Eu vou ao blogue Dias com Árvores com prazer. O nascimento da blogosfera presenteou-nos com pequenos cantos de doçura. O contentamento calmo da natureza. A majestade de uma árvore. Como estes mundos sobrevivem nas cidades, neste caso concreto, no Porto.
Há uns bons dias li este poste. Extractos de amores monógamos a árvores. Desde aí acordei para as árvores da cidade em que vivo e dei-me conta que não há uma árvore individual de que goste. Vivo em Hamburgo, Alemanha, uma cidade florestada. Com excepção do centro, o resto da cidade tem inúmeras árvores. Tem jardins e canais e tudo árvores e árvores e árvores. Olhei para elas uma a uma e como eu não sou bióloga eu não tenho a mínima ideia do seu nome. Mas o meu olhar estava sempre a fugir para a outra ali ao lado. São tantas as árvores que a individualização de uma árvore que se goste é impossível. Eu gosto da multidão. Agora no Outono é um festival e o meu olhar entristeceu ao pensar no dia em que partirei. Geralmente este dia sabe a doce de rosas, mas quando imaginei o mundo cruel das cidades portuguesas, em que se chora cada árvore com tanta dor, eu entristeci. Eu quero viver na cidade da multidão. Eu quero muitas árvores à minha volta e quando uma árvore morrer ter as outras todas para me consolarem...
quinta-feira
terça-feira
Os irmãos
Vénus, Terra e Marte nasceram da mesma massa. Todos tinham a potencialidade material para a vida. Mas Marte era pequeno demais. A sua pequenez significou a rápida perda de calor e a incapacidade de manter uma capa gasosa, uma atmosfera. Vénus estava perto demais do sol. A gestão de calor para Vénus foi sempre um problema mal resolvido. A Terra estava no q.b. Moral: para viver é preciso sorte...
segunda-feira
Sabia que?
Quando medidas a partir da base do oceano as mais altas montanhas na Terra são a Mauna Loa e a Mauna Kea (ambas na ilha de origem vulcânica do Havai). Têm acima de 4000 m.
Nenhum vulcão gigante da Terra poderá competir com os colossos de Marte. A baixa gravidade deixou-os livres para crescer, crescer, crescer e a ausência de forças de erosão* (vento, água,...) preserva-os na actual imortalidade...
* significativas
Nenhum vulcão gigante da Terra poderá competir com os colossos de Marte. A baixa gravidade deixou-os livres para crescer, crescer, crescer e a ausência de forças de erosão* (vento, água,...) preserva-os na actual imortalidade...
* significativas
domingo
Sinto-me alegre
Manuel Alegre anuncia a sua candidatura.
Resolvo perdoar-te a cobardia. Faz a partir de agora juz aos teus poemas.
Resolvo perdoar-te a cobardia. Faz a partir de agora juz aos teus poemas.
sexta-feira
Bom senso [# Actualizado]
Vivemos numa sociedade e para manter um sistema desta complexidade têm de existir regras. Verdade seja, acho que há regras a mais. Mas isso é outra história que agora não quero contar. O beco a que eu quero chegar é o de que quando se faz uma regra esta deverá abarcar o maior número de situações possíveis, mas restam as excepções. Verdade seja, que por vezes se fazem as regras a pensar nas excepções. Mas isso é outra história... Pelo que quando a regra não se adequa à situação dependemos do bom senso de quem a aplica. Aqui chegamos ao poço de idiotias a que eu queria chegar. É que o bom senso parece ser um bem escasso*. Claro que há muitos casos que não é um caso de bom senso, mas crime premeditado e isso é de novo outra história.
Ontem, no Público, vinha uma entrevista a Luís Villas-Boas, director do Refúgio Aboim Ascensão, instituição de acolhimento de crianças em Faro. Ele presidiu à extinta comissão que acompanhava o delinear do novo regime de adopção.
Um dos instrumentos principais que ele defende para que os potenciais pais encontrem os potenciais filhos e vice-versa é a criação de uma base de dados nacional. Contudo, um dos entraves vem da Comissão Nacional de Protecção de Dados, que não permite que se incluam informações de etnia. Todos nós ficamos contentes que exista uma Comissão que dê pareceres que nos protejam de um Big Brother, mas falta nesta situação bom senso. A comissão não vive neste mundo. É compreensível que pais adoptivos possam ter uma preferência por crianças da sua própria etnia (que não será só para o lado dos pálidos, mas também de pretos, castanhos, amarelos, ciganos, africanos, asiáticos,...) e alguns até preferirão o contrário. Mas esta informação é essencial para os intervenientes deste processo, incluindo as crianças# [Actualização]. A preferência étnica não é um reflexo seguro de racismo. Tenho um amigo branco sardento que fica excitadíssimo com mulheres asiáticas. Não o considero racista. Muitos outros exemplos de pendores que todos nós temos poderia eu dar. Se não percebem o mundo em que vivem e pior esse alheamento põe entraves à possibilidade de mais pessoas serem felizes, entre elas crianças abandonadas, em que esta medida é essencial para o seu futuro, bem, esta gente está doente. Sofrem do politicamente correcto, que irrita.
O politicamente correcto na área do racismo é ridículo. Porque o politicamente correcto passa do racismo para o racismo. Eu dou um exemplo: numa ocasião eu e vários colegas do meu instituto encontramo-nos para ver um espectáculo japonês de fogo-de-artifício. Juntamo-nos no local combinado, mas faltava alguém. Era uma moça francesa de origem africana. A maior parte do pessoal não reconheceu o nome e portanto um rapaz começou a descrevê-la. Ora, a moça era a única pessoa de traços africanos no nosso instituto e seria absolutamente lógico que ele começasse por aí. Afinal quando se tenta individualizar alguém, escolhem-se os traços mais diferenciadores, que na Alemanha eram os seus traços africanos. Mas ele não: cabelo curto, um brinco mais comprido que outro, olhos castanhos e eu a olhar para ele cada vez mais incrédula. Quando chegou ao momento em que ele teria de começar por características só úteis se todos pertencessemos a um clube de nudismo, eu disse o óbvio. Toda a gente chegou lá num segundo. Eu fiquei perplexa, pois isto para mim foi racismo decantado. Evitar dizer que a moça tinha pele preta e carapinha é como dizer que estas características são más. Afinal, o que é necessário é aceitarmo-nos, ou não? Fazer de conta que somos todos brancos? Que porra de novo racismo é este?
