(...) Existem dois grandes obstáculos para atingir o objectivo de diminuir as emissões de CO2: a enorme quantidade de veículos que processam ineficientemente o combustível e a continuação da emissão de CO2 pelas centrais térmicas. Os produtores de automóveis opõem-se a normas de eficiência e publicitam com proeminência os carros mais potentes e pesados, que originam os maiores lucros a curto-prazo. As companhias de carvão pretendem que novas centrais térmicas a queimar carvão sejam construídas brevemente, assegurando assim os lucros a longo-termo.
A legislatura da Califórnia passou uma regulamentação requerendo a diminuição em 30% das emissões de gases com efeito de estufa por veículos até 2016. Se esta regulamentação fosse adoptada a nível nacional, iria levar à poupança de 150 mil milhões de dólares na importação de petróleo. Em 35 anos, ter-se-ia poupado 7 vezes o que os Serviços Geológicos dos EUA [US Geological Services] estimam que exista no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Árctico [Arctic National Wildlife Refuge]. A lei da Califórnia encontra-se bloqueada devido à acção em tribunal interposta pelos produtores de automóveis e pela administração Bush. Muitos outros estados esperam o resultado, preparados para a adoptar. Mais reduções nas emissões seriam possíveis através da adopção de tecnologias agora em desenvolvimento. Por exemplo: brevemente estarão disponíveis carros híbridos com baterias maiores e a possibilidade de se ligarem a tomadas de parede; carros com a carroçaria feita de compósitos leves de carbono levariam a um menor consumo por quilómetro.
Para que as centrais térmicas cumpram os objectivos do cenário alternativo*, a sua construção deverá ser adiada até que novas tecnologias de captura e sequestração de CO2 possam ser operacionalizadas. Até lá, os novos requisitos em electricidade deverão ser cumpridos através de energias renováveis, como a eólica ou, também, a energia nuclear e outras fontes que não produzam CO2. Através da melhoria das normas de eficiência energética em edifícios, na sua iluminação e na eficiência dos aparelhos eléctricos, muito poderia ser feito na limitação de emissões. Estas melhorias estão totalmente ao nosso alcance, mas só uma forte liderança as poderiam pôr em prática. A tomada de acção mais eficiente, como eu já referi, seria o aumento gradual de uma taxa sobre o carbono, que poderia representar uma receita neutra ou cobrir parte dos custos da mitigação dos efeitos das alterações climáticas. (...)
Excerto do artigo "The threat to the planet" de Jim Hansen na New York Review of Books
* Um cenário é um conjunto de suposições, com base nas quais se intentam previsões. O cenário alternativo neste texto é aquele que considera que as emissões de CO2 estabilizam na actual década, diminuem lentamente nas décadas subsequentes e pela metade do século diminuem rapidamente com a ajuda de novas tecnologias. O outro cenário é o de "negócios-como-sempre" e está explicado num outro excerto do mesmo texto, que eu postei anteriormente.
Tradução minha
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