A vida desenha uma árvore
e a morte desenha outra.
A vida desenha um ninho
e a morte põe-se a copiá-lo.
A vida desenha um pássaro
para que ele habite o ninho
e imediatamente a morte
desenha outra ave.
A mão que não desenha nada
passeia por entre todos os desenhos
e por vezes desloca um ou outro.
Por exemplo:
o pásssaro da vida
ocupa o ninho da morte
sobre a árvore desenhada pela vida
Outras vezes
a mão que não desenha nada
converte-se por si só
em imagem supérfula,
em figura de pássaro,
em figura de árvore,
em figura de ninho.
E então, e só então,
nada falta nem está a mais.
Por exemplo:
dois pássaros
ocupam o ninho da vida
sobre a árvore da morte.
Ou a árvore da vida
suporta dois ninhos
onde habita um único pássaro.
Ou um único pássaro
habita um único ninho
sobre a árvore da vida
e a árvore da morte.
Roberto Juarroz (1925-1995) -> X
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