* estou a pensar no caso Fátima Felgueiras. O melhor que se pode pensar da juíza Ana Gabriela Freitas é a de que tem muita falta de senso. As alternativas fedem. Actualização: as alternativas podem ser outras e não federem. Ver aqui.
# Actualização: depois de ler sobre este mesmo assunto no blogue Renas e Veados dei-me conta que não expliquei porque é essencial este pormenor para as crianças. É essencial porque quando os potenciais pais e filhos se encontram os técnicos querem ter a maior certeza possível de sucesso. Que esta família será a certa, que quererão esta criança e a amarão. As expectativas são demasiadas e o fracasso paga-se caro e geralmente mais para o lado da criança. Na adopção vive-se na realidade dos sentimentos, não num mundo imaginário, nem os técnicos quererão mudar o mundo. Somente dar um lar funcional e feliz a uma criança, que a acolha com o mínimo de atritos.
Por outro lado, não estarei a ser demasiadamente generalista na minha compreensão? Não estarei a misturar? Todos nós temos preferências físicas e culturais relativamente a atracções sexuais e amorosas... [Para depois poderem ser esquecidas porque há muito mais na prenda que o pacote e relativamente a diferenças culturais até se pode descobrir que traz mais sal à relação... :-)] Na adopção os adoptantes e os adoptados também têm expectativas físicas e culturais (e de sexo e de idade...) que serão geralmente para o lado de serem todos o mais parecidos possível. É de compreender? Penso que sim. Somos humanos. Contudo, com mentes abertas há sempre flexibilidade. Mas é necessário que os técnicos saibam o mais possível para trabalhar as expectativas e as sensibilidades. "Blind dates" em adopção, devem ser o menos cegos possível.
Ontem, no Público, vinha uma entrevista a Luís Villas-Boas, director do Refúgio Aboim Ascensão, instituição de acolhimento de crianças em Faro. Ele presidiu à extinta comissão que acompanhava o delinear do novo regime de adopção.
Um dos instrumentos principais que ele defende para que os potenciais pais encontrem os potenciais filhos e vice-versa é a criação de uma base de dados nacional. Contudo, um dos entraves vem da Comissão Nacional de Protecção de Dados, que não permite que se incluam informações de etnia. Todos nós ficamos contentes que exista uma Comissão que dê pareceres que nos protejam de um Big Brother, mas falta nesta situação bom senso. A comissão não vive neste mundo. É compreensível que pais adoptivos possam ter uma preferência por crianças da sua própria etnia (que não será só para o lado dos pálidos, mas também de pretos, castanhos, amarelos, ciganos, africanos, asiáticos,...) e alguns até preferirão o contrário. Mas esta informação é essencial para os intervenientes deste processo, incluindo as crianças# [Actualização]. A preferência étnica não é um reflexo seguro de racismo. Tenho um amigo branco sardento que fica excitadíssimo com mulheres asiáticas. Não o considero racista. Muitos outros exemplos de pendores que todos nós temos poderia eu dar. Se não percebem o mundo em que vivem e pior esse alheamento põe entraves à possibilidade de mais pessoas serem felizes, entre elas crianças abandonadas, em que esta medida é essencial para o seu futuro, bem, esta gente está doente. Sofrem do politicamente correcto, que irrita.
O politicamente correcto na área do racismo é ridículo. Porque o politicamente correcto passa do racismo para o racismo. Eu dou um exemplo: numa ocasião eu e vários colegas do meu instituto encontramo-nos para ver um espectáculo japonês de fogo-de-artifício. Juntamo-nos no local combinado, mas faltava alguém. Era uma moça francesa de origem africana. A maior parte do pessoal não reconheceu o nome e portanto um rapaz começou a descrevê-la. Ora, a moça era a única pessoa de traços africanos no nosso instituto e seria absolutamente lógico que ele começasse por aí. Afinal quando se tenta individualizar alguém, escolhem-se os traços mais diferenciadores, que na Alemanha eram os seus traços africanos. Mas ele não: cabelo curto, um brinco mais comprido que outro, olhos castanhos e eu a olhar para ele cada vez mais incrédula. Quando chegou ao momento em que ele teria de começar por características só úteis se todos pertencessemos a um clube de nudismo, eu disse o óbvio. Toda a gente chegou lá num segundo. Eu fiquei perplexa, pois isto para mim foi racismo decantado. Evitar dizer que a moça tinha pele preta e carapinha é como dizer que estas características são más. Afinal, o que é necessário é aceitarmo-nos, ou não? Fazer de conta que somos todos brancos? Que porra de novo racismo é este?
* estou a pensar no caso Fátima Felgueiras. O melhor que se pode pensar da juíza Ana Gabriela Freitas é a de que tem muita falta de senso. As alternativas fedem. Actualização: as alternativas podem ser outras e não federem. Ver aqui.
# Actualização: depois de ler sobre este mesmo assunto no blogue Renas e Veados dei-me conta que não expliquei porque é essencial este pormenor para as crianças. É essencial porque quando os potenciais pais e filhos se encontram os técnicos querem ter a maior certeza possível de sucesso. Que esta família será a certa, que quererão esta criança e a amarão. As expectativas são demasiadas e o fracasso paga-se caro e geralmente mais para o lado da criança. Na adopção vive-se na realidade dos sentimentos, não num mundo imaginário, nem os técnicos quererão mudar o mundo. Somente dar um lar funcional e feliz a uma criança, que a acolha com o mínimo de atritos.
