, não dava?

No entretanto, é caso para perguntar "que família?", dado que está cada vez mais tipo patchwork. As regras estão cada vez mais complicadas, e vão mudando, de acordo com o modo como uma sociedade se entende.

A maior parte dessas regras são intromissões. Não se permite o casamento incestuoso, por exemplo.
Afinal, qual é o problema de permitir o casamento entre o rapaz de 25 anos e a sua mãe de 60 (não havendo o perigo de nascerem crianças doentes), se se permite o casamento entre pessoas com a mesma diferença de idades se não houver parentesco próximo?
Vamos rejeitar o casamento porque é discriminatório para estas pessoas?

Atenção: não estou a comparar casais homossexuais com casais incestuosos. Estou apenas a dizer que há tipos de relação com as quais a sociedade, um abstracto, não concorda, e por isso não protege por meios legais (e, geralmente, pune de uma forma ou de outra).

Vivendo em sociedade, estamos limitados por regras. Penso que devemos questioná-las e mudá-las, mas que não faz sentido recusá-las ou dizer que a sociedade não tem de se meter em certos assuntos.

A questão do casamento dos homossexuais não é a do valor da sua relação. Já disse que lhes devem ser reconhecidos os mesmos direitos e dignidade.
Mas, a partir do momento em que podem casar (= união com o objectivo de constituir família) e se chamam família, igual às outras, vão passar a ter os mesmos direitos de adopção? Para ti é indiferente entregar uma criança a um casal heterossexual ou homossexual? A sociedade, essa "intrometida castradora", deve facilitar-lhes a fecundação artificial?

abrunho disse...

Eu depois respondo, mas do que eu percebi, como os meus parentes vivem todos a uns milhares de quilómetros, se eu tiver um acidente ficarei completamente sozinha durante o meu restabelecimento hospitalar, a nao ser que faça uma lotaria entre os meus amigos e case com o que ganhar. É isso? Olha que bom. A partir de que data estamos obrigados a apresentar um bébé?

Anónimo disse...

Pelo que percebi, se estiveres nos cuidados intensivos a lutar entre a vida e a morte, só deixam entrar e só dão informações sobre o teu estado a pessoas que possam provar um parentesco próximo.
Na fase de restabelecimento é diferente, nem sequer controlam quem entra no hospital.
E, parece-me, também tem algumas nuances de grau de parentesco: se fores casada, os médicos falam com o teu marido, e não com os teus pais.

Fazes bem em colocar a questão do bebé. Talvez o melhor fosse reduzir as regras que protegem as famílias apenas a quem tem filhos. Deixar de proteger a família, e cuidar apenas do bem estar das crianças.
Os restantes, que se amanhem. Sem intromissões do Estado. Por exemplo: não faz sentido os casados pagarem menos impostos que solteiros, quando afinal é mais barato morarem dois na mesma casa que cada um na sua.

abrunho disse...

Eu nao me oporia a que se use o casamento para definir procedimentos, se tal for efectivo. O exemplo dos cuidados intensivos é um caso em que é desnecessário usar o casamento como base. Imagino que a limitaçao seja no número de pessoas que podem aceder a uma zona protegida. Óbvio. Nada a criticar. Porque é que a regra nao é entao numérica? Só duas pessoas podem visitar o paciente. Apresentavam-se duas pessoas, inscreviam-se os seus nomes e pronto. Os que amam essa pessoa sabem muito bem quem deve ser escolhido. Isto é querer regulamentar na raiz, nivelando todos. Desnecessariamente, que é o que faz isto tudo triste.

Relativamente ao teu comentário de ontem a sensaçao do costume, de outros blogues e outras argumentaçoes. Passa-se da discussao de vivencias para a discussao de semanticas, como se andassemos a reboque dos dicionários.

Depois a ameaça de que ao querer tornar o casamento mais acolhedor, está-se a destruir a família. Provas disso nao as há. Há a ameaça, a certa maldiçao. A acusaçao de niilismo. Mas eu em algum momento me mostrei contra a família?

Se achamos que algo na sociedade vai contra os nossos princípios, nao entendo porque é que nao a havemos de recusar, se tal for possível. Nao concordamos e pactuamos? Esta é que nao entendo.

Em último, porque nao inseminaçao artificial para casais homossexuais? Casamento nao tem que significar automaticamente adopçao e deixo aos especialistas a análise de cada situaçao. Porque é que se acusa sem provas? Porque esta ameaça de fim de mundo sem mais? Estou cansada das ameaças, enquanto que a protecçao da familia que vejo é a dificuldade de tirar crianças a pais heterossexuais, ainda que eles andem a jogar futebol com elas.