Por outro lado, não estarei a ser demasiadamente generalista na minha compreensão? Não estarei a misturar? Todos nós temos preferências físicas e culturais relativamente a atracções sexuais e amorosas... [Para depois poderem ser esquecidas porque há muito mais na prenda que o pacote e relativamente a diferenças culturais até se pode descobrir que traz mais sal à relação... :-)] Na adopção os adoptantes e os adoptados também têm expectativas físicas e culturais (e de sexo e de idade...) que serão geralmente para o lado de serem todos o mais parecidos possível. É de compreender? Penso que sim. Somos humanos. Contudo, com mentes abertas há sempre flexibilidade. Mas é necessário que os técnicos saibam o mais possível para trabalhar as expectativas e as sensibilidades. "Blind dates" em adopção, devem ser o menos cegos possível.
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Vida admirável
Sabrina Sagheb tem 24 anos e foi a mais jovem mulher a concorrer para as eleições parlamentares no Afeganistão de 18 de Setembro de 2005.
Foto-reportagem na BBC
Foto-reportagem na BBC
quinta-feira
quarta-feira
terça-feira
Citação
“Há vários motivos para não se amar uma pessoa. E um só para amá-la.”
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira
Bonito serviço!
O retrato está mal feito. É a Angela Merkel [direita-CDU/CDS] que está com a cara de quem não está para dormir com o inimigo. Afinal, ela é que começou com a vantagem. O Schroeder está de grande sorriso de vitória e ainda na fase do deslumbramento. Nisto tudo ela é a grande perdedora. O SPD [centro esquerda - Schroeder] e os Verdes [maria vai com todas - Fischer, o carismático ministro dos negócios estrangeiros do governo anterior] estão contentes porque, ao contrário do esperado, aguentaram-se. Os outros dois porque subiram: os alemães resolveram tirar votos aos dois grandes partidos e distribuí-los pelos dois pequenos partidos não presentes no anterior governo: a FDP [direita - Guido Westerwelle] e a Linke.PDS [esquerda - Gregor Gysi e Oskar Lafontaine].
Agora, que coligação? Três hipóteses:
1) A grande coligação -> SPD + CDU/CDS (coitadinha da Angela);
2) Coligação semáforo -> SPD (vermelho)+ FDP (amarelo) + Verdes (os FDP já disseram STOP);
3) Coligação Jamaica [por causa das cores da bandeira da Jamaica] -> CDU/CDS (preto) + FDP (amarelo) + verdes.
Eu por mim, que não tenho voto na matéria, regozijo-me nisto: toma Stoiber, sua amiba sem cú!
domingo
Expectativas sociais
Eu não sou contra o Rendimento Mínimo Garantido. Concordo plenamente. O que eu acho é que deve existir maior esforço de fiscalização do Estado, para que se limite ao mínimo as injustiças. Não só nisto, mas em tudo. Penso que esta seria a forma de mudar a cultura de chico-espertismo que grassa no país. Há dos meus amigos uma conversa como se o trafulhismo português nos estivesse nos genes. Eu digo-lhes que não, que é um hábito enraizado que nasceu da impunidade e dos funcionários púbicos tratarem da coisa pública como se fosse um caldeirão que todos podemos aproveitar. Eles não são os guardiões, mas os tipos porreiros que abrem as portas à alarvidade. A ocasião faz o ladrão e quando se é honesto fica a sensação azeda de que se está a ser parvo. Na Alemanha as regras são para cumprir e isto não porque os alemães sejam geneticamente honestos, mas porque criaram uma rede de responsabilização. Se falta um cêntimo alguém vai ter que responder. Assim, as ocasiões para ladrão são poucas e sentes que a honestidade vale a pena.
Há o reverso da medalha. O facto dos alemães serem tão pragmáticos produz eficiência, mas pouco calor humano.... Na biblioteca portuguesa quando eu me atrasava na entrega dos livros os senhores telefonavam-me "então que andas a fazer?" e eu lá ia de grande sorriso nos lábios a pedir desculpa. Mas como eu sou uma procrastinadora encartada eles andavam sempre a telefonar-me e eu a desculpar-me com sorrisos. Tinhamos esta relação simpática. Eles nunca perderam a paciência comigo e eu adorava-os por isso. Apesar desta ter sido uma relação feliz para mim, devo dizer que os alemães têm uma aproximação ao problema mais esperta: eu continuo a atrasar-me, mas não tenho telefonemas simpáticos, só umas multas enormes para pagar. Os meus amigos gozam-me pela minha generosa contribuição para a biblioteca de Hamburgo.
Outro caso foi quando me tornei dadora de sangue na Alemanha. Dei várias vezes sangue em Portugal. Quando cheguei ao nível de alemão em que me pude inscrever para dar sangue na Alemanha fi-lo (tens que responder oralmente a questionários e não podes levar tradutor, pois pensa-se que isso poderá levar-te a mentir). Eu tinha ouvido boatos de que pagavam dinheiro pelo sangue na Alemanha e tinha achado isso horrível. Contudo, quando dei sangue pela primeira vez deram-me três euros e eu até achei muito bem, é a ajuda para o transporte, está muito bem. À segunda vez deram-me 23 euros (é a cifra para os "clientes" habituais). Produziu-se uma cena cómica em que eu disse à senhora que se estava a enganar. Ela primeiro temerosa foi ver o registo e a seguir disse-me que não, que era mesmo assim. Saí meia aturdida dos serviços com menos 500 ml de sangue, um pacote de comprimidos de ferro, 23 euros e a perguntar-me que sistema seria melhor. O português que apela à generosidade das pessoas, ao lado bom que existe em nós, dando em troca o sentimento de estarmos a cumprir um acto de ajuda ao próximo; ou o alemão que avalia as pessoas fria e eficientemente, esperando não bondade, mas dever cívico e pagando o que acha mais adequado. Ainda ando a pensar nisso.
Há o reverso da medalha. O facto dos alemães serem tão pragmáticos produz eficiência, mas pouco calor humano.... Na biblioteca portuguesa quando eu me atrasava na entrega dos livros os senhores telefonavam-me "então que andas a fazer?" e eu lá ia de grande sorriso nos lábios a pedir desculpa. Mas como eu sou uma procrastinadora encartada eles andavam sempre a telefonar-me e eu a desculpar-me com sorrisos. Tinhamos esta relação simpática. Eles nunca perderam a paciência comigo e eu adorava-os por isso. Apesar desta ter sido uma relação feliz para mim, devo dizer que os alemães têm uma aproximação ao problema mais esperta: eu continuo a atrasar-me, mas não tenho telefonemas simpáticos, só umas multas enormes para pagar. Os meus amigos gozam-me pela minha generosa contribuição para a biblioteca de Hamburgo.
Outro caso foi quando me tornei dadora de sangue na Alemanha. Dei várias vezes sangue em Portugal. Quando cheguei ao nível de alemão em que me pude inscrever para dar sangue na Alemanha fi-lo (tens que responder oralmente a questionários e não podes levar tradutor, pois pensa-se que isso poderá levar-te a mentir). Eu tinha ouvido boatos de que pagavam dinheiro pelo sangue na Alemanha e tinha achado isso horrível. Contudo, quando dei sangue pela primeira vez deram-me três euros e eu até achei muito bem, é a ajuda para o transporte, está muito bem. À segunda vez deram-me 23 euros (é a cifra para os "clientes" habituais). Produziu-se uma cena cómica em que eu disse à senhora que se estava a enganar. Ela primeiro temerosa foi ver o registo e a seguir disse-me que não, que era mesmo assim. Saí meia aturdida dos serviços com menos 500 ml de sangue, um pacote de comprimidos de ferro, 23 euros e a perguntar-me que sistema seria melhor. O português que apela à generosidade das pessoas, ao lado bom que existe em nós, dando em troca o sentimento de estarmos a cumprir um acto de ajuda ao próximo; ou o alemão que avalia as pessoas fria e eficientemente, esperando não bondade, mas dever cívico e pagando o que acha mais adequado. Ainda ando a pensar nisso.
Diálogo
- Dói-me a vida.
- Onde?
- Aqui...
- Mas aí é onde se sente.
- Mas dói-me.
- Queres um beijinho?
- Onde?
- Aqui...
- Mas aí é onde se sente.
- Mas dói-me.
- Queres um beijinho?
sábado
Deixem-nos mandriar
Acabei de falar com a minha mãe ao telefone. Ela vive numa aldeia no sopé da Serra da Estrela, daquelas que não têm só velhinhos, com bastante gente com força nos braços, aqueles, os que se chamam activos nas estatísticas, daqueles que eu nunca pensaria como excluídos sociais ou a cair na pobreza irremediável. Eu na minha contínua preocupação com o país (podem começar a rir-se, podem) perguntei-lhe:
- Há muito desemprego por aí?
Gargalhada
- Têm o rendimento mínimo.
- A mãe quer dizer subsídio de desemprego...
- Não! Rendimento Mínimo! Arranjam-lhes os papéis...
A minha mãe diz-me para eu ficar pela Alemanha. Eu parecendo uma adolescente de borbulhas idealistas (podem tocar o hino, se faz favor):
- Eu retornarei e só emigro outra vez se Portugal não me quiser!
P.S.: Provado está que ridículo não mata.
- Há muito desemprego por aí?
Gargalhada
- Têm o rendimento mínimo.
- A mãe quer dizer subsídio de desemprego...
- Não! Rendimento Mínimo! Arranjam-lhes os papéis...
A minha mãe diz-me para eu ficar pela Alemanha. Eu parecendo uma adolescente de borbulhas idealistas (podem tocar o hino, se faz favor):
- Eu retornarei e só emigro outra vez se Portugal não me quiser!
P.S.: Provado está que ridículo não mata.
sexta-feira
Katrina: desastre anunciado
Li imenso sobre o Katrina e a subsequente inundação. Uma das ideias que li muito na blogosfera e que não vi adequadamente rebatida foi a de que ninguém poderia ter previsto este desastre. Diz-se que foi um desastre natural, uma daquelas fatalidades que a natureza nos prega, assim como o tsunami asiático no Natal. Furacões na costa sudeste dos EUA não são imprevistos. De 1900 a 2004, 31 grandes furacões atingiram esta zona, 4 só em 2004 (ver aqui). Depois há os pequenos furacões e as tempestades...
Após o desvio à última do furacão Ivan de Nova Orleães em 2004, Shirley Laska do Centro para a Avaliação de Desastres, Resposta e Tecnologia (Center for Hazards Assessment, Response and Technology) na Universidade de Nova Orleães especulou sobre o grau de destruição que se teria produzido caso o Ivan tivesse acertado na cidade. Ela escreveu "Sem dúvida, teria sido um dos maiores desastres, senão mesmo o maior, a atingir os Estados Unidos (...) O furacão tinha o potencial para tornar o impensável em realidade. Da próxima vez Nova Orleães poderá não ter tanta sorte." Li isto na New Scientist de 10.09.05. Também falavam de um exercício de computador realizado no ano passado para simular que meios seriam necessários para fazer face a uma inundação extensa após um furacão ter atingido a zona. Nesta simulação um furacão de nível 4 - a categoria do Katrina quando entrou na costa de Luisíana - atinge Nova Orleães provocando o galgamento dos diques, deixando entre 400 000 a 500 000 pessoas sem casa devido às inundações. As lições retiradas não parecem ter sido levadas a bom cabo pelos organizadores desta iniciativa: a FEMA (A Agência Federal dos EU para a Gestão de Emergências) e a secção da Luisíana do Departamento para a Segurança Interna (Office of Homeland Security).
Há um ano atrás escrevia-se isto na National Geographic.