Que cansaço.

Helena Araújo disse...

Ora vamos por partes:

- Os hospitais têm muito mais que fazer que gerir a tua carteira de amigos, e verificar se são realmente pessoas que te amam e não pessoal que se quer apropriar da tua tese, coisas assim... (andei a ouvir demasiadas histórias de Stanford)
E se os amigos não se entenderem, e se quiserem entrar todos ao mesmo tempo para os cuidados intensivos, se quiserem falar todos com o médico?
O melhor é escolheres tu própria as pessoas que te podem visitar em caso de problema de saúde grave, e entregar-lhes uma declaração. Talvez ajude.

- Os dicionários existem para definir o que é que determinada palavra significa para determinada sociedade. As leis são feitas também com base nessas definições.
Será que as leis seriam iguais, se se entendesse que o casamento não é a união com o objectivo de procriar, mas a união de duas pessoas que se amam? Será que as decisões complementares, que pretendem proteger o casamento (impostos mais baixos, emprego na mesma região, possibilidade de emigrar conjuntamente) teriam lugar se não fosse para criar a estabilidade que permite a procriação?
Não sei.
Não sei, realmente, se as leis que protegem e regulam o casamento foram feitas a pensar no par, ou nas crianças que vão nascer.
Por outro lado, a partir do momento em que há crianças - como no caso da Teresa e da Joana - é fundamental que a lei proteja os interesses destas, garantindo estabilidade à família em que vivem.

- Não estava a fazer ameaças de fim do mundo e de nihilismo. Estava a traçar cenários de redução de "intromissões horrorosas". Tanto mais que o que é intromissão para uns é a ordem natural das coisas para outros.

- Não me incomoda minimamente que os homossexuais possam oficializar a sua união. Pelo contrário. Penso que têm o direito de se declararem oficialmente um par, e de serem respeitados como tal pela sociedade.
Mas não quero igualar um casal homossexual a um casal heterossexual no que diz respeito à procriação. Não concordo que a sociedade pague o tratamento de fecundação artificial daqueles casais - porque há limites para o desejo, quando é uma criança que paga o preço. E tenho dúvidas quanto à adopção. Se tivesse de escolher entre dois casais igualmente estáveis e felizes, entregaria a criança ao casal heterossexual. E tu?

Já disse uma vez que não teria qualquer problema em que os meus filhos fossem criados por alguns dos casais homossexuais que conheço. Contudo, perguntei-lhes, e eles responderam "nem pensar!". Eles fazem questão de crescer com um casal heterossexual, apesar de não terem qualquer problema no relacionamento com amigos ou conhecidos nossos que são casais homossexuais.

- Os teus amigos, que recusam casar porque este é um sistema discriminatório, provavelmente também não pensarão nunca recorrer ao serviço nacional de saúde para fecundação artificial (se precisarem), porque esse também o é.
Aliás, nem sei porque vão emigrar para um país que parece ser racista, quando recusam sistemas discriminatórios. É um bocado incongruente.

abrunho disse...

Bom dia.

Nós concordamos no fundamento. O resto sao formas de encarar. Para mim este assunto nao se faz de pormenores, porque nao sou casada, nunca fui, nao o pretendo ser e tudo se resume mesmo a um desejo de igualdade entre todos. Eu posso casar, os outros também poderiam. E é tudo.

De resto só contraponho o seguinte (faço-o 'a bruta, peço desculpa pelo estilo, mas é segunda-feira :-)):

Os hospitais n tem que andar atras de ninguem. Tem regras que pessoas civilizadas cumprem. Eu vivo rodeada por pessoas civilizadas, pelo que n percebo pq é q o sistema q referi n funcionaria. Mas cada um vive na selva que imagina.

Os dicionários andam atrás das sociedades que mudam e parece-me argumento invertido e absurdo buscar os dicionários como argumento contra a mudança.

A mudança faz-se quando as pessoas recusam por acçoes suportar os antigos hábitos.

Nao sei se os meus amigos pensam usar o sistema de inseminaçao artificial, mas depende dos países e nenhum deles é alemao ou portugues. Quanto 'a incongruencia: digamos que a Australia n era um sitio conhecido antes, foi um pesadelo, a namorada acabou por vir embora após alguns meses e o meu amigo ficou lá sozinho a cumprir contrato até q pudesse tambem regressar. Austrália é um tema de conversa q se evita. Incongruencia nao foi, mas fosse o q fosse, pagaram-no.