Os políticos, os técnicos, os cientistas, a população sabiam o risco. Contudo, a decisão política foi para não prever, outras prioridades berraram mais alto. Como se escrevia no editorial da edição referida da New Scientist:
O mundo pode ser sempre tornado mais seguro. A parte mais difícil é decidir que nível de segurança é aceitável e a que custo. O que é certo é que a forma como este tipo de decisões é tomada necessita de reflexão. O tsunami asiático e o desastre em Nova Orleães mostram claramente que os processos políticos que definem a prevenção de desastres não estão a funcionar. Uma opção é medir o sucesso na prevenção de desastres. Quantas vezes é que o sistema de diques holandês protegeu o país de inundações? Quantas vidas foram salvas e a que custo monetário? Em Novembro de 2002, um terramoto de magnitude 7.9 atingiu o Alasca, perto da conduta de óleo trans-Alasca, mas porque a conduta foi construída para arcar com terramotos, não existiram derrames ou qualquer desastre ambiental. Que valor dar ao dimensionamento melhorado? Estes números podem ser calculados. A barreira do Tamisa foi elevada 80 vezes em 23 anos para prevenir o cavalamento de marés de inundarem Londres. O custo de uma inundação grave foi calculado em 30 milhares de milhões de libras esterlinas. Se o sucesso for medido pelo que não acontece durante um terramoto, erupção, inundação, fogo ou tempestade, então talvez os contribuintes e os políticos possam achar que o preço da prevenção vale a pena ser pago.
Eleições
Este fim-de-semana são as eleições alemãs para o governo federal. O sentimento que eu apanho dos alemães é insatisfação e desapontamento com o Schroeder, mas uma hesitação em elegerem a Merkel. Mesmo quando não a desgostam a ela (e ninguém, excepto talvez os mais novos, esquece que ela é mulher e a Alemanha consegue ser muito machista), desgostam os abutres à volta dela. Após 16 anos de conservadorismo os alemães ainda não estão preparados para o retorno. Além disso, em política externa os alemães são completamente schroederianos. A Angela Merkel, que levanta tantas expectativas no exterior relativamente ao enfraquecimento da sua cooperação com a França e na abertura à Grã-Bretanha e aos EUA, é nesta área completamente reversa às vontades da maior parte dos alemães. O desequilíbrio no amor-ódio a Schroeder é que irá decidir.
quarta-feira
Novos pais
A New Scientist [vol.187, nr.2514] de 27 de Agosto tem um artigo especialmente interessante sobre o papel do homem no cuidado dos filhos: Father nature, pág.38.
A sociedade vê o cuidado das crianças como primordialmente uma tarefa da mãe. Parece natural. Nos mamíferos o acto de mamar reinforça a primacia da relação mãe-filho. Contudo, a ciência segue pistas que parecem mostrar que o homem estará programado para ser tão "maternal" como uma mãe.
A maior parte dos pais-mamíferos são ausentes no cuidado dos filhos, excepto em algumas espécies de roedores e pequenos primatas. Há duas décadas, o primatologista Alan Dixson descobriu que os machos titi (um primata da Amazónia) respondem hormonalmente ao seu papel de pai activo: na companhia de uma fêmea grávida os níveis de proctalina sobem. A proctalina é uma hormona que induz a lactação [este obviamente só na mulher :-)] e os cuidados de teor maternal. Em 2000, uma equipa do Memorial University em Newfoundland, Canadá, descobriu a mesma resposta no homem: estes quando a coabitar com mulheres grávidas (ainda que não fossem os progenitores) apresentavam valores de proctalina mais altos, subindo (em média) 20% nas três semanas antes do parto. Na altura deste, os níveis de testosterona caíam a pique (podendo atingir descidas até 33%).
A passividade paternal não é completamente homogéneo nas sociedades humanas. São conhecidos povos em que os homens e as mulheres dividem o cuidado dos filhos igualmente. Entre dois grupos de pigmeus africanos (os Aka e os Efe) caso se lhes pergunte quem cuida das crianças, a resposta será: "Todos nós". E assim é.
Assim, pode-se pensar que em tempos idos o homem estaria intimamente envolvido na criação dos filhos, já que não é ausente este fenómeno e o homem está endocrinamente equipado para o efeito. Mas, sendo realmente assim, porque teria o homem evoluído para este comportamento, quando nenhum primata do nosso próprio ramo o fez? Uma suposição dos cientistas é o tamanho da cabeça relativamente ao corpo. O Homem partilha com os pequenos mamíferos um rácio cabeça/corpo grande, o que torna o parto difícil e perigoso para mãe e filho, o que torna importante um substituto rápido e atencioso. Além disso, relativamente aos humanos há os encargos inerentes com a grande dependência das crianças e o seu transporte. Com os humanos a perderem o pêlo e a tomar a posição bípede, uma mãe teria de carregar com a criança nos braços durante largos períodos de tempo. Isto resulta na incapacidade da mãe de se sustentar a si e aos filhos sozinha. Os cientistas pensam que isto poderia levar nas "sociedades primitivas" ao desenvolvimento da cooperação entre a mãe e o pai como nas sociedades Aka e Efe.
Outra questão: se o homem cooperou em igualdade de circunstâncias nos primórdios porque perdeu esse hábito na maior parte das sociedades humanas? As hormonas têm um papel fundamental na determinação de comportamentos, mas a sua existência pode somente significar a sua possibilidade, mas não inevitabilidade. A proctalina capacita o homem e a mulher a responderem protectivamente em relação à sua descendência, mas esta capacidade depende da experiência. As sociedades actuais oferecem à mulher um papel activo na vida profissional, o que lhe dificulta ser mãe a tempo inteiro. Isto pode despoletar no homem a resposta há muito dormente das suas hormonas "maternais". Um novo pai estar-se-á a preparar para recuperar um velho papel.
Isto tem piada. :-)
A sociedade vê o cuidado das crianças como primordialmente uma tarefa da mãe. Parece natural. Nos mamíferos o acto de mamar reinforça a primacia da relação mãe-filho. Contudo, a ciência segue pistas que parecem mostrar que o homem estará programado para ser tão "maternal" como uma mãe.
A maior parte dos pais-mamíferos são ausentes no cuidado dos filhos, excepto em algumas espécies de roedores e pequenos primatas. Há duas décadas, o primatologista Alan Dixson descobriu que os machos titi (um primata da Amazónia) respondem hormonalmente ao seu papel de pai activo: na companhia de uma fêmea grávida os níveis de proctalina sobem. A proctalina é uma hormona que induz a lactação [este obviamente só na mulher :-)] e os cuidados de teor maternal. Em 2000, uma equipa do Memorial University em Newfoundland, Canadá, descobriu a mesma resposta no homem: estes quando a coabitar com mulheres grávidas (ainda que não fossem os progenitores) apresentavam valores de proctalina mais altos, subindo (em média) 20% nas três semanas antes do parto. Na altura deste, os níveis de testosterona caíam a pique (podendo atingir descidas até 33%).
A passividade paternal não é completamente homogéneo nas sociedades humanas. São conhecidos povos em que os homens e as mulheres dividem o cuidado dos filhos igualmente. Entre dois grupos de pigmeus africanos (os Aka e os Efe) caso se lhes pergunte quem cuida das crianças, a resposta será: "Todos nós". E assim é.
Assim, pode-se pensar que em tempos idos o homem estaria intimamente envolvido na criação dos filhos, já que não é ausente este fenómeno e o homem está endocrinamente equipado para o efeito. Mas, sendo realmente assim, porque teria o homem evoluído para este comportamento, quando nenhum primata do nosso próprio ramo o fez? Uma suposição dos cientistas é o tamanho da cabeça relativamente ao corpo. O Homem partilha com os pequenos mamíferos um rácio cabeça/corpo grande, o que torna o parto difícil e perigoso para mãe e filho, o que torna importante um substituto rápido e atencioso. Além disso, relativamente aos humanos há os encargos inerentes com a grande dependência das crianças e o seu transporte. Com os humanos a perderem o pêlo e a tomar a posição bípede, uma mãe teria de carregar com a criança nos braços durante largos períodos de tempo. Isto resulta na incapacidade da mãe de se sustentar a si e aos filhos sozinha. Os cientistas pensam que isto poderia levar nas "sociedades primitivas" ao desenvolvimento da cooperação entre a mãe e o pai como nas sociedades Aka e Efe.
Outra questão: se o homem cooperou em igualdade de circunstâncias nos primórdios porque perdeu esse hábito na maior parte das sociedades humanas? As hormonas têm um papel fundamental na determinação de comportamentos, mas a sua existência pode somente significar a sua possibilidade, mas não inevitabilidade. A proctalina capacita o homem e a mulher a responderem protectivamente em relação à sua descendência, mas esta capacidade depende da experiência. As sociedades actuais oferecem à mulher um papel activo na vida profissional, o que lhe dificulta ser mãe a tempo inteiro. Isto pode despoletar no homem a resposta há muito dormente das suas hormonas "maternais". Um novo pai estar-se-á a preparar para recuperar um velho papel.
Isto tem piada. :-)
terça-feira
Don't be a stranger
sexta-feira
Vale a pena pensar nisto...
Nunca estivemos tão em baixo, nunca estivemos tão descrentes. Olhamos de cima a baixo, do Presidente da República ao mais obscuro funcionário do Estado, e a sensação é de que estamos próximos do "salve-se quem puder". E, no meio de tanto motivo de tristeza, acho que é justo fazer uma homenagem a quem tem tentado remar contra a maré do "deixa andar": a Marques Mendes, cuja luta pela moralização da vida interna do PSD tem sido a única luz de lucidez, coragem e higiene democrática à vista. Infelizmente, em termos de resultados palpáveis e imediatos, ele vai perder e os trafulhas vão ganhar. Chamado a decidir, o povo vai querer Valentim, Fátima Felgueiras, Isaltino e Ferreira Torres. E se é isso que o povo quer e é isso que os políticos lhe dão, o problema não é a democracia. O problema são os portugueses.
Miguel Sousa Tavares no Público
Miguel Sousa Tavares no Público
quinta-feira
Olhos verdes
Nesses teus olhos verdes
emprestados pelo sol
Nesses teus olhos dourados
reflexos de verão
Em ti todo
desprendo o olhar
perco-me
a sonhar
nos teus olhos castanhos
cor de dias sem céu
verde, verDE, VERDE
sede de te ver.
emprestados pelo sol
Nesses teus olhos dourados
reflexos de verão
Em ti todo
desprendo o olhar
perco-me
a sonhar
nos teus olhos castanhos
cor de dias sem céu
verde, verDE, VERDE
sede de te ver.
quarta-feira
É por estas que me lamento...
A Grande Depressão, uma comédia sobre o estado da nação.
Li ontem no Diário Digital um artigo em que o Sócrates dizia que muitas vezes os que estão por dentro vêem-se de uma forma mais negativa do que a forma como são vistos pelos que estão de fora. Isto, no contexto de umas empresas estrangeiras quaisquer terem resolvido implementar-se e dar uns empregos ao pessoal. Bem, eu tenho de concordar com o ministro. Acho até que um problema dos portugueses é o seu estado maníaco-depressivo. Eu nem sei o que me chateia mais: se os períodos longos em que se não rabujam, choram, se não choram, lamentam, se aqueles momentos breves em que a alegria é demente. Eu de certa forma até percebo: eu individualmente até sou assim e lixa-me que os alemães que também andam muito deprimidos, tenham eles, ainda mesmo neste estado, de ser eficientes. Os portugueses estão deprimidos desde que o D. Manuel I bateu as botas, mas nunca fizeram um filme sobre estarem deprimidos. Não seria normal ter-se feito um ainda quando se estava no filme mudo? Mas, por outro lado, os nossos filmes são deprimentes. Os alemães fazem um documentário, que é uma comédia! Estão a ver? Estão a ver?
Na sexta-feira estava eu com uns amigos num dos bar-praia artificial que ocupam os terrenos vazios de Hamburgo no "Verão", estirados em puffs, debaixo de um tolde a ouvir música electrónica, quando um amigo espanhol me contou do artigo no El País sobre Portugal. Que andamos em baixo, os incêndios, a política, a economia, "Pois, andamos deprimidos", digo eu, "Mas não andam sempre?". Calei-me, deprimidérrima.
Li ontem no Diário Digital um artigo em que o Sócrates dizia que muitas vezes os que estão por dentro vêem-se de uma forma mais negativa do que a forma como são vistos pelos que estão de fora. Isto, no contexto de umas empresas estrangeiras quaisquer terem resolvido implementar-se e dar uns empregos ao pessoal. Bem, eu tenho de concordar com o ministro. Acho até que um problema dos portugueses é o seu estado maníaco-depressivo. Eu nem sei o que me chateia mais: se os períodos longos em que se não rabujam, choram, se não choram, lamentam, se aqueles momentos breves em que a alegria é demente. Eu de certa forma até percebo: eu individualmente até sou assim e lixa-me que os alemães que também andam muito deprimidos, tenham eles, ainda mesmo neste estado, de ser eficientes. Os portugueses estão deprimidos desde que o D. Manuel I bateu as botas, mas nunca fizeram um filme sobre estarem deprimidos. Não seria normal ter-se feito um ainda quando se estava no filme mudo? Mas, por outro lado, os nossos filmes são deprimentes. Os alemães fazem um documentário, que é uma comédia! Estão a ver? Estão a ver?
Na sexta-feira estava eu com uns amigos num dos bar-praia artificial que ocupam os terrenos vazios de Hamburgo no "Verão", estirados em puffs, debaixo de um tolde a ouvir música electrónica, quando um amigo espanhol me contou do artigo no El País sobre Portugal. Que andamos em baixo, os incêndios, a política, a economia, "Pois, andamos deprimidos", digo eu, "Mas não andam sempre?". Calei-me, deprimidérrima.
terça-feira
O genoma do chimpanzé
Anotem a data: o genoma do nosso parente biológico mais próximo foi sequenciado (Pan troglodytes). As linhagens humana e do chimpanzé separaram-se há cerca de 6 milhões de anos. Na comparação das diferenças entre ambos os genomas, os cientistas vêem a oportunidade de compreender o que constitui a nossa humanidade.
Katrina III
Could something have been done to prevent this?
Yes. The levees could have been higher. The New York Times has reported that the estimated cost of protecting against a category-5 hurricane, the highest on the scale, is $2.5 billion.
The natural marshlands that protect New Orleans from surrounding waters could also have been protected from degradation. A 30-year restoration plan, called Coast 2050, was published in 1998, but it put the bill at a staggering $14 billion. Damages from the current flooding are expected to run to tens of billions of dollars.
Part of the problem is that planners did not take into account the recent upswing in hurricane incidence, says Hugh Willoughby, a meteorologist at the International Hurricane Research Center in Miami, Florida.
"The United States had had a really long run of good luck with hurricanes. Lots of building decisions were made thinking we would continue to have the benign conditions of the 1970s and 1980s," Willoughby told news@nature.com.
"Unfortunately, 'Don't worry, be happy' is not a very good philosophy for dealing with this kind of thing."
Nature, 1 de Setembro de 2005
Yes. The levees could have been higher. The New York Times has reported that the estimated cost of protecting against a category-5 hurricane, the highest on the scale, is $2.5 billion.
The natural marshlands that protect New Orleans from surrounding waters could also have been protected from degradation. A 30-year restoration plan, called Coast 2050, was published in 1998, but it put the bill at a staggering $14 billion. Damages from the current flooding are expected to run to tens of billions of dollars.
Part of the problem is that planners did not take into account the recent upswing in hurricane incidence, says Hugh Willoughby, a meteorologist at the International Hurricane Research Center in Miami, Florida.
"The United States had had a really long run of good luck with hurricanes. Lots of building decisions were made thinking we would continue to have the benign conditions of the 1970s and 1980s," Willoughby told news@nature.com.
"Unfortunately, 'Don't worry, be happy' is not a very good philosophy for dealing with this kind of thing."
Nature, 1 de Setembro de 2005
segunda-feira
Katrina II
Depois do almoço estive com a minha amiga americana. Conversamos sobre o desastre de Nova Orleães e questionei-a sobre a situação, a tentar perceber, de alguém mais próximo, as bases da desdita. Ela explicou-me que a Luísiana é o estado mais pobre, menos instruído e mais corrupto dos EUA. Contou-me de umas eleições para a posição de governador em que ambos os candidatos eram criminosos. Um deles era um ex-membro do Klu Klux Klan. O outro tinha como slogan "Vote the Crook". Num estado maioritariamente negro ganhou o trafulha. Ambos estão hoje na prisão por serviços prestados ao crime.
Além disso, o dinheiro destinado para o consolidamento dos diques foi desviado para pagar o Iraque. A maioria dos homens do Corpo de Guardas de Luísiana e correspondente equipamento (que estão encarregues de actuar em casos de catástrofe deste tipo) estão no Iraque.
No The Economist defende-se que as principais causas para o desastre prendem-se com as modificações da topografia de Nova Orleães e a despreparação para uma emergência, neste último caso, principalmente devido à insuficiência de pessoas [cá está: o Corpo de Guardas estripado...].
Durante boa parte do séc XX, o governo federal modificou o Mississipi no intuíto de melhorar as condições de navegabilidade e - ironicamente - prevenir cheias. No processo destruiu 405 hectares [1m acres] de pântanos costeiros que rodeavam Nova Orleães - algo que interessava os investidores imobiliários, mas que deixou a cidade sem boa parte do sistema natural de protecção contra as cheias. O sistema de diques, com manutenção deficiente, não aguentou a pressão.
Este desastre foi sendo cozinhado... O Katrina não foi nada de especial numa região que está habituada a este tipo de fenómenos. O que é provável é que as lições a tirar serão tiradas. Os americanos são conhecidos pelo pragmatismo. Não é como a infindável reposição de dejá vus dos desastres portugueses. Sim, pois, é natural.
Além disso, o dinheiro destinado para o consolidamento dos diques foi desviado para pagar o Iraque. A maioria dos homens do Corpo de Guardas de Luísiana e correspondente equipamento (que estão encarregues de actuar em casos de catástrofe deste tipo) estão no Iraque.
No The Economist defende-se que as principais causas para o desastre prendem-se com as modificações da topografia de Nova Orleães e a despreparação para uma emergência, neste último caso, principalmente devido à insuficiência de pessoas [cá está: o Corpo de Guardas estripado...].
Durante boa parte do séc XX, o governo federal modificou o Mississipi no intuíto de melhorar as condições de navegabilidade e - ironicamente - prevenir cheias. No processo destruiu 405 hectares [1m acres] de pântanos costeiros que rodeavam Nova Orleães - algo que interessava os investidores imobiliários, mas que deixou a cidade sem boa parte do sistema natural de protecção contra as cheias. O sistema de diques, com manutenção deficiente, não aguentou a pressão.
Este desastre foi sendo cozinhado... O Katrina não foi nada de especial numa região que está habituada a este tipo de fenómenos. O que é provável é que as lições a tirar serão tiradas. Os americanos são conhecidos pelo pragmatismo. Não é como a infindável reposição de dejá vus dos desastres portugueses. Sim, pois, é natural.
domingo
Katrina
A tragédia provocada pelo furacão Katrina em Nova Orleães poderia fazer-me mudar o nome do meu blogue de Contemplamento para a palavra, usada pelo Pres. Sampaio na sua carta de condolências ao Pres. Bush, de Assombro. No início assombro indignado, tal como o que contaminou a blogosfera endoidando os opinientos.
Quando me chegaram as primeiras notícias eu julguei sinceramente que havia gralha na notícia que dava MILHARES de pessoas como mortas. Erro jornalístico, lá é possível, aquilo são os EUA!!! Mas não, é verdade. Indignei-me e a minha primeira reacção foi "estes tipos andam a pregar lições ao mundo, mas deixam uma desgraça destas acontecer no seu próprio país!"
Do que li, apercebi-me:
1) problemas de descálculo, de confiar nos santinhos, de descoordenação;
2) problema de armas -> violência;
3) problema de segregação racial.
Penso que os portugueses têm reflexões a fazer para a sua própria sociedade no ponto 1 e 3. Pergunto-me: há exercícios de simulação na região de Lisboa para o caso de ocorrer um terramoto e tsunami? Qualidade da construção?... Qual o nível de vida da comunidade negra portuguesa? Qual a tendência para serem pobres?
Crianças em Tóquio participam num exercício de simulação de um terramoto.
Ridículas são as opiniões despejadas como se Portugal fosse o 51. estado dos EUA. Já repararam que não votam lá? Como se os americanos andassem preocupados com o que os portugueses pensam. Quase que estou à espera de uma demonstração contra Bush e pelas vítimas de Nova Orleães. Sinto de novo a perplexidade pelo alheamento a notícias relativas a situações de criminalidade graves em Lisboa [o relato há uma semana relativamente à Alta de Lisboa], situação em que as pessoas realmente podem pedir medidas, actuar, e, neste momento de autárquicas, informar-se e discutir as propostas sociais dos vários candidatos, contribuindo com uma escolha pensada.
Li alguns raciocínios desonestos. Pessoas que têm uma máxima e usam a situação de Nova Orleães para apoiar o que lhes ia na cabeça ainda antes do furacão arrasar. Isto tanto para os anti-americanos como para os liberais [normalmente teóricos, que enformam a realidade aos seus axiomas de liberalização, mesmo que tal os leve ao absurdo - ver o Blasfémias e o conceito de responsabilidade dos cidadãos de Nova Orleães].
sexta-feira
quinta-feira
Autarquices
Desconfio que a regra n. 1 da ANMP (Associação Nacional de Munícipios Portugueses) é:
Negar qualquer responsabilidade (a culpa é SEMPRE do Governo Central).
É óbvio que seria esperar demais destes senhores (que parecem passar o tempo a organizar espectáculos gratuitos, a plantar palmeiras na praia e a arranjar negociatas para os amigos do clube de futebol) que pensassem nos seus munícipes. Que se sentassem e matutassem nas medidas práticas a tomar. Seria esperar demasiado que estes olhassem para o mataguedo que envolve as suas cidades e lhes surgisse a brilhante ideia: "Talvez fosse melhor limpar isto...", mesmo sem existir lei que o obrigue. Talvez que planos de protecção pudessem começar a ser rascunhados nas autarquias, descrevendo o que se precisa pelos que melhor conhecem o terreno e passar então para as centralidades. Mas isto parece que transborda as suas competências.
Tem piada, mas eu nunca vi uma comunicação da ANMP que não fosse uma resposta a alguma medida que morde os calcanhares dos autarcas. Nunca lhes vi uma declaração conjunta pelas populações. Só aparecem para falar pela corporação dos Alarves Néscios Mutantes de Plutão. Porque é que não voltam para o planeta que vos pariu?
Negar qualquer responsabilidade (a culpa é SEMPRE do Governo Central).
É óbvio que seria esperar demais destes senhores (que parecem passar o tempo a organizar espectáculos gratuitos, a plantar palmeiras na praia e a arranjar negociatas para os amigos do clube de futebol) que pensassem nos seus munícipes. Que se sentassem e matutassem nas medidas práticas a tomar. Seria esperar demasiado que estes olhassem para o mataguedo que envolve as suas cidades e lhes surgisse a brilhante ideia: "Talvez fosse melhor limpar isto...", mesmo sem existir lei que o obrigue. Talvez que planos de protecção pudessem começar a ser rascunhados nas autarquias, descrevendo o que se precisa pelos que melhor conhecem o terreno e passar então para as centralidades. Mas isto parece que transborda as suas competências.
Tem piada, mas eu nunca vi uma comunicação da ANMP que não fosse uma resposta a alguma medida que morde os calcanhares dos autarcas. Nunca lhes vi uma declaração conjunta pelas populações. Só aparecem para falar pela corporação dos Alarves Néscios Mutantes de Plutão. Porque é que não voltam para o planeta que vos pariu?
No CATAPLUM
QUANTIFICAÇÃO ESTATíSTICA DE POSTS[????]
Alguns axiomas:
- Quanto mais sexo, menos posts;
- Quanto menos trabalho, mais posts;
- Se você está sem assunto, é porque leva seu blogue a sério;
- Se você tem muito a dizer, é porque seu blogue é chato;
- Quanto mais inteligente o cidadão que bloga lhe parece, mais chato será o seu blogue.
Questão do dia:
- Serei chata?
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